Um mês antes de trazer o PM Queiroz para seu gabinete, Flávio Bolsonaro fez discurso defendendo as milícias; leia a íntegra
Tempo de leitura: 4 minDa Redação
Em 07 de fevereiro de 2007, início de seu segundo mandato na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o deputado Flávio Bolsonaro fez um discurso em defesa das milícias (texto completo abaixo).
Ele argumentou que eram na maioria das vezes bons policiais, que contavam com a ajuda de colegas de farda para proteger as comunidades em que viviam.
No discurso, Flávio não fala em gatonet, monopólio na entrega de botijões de gás, no recolhimento de lixo, taxa de proteção, agiotagem, extorsão, parceria com o tráfico de drogas e armas e esquadrões da morte, alguns dos crimes associados às milícias.
Curiosamente, foi no mês seguinte que Flávio trouxe para dentro de seu gabinete o subtenente da Polícia Militar Fabrício José Carlos de Queiroz, amigo da família Bolsonaro há 30 anos.
Queiroz, se mandava tanto quanto ele e Flávio agora querem fazer crer, deixou a própria família em segundo plano: uma de suas primeiras contratações para o gabinete de Flávio, no dia 06 de setembro de 2007, foi de Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, esposa do então capitão PM Adriano Magalhães da Nóbrega, que agora se encontra foragido.
Mas, Adriano era um desconhecido de Flávio?
Impossível: no dia 23/08/2005, ou seja, dois anos antes, o deputado havia proposto a concessão da mais alta honraria do Rio de Janeiro, a medalha Tiradentes, ao então primeiro tenente Adriano.
Segundo a base de dados da Alerj, ao longo de seus quatro mandatos Flávio Bolsonaro propôs a entrega da medalha a 13 pessoas, sendo 7 policiais — um deles, Adriano.
Ops, mas Adriano já havia sido alvo de homenagem anteriormente: em outubro de 2003, em seu primeiro ano de mandato, Flávio apresentou moção de louvor a Adriano — muito antes, portanto, de ter contratado Queiroz.
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Duas homenagens públicas, contratação da esposa e mais tarde da mãe. Será que a relação de Flávio com Adriano passava mesmo por Queiroz?
Ligado à contravenção, à máfia dos caça-níqueis e investigado por extorsão, Adriano foi expulso da Polícia Militar em 2014.
A essa altura, obviamente, Flávio Bolsonaro cortou suas relações com Adriano, certo?
Errado.
A mãe e a esposa de Adriano só foram demitidas do gabinete de Flávio em 13 de novembro de 2018, cinco dias depois da Operação Furna da Onça, da Polícia Federal, que prendeu deputados estaduais acusados de vender favores ao ex-governador Sérgio Cabral.
Adriano está foragido. Corre sério risco de ser vítima de queima de arquivo.
O discurso de Flávio um mês antes de contratar Queiroz:
Sr. Presidente, venho falar sobre as milícias, assunto tão noticiado pela imprensa.
Como bem disse o Sr. Deputado Paulo Ramos, não se pode, simplesmente, estigmatizar as milícias, em especial os policiais envolvidos nesse novo tipo de policiamento, entre aspas.
Estendem uma exceção, um caso isolado em que há excesso por parte de alguns maus policiais que cometem atrocidades e covardias contra moradores de uma comunidade, à regra.
A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos.
Em todas essas milícias sempre há um, dois, três policiais que são da comunidade e contam com a ajuda de outros colegas de farda para somar forças e tentar garantir o mínimo de segurança nos locais onde moram.
Há uma série de benefícios nisso. Eu, por exemplo, Sr. Deputado André Corrêa, gostaria de pagar 20 reais, 30 reais, 40 reais para não ter meu carro furtado na porta de casa, para não correr o risco de ver o filho de um amigo ir para o tráfico, de ter um filho empurrado para as drogas.
Pergunte a qualquer morador de uma dessas comunidades se ele quer outra coisa, se quer sair de lá, se não está feliz de poder conversar com seus vizinhos na calçada até tarde da noite!
É claro que sim, porque ele sabe que não corre mais o risco de morrer!
Penso que não há diferença entre o policial militar que vai fazer a segurança de um deputado ou de um condomínio de luxo e o policial que está fazendo a segurança, na maioria esmagadora das vezes, no local onde mora e onde tem família.
