Europa: Eleitores acertam contas com a austeridade

Tempo de leitura: 2 min

por Luiz Carlos Azenha

“Economistas do Citi, o banco dos Estados Unidos, alertaram no mês passado que a Holanda já não fazia parte do coração da Europa, na medida em que o baixo crescimento econômico do país tornava improváveis os planos do governo para reduzir a dívida. O colapso do governo holandês, ontem, confirma esta análise, sublinhando a ironia de países centrais exigirem da periferia a austeridade que não podem adotar”, diz texto publicado ontem pelo Financial Times sobre o que o jornal classificou de “volta do risco político à eurozona”.

O governo da Holanda caiu depois que um partido de direita retirou apoio ao aprofundamento de medidas de austeridade.

O FT diz que a agência de classificação Fitch “expressou dúvidas sobre a nota triplo A da Holanda. Isso deixaria o coração da eurozona reduzido a Alemanha, Finlândia e Luxemburgo, para muitos investidores”.

Estou certo de que os investidores tremeram quando fizeram uma leitura — que a imprensa não fez  — dos resultados das eleições francesas: Nicolas Sarkozy, grande parceiro da Alemanha na imposição de medidas de austeridade à periferia europeia, recebeu pouco mais de 25% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais.

Isso significa que cerca de 75% dos franceses votaram em candidatos ou partidos que rejeitam ou criticam tanto as medidas de austeridade em casa quanto a submissão da França a políticas ditadas essencialmente pela Alemanha, em graus distintos.

A “volta” do risco político — que, na verdade, nunca foi embora — significa que autoridades europeias não podem adiar indefinidamente um acerto de contas com os eleitores. E, onde eles puderam falar, rejeitaram a receita neoliberal para lidar com a crise por 3 a 1.

Diante do sucesso da extrema-direita na França, que propôs uma solução francesa, ou seja, nacionalista, para os problemas econômicos enfrentados pelo país, é natural que os direitistas holandeses tenham escolhido o mesmo caminho.

Depois de Irlanda, Grécia e Portugal, a crise europeia avançou pela Itália e Espanha e agora chega ao “core”, ao coração econômico do continente. Se não é inevitável, um cenário de esgarçamento do euro, especialmente nas franjas, parece cada vez mais provável.

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Comentários

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Grécia ameaça detonar o partido do austeritarismo « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Publicamos, recentemente, aliás, que o “core” da União Europeia estava perigosamente reduzido a Alemanha, Finlândia e Luxemburgo. […]

Willian

Onde há eleição na Europa, a oposição é favorita, seja ela de direita ou de esquerda. Fim de papo.

carlos cruz

O grande problema na questão é a Europa (e os EEUUAA…) entender que o mundo mudou, o colonialismo acabou (apesar das tentativas de neocolonialismo no norte da Africa…), e que gastaram o dinheiro em especulação e bugigangas. A crise do Euro e dolar é a falencia dos estados que acreditaram na criação de riqueza atraves da especulação, do nada, como a cornucopia grega. Houve um momento, perdido, de se iniciar a grande revolução, a intervenção nas agencias e bancos especulativos, prisão dos ladrões executivos, garantia das poupanças e fundos de previdencia, dos titulos das dividas, separando o podre do saudavel. Mas preferiram salvar quem especulava, num buraco sem fim. Que colham o que semearam.

Bonifa

Reduziram o perigo fascista da extrema direita francesa ao eufemismo de um simples "populismo de direita", como alguns da Globo já falaram. Não querem ferir as suscetibilidades dos fascistas, porque precisam de seus votos no segundo turno. O PIG local se orienta pelo PIG de lá, em febril campanha para a reeleição de um Sarkozy que já foi abatido em pleno vôo. Quanto à Holanda, no início da crise havia quem na Alemanha falasse: "Holanda, somos diferentes e superiores, vamos nos unir e deixar que o resto da Europa se exploda". Mas a Holanda agora é tratada como também parte da periferia. Quando vários se unem sob a égide do neoliberalismo, é óbvio que os mais fortes terminarão por explorar os mais fracos e não ajudá-los, o que só ocorreria se a união se desse sob a égide do humanismo e de uma sincera solidariedade.

abolicionista

Para ser produtivo, esse crescimento da esquerda tem de vir acompanhado de medidas radicais contra os planos de austeridade. O que não dá mais para aguentar é ver políticos europeus de esquerda aplicando medidas neoliberais, como ocorreu no caso da Grécia. Isso é que de pior se pode fazer para a imagem da esquerda, pois mina não só o campo partidário, mas também o campo político de ação como um todo. Acho que devemos ser extremamente descrentes em relação às reais possibilidades da política partidária…

Hans Bintje

Provocação do Azenha ao escrever sobre a "terrinha". Tá bom, vou cair nessa ;-D

Considerações:

1) Seja a Direita ou a Esquerda holandesas, o objetivo é "procurar resolver a coisa a nossa moda", como descreve Geert Banck ( http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v22n65/a10v2265.p… ):

"O Conselho Socioeconômico (Sociaal-Economische Raad, SER) é o órgão central do 'Modelo Pôlder'. Esse conceito é também popular na mídia, e usamos no cotidiano verbos correlatos, como 'polderen', que significa a busca de consenso até 'cair morto no chão'.

