Oligarquia tem outra “escolha difícil” diante do governo de arapongas do general Heleno

Tempo de leitura: 4 min
Carolina Antunes/PR

ABIN clandestina coloca oligarquia diante de outra “escolha muito difícil”

por Jeferson Miola, em seu blog

A suspeita está confirmada. Existe, sim, uma ABIN clandestina incrustrada dentro da ABIN oficial, a Agência Nacional de Inteligência.

Faz todo sentido, portanto, a afirmação do Bolsonaro naquela reunião ministerial de 22 de abril [que mais se pareceu com uma assembleia da “sociedade do crime”] de que ele possui seu “sistema particular de informações”.

A ABIN clandestina, montada por Augusto Heleno e Alexandre Ramagem, e que usa a ABIN oficial como fachada, é o “sistema particular de informações” que Bolsonaro se vangloria ter.

O site The Intercept Brasil teve acesso ao trabalho secreto realizado para ajudar a defesa do Flávio Bolsonaro nos processos em que o filho miliciano responde pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, peculato e corrupção, e descobriu que o autor desta missão ilegal é o delegado da PF lotado na ABIN Marcelo Bormevet.

Nas redes sociais, Bormevet esconde que é delegado da PF.

Ele se apresenta como “100% patriota. Conservador. Cristão.”, e divulga conteúdos característicos da legião de fanáticos extremistas e bolsonaristas. Imparcialidade, profissionalismo e isenção técnica não são pontos fortes da carreira do delegado Bormevet que, por isso mesmo, é da confiança do Ramagem.

Conforme apurou o Intercept, o objetivo da operação ilegal era “Defender FB no caso Alerj demonstrando a nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais de FB” [FB=Flávio Bolsonaro].

O presidente da Associação de Servidores da ABIN apontou que o relatório entregue à defesa de FB tem relevantes discrepâncias em relação ao padrão textual da ABIN. Analisando estilo, grafia e linguagem do documento, agentes da ABIN suspeitam que o relatório tenha sido escrito por algum policial federal, não por alguém da Agência.

Apoie o VIOMUNDO

Na opinião de um experiente funcionário, “um analista da ABIN jamais usaria aqueles termos. ‘Caps Lock’ em nomes próprios, por exemplo, é modelo policial, não da Agência” – dado que reforça sobremaneira a suspeita do envolvimento do delegado Marcelo Bormevet.

Órgãos clandestinos de informações, de inteligência e de espionagem vicejam em tiranias e em regimes ditatoriais, mas são abominados em democracias reais, nas quais as instituições funcionam normalmente – o que, evidentemente, não é o caso do Brasil, submetido a um regime de Exceção e a um governo militar.

Estruturas paralelas de inteligência/informação/espionagem são dispositivos típicos de Estado autoritário, de terror. São usadas para bisbilhotar, perseguir, caçar, intimidar e ameaçar opositores do regime e, também, para proteger e planejar os ilícitos e os crimes perpetrados pelos usurpadores do poder.

A ABIN é subordinada ao GSI/Gabinete de Segurança Institucional, ministério sediado ao lado do gabinete do Bolsonaro, e dirigido pelo general Augusto Heleno.

Na ditadura anterior [1964/1985] Augusto Heleno serviu como ajudante de ordens do Sylvio Frota, o general linha-dura que queria a perpetuação do regime sanguinário e que se opunha até mesmo à modesta “transição lenta, gradual e segura” programada pelo então ditador Ernesto Geisel.

Augusto Heleno, o valentão que ainda hoje grita, soqueia a mesa e profere impropérios, aparenta não ter perdido o gosto e o apreço pelo totalitarismo.

Está claro como a luz do sol o que está acontecendo no Brasil, dolorosamente dominado por grupos criminosos e milicianos que não hesitarão em promover uma escalada ditatorial. Bolsonaro e toda podridão que está aí é resultado da escolha da oligarquia dominante que praticou inomináveis vilanias para golpear a esquerda e impedir o regresso do Lula ao poder.

Em 8 de outubro de 2018, dia seguinte ao 1º turno eleitoral, o jornal Estadão, porta-voz desta oligarquia canalha, escreveu o editorial “Uma escolha muito difícil”, no qual disse que “Não será nada fácil para o eleitor decidir-se entre um e outro”.

O Estadão se referia, inacreditavelmente, no que sustentava ser uma “escolha muito difícil” se decidir entre Haddad e Bolsonaro; entre tortura e democracia; entre estupro e respeito às mulheres; uma “escolha muito difícil”, enfim, de se decidir entre civilização e barbárie.

Ora, se colocar em dúvida diante de 2 alternativas tão obscenamente contrapostas é um estágio superior da aberração ética e moral desta oligarquia canalha.

Mas, ao fim e ao cabo, em ordem unida, a oligarquia jogou o Brasil no precipício fascista e “escolheu” o personagem dantesco que é, em última instância, feito à sua própria imagem e semelhança.

O escândalo da ABIN clandestina coloca esta oligarquia canalha outra vez diante duma escolha que só é “muito difícil” para canalhas e patifes.