Não acho justa essa perseguição – é neste ponto que eu quero chegar – principalmente por parte de políticos e entidades ligadas aos direitos humanos.
Por um motivo muito simples, eles se sentem apavorados com as milícias porque, raríssimas exceções – ONGs de Direitos Humanos, políticos ligados a essa área – vivem da miséria, da desgraça e da violência de uma comunidade porque, caso contrário, eles ficarão sem trabalho, não terão nada a oferecer em troca.
Imaginem se acabassem com o tráfico na Rocinha. O que o Viva Rio vai fazer lá dentro? Não vai ter mais função.
Como irá justificar a quantidade de recursos financeiros públicos e privados que recebe para exercer esse trabalho social entre aspas naquele lugar?
Então, para essas ONGs, não interessa ter milícia. Se não houver violência, miséria, morte, bala perdida, estupro, eles não terão o que fazer lá.
E mais, esses políticos ligados aos direitos humanos estão preocupados com a sua própria carreira política, Sr. Deputado Dionísio Lins.
A partir do momento em que não estiverem numa comunidade, como vão lá pedir voto? Então, este é um ponto que também deve ser levado em consideração.
Lógico que não devemos generalizar, mas raríssimas exceções, esta é a regra.
Podemos condenar tais policiais que estão trabalhando ali para tentar expurgar do seio de sua família criminosos que não têm recuperação mesmo?
Qualquer jornal hoje estampa a foto de um grupo de traficantes segurando fuzis de última geração com carregadores onde cabem centenas de balas.
Será que um vagabundo sendo preso poderá se recuperar? Será que ele quer ser recuperar? Será que é justo continuarmos mantendo esse tipo de gente na cadeia? Para quê?
Temos de deixar de ser hipócritas! Não há recuperação mesmo.
Precisamos rediscutir uma série de coisas: o problema social, o problema constitucional, penal, processual penal.
É muita coisa que precisa ser colocada numa máquina de lavar para poder sair toda essa sujeira, Sr. Presidente, Deputado Pedro Fernandes Neto.
Mas uma coisa deve ser levada em consideração: não podemos simplesmente generalizar, dizendo que esses policiais, que estão tomando conta de algumas comunidades, estão vindo para o lado do mal. Não estão.
A diferença é que eles têm sua origem nesses locais e estão preocupados sim, em permanecer ali e combater como eu falei, o que há de pior na criminalidade, seja com a ajuda do batalhão da região, seja com a ajuda de outros policiais colegas de farda. Não importa.
O que importa é que, de repente, pela primeira vez na vida, muitas dessas pessoas carentes estão tendo o mínimo de segurança, o mínimo de tranqüilidade, o mínimo de dignidade para, pelo menos, tentarem dar o mínimo de educação e saúde para suas famílias.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Comentários
Eduardo
Conclui-se que Flávio Bolsonaro jamais seria Deputado se não fosse forte aliado dos milicianos. No aperto, Queiroz se sentiu protegido por Flávio Bolsonaro onde? Acho que os promotores se quisessem, poderiam solicitar ao TRE do Rio de Janeiro informações sobre onde se deu as maiores votações de Flávio e Jair analisando estes dados!
Zé Maria
Trechos interceptados de ligações telefônicas envolvendo milicianos
de Rio das Pedras, obtidos pelo G1 nesta quarta-feira (23),
indicam que o grupo recebia com antecedência informações privilegiadas
sobre ações policiais na região.
As escutas foram realizadas pelo Ministério Público do Rio com autorização da Justiça.
De acordo com a denúncia do Ministério Público,
o Miliciano Manoel de Brito Batista, conhecido como Cabelo,
que aparece fazendo ameaças em várias ligações,
recebia informações de policiais e era responsável pela negociação
e “pagamento de valores espúrios” para que a milícia
pudesse cometer crimes sem ser incomodada.
(G1.Globo)
Curiosidade
Afinal, o que que fizeram os tais interventores
das Forças Armadas no Rio de Janeiro?
Zé Maria
https://abrilexame.files.wordpress.com/2018/03/bolsonaros-em-taiwan.jpg
Quem Afinal Defende Bandidos?
“Não era Marielle, não é Freixo, Jean Wyllys, não sou eu.
Defendemos o Estado de Direito e a Lei.
E eles?”
