Sobre o site
O que você não pode ler nem ver na mídia
O Viomundo nasceu em 2003, pelas mãos de Roberto Chahim, que me ajudou a dar os primeiros passos na internet.
Eu era, então, correspondente da TV Globo em Nova York.
Sentia uma insatisfação profissional com as reportagens de 45 segundos no Jornal Nacional.
O site, portanto, nasceu como uma válvula de escape. Nasceu com o subtítulo: “O que você nunca pôde ver na TV”.
Era uma forma de contar os bastidores, fazer relatos de viagem, dar informações que eu arrecadava mas não tinha como dar na TV.
O Chahim me apresentou ao Kauê Linden, dono da Hostnet, que me incentivou a investir no ramo.
O Kauê me levou ao Leandro Guedes, que teve a paciência de um professor para desfazer minhas dúvidas, lidar com meu analfabetismo digital e ouvir minhas diatribes contra essa tal de internet, sempre à distância: eu, em Nova York; ele, em Santo André.
O Leandro me ajudou a levar o Viomundo para a Globo.com, recém-criada, onde demos muito trabalho ao Rui Cruz.
O Viomundo cresceu, mesmo, foi a partir de outubro de 2006.
Eu era, então, repórter especial da TV Globo em São Paulo.
Participei da cobertura da campanha eleitoral.
No dia do primeiro turno eu estava diante da casa do candidato a governador de São Paulo, José Serra, quando fui procurado por um colega. Ele tinha uma gravação e se ofereceu para me mostrar.
Era a gravação de uma conversa entre o delegado da Polícia Federal, Edmilson Bruno, e quatro repórteres.
A gravação registrava o momento em que o delegado fazia o vazamento das famosas fotos do dinheiro que petistas supostamente usariam para comprar um dossiê contra o candidato Serra.
Àquela altura as fotos do dinheiro eram a grande notícia. Estavam na capa de dezenas de jornais brasileiros. Tinham estrelado a edição da noite anterior dos telejornais e estavam à mostra nos sites mais importantes da internet. Mas a gravação da conversa entre o delegado e os repórteres era um bastidor desconhecido da notícia.
Enquanto eu ouvia a gravação, fiz anotações às pressas. Pedi para ouvir de novo. Cheguei em casa, escrevi um post e publiquei no Viomundo.
Eu achei a notícia relevante pelo fato de que o escândalo do dossiê já ocupava as manchetes por vários dias, mas as fotos só vazaram na antevéspera do primeiro turno. Foi coincidência?
No domingo de eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve 48,61% dos votos. Faltou menos de 1,5% para se reeleger no primeiro turno. As fotos do dossiê fizeram a diferença? Impossível ter certeza disso.
O fato é que, no segundo turno, elas foram parar na campanha eleitoral do candidato Geraldo Alckmin, acompanhadas da pergunta: De onde veio o dinheiro?
Até hoje não sabemos.
O post que publiquei sobre a gravação, no Viomundo, foi um hit na internet.
Causou mal estar na TV Globo, uma vez que a emissora tinha uma cópia da gravação mas havia decidido não divulgá-la.
Logo a gravação original se tornou pública, na íntegra. Mas os jornalistas, tão interessados em perseguir a origem do dinheiro e o escândalo do dossiê, não demonstraram o mesmo interesse em analisá-la amiúde.
Algumas coisas, nela, até hoje chamam minha atenção. Ao conversar com os repórteres, o delegado Bruno age como se fosse uma espécie de editor.
Diz a eles que vai mentir ao superior hierárquico. Cogita de jogar a culpa pelo vazamento na faxineira que trabalha no prédio da Polícia Federal. E se refere a uma certa “foto da Globo”.
Ora, se as fotos foram tiradas no curso de uma perícia, qual seria o sentido de haver uma “foto da Globo”?
Desde 2006, o Viomundo passou por várias transformações.
Passou a ser um portal independente, hospedado na Hostnet. Mas, por conta desse furo de reportagem, ganhou como novo foco tentar explicar aos leitores porque, no Brasil, alguns escândalos são mais escândalos que outros, algumas notícias são mais notícias que outras e algumas investigações interessam, outras não.
Hoje, no Viomundo, você encontra o que não pode ler nem ver na mídia corporativa.
Ao longo destes anos, aprendi muito com os leitores e comentaristas do Viomundo. Foram eles que me fizeram descer do pedestal imaginário em que nós, jornalistas, muitas vezes nos colocamos.
Aprendi que a internet transforma o resultado de meu trabalho de forma instantânea: assim que publico um texto e surge o primeiro comentário, o texto original ganha outra dimensão.
Pela crítica, por um acréscimo de informação, por um novo ângulo oferecido pelo leitor.
É com esse espírito que eu e a infatigável Conceição Lemes, minha colega, repórter mais premiada no Brasil na área de saúde e conselheira de todas as horas, tocamos o Viomundo.
LUIZ CARLOS AZENHA