Sejamos sérios, está tudo muito claro; tudo totalmente esclarecido. Nem é preciso desenhar para ilustrar a devastação ética, moral, social e política que está acontecendo no país.

A decisão a respeito da continuidade ou aprofundamento da barbárie está inteiramente nas mãos da oligarquia dominante, que “detém o poder total: tem poderes plenos para dar o destino que os criminosos merecem, porque domina o parlamento, a política, a mídia, as finanças e o judiciário”.

O compromisso com a instalação do impeachment do Bolsonaro e com a aceleração do fim do governo fascista-genocida deve ser, dentro desta perspectiva, o parâmetro norteador da posição – preferencialmente unificada – dos partidos progressistas e de esquerda na eleição das presidências da Câmara dos Deputados e do Senado.

A palavra de ordem “Fora Bolsonaro!” é um imperativo ético e uma necessidade histórica!

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Sandra Rezende

PT tem que se unir com os partidos de esquerda em prol de uma pauta popular única, fazer o que for melhor para alcançá-la e ser transparente com a militância.

    Sergio Navas

    O PT não tem que fazer nada, já mostrou como governa, a decisão agora é dos que foram governados.

Zé Maria

Resiliência de Bolsonaro mostra que ele
não chegou até onde chegou por acidente

Por Matheus Pichonelli*, no Yahoo/Notícias

Quando tomou posse como presidente, em 1º de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro levou para o centro do Palácio do Planalto uma legião de Bolsonaros anônimos.
Não foi dele que ouvimos pela primeira vez que todo mundo vai morrer um dia.
Nem que o temor do vírus ou da morte é coisa de maricas.
Da mesma forma, ele não foi o primeiro a associar o feminino a uma “fraquejada”.
Ou a dizer que prefere um filho morto em acidente a um filho homossexual.
Nem a afirmar que o mundo anda chato demais por não poder dizer em paz as
barbaridades de sempre.

Isso tudo já ouvimos de parentes, vizinhos e amigos.
As declarações podem causar arrepio às mentes supostamente mais ilustradas,
mas calam fundo no coração de boa parte dos conterrâneos.
Ninguém atravessa o século 21 com tantas tralhas de séculos passados apenas
por acidente.
É preciso muito esforço e muita convicção para conservá-las.

Todo mundo conhece quem cruzou o novo milênio e morreu convicto
de narrativas particulares segundo as quais o homem nunca foi à lua,
que vacinação é uma forma de implementar moléculas destruidoras
no organismo do cidadão de bem, que a Terra é plana, que o mundo é dominado
há anos por meia dúzia de pessoas que se reúne anualmente para decretar
os destinos do planeta. Inclusive quem serão os ganhadores da Copa do Mundo.
Se soubéssemos o que aconteceu nos bastidores da final do Mundial de 98,
ficaríamos enojados, eles dizem.
É tudo armação, garantem.

Nascer e crescer não é um constante encontro e desencontro com a verdade e a
sabedoria;
dá para embrutecer muito com a idade e guardar no armário uma coletânea
de teimosias sem qualquer relação com a realidade, do chupa-cabra ao ET Bilu …

Quem saiu da toca após o período mais tenso da pandemia provavelmente
já percebeu quanto é gritante o número de pessoas que circula convicta de que
a China criou um vírus em laboratório para destruir as potências capitalistas
ocidentais e assumir a dianteira do controle mundial. Não é um ou dois.
São vários embaixadores dessa tese.
Unidos no WhatsApp, as vozes dispersas viram multidão. E, como multidão,
vira também força política –bem alimentada por gabinetes de ódio de todo tipo,
diga-se.

Medo, desespero e desinformação são armas poderosas em tempos de crise.
Elas permitem o surgimento de teorias da conspiração que oferecem sentido
às convicções, ainda que sem relação com os fatos.
Na conta entram também as manias de perseguição e a crença na salvação
pelo milagre, da cloroquina aos imunizantes naturais de quem, olha lá,
nada até em rio poluído e não acontece nada.

Bolsonaro não é o primeiro a expor tais ideias. Mas é quem levou essas ideias
mais longe.
É o presidente que escreve errado por linhas tortas.

As armas usadas aqui para trazer eleitores, leitores e espectadores para
a realidade são inócuas.
Elas trazem no léxico palavras como genocídio, fascismo, nepotismo, crime
de responsabilidade, xenofobia, conflito de interesses.
O esforço em direção à palavra certa pra doutor não reclamar parece
não mover sobrancelhas nos estratos preocupados apenas com a sobrevivência —
e que, no auge da pandemia, vê no presidente um defensor de seus interesses
quando ele diz que não se pode obrigar alguém a ficar em casa sem poder
trabalhar. Ou quando esse presidente ora posa como o poderoso protetor dos
oprimidos pelo lockdown, ora posa como vítima de perseguição dos poderosos
e seus interesses.

Protocolos de combate à epidemia podem ter sido eficazes em diversos países.
Aqui, as particularidades são outras, a começar pela informalidade do trabalho
e por aspectos também culturais, que fazem boa parte da população esquecer
dos riscos da aglomeração e lotar festas e bares com ou sem as recomendações
da Organização Mundial da Saúde, entidade bombardeada por quem vende
teimosia como soberania.

