‘O espetáculo é tão forte, que na primeira cena, a fala da jovem atriz já tinha comovido boa parte do público’, aplaude diretor
Tempo de leitura: 3 minPor Osmar Rocha*, 04/07/24
Ontem, dia 03 de julho de 2024, tive a honra em estar presente entre os 130 convidados que puderam prestigiar o espetáculo teatral “Corpo Fechado”, encenado pelos alunos do ensino médio do CED 08- Gama DF, dirigido pelo professor Valdeci Moreira.
O espetáculo está inserido na Campanha de Educação ANTIRRACISTA da Escola, e várias atividades paralelamente aconteceram ao longo do dia; exposições relacionadas ao tema se espalharam por todas as dependências do CED 08.
Atento, o professor Valdeci Moreira não perdeu tempo, e há dois meses iniciou os trabalhos para montar um espetáculo à altura das produções do “Espaço Semente” (Cia de teatro liderada por ele), com um texto primoroso, criado a quatro mãos, onde também assina o genial Lelê Teles.
E dessa forma se atingiu o universo da escola pública no DF, com uma abordagem pertinente, onde se fala abertamente do racismo sofrido pelo povo negro e periférico do Brasil e como pano de fundo, a “Estética de Terreiro”, um tema que o professor Valdeci Moreira domina como poucos e que fez parte de sua tese de doutorado.
Enfim, uma força motriz da natureza composta pelos quatro alunos (agora atores) e aquele cenário impecável e intimista que arrebatou a todos que ali estavam.
O nível de comoção do público foi um acontecimento sobrenatural, poucas vezes visto em outras produções por aí; uma catarse coletiva tomou conta daquele teatro tão lindamente improvisado pela equipe do CED 08.
Após apenas 2 meses de ensaios, os atores demonstraram uma potência em cena tão devastadora, que dificilmente alguém imaginaria que aqueles jovens estudantes nunca haviam contracenado antes.
O espetáculo é tão impactante, que na primeira cena, a fala da jovem atriz já tinha comovido boa parte do público.
Entregaram tudo no palco. E apesar da seriedade do tema, era notório a segurança na postura dos atores.
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Corpos vivos em cena, transbordando euforia. A estreia era deles, mas a sensação foi de que nós (público) é que estávamos passando por um teste.
Uns choravam copiosamente, outros tentavam se conter. Outros, ainda, se perguntavam: o que está acontecendo aqui?
A trilha sonora soava como um travesseiro com fronhas limpas e cheirosas, e nos dava alento para encostarmos a cabeça e chorar ainda mais.
Esse espetáculo merece, sim, ser visto por todos nós.
Vamos lutar para que agora seja abraçado institucionalmente e tenha condições de rodar as escolas –públicas e particulares — e teatros do País.
Obrigado, Valdeci Moreira!
*Osmar Rocha, diretor de cultura da Administração Regional do Gama (DF).
Lelê Teles* sobre a peça Corpo Fechado
para dubois¹ [1], “as peças de um teatro realmente negro devem ser: 1 sobre nós. isto é, elas devem ter enredos que revelem a vida dos negros como ela realmente é. 2 por nós. isto é, elas devem ser escritas por autores (e autoras) negros que entendam, de nascimento e contínua associação, o que significa ser um negro hoje. 3 para nós. o teatro deve se dirigir, primordialmente, às plateias negras, sendo apoiado e mantido para seu entretenimento e aprovação. 4 perto de nós. deve localizar-se num subúrbio negro, próximo à massa de pessoas comuns”,
nesse sentido, o espetáculo teatral “o corpo fechado” é uma contribuição do teatro negro e periférico, feito no gama, para a construção de uma pedagogia decolonial e antirracista.
isso feito na prática, no chão da escola, tendo estudantes como protagonistas e permitindo à corpo-oralidade negra a sua máxima expressão performática.
levamos para as escolas públicas a estética de terreiro, a pedagogia das encruzilhadas, procurando provocar o despertando do sono profundo.
após provocar esse despertar nos corpos e nas mentes negras e periféricas, o espetáculo se dirige a outros ambientes e a outras audiências.
porque você pode até não entrar na periferia, mas a periferia acaba entrando em você.
palavra da salvação.
Lelê Teles é jornalista, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).
¹ Dubois, 1926, p. 134 apud Martins,1995, p. 70.
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