Luís Nassif: Nós, reféns de uma regra de três simples

Tempo de leitura: 2 min

A planilha inconsistente à qual o Brasil se curvou

Coluna Econômica – 26/02/2012, sugerida pelo Marco Aurelio

por Luís Nassif, em seu blog

Há anos a política econômica brasileira é amarrada a um bezerro de ouro, uma mera planilha que serviu de ferramenta para as mais altas taxas de juros do planeta.

Trata-se da planilha que estima a “taxa de juros de equilíbrio”, o nível da taxa Selic que supostamente asseguraria o controle da inflação em comprometer o crescimento. E, depois, outra planilha correlata, a que estima o PIB potencial – isto é, o máximo crescimento da economia sem provocar inflação.

Semanas atrás demonstrei aqui os efeitos irrelevantes da taxa Selic sobre o custo do dinheiro, tanto para pessoas físicas e pequenas e médias empresas, quanto para empresas de primeira linha.

Ora, a maneira da taxa de juros influenciar a atividade econômica é através do canal de crédito. Se a Selic tem pouco efeito sobre o crédito, de que maneira o BC calcula os efeitos da taxa sobre o nível de atividade?

Há três semanas venho tentando obter essas informações do BC e desvendar esse mistério.Em vão. Coincidentemente, na semana passada o BC solicitou aos analistas econômicos do mercado explicações sobre os modelos utilizados por eles em suas projeções.

Ontem relatei a extraordinária história dos três intelectuais brasileiros – Antonio Doria, Newton da Costa e Marcelo Tsuji – que, nos anos 90, demonstraram que até poderia haver momentos na economia com os preços geraisem equilíbrio. Masque era impossível – matematicamente falando – estimar qual seria esse momento.

A conclusão demoliu as principais teorias da política econômica recente, como os juros de equilíbrio ou o PIB potencial (limite para o PIB avançar sem inflação), que podem existir, mas não são calculáveis.

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No mesmo livro “O Universo Neoliberal em Desencanto”, de Doria e José Carlos de Assis, procede-se a uma análise matemática da tal fórmula do Banco Central que supostamente permitiria calcular a taxa de juros neutra.

No site do BC há apenas uma nota técnica, em inglês, datada do início do século 21, assinada por Joel Bogdanski, tendo por título “Implementating Inflation Targeting in Brazil”.

A fórmula é a equação IX da página 24 do trabalho.

Descobriram, então, que a fórmula mágica à qual a economia brasileira está subordinada há mais de uma década, não passa de uma regra de três simples sem nenhuma fundamentação científica mais séria.

A equação é a seguinte:

1.    A taxa de juros que o BC fixa é diretamente proporcional à expectativa de inflação.

2.    Quem define a expectativa de inflação é o mercado.

3.    Portanto a taxa de juros que o BC fixa é aquela que o mercado quer.

Conclusão dos autores – um dos quais, Doria, é matemático de reputação internacional: “Debaixo de toda a tecnicalidade matemática, depois da linguagem obscura e das ilações supostamente técnicas, o que temos é algo muito próximo de pura trivialidade”.
Não fica aí o questionamento à matemática do BC.

“O chamado produto potencial, que aparece como limitador do crescimento com estabilidade (…) jamais poderia integrar o aparato matemático do modelo porque, a rigor, não pode ser medido. É simplesmente inferido (…) Ou seja, estamos diante de uma construção matemática totalmente arbitrária, entrecruzando variáveis com relações frágeis ou inexistentes”.

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Comentários

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ROSALVO

A QESTÃO É SIMPLES: DURANT. E M TEMPO SETORES PODEROSOS COM OBVIA APOIO DE PARTE DA MIDIA JUSTIFICARAM A NECESSIDADE DE JUROS ALTOS. NA VERDADE AGEIOTAGEM.

internauta

Para combater esse descontrole da Dívida com subsequente “travamento” dos investimentos públicos e o aperto fiscal que o País vive precisamos nos mobilizar mais ainda pela AUDITORIA DA DÍVIDA PÚBLICA (Constituição Federal, Título X das disposições transitórias, Art. 26).
Ótima palestra (33 min) em http://www.youtube.com/watch?v=bQE9NGljtqg
Em 2004 a OAB entrou no STF em 2004 pedindo pro Congresso tomar providências.
Em 2009/2010 houve a CPI da DÍVIDA PÚBLICA que encaminhou ao MPF Voto em Separado indicando AUDITORIA dessa dívida por várias irregularidades.
PRECISAMOS MOBILIZAR A SOCIEDADE CONTRA A SANGRIA DE 45% DO ORÇAMENTO DA UNIÃO.

Antônio Lange

O PT antes ouvia o Luiz Nassif, agora ouve o Delfim Neto.

    Dirceu Bloot

    Meu amigo Antônio Lang, somos dois pequenos empresários e precisamos estar juntos reivindicando melhores condição, mas O PT está no caminho certo, o PT deve ouvir a todos mas sem perder seu ideal de defender os que mais precisam. Governo liderado por nossa presidenta Dilma deve ter a mesma linha, lembrando que govera para todos os brasileiros e que a economia sofre influências de fatores externos.