Trata-se de uma entidade pública regida por lei, mas independente do governo. Possui 33 membros, dos quais onze são indicados por organizações empresariais, onze, por federações sindicais, e onze são acadêmicos independentes, indicados, depois de muitas consultas, pelo governo.

Essas últimas nomeações nunca geram polêmica na política nem na mídia, mas isso não quer dizer absolutamente que esse Conselho não tenha peso ou influência, ao contrário, o SER é a mais importante plataforma de discussão da economia e da política social na Holanda. Seus três objetivos principais são: 1) crescimento econômico equilibrado, 2) participação otimizada no mercado de trabalho e 3) justa distribuição de renda."

2) Se existe algo que nos irrita é negar o direito ao "polderen" e servir cerveja ruim.

O Azenha e a Conceição Lemes já perceberam pessoalmente o que isso significa: é o estímulo para que falem, falem, falem com a participação de uma plateia atenta.

É "improdutivo", mas a gente sempre acha boas soluções e se diverte. Para quem duvida disso, Geert Banck afirma:

"Não podemos esquecer que na Idade Média a Holanda era, se não um lamaçal puro, pelo menos uma área de pântanos sem fim, sujeita a freqüentes inundações, situada quase nos confins da civilização.

Assim, o conde da Holanda e outros senhores nobres, não podendo explorar o campesinato, tiveram de atrair colonos para colonizar as 'terras' aquáticas, construindo pôlderes e acumulando, ao longo do tempo, a tecnologia necessária a uma contínua construção de diques. (…)

Até hoje a presença física dos pôlderes é importante na Holanda. No século passado, fizemos não somente grandes pôlderes no fundo do mar interior, o Mar do Sul, mas também um sistema de diques e reclusas interligados que consideramos o oitavo milagre do mundo."

O_Brasileiro

O plano dos neoliberais passa por denegrir a imagem dos serviços públicos.
Denegriram a Infraero, multinacionais "abocanharam o filé" dos serviços aeroportuários. Serviços iguais, lucro privado.
Denigrem o SUS, os planos de saúde aumentam seus clientes mesmo sem ter capacidade de atendê-los.
Obviamente a mídia golpista recebe uma grande contribuição do governo, que sucateia os serviços públicos, dando "munição" para os ataques.
Os sucessivos problemas no Metrô de SP não são do interesse da oposição como quer fazer crer a mídia golpista. Quem mais se beneficia dos problemas do Metrô são seus possíveis compradores, ou "concessionários".
Se duvidar, logo, logo os lucros do Metrô de SP estarão em mãos privadas!

Uélintom

O PiG parece que está em plena campanha eleitoral de 1989 (na França!). O Bom dia Brasil de hoje (24/04/12) foi excepcional! Pânico generalizado: OS SOCIALISTAS VÊM AÍ!!!. Lembrei imediatamente de Mário Amato, e os milhares de empresários que deixariam o Brasil caso Lula ganhasse as eleições. Segundo a urubóloga Miriam (Codeiro) Leitão, a situação é a seguinte: o mundo está correndo um grande e gravíssimo risco de um colapso total caso os socialistas vençam as eleições na França. A plataforma eleitoral do PiG ainda está sem qualquer traço de inteligência, perversa, faltosa com a verdade e repetitiva. A informação de que Sarkozy não conseguiu arrebanhar os votos da extrema-direita foi quase uma lamentação. O PiG é deprimente.

    Marcelo

    Fica tranquilo que a audiência do Mau Dia Brasil está em baixa. Ontem, ficou atrás da Record, com apenas 7 pontos. Ninguém suporta mais esse programa chulé.

ratusnatus

Finlândia e Luxemburgo… rsrsrs.

damastor dagobé

"austeridade"…"ruralistas"…"politicos"…qual o fenomeno que faz com que os "criticos" de certos fenomenos usem os mesmo termos eufemisticos, que dão carater positivo a algo que nada tem positivo, ja que os mesmos os criticam veementemente? porque usam a mesma novilingua que beneficia so aos que são criticados??? falta de atenção com o sentido das palavras? ignorancia? deviam usar o linguagem direta e obvia não? austeridade=tirar do pobres pra dar aos ricos ainda mais…ruralistas=latifundiarios, escravocratas, gigolôs de vaca…politicos=essa é impossivel mesmo de traduzir sem usar palavrões…tem de ficar como está.

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