‘Anjo da Morte’ é condenado à prisão perpétua na Argentina
Um dos símbolos macabros da ditadura argentina, Alfredo Astiz foi chefe de inteligência do Grupo 3.3.2 da Marinha, e um dos primeiros integrantes da Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA) reconhecido publicamente como um brutal repressor no final da década de 70. Em sua lista de acusações estão os assassinatos de Azucena Villaflor, fundador das Mães da Praça de Maio, e das monjas francesas Alice Domon e Leonie Duquet, torturadas na ESMA e jogadas no mar. Outros 17 ex-marinheiros foram condenados por crimes de lesa humanidade. A reportagem é de Francisco Luque, direto de Buenos Aires.
Francisco Luque – Correspondente da Carta Maior em Buenos Aires
Após quase dois anos de processo, a Justiça argentina anunciou a sentença contra 18 ex-marinheiros acusados de crimes de lesa humanidade cometidos no centro de detenção e tortura da Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA), um dos mais emblemáticos da última ditadura. Os repressores foram responsabilizados pela detenção, privação, torturas e homicídio de 86 pessoas, entre elas, o jornalista e escritor Rodolfo Walsh, as fundadoras das Mães da Praça de Maio, Azucena Villaflor, Mary Bianco e Ester de Careaga, e as monjas francesas Alice Domon e Leonie Duquet, missionárias que apoiavam os familiares dos detidos desaparecidos no início da ditadura.
Os oficiais acusados no processo ESMA são: Alfredo Astiz, Jorge Acosta, Antonio Pernías, Oscar Antonio Montes, Raúl Schiller, Jorge Radice, Alberto González, Nestor Savio, Ricardo Cavallo, Adolfo Donda, Julio César Coronel e Ernesto Weber, todos condenados à prisão perpétua. Manuel García Tallada e Juan Carlos Fotea, a 25 anos; Carlos Octavio Capdevilla, 20 anos, e Juan Antonio Azic, 18 anos. Pablo García Velazco e Juan Carlos Rolón foram absolvidos, mas seguirão na prisão por outros crimes.
O tenente Alfredo Astiz é um repressor símbolo da ditadura. Chefe de inteligência do Grupo 3.3.2 da Marinha, foi um dos primeiros integrantes da ESMA reconhecido publicamente como um brutal repressor, para muitos, o emblema do terrorismo de Estado na Argentina no final da década de 70. Astiz foi acusado de infiltrar-se no grupo fundador das Madres da Praça de Maio, fazendo-se passar pelo irmão menor de um desaparecido, e de sequestrar a fundadora, Azucena Villaflor.
Apelidado de “Menino Gustavo” ou “Anjo da Morte”, Astiz foi condenado à revelia pela Justiça francesa pelo assassinato das monjas Domon e Duquet, torturadas na ESMA e lançadas ao mar. Também é responsável pela morte da cidadã sueca Dagma Hagelin, ocorrido em 1977. Graças às leis do Ponto Final e da Obediência Devida, aprovadas no final da década de 80, Astiz foi eximido de responsabilidade na qualidade de militar de média patente, até que, em 2003, o Congresso argentino anulou estas leis, provocando a reabertura dos processos. Em sua longa lista de acusações está incluída uma investigação aberta pela Audiência Territorial de Nuremberg (Alemanha) em função da execução e desaparecimento de cidadãos alemães durante a ditadura.
Jorge “Tigre” Acosta, chefe da inteligência e do Grupo de Tarefas 3.3.2 da ESMA, foi acusado pela detenção e desaparecimento do jornalista Rodolfo Walsh, autor do livro “Operação Massacre” e da “Carta aberta à Junta Militar”, um texto escrito e difundido por Walsh durante seu período na clandestinidade, um ano após o golpe militar. Nesta carta, ele acusa as forças armadas de realizar um plano de extermínio contra opositores e pela instalação de um plano econômico neoliberal dirigido pelo ministro de Economia da ditadura, José Martínez de Hoz, Rodolfo Walsh foi visto pela última vez nas instalações da ESMA.
A deputada Patricia Walsh, filha do escritor, disse que “essa é a primeira vez que houve testemunhos que contaram com detalhes o que ocorreu na última casa em que meu pai viveu (em San Vicente), que ficou completamente destruída, onde roubaram seu último conto “Juan se iba por el río” e que, atualmente, está ocupada por uma família de um policial aposentado.
A leitura da sentença foi recebida com júbilo pelos familiares das vítimas, sobreviventes e organizações de direitos humanos. Fora do tribunal e das instalações da ESMA, milhares de pessoas acompanharam o julgamento por telões. O ex-presidente Néstor Kirchner converteu a ESMA em um lugar para a memória.
