Fátima Oliveira: Para a ministra Eleonora, a luta continua!

Tempo de leitura: 3 min

Para a ministra Eleonora Menicucci, a luta continua!
O espaço de escuta que faltava ao feminismo no governo

por Fátima Oliveira, no Jornal OTEMPO
Médica – [email protected] @oliveirafatima_

“Pela primeira vez, a Secretaria de Políticas para as Mulheres será ocupada por uma feminista histórica, comprometida com as lutas populares e democráticas. Eleonora foi uma das mulheres que ajudaram a construir a política brasileira de atenção integral à saúde da mulher. Axé, Eleonora! Temos certeza de que você saberá levar adiante as nossas batalhas, considerando todas as necessidades das brasileiras, porque é incansável e do tempo do caminhando e cantando e seguindo a canção . A presidenta Dilma acerta e nos acena com grandes esperanças”. Declaração que fiz ao Viomundo ao saber que Eleonora Menicucci de Oliveira seria ministra (7.2.2012).

Desde então, Eleonora tem “bombado”. Era esperado o chão fundamentalista tremer. Numa linguagem “boieira”: “Sabiá/já mostrou seu canto… Chão tremeu quem fez?/ Foi Maracanã/ Êh boi!/ Chegou batalhão da mata…” (“Boi de Lágrimas”). “En passant”, a mídia jamais deu tanta boa e má atenção a alguém ministeriável. A ministra deu um “nó” nas mentes conservadoras – a mais cristalina tradução do significado de sua pasta: visibilizar a mulher em toda a sua concretude, fugindo do suposto padrão da mulher universal, tão ao estilo do fundamentalismo cristão: santa ou satânica.

Eleonora já disse de onde fala. E eu não esperava menos… Ela conhece o seu papel na atual conjuntura e saberá estabelecer o espaço de escuta que faltava ao feminismo no governo Dilma. Ela no seu lugar e nós no nosso. Nem mais, nem menos. A sua incomensurável gana de trabalho e bom humor são contagiantes. Muitas vezes, eu a olhava incrédula e indagava aos meus botões: “Como quem passou o que ela passou consegue continuar inteira nas lutas?”.

E o fiz inúmeras vezes, quando ela foi perseguida titanicamente pelo teor contundente do documento que produziu como relatora de saúde da Plataforma Dhesca (direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais), indicada pela Rede Feminista de Saúde, quando fui secretária-executiva da referida articulação política. Uma das missões por ela realizada repautou para o mundo o caso da contaminação ambiental da Shell Química no Recanto dos Pássaros, em Paulínia, em São Paulo (“Caso Shell será levado à Corte Internacional da ONU”, Vilma Gasques, 24.2.2003).

Quando a indicamos para a Dhesca, o seu tino de pesquisadora deu o tom. Não trastejou. Estava às ordens. Não era pouco, pois fazia parte da tarefa, como primeira relatora de saúde da Plataforma Dhesca, construir aquele lugar: dar nome e sentido… Escrevi, em “A vida continua”: “Semana passada, recebemos em Beagá a relatora de saúde da Plataforma Dhesca, Eleonora Menicucci, que, sob a chancela do voluntariado da ONU, avaliou a atenção ao abortamento inseguro na rede pública de saúde e ouviu empregadas domésticas sobre as doenças de trabalho da categoria” (O TEMPO, 31.3.2004).

Sobre Eleonora, eu poderia escrever páginas e páginas dignificantes e edificantes. O espaço é exíguo. Contento-me com um resumo de Paulo Henrique Amorim (“Tortura: ministra Menicucci desafia Supremo”, 11.2.2012): “A ministra Menicucci foi torturada na mesma época e pelos mesmos torturadores da presidenta Dilma (hoje, anistiados pelo Supremo). A presidenta deve saber o que ela pensa. E, por isso, levou-a para o ministério. Portanto, sua opinião sobre o papelão do Eros Grau e seus companheiros de toga deve ser do conhecimento da presidenta. Como também a presidenta deve saber o que ela pensa sobre o aborto”. Em suma: “Pra quem sabe ler, um pingo é letra”.

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Comentários

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Cláudia Amaral

Fiquei radiante pela indicação de Eleonora Menecucci para ministra da mulher. O que destaco no artigo de Fátima Oliveria é a clareza com que ela coloca as coisas, como a seguir:
"Eleonora já disse de onde fala. E eu não esperava menos… Ela conhece o seu papel na atual conjuntura e saberá estabelecer o espaço de escuta que faltava ao feminismo no governo Dilma. Ela no seu lugar e nós no nosso. Nem mais, nem menos. "
Estou completamente de acordo

Alene Cardoso

O artigo é muito bom sobretudo porque nos mostra o trabalho da professora Eleonora Menecucci, que com
certeza será uma ministra de destaque, a despeito da campanha contra ela

ma.rosa

Estou emocionada, nunca li algo tao forte:" visibilizar a mulher em toda a sua concretude, fugindo do suposto padrão da mulher universal, tão ao estilo do fundamentalismo cristão: santa ou satânica"`. É um grito de "guerra" de todas(os) nós mulheres e homens que queremos uma sociedade mais humana e humanizada, justa e igualitaria, sem medos. Sinto-me uma brasileira privilegiada por estar vivendo tempos tao esperançosos. Axé Fátima e Axé cara ministra!

Maria das G. Dourado

Um artigo que ajuda a ver bem o fazer político da ministra e não a reduz só à luta pela legalização do aborto, como tenta fazer a mídia conservadora

Charles Lamounier

Desculpe-me gente, mas BOI DE LÁGRIMAS é uma das mais belas toadas de bumba-meu-boi http://letras.terra.com.br/alcione/523055/

Charles Lamounier

Vejam BOI DE LÁGRIMAS http://letras.terra.com.br/alcione/523055/

Charles Lamounier

"PRENDA DO ROSÁRIO" aqui no Maranhão é o Boi de Rosário, beleza pura. "Brilho e clarim"…
Entendo porque Fátima Oliveira citou a música. A ministra Eleonora menicucci é uma prenda do Rosário.

BOI DE LÁGRIMAS
Raimundo Makarra (cantado por Alcione, Boi Barrica, etc.)

Sabiá
Já mostrou seu canto
Enfrentou cantor do boi da pindoba
Ê boi…
Chegou prenda do Rosário
Beirada nunca viu tanto brilho e clarim

Chiador,
levantou maioba
Chão tremeu, quem fez?
Foi Maracanã…
Ê boi, chegou
Batalhão da mata,
Enfrenta o contrário no cordão
Ê boi…

Zé de França Pereira viu
Esse boi tão pequeno chegar
Madre Deus de São Pedro fez
Esse boi chorar…

Levanta boi e vai
Que é pro amo ver
Que boi também chora,
Também sente dor
Que boi também chora,
Também sente dor
Que oi também chora

Lê lê lê…

Mari

AVE! Grande Fátima Oliveira saudando e vibrando com a grande Léo. São duas "cobras criadas" do feminismo brasileiro (ehehehheheheeheh), a quem devemos tanto, tanto e tanto…

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