Ronaldo Costa: Passados mais de 100 anos, persiste a opressão da mulher pelo homem

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Extração do famoso cartaz de Karl Maria Stadler (1888 – final de 1943), criado para a celebração do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março de 1914. Abaixo, a íntegra do cartaz

Passados mais de 100 anos, persiste opressão à mulher

Por Ronaldo de Souza Costa*, na revista digital Vila Morena

No dia 28 de fevereiro de 1909, mulheres saíram às ruas nos Estados Unidos para reivindicar condições dignas de trabalho em fábricas onde a força de trabalho predominante era formada por mulheres.

A iniciativa ecoou, e as francesas, no mês de março de 1909, unidas ao movimento socialista, marcharam por direitos iguais na economia e pelo direito de votar.

Dois anos depois, em 25 de março de 1911, um incêndio em uma fábrica têxtil que não oferecia condições adequadas de trabalho nos Estados Unidos matou 123 trabalhadoras, e, a partir dessa data, passaram-se a fazer comemorações em memória das trabalhadoras vítimas do incêndio.

Em 1911, trabalhadoras nos Estados Unidos, Suíça, Dinamarca e Áustria escolheram o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. Logo em seguida, as da França, Holanda, Suécia, Boêmia e Rússia. Em 1914, a celebração do Dia Internacional da Mulher em 8 de março se consolidou como prática mundial. E um cartaz em alemão, de Karl Maria Stadler (1888 – final de 1943), marcou a ocasião. Nele estavam estampadas as palavras “Dia da Mulher / 8 de março de 1914 – Avante com o sufrágio feminino” e a imagem de uma mulher vestida de preto acenando a bandeira vermelha. Na Alemanha, que já se preparava para a Primeira Guerra Mundial, a polícia proibiu que ele fosse pendurado ou distribuído publicamente. Acima, a íntegra do cartaz de Maria Stadler

No dia 8 de março de 1917, as mulheres de Petrogrado (hoje São Petersburgo) se mobilizaram na manifestação Pão e Paz, como um dos primeiros atos que antecedeu a Revolução Bolchevique de outubro de 1917.

O fato é que o Dia Internacional da Mulher tem origem em episódios de organização por condições dignas de trabalho, por igualdade salarial, pelo direito ao voto, por condições dignas de vida, por paz, e em homenagem às trabalhadoras vítimas de acidente de trabalho em ambientes inadequados.

Passados mais de 100 anos, persiste ainda a opressão sobre a mulher pelo homem. E isso repercute e faz imperar as condições de desigualdade de trabalho, de condições inseguras e indecentes de trabalho, de diferença de salário, de condições indignas de moradia, de jornadas duplas de trabalho em condições de vida inadequadas.

Toda falta de infraestrutura na moradia e do saneamento básico, no transporte, na segurança, nas condições de alimentação, no acesso à educação, à cultura e ao lazer, no acesso à saúde, tudo que não é ofertado e adequado impacta nas condições de vida das mulheres.

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A desvantagem que se impõe até os dias de hoje sobre as mulheres impacta sobre a saúde, e a somatória de múltiplos fatores de risco é causa de desequilíbrios físicos e psíquicos.

O primeiro problema que observamos é a ocupação plena do tempo com obrigações do trabalho e de casa, de forma que o tempo para o cuidado de saúde fica comprometido, o diagnóstico atrasa, o tratamento não ocorre, e o ciclo culmina com perda de chance e de qualidade de vida.

Nos tempos atuais, as reformas trabalhista, fiscal e da previdência impõem perda de estabilidade e de direitos em um mundo em desequilíbrio e, ainda, dominado por relações de consumo.

Acontece que tais relações demandam condições decentes de trabalho, transporte, alimentação e de conforto, para termos energias indispensáveis para tocar o dia seguinte.

Mas, em pleno 2025, não é isso que ocorre.

Além das precárias condições de trabalho e de vida, as mulheres com frequência são vítimas de várias formas de violência onde quer que estejam: em casa, no transporte coletivo, no ambiente de trabalho, na escola.

Lamentável reflexo do nosso patriarcado machista e de relações abusivas que não raramente acabam em bárbaros feminicídios.

Como o  8 de março é um dia de luta, que homens e mulheres pactuem pela organização de ações nos locais em que estão.

O objetivo é romper com o machismo estrutural e assegurar direitos iguais a homens e mulheres e condições dignas de vida para todas e todos.

Ronaldo de Souza Costa é médico do Trabalho em Mato Grosso do Sul.

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Zé Maria

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“Nísia diz ter sido Alvo de Campanha
Misógina no Ministério da Saúde”

“Durante os 25 meses em que fui ministra,
uma campanha sistemática e misógina
ocorreu de desvalorização do meu trabalho,
da minha capacidade e da minha idoneidade”.
“Não é possível e não devemos aceitar
como natural comportamento político
dessa natureza”, disse Nísia na Cerimônia
de Transmissão do Cargo a Alexandre Padilha.

CartaCapital

A agora ex-ministra da Saúde Nísia Trindade afirmou ter enfrentado
uma “campanha sistemática” que buscava desvalorizar o seu trabalho
e a sua capacidade no cargo, ao longo de dois anos.
Ela se despediu formalmente da pasta nesta segunda-feira 10, com a
posse de Alexandre Padilha no cargo.

Nísia disse ter encontrado um ministério “desmontado e desacreditado”,
após os quatro anos de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência.

Segundo ela, a pasta havia perdido a autoridade de coordenação
do Sistema Único de Saúde, o SUS.

“Durante os 25 meses em que fui ministra, uma campanha
sistemática e misógina ocorreu de desvalorização
do meu trabalho, da minha capacidade e da minha idoneidade”,
disse Nísia na cerimônia. “Não é possível e não devemos aceitar
como natural comportamento político dessa natureza.”

Desde o primeiro ano de governo, o cargo de Nísia era cobiçado
por lideranças do Centrão, de olho na capilaridade e no Orçamento
da Saúde — eram mais de 218 bilhões de reais em 2024.

A ex-ministra declarou ser necessário construir uma nova forma
de política, com base no respeito — em especial às mulheres —
e no diálogo de propostas para melhorar a vida da população.

“É preciso destacar a recuperação da cobertura vacinal após os anos
de negacionismo.
O Brasil saiu da vergonhosa lista dos vinte países com mais crianças
não vacinadas no mundo: em 2021, ocupava o sétimo lugar”, destacou.

Nísia Trindade é carioca e tem sua trajetória acadêmica em universidades
públicas do Rio de Janeiro.
Pesquisadora, foi a primeira mulher a comandar a Fundação Oswaldo Cruz,
posto que ocupou entre 2017 e 2023.

É servidora da entidade desde 1987 e participou da elaboração do Museu
da Vida.
Mais tarde, ocupou o cargo de vice-presidente de Ensino, Informação e
Comunicação.
Em 2020, foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

Na gestão à frente da Fiocruz, destacou-se na pandemia, período em que
a entidade virou uma das grandes referências no acompanhamento de
casos, vacinação e estudos para a prevenção da Covid-19 — o Observatório
da Covid produziu os principais boletins epidemiológicos do País.
Foi uma das articuladoras da parceria com a AstraZeneca e a Universidade
de Oxford que possibilitou que os imunizantes fossem produzidos 100%
em solo nacional.

https://www.cartacapital.com.br/politica/nisia-diz-ter-sido-alvo-de-campanha-misogina-na-saude-nao-devemos-aceitar/

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