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Tati Almeida, integrantes das Mães da Praça de Maio, Linha Fundadora, disse que “sempre buscamos justiça dentro da legalidade e não pelas próprias mãos”. “É um dia pleno de felicidade para toda a sociedade argentina que acredita na justiça e nos direitos humanos. Não esperávamos assistir em vida a esse julgamento e agradecemos às organizações sociais e aos jovens que nos apoiaram”.
Para Christian Castillo, dirigente do PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas), esses julgamentos são uma vitória para todos aqueles que lutaram durante todos esses anos para conseguir justiça e verdade. Em especial, os sobreviventes da repressão que tiveram que ficar mais uma vez frente aos repressores. Uma questão que não é menor ao se recordar o caso de Julio López, sobrevivente da repressão e autor de uma ação contra o policial Ethcecolatz. No dia da sentença, López saiu de sua casa para ir ao tribunal e nunca mais se soube dele.
Tradução: Katarina Peixoto
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Comentários
ademar
ja por aqui os vagabundos curtem a aposenadora no Guaruja………
Fátima Mello: Sobre o perigo de demonizar as ONGs | Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Francisco Luque: “Anjo da Morte” é condenado à prisão perpétua Um dos símbolos macabros da ditadura argentina […]
leodf
Enquanto isso, estamos em dias cada vez mais sombrios no Brasil.
Ideologicamente (ou em tudo), a direita não perdeu terreno algum.
manoel rodrigues
Que inveja eu tenho da Argentina!
Lá, os argentinos tem um judiciário muito mais sério que o nosso e uma Presidenta muito mais corajosa que a nossa presidentE.
Antonio
Filtro é coisa do PIG. Medo de quÊ?
Antonio
Filtro é coisa do PIG.
Antonio
Filtro não é democrático! (Favor seguir o exemplo Conversa Afiada).
Antonio
"Me pergunto em que tipo de sociedade vivemos, que democracia é essa que temos onde os corruptos vivem na impunidade, e a fome das pessoas é considerada subversiva.”
— Ernesto Sábato, Antes del fin (1999).
antonio
LIÇÃO ARGENTINA
A Justiça na Argentina fez a sua parte. Enjaulou torturadores, principalmete Alfredo Astiz, o “anjo da morte”, executor de Azucena Villaflor de Vicenti, fundadora das Mães da Praça de Maio, brutalmente torturada e executada por este canalha e comparsas. Enquanto isso, um pretenso ministro “comunista” pede demissão por supostos crimes de corrupção no Brasil. Ora, uma mulher perde a vida por lutar por democracia, livre expressão e liberdade de todo um povo, o outro, um pretenso “comunista” perde a oportunidade de ser o “cara”, um exemplo para toda uma geração de brasileiros. É o fim. Como diz um amigo libertário, anarquista, ambientalista, astrônomo e enamorado das estrelas: “Só um Asteróide Salva!”. Que medo! Para novembro vem aí o “tira tinta quase quebra” o 2005 YU55. Antes do cadafalso, parabéns a Justiça da Argentina.
ANTONIO SÉRGIO NEVES DE AZEVEDO – Estudante Mestrado – Curitiba – Paraná.
Alberto Santos Neto
Se existe um país, cujo futuro é totalmente incerto, este país é o Brasil. Não é possível que em pleno século XXI nós brasileiros sejamos tão incensíveis e não vemos que o mundo ao nosso redor está mudando, enquanto por aqui tudo continua como sempre, culturalmente parece que vivemos nos anos 1950. Em toda a América do Sul, principalmente na Argentina, que está a anos luz à frente do Brasil em matéria de direitos humanos e em outros quesitos igualmente importante para o ser humano. Para não vermos estas coisas a mídia (O PIG) incentiva uma disputa idiota entre Brasil e Argentina e, claro, sempre em relação ao futebol (como se futebol fosse o que há de mais importante para o povo). Aqui se alguém chegar em um local público (um bar,supermercado,etc..) e mencionar alguma sobre ditadura, impunidade ou tortura as pessoas irão afastar-se no ato, como se estes assuntos não fosse do interesse de todo um país. Não é à toa que somos campeões em assassinatos, trabalho escravo e exploração de menores. Temos uma sociedade que não dá a mínima para isto e que só quer saber do próprio umbigo. Triste Brasil!!!
Robson Moreno
Ricardo Silveira, se me permite um aparte, enquanto isso em nossa pátria tupiniquim, os logradouros públicos tem nome dos usurpadores do poder e também dos chefes das famiglias que os apoiaram ostensivamente (Av. "Jornalista" Roberto Marinho, Praça Victor Civita, etc.). E cujos filhos ainda nos assombram! Ah! O "valente" tenente Alfredo Astiz, na guerra das Malvinas estava com suas tropas na Ilha Geórgia do Sul, se não me falha a memória, ele se entregou sem disparar um tiro contra a armada britânica! O negócio dele era outro: sequestrar e matar civis desarmados, de preferência mulheres (Dagma Hagelin – que na época tinha 17 anos! – e Azucena Villaflor). PARABÉNS AOS KICHNER E AO POVO ARGENTINO! Eles nos dão um exemplo de como se deve tratar os crimes contra seu povo e a democracia e, acima de tudo, de civilidade!
