Por Pedro Augusto Pinho*
O monoteísmo hebraico e a unipolaridade estadunidense estão hipocritamente procurando um inimigo para culpar pela guerra que eles desejam e para qual se preparam.
Assim é narrada a guerra que a Ucrânia promoveu contra a Rússia (Revolução da Maidan, 2013/2014) e está se transformando no tiro no pé para toda Europa. Apenas a intensidade da desinformação impede que todos tenham a exata noção do que está ocorrendo no Atlântico Norte.
O Brasil tem o pior Legislativo de sua história, não apenas pelo despreparo intelectual mas pela desfaçatez dos “orçamentos secretos” e “emendas” de toda ordem no orçamento da Nação.
Esta qualificação invade também o judiciário, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) escolhido por ser “terrivelmente evangélico” (sic).
Que não se agrida Lula comparando-o a Joe Biden, mas pela idade, pela saúde, pelo tempo de injustificável prisão, ele não tem enfrentado, com medidas objetivas e eficazes, a incomensurável pressão para privatizar, de vez e totalmente, o Brasil.
Regredimos ao período onde nem havia arremedo de Estado no Brasil, pois, em 1548, Dom João III constituiu o Estado Colonial dotado de alguma autonomia administrativa, ou seja, de mínima Soberania, com órgão de defesa externa (capitão-mor da costa), órgão para defesa interna (ouvidor-mor) e mais um para cuidar das finanças (provedor-mor).
A cidadania era, então, privatizada e só deixou de o ser quando, onze dias após empossado na Presidência (novembro de 1930), Getúlio Vargas criou o ministério para saúde, para educação e, outros tantos dias depois, para o trabalho.
Hoje o Banco Central (designação corrente do provedor-mor) se declara independente da Nação, nada tem que fazer pelo Brasil pois seu compromisso é com as finanças apátridas.
O capitão-mor da costa se repartiu em três, mas estão buscando transferir suas incumbências para uma empresa com ações em Bolsas de Valores. E o ouvidor-mor já são as milícias, que ocupam cada dia maior espaço na administração municipal e estadual.
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O retrato é desanimador. Mas é exatamente por isso que surgirá, da força do povo que, não suportando mais esta vexatória situação, se revoltará, olhando seus filhos e netos exclamará: quero o Brasil brasileiro, para meus descendentes, fora com as finanças apátridas, fora com as privatizações, fora com esta ocupação de marginais na administração das nossas cidades.
Dois recentes eventos dão ânimo à mudança. O assassinato da geriatra capitã-de-mar-e-guerra, por tiro de milicianos ou traficantes, que atravessou a janela do Hospital Marcílio Dias (Lins de Vasconcelos, RJ) se alojando na cabeça da médica, que comoveu não somente militares, mas civis que convivem com a falta da segurança pública estatal. Este feito resulta da privatização crescente do “ouvidor-mor”.
O segundo foi a inédita prisão, determinada pela justiça civil, com apoio do Ministério Público, de general do exército, último posto da carreira, por agir contra o Estado de Direito, articulador de Golpe de Estado e crimes conexos. A dolorosa e sentida realidade da privatização do “capitão-mor da costa”.
*Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Comentários
Zé Maria
“Ex-PM Paulista deixou de ser ‘Verme’
para seguir Carreira de Ator de Teatro”
Na Peça “Verme”, Luiz Campos encena Experiências de Três Anos
como Soldado da Polícia Militar de São Paulo e denuncia a Cultura
de Violência Institucional na Corporação Militar Estadual.
“Me Arrependo de 90% das Abordagens”
[Reportagem: Ana Luiza Basilio | CartaCapital ]
VERME!
O grito infantil que ecoou pela janela do ônibus atingiu Luiz Campos
como bala.
Parado em uma avenida de São Paulo, em seu uniforme azul-ferrete,
ainda mantinha a mão erguida num aceno incompleto quando ouviu
o xingamento que o marcaria para sempre.
Naquele momento, algumas certezas dentro dele se quebraram.
“Aquilo me destruiu.
Entendi que, para aquela criança, eu era o inimigo.
Um verme mesmo, sem nenhuma romantização.”
