Concretamente, o ingresso da Palestina na Unesco abre a possibilidade para os palestinos de apresentarem demandas para que uns 20 parques arqueológicos e religiosos sejam reconhecidos como Patrimônio Mundial da humanidade. A Igreja da Natividade em Belém e a Tumba do Profeta, em Hebron – um lugar santo tanto para os judeus como para os muçulmanos – serão as primeiras demandas transmitidas à Unesco em nome da Palestina. O artigo é de Eduardo Febbro.
por Eduardo Febbro, correspondente da Carta Maior em Paris
A bandeira palestina tremula no céu de Paris. Um mês depois de a Conferência Geral da UNESCO votar pela adesão da Palestina como Estado membro de pleno direito, a bandeira com o triângulo vermelho e as linhas verde, branca e preta foi içada na terça-feira última na sede da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura, na presença do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas, que viajou especialmente para este ato, que marcou o ingresso oficial da Palestina na Unesco. Até outubro passado, os palestinos só tinha um estatuto de missão observadora no organismo.
A mudança histórica, imediatamente condenada pelos Estados Unidos, produziu-se quando a Conferência geral do organismo aprovou a adesão da Palestina por 107 votos a favor, 14 contra e 52 abstenções. Washington se opôs de imediato e decidiu suspender o financiamento da Unesco em virtude de uma lei que data dos anos 90 e que proíbe os Estados Unidos de financiar qualquer agência das Nações Unidas em que a Palestina seja aceita como um Estado pleno, enquanto não se chegue a um acordo de paz com Israel. Isso deixou o organismo dependente da ONU sem os 22% de seu orçamento, uns 70 milhões de dólares por ano. A medida de força não modificou a decisão.
Sob uma chuva outonal, Mahmud Abbas, acompanhado pela diretora geral da Unesco, Irina Bokova, assistiu ao momento em que se içou a bandeira que converte a Palestina no Estado número 195 do organismo.
Mahmud Abbas falou depois na sala número um da Unesco. O líder palestino disse que esperar que este primeiro avanço diplomático “seja um bom agouro para a adesão da Palestina a todos os organismos internacionais”. Em 23 de setembro deste ano, Mahmud Abbas pediu, na sede das Nações Unidas, que a Palestina seja aceita como um Estado pleno dentro da ONU. “Esta é a hora da verdade, chegou o momento da independência do povo palestino”, disse Abbas, em Nova York.
O dirigente palestino repetiu uma mensagem similar em Paris, mas agora num outro contexto, já que, diferentemente do ocorrido na ONU, a Unesco abriu as suas portas ao direito dos palestinos. Mahmud Abbas reconheceu que a adesão à Unesco era “o primeiro reconhecimento da Palestina” e se mostrou comovido ao ver “nossa bandeira içada num organismo das Nações Unidas”.
O símbolo das cores palestinas no céu de Paris não resolve os entraves da realidade: o processo de paz está mais estancado que nunca, o Conselho de Segurança da ONU ainda não se pronunciou sobe a admissão da Palestina e a Unesco teve de operar com muitos cortes orçamentários em seus programas, para suprir os fundos que Washington retirou. Mahmud Abbas admitiu em Paris que surgiram entraves ao processo que deve conduzir a ONU a que faça da Palestina um Estado membro de pleno direito. “Encontramos algumas reticências, mas estamos no momento dialogando para que a decisão seja submetida ao voto”, disse Abbas.
No entanto, nada é mais improvável. Às portas fechadas, os diplomatas admitem que o processo hoje está em estado de “coma induzido”. Os palestinos necessitam de um mínimo de 9 votos, dos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU. Porém, desses 15 membros, cinco países são membros permanentes e com direito de veto: são eles Estados Unidos, Grã Bretanha, França, Rússia e China.
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Nesse contexto, Washington já anunciou que disporá de seu direito de veto, para bloquear a decisão. “Se não conseguirmos a maiori, tentaremos uma outra vez”, advertiu Abbas, em Paris. O presidente palestino também confirmou que a campanha pelo reconhecimento da Palestina como Estado de pleno direito continuaria em todos os organismos da ONU, ao todo, 6.