Arlene
Que inveja da ARGENTINA. PARABÉNS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
EUNAOSABIA
Vai morar pra lá.
Leider_Lincoln
Não ter argumento ou coragem para defender o que realmente pensa deve ser terrível não é mesmo, sr. "bisneto de irlandeses"?
Pedro Soto
Palavras do Ministro de Relações Exteriores da França:
" A condenação de Alfredo Astiz HONRA A ARGENTINA".
beattrice
Se o ministro olhar para o que o Sarko Napoleão apronta em casa ou na casa dos outros – Costa do Marfim por ex – só tem que agradecer o que ocorre na casa dos outros.
O ministério d'Orsay já teve dias melhores.
Hélcio Magalhães
Sempre tive grande admiração por Azucena Villaflor, fundadora das Mães da Praça de Maio, que, recebeu com carinho este impiedoso assassino que se travestia de vítima. Conheci algumas dessas Senhoras que enfrentaram a ditadura militar argentina, as quais tiveram Azucena como a primeira lider que obrigou a exposição do Terrorismo de Estado que se praticou na Argentina.
Salve Azucena, Salvem os 30.000 desaparecidos políticos argentinos, Salvem os mais de 400 bebês roubados pelos assassinos de seus pais. O dedicado esforço destas hoje senhoras, madres e abuelas de Plaza de Mayo deságua na conquista da Justiça que hoje se faz!
jaime
A Argentina tenta, pelo menos, lidar com seus torturadores, com o agro negócio, com os seus banqueiros, com a sua imprensa. Não faria mal imitá-los em alguns quesitos e abandonar um pouco esse bundamolismo característico da nossa política de grandes revoluções para que tudo continue igual. Há pouco tempo o Lula foi lá fazer umas palestras, na verdade, ajudar na campanha da presidenta Cristina. Talvez tenhamos nós que pedir ajuda em algumas coisas.
beattrice
Astiz foi um ícone da guerra sucia.
Sua condenação é um tributo à memória não somente dos que tombaram na ESMA, mas
de cada desaparecido atirado vivo no Rio de La Plata
de cada criança sequestrada e criada pelos genocidas torturadores de seus pais
de cada família destruída pelo medo e pela dor.
Longa vida a Astiz, a ele e a todos que contam seus dias nas prisões argentinas,
purgando a tragédia que infligiram ao país.
ricardo silveira
Enquanto isso, no Brasil, os generais da Ditadura dão os seus nomes a logradouros públicos.
beattrice
E suas fotos figuram no panteão dos ex-presidentes.
Cadê o presidente de coragem pra tirar o retrato de lá como Néstor Kirchner fez?
Julio Silveira
É verdade Ricardo, e isso é um despautério, uma desonra para a cidadania.
alexandre melo
aqui em uberaba ha uma escola estadual em nome do castelo branco.
bevenuto nadal
Nosso Brasil, é o maior, mais rico e mais populoso país do continente sul americano, no entanto é à Argentina que devemos parabenizar e seguir como exemplo, pois que políticamente falando, eles estão "anos-luz" na nossa frente!!!
Prabéns Sra, Cristina, parabéns a todos os argentinos!
Rafael
Imagine se fosse no Brasil a tentativa de julgamento o que globo e abril estariam dizendo. A situação é terrível. Nosso país é conivente com o regime militar, estão infiltrados na justiça e principalmente na mídia. Nunca chegaremos nem perto de iniciar um julgamento.
Tá na hora do PT acordar e perder o medo que tem da globo/abril eles não têm força para prejudicar o governo, pelo contrário se o governo sair para a briga com tudo, usando tudo que pode e principalmente fechando a "torneira" do dinheiro da publicidade rapidinho vão pedir água. Quem dá força a mídia é o governo ao se acovardar. Na época Lula não era preciso esse embate por causa da popularidade, agora Dilma não tem essa popularidade então é partir para o confronto não tem o que perder.
Vlad
Não apenas na justiça e na mídia, Rafael, mas PRINCIPALMENTE no parlamento.
Tente esboçar a tal Ley de Medios ou qualquer tentativa de revogar a Lei da Anistia e verá a que se resume a tal base aliada. A aliança é por interesse (cargos para corrupção) e não ideológica.
Dilma está literalmente engessada em questões como essas. Lula estava também, mas em um momento posterior, capitulou e uniu-se de corpo e alma aos oligarcas e parasitas. O maior e simbólico exemplo é o escárnio à reforma agrária.
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