Por Maria do Rosário, via GGN
Em 1989 os eleitores que votaram em Collor como “O Caçador de Marajás”,
descobriram que ele era o próprio [Marajá], sentado no elefante não apenas de um mísero Fiat Elba, mas do esquema corrupto de PC Farias.
Isso demorou dois anos e cinco meses.
Não demorou todo este tempo para que graves escândalos pululem deste governo.
Com Bolso está sendo rápido.
Quando achávamos que era o Queiroz com seus milhões em depósitos e mortes marcadas no cabo do revólver, muito mais coisa aparece.
Enquanto lê-se que Queiroz samba na cabeça do eleitorado de Flávio e do chefe que deu nome ao clã, outra linha de investigação esbofeteia os ingênuos.
E aí? O Brasil gigante acordou? Não.
Para não ter visto quem eles são antes das eleições,
as pessoas estiveram em uma espécie de transe sobre muitas coisas.
Mas os novos fatos impressionam até mesmo quem sabia da falta de caráter de uns e outros que foram citados nos últimos dias…
íntegra em: https://t.co/dgVndBXQQS
https://twitter.com/luisnassif/status/1088146851403087872
https://jornalggn.com.br/noticia/quem-afinal-defende-bandidos-por-maria-do-rosario
Zé Maria
Quanto cobraram pela Execução Sumária de Marielle?
De acordo com O Globo (20/8/2018), a polícia tem informações,
não confirmadas, de que a morte de Marielle teria custado R$ 200 mil.
Segundo esses relatos, a quadrilha chegou a pedir mais dinheiro
depois da enorme repercussão do caso.
Os valores estão em linha com o que cobraria o Escritório do Crime:
um homicídio vai de R$ 200 mil a R$ 1 milhão,
a depender do perfil da vítima e de sua relevância.
Se confirmado o envolvimento do Escritório do Crime,
a morte de Marielle seria um de seus atos mais ousados,
mas não o único: a quadrilha faz “serviços” pelo país inteiro
e cobra um ágio por ações fora do Rio.
Como o grupo faz os trajetos de carro, levando armamento pesado
e farta munição, aumenta seu nível de exposição…
https://oglobo.globo.com/rio/caso-marielle-grupo-de-matadores-de-aluguel-formado-por-policiais-novo-alvo-das-investigacoes-22992033
Zé Maria
Quem Indica (QI) pessoas para exercer Cargos de Confiança (CCs)
é o Titular do Gabinete, no caso, o Deputado Flavio Bolsonaro.
E a Nomeação é feita pelo Presidente da ALERJ ou pelo Diretor-Geral por delegação prevista em Norma Legal ou Regulamento.
Zé Maria
A ALERJ possui os Registros das Nomeações de CCs para os Gabinetes.
Algum Deputado do PT ou do PSoL poderia Requisitá-los.
Zé Maria
Os Nomes da Esposa e da Mãe do ex-Oficial da PM,
Cap. Adriano Magalhães da Nóbrega (Bandido Procurado
pelo MP-RJ por suspeita de ser Chefe de Milícias que atuam
na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro)
Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega,
ainda constam da Folha de Pagamento da ALERJ
relativa ao Mês de Novembro de 2018, conforme Tabela:
http://www2.alerj.rj.gov.br/leideacesso/spic/arquivo/folha-de-pagamento-2018-11.pdf
DANIELLE MENDONCA DA C NOBREGA ASSESSOR PARLAMENTAR V
Bruto = +2.812,49
Previdência = -253,12
IR = -49,15
Líquido = +2.510,22
RAIMUNDA VERAS MAGALHAES ASSESSOR PARLAMENTAR V
Bruto = +2.812,49
Previdência = -253,12
IR = -49,15
Líquido = +2.510,22
https://transparencia.alerj.rj.gov.br/section/report/73
Pedro dos Anjos
O dragão tem destas coisas: se faz de São Jorge, mas é o
dragão disfarçado.
Besta fera.
O próprio retrato do mal em si.
Seu sonho é distopia para a
humanidade. É com a crítica acovardada das armas que vomita suas “verdades”. Onde lhe falta valentia, sobra
ódio inumano e
psicossociopatia.
Não há o que redima o dragão da dissimulação e do mal.
Marcia Oliveira
Raciocínio corretíssimo. A expulsão do Adriano foi veiculado em vários órgãos de imprensa. Foi pública e notória.
O Filho do Bolzo sabia, sim, de tudo.
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