Regina

O rei está nu há muito tempo. Mas, evidentemente, os economistas não vão reconhecer nunca.

marcosomag

Eu me lembro quando lí "O Caminho da Servidão", de Hayek. Sabia das patacoadas de um dos maiores teóricos neoliberais como Friedman, e esperava alguma contestação "científica" do marxismo pelo "papa" deles todos, o Sr. Hayek! Que nada! Logo no prefácio, o sujeito alertava o leitor que aquela era um obra política, e que devia ser entendida como tal. Ou seja: o pobre leitor deveria entender todo o vatícinio do Sr. Hayek sobre "liberdade" e "papel do mercado" em relação a ela, e a suposta "opressão" e "servidão" de regimes políticos e econômicos que preconizassem a melhoria do nível de vida das populações como apenas um manifesto político sem nada de combate científico ao socialismo marxista, denominado científico pelo próprio Marx. Depois de muitas gargalhadas de graça e estupefação pelo inacreditável conteúdo da "bíblia" dos neoliberalóides", nunca maís relí aquele lixo. Costinha e Dercy Gonçalves eram melhores humoristas do que Hayek.

Marcelo Rodrigues

Ao se concluir que a fixação da taxa Selic não tem base econômica, deve-se, forçosamente, concluir que a matéria é criminal. Procuradores da República, mãos à obra!

augusto

Isso, gente.
Nao custa nada o Gofredo sonhar, e com base nesse sonhos, criar magnificas definiçoes de nação, sociedade civil desenvolvida e assim por diante.
mas quem teve que arregaçar as mangas e trabalhar p/ela sair de onde estava, ir mais adiante forçando as transformaçoes sem muda-la essencialmente, foi lula.
E assim é porque nenhum ator politico age no vacuo. E se fizer diferente, faltará apoio dos 'radicalizantes de discurso'
e ele ficará ao trabalhar as paredes, apenas pendurado na brocha,

Fabio_Passos

Nem parece verdade.
O destino do Brasil condenado ao subdesenvolvimento por uma descarada vigarice neoliberal.

E o governo Dilma ainda mantém este absurdo?
Até quando vamos aceitar a roubalheira rentista?

Especuladores miliardários mamando nas tetas do Estado… e os trabalhadores pobres pagando a conta.

YACOV

Não contentes em captar $$$ a 1% alhures, e nos vendê-lo a 100% ao ano, os banqueiros ainda querem taxa Selic alta para faturar mais e mais. Não há dinheiro suficiente para saciar a sua sede de lucros. Se isso não é usua o que é?!? Até quando o mundo será prisioneiro desses agiotas de cartola???

“O BRASIL PARA TODOS não passa na glOBo – O que passa na glOBo é um braZil para TOLOS”

Valdemar

Depois de algumas caçambas de entulho autoritário que até hoje estão depositadas no nosso jardim, até quando vamos conviver com o entulho neoliberal?

Willian

Estranhamente, o discurso do Nassif é o mesmo do PT quando na oposição.

    Antônio Lange

    Estranho é o PT na situação não conseguir mudar isso.

Gustavo Pamplona

Não… não somos reféns de uma regra de três simples…

Somos reféns de uma simples regra e se chama: "ganância"

Se os empresários, banqueiros e o mercado em geral não conseguem ganhar sobre a inflação (falo de lucro e margens de lucro) então eles forçam sobre as taxas de juros compensando as perdas.

Bom… é basicamente como o mercado funciona… e não importa, o importante é ganhar dinheiro, custe o que custar!!!

—-
Desde Jun/2007 sendo refém da ganância no "Vi o Mundo"! ;-)

    Odon Barbalho

    Correto,
    A âncora do real são os juros altos. Não só os banqueiros como grande parte dos empresários (hipermercados, por exemplo) trocraram os ganhos inflácionários pelos maiores juros do mundo.

    Alex Mendes

    A ganância é apoiada pela mídia PiG corrupta, que se vende aos canalhas.

Cássia

Bem explicadinho o texto do Nassif. A economia vai muito além da questão dos números e das fórmulas matemáticas.
Sugiro a leitura do Projeto Nacional: http://blogprojetonacional.com.br/pequenas-previs

Marcelo de Matos

(parte 2) “Sustentamos que uma Nação desenvolvida é uma Nação que pode manifestar e fazer sentir a sua vontade. É uma Nação com organização popular, com sindicatos autônomos, com centros de debate, com partidos autênticos, com veículos de livre informação. É uma Nação em que o Povo escolhe seus dirigentes, e tem meios de introduzir sua vontade nas deliberações governamentais. É uma Nação em que se acham abertos os amplos e francos canais de comunicação entre a Sociedade Civil e o Governo”. O professor conclui que assim deve ser no Estado de Direito, ressalvando que, nos Estados de Fato “A órbita da política não vai além da área palaciana, reduto aureolado de mistério, hermeticamente trancado para a Sociedade Civil”. Então, na “concertación” que permitiu a eleição e posse de Lula está implícita a aceitação das determinações do mercado, como a fixação de juros pelo BC e a orientação da política industrial, ou até de “desindustrialização” capitaneada por esses órgãos da “sociedade civil”.

Marcelo de Matos

(parte 1) Em 99,99% das análises econômicas sobre juros, baixa do dólar ou alta do real e câmbio os especialistas não explicitam a quem, de fato, as críticas são dirigidas. Ah, falam do BC, mas, seria ele influenciável pelo Executivo? O post do Nassif tem o mérito de explicitar: “A equação é a seguinte: 1. A taxa de juros que o BC fixa é diretamente proporcional à expectativa de inflação; 2. Quem define a expectativa de inflação é o mercado; 3. Portanto a taxa de juros que o BC fixa é aquela que o mercado quer”. Dilma e PT fiquem tranquilos – a crítica é dirigida ao sistema político, não ao governo. Chega de usar de subterfúgios jornalísticos para acusar o governo daquilo que não é da sua alçada, a mais das vezes com recursos subliminares. Na Carta ao Povo Brasileiro, subscrita por Lula para viabilizar sua candidatura, ficou claro que seriam respeitadas as decisões dos órgãos da chamada “sociedade civil”, como Fiesp e Febraban. Diz o texto original do prof. Gofredo Telles Júnior:

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