Tudo isso desemboca num quadro confuso como o desenhado pela pesquisa
Datafolha divulgada neste domingo. O instituto mostra que, apesar de todos
os esforços para liderar a corrida de pior liderança do planeta na gestão da
pandemia, o governo Bolsonaro ainda tem a aprovação de 37% dos brasileiros,
ante 32% que o consideram ruim ou péssimo.
É ainda a pior avaliação de um presidente em primeiro mandato desde
Fernando Collor, mas ainda assim é um sinal de resiliência e tanto.

Por ironia, 37% é também o número de brasileiros que dizem nunca confiar no
presidente, contra 39% dos que confiam às vezes e 21% dos que confiam sempre.
Não é motivo de regozijo, mas não deixa de espantar que 2 em cada 10 brasileiros
acreditem que a pandemia esteja no finalzinho e que, se não estiver, ainda temos
a cloroquina como salvação.
Provavelmente acreditam também que churrasqueiros amigos da família foram
parar por acaso no sítio do advogado da família ou que os esforços para estancar
a sangria de investigações contra os filhos, com uso de equipamento e dinheiro
público, sejam movidos por patriotismo.

Entre os brasileiros que confiam sempre em seu presidente, 35% são empresários – parte deles diretamente impactados pelas medidas de isolamento, que os
impedem de abrir suas lojas, bares, restaurantes ou centros de serviço caso
as autoridades estaduais, com quem Bolsonaro rivaliza, acentuem as restrições.
Entre os empresários o governo Bolsonaro tem 56% de aprovação.
Todos estão no corre para não deixar a fonte de renda secar.

A mesma pesquisa mostra que, para 52% dos entrevistados, o presidente
não tem culpa nenhuma pelo total de mortos por coronavírus.
Ele é apontado como um dos culpados por 38%, enquanto 8% dizem que ele
é o principal culpado.
Quantos deles sabem que, não fosse o Congresso, medidas como auxílio
emergencial sequer sairiam do papel?
Ou que parte dos recursos de combate à pandemia foi parar em projetos
da primeira-dama?

O Brasil é um dos países onde mais se morre de coronavírus do mundo.
Poucos se lembram dos prognósticos do governo de que a pandemia
mal faria estragos por aqui, que seria como um vírus da gripe comum,
que os estragos na economia seriam maiores do que no sistema de saúde,
que dois ministros da área foram demitidos e o terceiro só está onde está
porque é obediente e não contesta o chefe quando este manda boicotar
os esforços de adversários políticos em torno da vacinação ou espalha mentiras
sobre o imunizante no país onde só 73% pretendem se vacinar (contra 89% em
agosto, quando a eficácia da produção não estava em xeque pelo presidente).

No caso da vacina chinesa, apenas 47% dos brasileiros dizem que pretendem
tomá-la, contra 50% que se negam.
O nome disso é preconceito e Bolsonaro pode até surfar na sinofobia, a rejeição
a tudo o que vem da China. Mas não foi ele quem a inventou.
Para entendê-la, é preciso resgatar o imaginário criado sobre os povos chineses
desde Hollywood.

Em 2017, uma pesquisa do instituto Ipsos Mori, da Grã Bretanha, mostrou que
num ranking de 38 países o Brasil ficava à frente apenas da África do Sul
em capacidade de perceber a própria realidade em diversas questões.

É neste contexto que Bolsonaro e congêneres moldam não a realidade, mas
a narrativa sobre a realidade, em canais próprios que não só desdenham dos
filtros da ciência e dos fatos como os atacam diariamente.
É o que permite negar os riscos da pandemia da mesma forma como se nega
o racismo no país em que negros são estatisticamente a maioria dos mortos
pela violência.

Não se pode dizer que Bolsonaro não tem sido bem-sucedido até aqui.
Quatro em cada dez brasileiros estão fechados com ele. Pensam como ele
e não se espantam com o que pensam.

*Formado em Jornalismo pela Cásper Líbero e em Ciências Sociais pela USP.

Íntegra em: https://br.noticias.yahoo.com/datafolha-aprovacao-jair-bolsonaro-142225391.html

Henrique Martins

https://www.brasil247.com/midia/campo-progressista-esta-obrigado-a-ter-candidatura-propria-na-camara-afirma-breno-altman

Elementar meu caro Watson.
Se a esquerda não fizer isso vai perder mais espaço político diante do eleitor da esquerda do que já perdeu, haja vista o resultado das últimas eleições. Ainda bem que não é toda a esquerda que está nesta toada. Nem de longe era o caso de se cogitar um eventual apoio ao candidato de um governo genocida. Chega a ser degradante o PT cogitar uma coisa dessas.
No PSOL eu tenho certeza que posso confiar.
Pois eu digo que Artur Lira não cumprirá as promessa que fizer para angariar votos da esquerda. Isso porque ele vai se submeter aos desígnios de Bolsonaro como todos em volta dele. Os Bolsonaristas são mentirosos contumazes. Quem acredita neles está fora da realidade e não enxerga um palmo diante do nariz.

Deixe seu comentário

Leia também