A ofensa, que hoje dá nome ao seu espetáculo teatral,
resume a transformação do ex-policial militar:
do jovem idealista que sonhava em ser um ‘herói’
ao homem que, após os anos de farda, aprendeu
a exorcizar nos palcos seus demônios.
Nascido em Santos, no litoral de São Paulo,
Luiz herdou do avô e do irmão mais velho
a vocação para a carreira militar;
primeiro, serviu na Aeronáutica, de 2005 a 2009,
ainda na cidade natal.
Um ano depois, já em São Paulo, ingressou na PM,
onde permaneceria de 2010 a 2013, durante os governos
de José Serra e Geraldo Alckmin, então no PSDB.
O processo de desumanização começou no primeiro dia de academia.
“Você perde o seu nome e passa a ser identificado por um número.
Eu era o 030”, relembra.
Os meses seguintes foram preenchidos por castigos físicos e humilhações.
“Por qualquer pequena transgressão, como andar quando deveria correr,
você tinha que dar dez voltas no Batalhão gritando ‘Eu sou bizonho!’.”
A formação de soldados na PM dura, ao todo, dois anos, contendo seis
meses de curso básico e mais seis meses de formação específica em
delegacias.
“Na escola, nos colocam muito medo.
Mostram vídeos de policiais morrendo por falhas táticas,
é uma ideologia perversa”, lamenta.
“Nos diziam: ‘Antes a mãe do ladrão chorar do que a sua’.”
Depois, há mais um ano de estágio supervisionado, já nas ruas
– onde a decepção se agravou ainda mais diante de outra paixão
de Luiz: o teatro, que o então PM tentava levar em paralelo.
“Tive vontade de matar”
No 3º Batalhão da PM, zona sul da capital, Campos patrulhava do Jabaquara
até a divisa com Diadema, área que abrange cerca de 40 favelas.
Já em sua primeira saída, a realidade mostrou as garras.
Campos conduzia uma viatura ao lado de um superior.
Ao avistar dois jovens em uma moto sem capacetes, tentou bloqueá-los,
mas eles fugiram.
O parceiro sacou a arma e efetuou três disparos.
“Naquele momento, entendi que aquele seria meu cotidiano,
convivendo com cenas assim”, desabafa.
“O certo teria sido eu dar voz de prisão ao outro policial,
mas ele era meu superior, e eu não tinha a clareza de hoje.”
Com o tempo, porém, a brutalidade se tornou rotina.
“Nesses três anos, fui me transformando em uma pessoa mais fria.
No final, tive vontade de matar. Eu queria uma ‘derrubada’”, confessa,
usando o eufemismo policial para operações letais.
Entre os batalhões, era comum a disputa por números:
quem conseguia mais flagrantes ou mais mortes.
O impacto emocional não demorou a chegar.
“Eu chorava no banheiro, já não aguentava mais.
Hoje eu vejo o quão equivocado eu estive.
Eu fui ficando sequelado, só que não percebia.
De folga, cheguei a apontar a arma para pessoas
que eu considerava suspeitas, com risco de atirar”.
Luiz Campos guarda pouco orgulho do trabalho
que desempenhou enquanto PM.
“Me arrependo de 90% das abordagens que fiz”, conta.
Entre os abusos que reconhece, estão os “esculachos”,
a tortura psicológica e a violência física.
Em um dos casos, ele e outros agentes agrediram dois jovens que
os chamaram de “coxinha” durante uma ocorrência de som alto:
“Ali, violamos todos os direitos.
Achei que estava no direito de humilhá-los…
uns oito policiais contra dois garotos.”
Em 2013, ele pediu exoneração.
Hoje, inteiramente dedicado ao teatro, atua no espetáculo Verme,
contemplado pela 42ª edição da Lei de Fomento ao Teatro de São Paulo.
Após 24 apresentações este ano, mais 12 estão programadas para março
de 2025.
A obra tem direção de Nathalia Nigro.
“O espetáculo é uma forma de revisitar esse período e tentar me perdoar.
Ainda me culpo muito.
Se não fui diretamente o autor de alguns abusos, fui conivente”, reflete.