Ao contrário de Washington e de Israel, Mahmud Abbas vê nestas iniciativas um signo de paz e não uma declaração de guerra. Para ele, o ingresso da Palestina na UNESCO equivale a um primeiro passo na direção de “um Estado independente, que viva ao lado de Israel num espírito de paz”. A reticência dos Estados Unidos frente a qualquer iniciativa que legitime a Palestina como Estado é radical e até vergonhosa.
Há exatamente um mês, logo após a Unesco aprovar a adesão da Palestina, o presidente estadunidense Barak Obama declarou que estava “profundamente decepcionado” com a França, porque Paris votou a favor dessa adesão. Concretamente, o ingresso da Palestina na Unesco abre a possibilidade para os palestinos de apresentarem demandas para que uns 20 parques arqueológicos e religiosos sejam reconhecidos como Patrimônio Mundial da humanidade. A Igreja da Natividade em Belém e a Tumba do Profeta, em Hebron – um lugar santo tanto para os judeus como para os muçulmanos – serão as primeiras demandas transmitidas à Unesco em nome da Palestina.
Tradução: Katarina Peixoto
Leia também:
Eduardo Febbro: Não é a primeira vez que os EUA chantageiam a Unesco
Comentários
Marat
A causa Palestina é muito importante e lembra as vezes, a causa cubana: tem de lutar contra os Estados Unidos e seus países subalternos, contra o PIG internacional e contra o preconceito dos poderosos. Viva a Palestina!!!
Ana Giulia Zortea
Nossa mais uma vez a prepotência de quem tem o dinheiro tentando falar mais alto. Os EUA precisam aprender que eles não são os donos do mundo.
Morvan
Boa tarde.
A política pé-no-chão de Abbas parece, paulatinamente, produzir seus frutos; ao tentar (e conseguir) o apoio de várias nações mundo afora (exemplo louvável do Brasil) Mahmud Abbas demonstra, tacitamente, com muita sapiência e equilíbrio, que não acredita nas conversas monotônicas (Hic!) de Israel & USA e que sab e que a paz é uma conquista, como o teria sido, sempre, e não um "regalo", como querem fazer crer as duas nações irmãs xifópagas, Israel e Estados Unidos.
Para qualquer ser humano dotado de um mínimo de empatia, ver a bandeira palestina tremulando junto a outras bandeiras que já firmaram os seus passos como Estado-Nação, é motivo de júbilo.
Viva a Palestina. Para sempre sejamos irmanados com aquele povo imolado. haveremos de cambiar com eles, como povo, Estado e Nação, tratados, convênios, transferência de tecnologia e tudo o que pudermos para alavancar ainda mais os futuros de nossos dois povos.
Viva o povo palestino.
:-)
Morvan, Usuário Linux #433640.
Regina Braga
A Islândia foi o primeiro país a reconhecer a Palestina…que bom! Eles já existem e podem sair do campo de Concentração mantido por Israel.
macmonteiro
Liberdade para Gaza e os territórios ocupados, já!
Urbano
Estou com os palestinos desde a minha adolescência; exatamente no momento em que deixei de ser panaca.
Lu_Witovisk
Viva os palestinos e abaixo os malditos sionistas e estadounidenses. A ONU precisa é de reforma, e rápido.
Beto_W
Minhas felicitações ao povo palestino por mais essa conquista, lograda de maneira diplomática e pacífica. Abbas está jogando suas cartas da melhor maneira que pode, e Israel e EUA estão cada vez mais isolados no cenário da diplomacia internacional.
Enquanto isso, alguns extremistas judeus atearam fogo e picharam uma mesquita na Cisjordânia, aparentemente em resposta à demolição pelo exército israelense de dois edifícios ilegais em um assentamento – por sorte não havia ninguém na mesquita. E outros extremistas invadiram uma base militar, vandalizaram veículos, queimaram pneus e atiraram pedras contra os soldados, e nenhum deles sequer foi preso.
Será em breve a segunda fase da libertação de prisioneiros negociada em troca de Gilad Shalit, e eu aguardo para ver os próximos movimentos de Netanyahu e Haniyeh, que parecem até estar trabalhando juntos para puxar o tapete de Abbas.
Morvan
Boa noite.
Fico feliz por sua postura, Beto.
E viva a Palestina, a nossa mais nova Nação irmã.
:-)
Morvan, Usuário Linux #433640.
francisco.latorre
viva o povo palestino.
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