Ministério descredencia mais de 4 mil equipes de saúde da família; médico Hêider Pinto explica o que vai acontecer
Tempo de leitura: 5 minpor Conceição Lemes
Em 21 de junho, o Diário Oficial da União publicou a portaria nº 1.717, de 12 de junho de 2018, do Ministério da Saúde.
Assinada pelo ministro Gilberto Occhi, ela descredencia mais de 4 mil equipes do Programa Saúde da Família (PSF) “por não cumprimento de prazo estabelecido na Política de Atenção Básica”.
Como há dois anos o Sistema Único de Saúde (SUS) está sendo devastado pelo governo ilegítimo de Michel Temer, uma preocupação se disseminou: como ficarão as pessoas atendidas por essas equipes descredenciadas?
Levei, então, essa questão ao médico sanitarista Hêider Pinto, que coordenou a Atenção Básica e o Programa Mais Médicos no governo da presidenta Dilma Rousseff. Atualmente, ele é professor de Medicina da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Viomundo – O descredenciamento dessas equipes de saúde da família significa que as pessoas ficarão desassistidas?
Hêider Pinto – Não, necessariamente.
Viomundo — Por quê?
Hêider Pinto — Para entender o que está acontecendo é preciso saber como era o mecanismo administrativo de credenciamento de equipe de saúde da família até 2017.
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Viomundo – Como era?
Hêider Pinto – Até o ano passado, quando o Ministério da Saúde alterou a Política Nacional de Atenção Básica – a PNAB 2017 –, o credenciamento das equipes de saúde da família era feito da seguinte maneira:
*O gestor municipal que pretendia implantar novas equipes (expandir cobertura de atenção básica, portanto) solicitava ao Ministério da Saúde, o credenciamento.
* Esse credenciamento só ocorria quando o MS publicava uma portaria determinando a quantidade de equipes credenciadas para cada município.
*Essa portaria funcionava como uma autorização orçamentária para implantação.
Suponhamos que o município x ou y tinha três equipes credenciadas.
Assim que ele decidisse implantar o PSF e três equipes de saúde da família começassem a atuar, o gestor recebia os recursos para o custeio delas, até 3.
Esse gestor não tinha prazo para implantar. Poderia fazê-lo em dois meses ou 2 anos, por exemplo.
Viomundo – Qual o problema desse mecanismo?
Hêider Pinto – Como estamos em tempos de ajuste fiscal, a área de gestão financeira do Ministério da Saúde fazia a conta não só do serviço implantado – são as equipes que já estão atuando e recebem recursos repassados pelo Ministério da Saúde –, mas também do credenciado e não implantado.
Então quando a soma do implantado e do credenciado extrapolava o teto previsto para custear equipes no ano, nenhum gestor poderia credenciar mais equipes.
Viomundo – Quando isso se tornava um problema?
Hêider Pinto – Vou dar um exemplo. A gestão estadual estimulava, logo em janeiro, os municípios a pedir credenciamento de equipes no teto máximo, mesmo sabendo apenas uma minoria conseguiria implantar tudo.
Em consequência, rapidamente a previsão orçamentária do Ministério da Saúde extrapolava, impedindo que novas equipes fossem credenciadas.
Resultado: o município que chegasse “atrasado”, não conseguia credenciar nem implantar equipes custeadas pelo Ministério da Saúde.
Viomundo – O que mudou?
Hêider Pinto –Agora, com a PNAB aprovada em 2017, o município tem até 4 meses para implantar as equipes credenciadas, ou seja, aquelas que tiveram a autorização prévia de orçamento.
Após esse prazo, as equipes que foram credenciadas e não implantadas são descredenciadas liberando orçamento para outros credenciamentos.
Viomundo — Com o descredenciamento haverá redução de cobertura da população?
Hêider Pinto — Não, porque os descredenciamentos são de equipes credenciadas e não implantadas. Então, elas não existem de fato, não atendem ninguém.
Viomundo – Esse descredenciamento pode ser sinal de corte de gastos na atenção básica?
Hêider Pinto — Em si, não é sinal de corte nem de recurso suficiente disponível. É uma medida necessária quanto menos dinheiro houver para atender a demanda nacional.
A meu ver, as questões mais importantes para saber se o Ministério da Saúde está comprometido com o aumento da cobertura do PSF são outras:
*Qual a previsão orçamentária para expansão das equipes na Lei Orçamentária e Planejamento para este ano?
*Quantas novas equipes do PSF o governo previu implantar este ano?
*O governo está ou ou não contingenciando recursos para o PSF?
Isso é o conteúdo: identificar quanto de recurso o Ministério da Saúde tem para atender a população que segue sem cobertura e atendimento. O credenciamento do jeito A ou B é apenas a forma de operacionalizar isso.
Abaixo, a lista das equipes do PSF descredenciadas
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