Quando alunos de baixa renda tem acesso à universidade

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serra talhada

Alunos de Medicina do campus de Serra Talhada da Universidade Federal de Pernambuco posam com o então governador Eduardo Campos

por sugestão de José Luiz Gomes da Silva*, via e-mail, da Fundação Joaquim Nabuco

A pesquisa “A interiorização recente das instituições públicas e gratuitas de ensino superior no Nordeste: efeitos e mudanças”, produzida por uma equipe de 11 pesquisadores e cinco bolsistas e mestrandos coordenada pela pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Patrícia Bandeira de Melo, revelou as condições atuais dos campi instalados nas seguintes cidades do interior do Nordeste: Angicos (RN), Arapiraca (AL), Barreiras (BA), Bom Jesus (BA), Cachoeira (BA), Caruaru (PE), Cuité (PB), Garanhuns (PE), Laranjeiras (SE), Petrolina (PE), Juazeiro (BA), Rio Tinto (PB), Serra Talhada (PE), Sobral (CE) e Vitória de Santo Antão (PE).

Desenvolvida entre 2010 e 2014, a pesquisa discutiu as condições do desenvolvimento da política de interiorização das instituições federais de ensino superior (IFEs), investigando junto a 256 professores, 1628 alunos e 201 egressos das universidades situadas nos novos campi qual a compreensão e a magnitude que o processo adquiriu desde 2003, quando teve início a ampliação do número de unidades de ensino público superior no país.

Os alunos

A melhor notícia, resultante da pesquisa, é que os estudantes beneficiados com a interiorização das IFEs, mesmo com um perfil socioeconômico próprio das classes de renda baixa, estão construindo uma nova trajetória de vida, pois conforme indicam os resultados da pesquisa, 35,7% das mães dos universitários matriculados têm até o ensino fundamental completo e os pais de 83,1% dos estudantes não tiveram acesso à universidade.

Segundo o estudo, “o grau de escolaridade predominante dos pais desses jovens, entretanto, é o ensino médio, e eles pertencem a famílias de classe econômicas D e E”.

O estudo demonstrou, ainda, “que o predomínio nas unidades interiorizadas é de jovens pardos, solteiros, sem filhos, que moram com os pais, com idade entre 20 e 25 anos, cujo sexo feminino é maioria na faixa etária de até 20 anos. Jovens que estudaram grande parte do ensino médio em escolas públicas”.

Uma observação que vale ressaltar é a de que, uma média de 55,6% dos estudantes migra, sobretudo, entre regiões do mesmo Estado para cursar o ensino superior numa universidade federal.

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A Interiorização das unidades federais para os docentes

Quanto aos professores, o trabalho dos pesquisadores da Fundaj avaliou outras questões.

“Verificamos que, a infraestrutura que as IFEs dispõem para realização do trabalho docente, precisa ser aprimorada, de acordo com as entrevistas”, destacam Patrícia Bandeira e Luis Henrique Romani.

Eles explicam que, os docentes ouvidos na pesquisa qualificam como apropriadas apenas 24,6% das instalações para laboratórios, salas para grupos de pesquisa, núcleos e atendimento a alunos; 32% das salas de professores; 12,2% dos espaços físicos reservados para realização de pesquisa; 23% dos equipamentos e materiais disponíveis para pesquisa.

Os pesquisadores da Fundaj apontam que, “entretanto, em algumas unidades estes equipamentos ainda não estão em funcionamento, conforme informaram os docentes”. Uma boa notícia revelada pela pesquisa é a de que no quesito infraestrutura, as bibliotecas foram as áreas mais bem avaliadas.

Uma das conclusões da pesquisa é que, mesmo com a dificuldade avaliada do chamado imperativo do produtivismo acadêmico, que foi identificado como um problema a sobrecarregar todos aqueles que se encontram envolvidos na construção da universidade pública brasileira na última década (2003/2014), a maioria dos professores, ou seja, 57% dos docentes entrevistados se mostram satisfeitos com a carreira acadêmica.

“Em geral, os professores aprovam o modelo como a carreira docente está estruturada – qual sejam, o tempo de serviço e o mérito –, acatando o regime de dedicação exclusiva, desde que abranja os complementos salariais pertinentes”, comentam os pesquisadores, que encerram as conclusões informando que “entre os docentes entrevistados, três em cada quatro disseram estar desenvolvendo projetos de pesquisa”.

UAG/UFRPE

Como um caso particular, por exemplo, a pesquisa revelou a necessidade da Unidade Acadêmica de Garanhuns, da UFRPE, melhorar suas relações de cooperação, que se mostraram limitadas e frágeis com o tecido produtivo e institucional – até pela unidade se situar distante do centro da cidade.

Segundo os pesquisadores, “a situação do município de Garanhuns, porém, pode servir de modelo para se pensar outros pólos produtivos localizados no mesmo espaço territorial de universidades federais. A postura adotada pelo MEC para alocação dos novos campi em municípios que compõem APL, indica o reconhecimento da contribuição importante de um campus universitário para arranjos produtivos locais em todo o país”.

“O projeto de interiorização das universidades federais no Nordeste – como deve ocorrer no resto do Brasil – promoveu mudanças na qualidade de vida dos egressos do ensino superior”, na opinião dos autores da pesquisa.

Eles contam que, “também a título de exemplo, no caso do Centro Acadêmico de Vitória de Santo Antão (PE), os entrevistados descrevem suas trajetórias, apontando avanços relevantes em sua qualidade de vida após o ingresso no ensino superior”.

Para Luiz Henrique Romani e Patrícia Bandeira, “ainda que a oferta de cursos de graduação ainda fosse reduzida à época de sua entrada na universidade, em relação aos campi instalados nas grandes cidades, foi possível para estes jovens realizar escolhas de cursos próximos aos seus interesses”.

Resumindo: “Houve melhoria de renda e acesso a bens culturais, como teatros e museus”.

Romani e Bandeira contam que, “as transformações se ampliaram para os seus círculos de relacionamento, a ponto de eles cobrarem de pessoas próximas o esforço para cursarem universidade ou modificarem os grupos de amigos de acordo com os novos interesses, advindos do novo capital cultural adquirido”.

E mais: “Verificam-se aqui as diferentes formas de aquisição de capital cultural: nos jovens entrevistados, houve um processo de incorporação posterior, através do acesso à universidade, que não estava em acordo com o seu capital herdado. Isso, porém, não inviabilizou a aquisição do capital escolar e nem a manutenção de relações com parentes e amigos anteriores ao seu ingresso no ensino superior. As dificuldades foram superadas pelo esforço e o desejo de  mudar as suas condições socioeconômicas, pois a maioria deles advém de famílias com renda inferior a dois salários mínimos”.

* Cientista social

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Léo

Educação transforma pessoas em médicos, advogados, professores, jornalistas… Hoje a educação não é tão boa, mas melhorou bastante.

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