06/03/2012 – 06h01
Após greves, operários da Copa exigem piso salarial unificado e até ingressos para os jogos
Do UOL, em São Paulo, sugerido pelo Igor Fellipe
Sindicatos, federações e confederações sindicais da construção, incluindo organizações que representam os trabalhadores das cidades-sede da Copa, irão se reunir na próxima terça- feira em Brasília, com objetivo de entregar a Pauta Nacional Unificada para a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e ministérios do governo. Entre outras reivindicações está a criação de um piso salarial unificado para todos os operários que estao envolvidos com projetos do Mundial.
Além da unificação do piso salarial, os trabalhadores também querem um aumento do valor de pagamento de horas-extras e de benefícios sociais aos trabalhadores do setor da construção no Brasil. Com ela os sindicatos já promovem suas negociações de forma regional e agora se organizam para ações nacionais articuladas.
Neste mesmo dia 6 de março, organizações de todo o país, entre elas sindicatos das cidades-sede da Copa estarão se mobilizando e promovendo atividades em suas regiões para divulgar e apoiar o encontro de Brasília para a entrega da pauta nacional unificada.
A Campanha por Trabalho Decente na Copa do Mundo no Brasil faz parte de uma estratégia já desenvolvida junto aos sindicatos do setor da construção sul-africanos e implicou em 26 mobilizações no período que antecedeu os jogos de 2010 na África do Sul, entre elas uma greve nacional. Por aqui, um movimento paradista que ganhe a adesão de todos os estádios da Copa não é descartado, acaso as negociações sobre a pauta que será apresentada nesta terça não evoluam.
A pauta unificada tem como origem a “Declaração de São Paulo”, que foi apresentada ao conjunto da sociedade após a reunião realizada pelos sindicatos que participam da Campanha por Trabalho Decente Antes e Depois de 2014, articulada pela Federação Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM).
Comentários
pperez
Todo mundo já conhece a forma e o conteudo de como as mega coinstrutoras brasileiras tratam a peaozada!
Condições de trabalho,beneficios,alimentação,transporte,segurança tudo de forma amadora, até o momento da explosão e da revolta, como tem acontecido rotineiramente!
É preciso que o governo e as empreiteiras se conscientizem que para o cronograma das obras estarem em dia, com os estadios prontos para a Copá, é preciso respeito e compromisso com os trabalhadores!
Lula sabia disso porque veio deste meio, espero que Dilma compreenda também!
E S Fernandes
– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! -disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem pelo chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
Poesia de Vinícius de Moraes, do livro "Nossa Senhora de Paris"
E S Fernandes
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
E o operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca da sua mão.
E o operário disse: Não!
E S Fernandes
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
E S Fernandes
Notou que a sua marmita
Era o prato do patrão
Que a sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que o seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que a sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
-"Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
E S Fernandes
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
E S Fernandes
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, Cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
E S Fernandes
OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
Vinícius de Moraes
Era Ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia…
Mas fosse comer o tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Augusto Soares
Concordo. Muito dinheiro circulando na mão de poucos e muitas vezes de forma obscura (como o caso das exigências "legais" dos patrocinadores). Embora tudo seja moeda podre, tem que dividir melhor com quem põe a mão na massa.
Neto
E tão pedindo pouco.
Primeiro pq em médias e grandes cidades, ou dependendo da região, não se vive decentemente com 968 reais. Ainda mais nos casos em que há uma família para ser sustentada.
E segundo pq não há mão de obra suficiente e à vontade, e a classe dos operários sabe bem disso, sem contar que há um prazo que deve, obrigatoriamente, ser cumprido. É o sistema sendo usado contra si mesmo, que ironia…
Mateus_Beatle
Infelizmente esta copa a ser realizada no nosso país só está trazendo vergonha atrás de vergonha (não é o caso dos operários reivindicarem tudo que estão revindicando, ao contrário, estão cobertos de razão em fazê-lo)…
Uma das maiores vergonhas envolvidas na organização do mundial de 2014 são os incentivos e mais incentivos ficais que a prefeitura e o estado de São Paulo estão dando para a construção de um estado PARTICULAR na zona leste da cidade de São Paulo. (claro que pelo Brasil a fora também há INÚMERAS irregularidades, mas como os meios de comunicação que controlam a informação no país se concentram no sudeste, as denúncias por cá acabm por ser mais repercutidas)
A última é o caso de, por acaso, o departamento jurídico da prefeitura ter "descoberto" que os R$ 420 BILHÕES em incetivos fiscais foram "dados" de forma ilegal e, para sanar tal falha, abriu um edital para "quem apresentar o melhor projeto para a construção de um estádio na Zona Leste para a Copa ganhará R$ 420 milhões em incentivos fiscais.", ou seja, abriram uma concorrência para que o Itaquerão seja o único a concorrer e receber os supra-citados incetivos de forma "legal"…
Como diria o Paulo Henrique Amorm: Viva o Brasil!
Mateus_Beatle
Só depois de comentar vi que o Azenha já havia publicado esta notícia no próprio Viomundo: http://www.viomundo.com.br/humor/kassab-inventa-a… (inclusive com uma reportagem realizada pelo mesmo para o Jornal da Record).
Willian
Para os trabalhadores que pedem ingresso para os jogos da Copa, sugiro enviar a música "Cidadão", do Zé Geraldo, para o pessoal da FIFA. Vai que eles se comovem.
"Tá vendo aquele estádio moço
Ajudei a levantar
…"
Deixe seu comentário