Num momento em que a violência policial volta a ocupar as manchetes
sob o governo de Tarcísio de Freitas e o comando do secretário Guilherme
Derrite, Campos sente um misto de revolta e alívio.
“Não são casos isolados, como alguns insistem em dizer.
Eu sei o que acontece quando as câmeras estão desligadas.
Passou da hora da sociedade refletir sobre isso a partir de um olhar
humanizado.”
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/tive-vontade-de-matar-traumatizado-pela-violencia-ex-pm-encontra-redencao-no-teatro/
Zé Maria
https://youtu.be/cEFPDTHuqo8
Entrevista: LÊNIO LUIZ STRECK,
Jurista, Procurador de Justiça Aposentado.
“É muito mais tranquilo o Procurador Geral denunciar essa gente
se o barulho feito por toda a mídia progressista e a conservadora
vai na mesma direção.
Isso é muito importante, porque aquilo que para nós é um fato,
para a direita é uma narrativa.
Quando um conjunto de elementos midiáticos apontam para dizer que
aquele fato é um fato, isto é, já não há dúvida de que há uma tentativa de
golpe do Estado, já não há dúvida de que havia um plano, já não há dúvida
que… quando se diz que não há dúvida, aí a gente já pode definir detalhes,
por exemplo, a prisão do Braga Netto.
Ele não está preso pela sua participação no golpe, porque isso será objeto
de processo, mas porque ele está obstruindo as investigações.
Tem um delator a você, e você querer se meter nisso, acaba criando elementos concretos para o acionamento do artigo 312 do código de processo penal, digamos tecnicamente.
E cada vez que se prende ou se cria uma operação para buscar telefones,
computadores, etc,você está botando para fora as penas a serem puxadas,
para saber quais são os marrecos e bichos que saem lá de dentro.
Mas, mais do que isso, atualmente você está puxando uma pena que sai,
que tem um marreco, mas tem um bicho comendo marreco, por exemplo,
que é o financiador; e isso faz com que, quando você busca o Braga Netto,
por exemplo, você tem pistas para buscar aquele que mandou o dinheiro
para financiamento do golpe.
Por quê?
Porque você tem 5 Categorias quando você examina uma Tentativa de Golpe:
os Executores, os Financiadores, os Incentivadores, os Planejadores
e os Mandantes.
E aí nós estamos completando o círculo. O que nos dá um certo alento para olhar para a frente, embora estejamos no Brasil, tenhamos uma sociedade corporativista, um sistema bastante patrimonialista, mas as placas tectônicas vão se ajustando para deixar mais firme a questão da tentativa do golpe de Estado, porque mais elementos nos dão mais segurança; e eu tenho certeza que tudo isso acaba dando maior tranquilidade para o Procurador-Geral da República.
Então, um pouco, eu fico otimista com isso, porque a gente está pulando
para fora da história velha que nos oprime, que é o espectro dos golpistas
do militarismo que passou 25 anos de ditadura, e tudo, e estamos na transição para pular para dentro de uma nova história. Pular para dentro da nova história só será possível quando a gente atravessar esse rubicão, aqui,
da transição, pular para fora da história velha, como os argentinos.
Qual foi o grande lance dos argentinos com todos os problemas?
Condenaram um general à prisão perpétua.
Aquilo foi simbólico, porque eles pularam para fora da Velha História
e começaram uma nova. Teve problemas ali pra frente? Teve, mas a
Argentina é outra. É curioso como na Argentina nenhum General se meteu
a besta, de se engraçar agora.
Eles continuam na deles, dentro do quartel, e ninguém se movimenta muito, porque eles viram como foi que o [Ditador General] Videla morreu como um rato, jogado na cela, morto num canto de uma privada.
Então é muito pedagógico. Porque o Alto Comando das Forças Armadas
argentinas – hoje, mesmo com o governo de extrema direita e aí também
com um recorte e um cariz autoritário e que sugeriria uma possível tentativa
de ruptura institucional – nenhum militar argentino bota a cabeça para fora
da toca.
Ele continua indo de casa pro quartel e do quartel para casa,nenhum general se mete a besta de se intrometer com o governo.”
Íntegra da Entrevista na TV Fórum: https://youtu.be/cEFPDTHuqo8
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