Marcelo Zero: Balões de ensaio e muita cara-de-pau

Tempo de leitura: 3 min

Balões de Ensaio

Por Marcelo Zero*

Não há limites para o ridículo. Pelo menos, não no reino de fértil imaginação da nova Guerra Fria, povoado de insondáveis paranoias.

Antes, no já findo século XX, se procurava comunistas embaixo da cama ou dentro das cozinhas, onde esses seres malignos cozinhavam criancinhas à carbonara.

Agora, porém, mira-se mais alto. Bem mais alto.

Mais especificamente na estratosfera.

Essa inocente camada da nossa atmosfera, tão diáfana e estável, livre das turbulências da troposfera, estaria coalhada de solertes balões espiões vindos da China.

Pelos menos, é o que se deduz das notícias oriundas dos EUA e do Canadá.

Tudo começou quando um balão chinês ousou penetrar os límpidos e patrióticos céus de Montana.

Sem qualquer tipo de investigação, o balão foi logo acusado de espião. E Blinken suspendeu sua viagem a Beijing. Um escândalo internacional

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Com pompa e circunstância, o perigoso balão foi abatido por um caça de última geração, na costa da Carolina do Sul.

Não consta que o balão tenha reagido ao ataque.

Na esteira desse episódio risível, três outros objetos voadores não identificados foram derrubados, em diferentes pontos do território dos EUA.

Criou-se pânico. As autoridades norte-americanas tiveram até mesmo de desmentir que os balões eram de origem extraterrestre. Que Marte não estava nos atacando, como no famoso episódio da transmissão radiofônica de Orson Welles.

Nossa mídia e seus “especialistas” difundiram acriticamente a história.

Bom, qualquer pessoa medianamente informada sabe bem que a estratosfera é coalhada de balões. Somente o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA lança ao redor 75.000 balões por ano.

Mas não são apenas balões meteorológicos. Há também balões para pesquisas diversas, como pesquisas climáticas, de poluição atmosférica, de astronomia, etc. Até mesmo rádio amadores usam balões para aferir sinais de rádio.

Os usos são múltiplos. Contudo, o uso de balões para espionagem ou para objetivos militares não é muito eficiente. E não é por uma razão muito simples: os balões não são controláveis.

À exceção dos dirigíveis, eles se deslocam conforme os ventos predominantes. Na melhor das hipóteses, percorrem trajetórias grosseiramente aproximadas. Além disso, eles podem ser abatidos com muita facilidade, como se viu nesses episódios recentes.

Na Segunda Guerra Mundial, os japoneses, em desespero com os avanços dos EUA no Pacífico, tentaram utilizar balões baratos para atacar esse país. Foram fabricados balões que carregavam uma pequena bomba de fragmentação de cerca de 12 quilos.

Esses balões eram lançados aproveitando-se da predominância dos ventos de altitude de oeste para leste, seguindo as correntes de jet stream. A ideia era causar pânico entre a população dos EUA.

Pois bem, dos mais de 9.000 balões lançados, apenas 285 foram chegaram aos céus dos EUA e somente 1 explodiu.

Fracasso retumbante. Ou estratosférico.

No caso do grande balão abatido na Carolina do Sul, os próprios serviços de inteligência dos EUA indicam que o engenho adentrou os céus dos EUA porque que havia um anormal sistema de baixa pressão no oeste do Canadá, o qual fez o artefato deslocar-se para o sul. Caso contrário, teria seguido o rumo oeste.

No que tange aos outros três, John Kirby, coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, afirmou que “não descarta a possibilidade” de que se tratem de balões que pertençam a firmas comerciais ou a entidades de pesquisa. É mesmo?

Para espionar, é bem mais eficiente fazer o que os EUA fazem. Eles usam satélites de última geração, algoritmos sofisticados, toda a imensa parafernália eletrônica da NSA e até mesmo (pasmem!) agentes em solo para compor um sistema de espionagem único no mundo.

As chocantes denúncias de Edward Snowden revelaram ao planeta que as grandes companhias que controlam o fluxo de informações da internet, como Google, Microsoft, Apple, Facebook (Meta), Yahoo, Whatsapp (Meta) etc. contribuem ativamente, através do sistema de espionagem PRISM, controlado pela NSA norte-americana, para transformar a internet numa gigantesca plataforma de espionagem e controle político.

Nenhum cidadão do mundo que esteja conectado à rede ou que use uma linha telefônica está livre desse sistema ubíquo e bastante invasivo de espionagem, que devassa e-mails, ligações telefônicas, mensagens de texto, toda a navegação da internet, arquivos pessoais e postagens nas redes sociais. Angela Merkel e Dilma Rousseff que o digam.

Tudo isso é feito sem nenhum balão, mas com muita “cara-de-pau”.

É risível, por conseguinte que, agora, o mundo ocidental esteja mais preocupado com supostos balões espiões chineses do que com a ubíqua a altamente eficiente espionagem dos EUA.

Não por acaso, os EUA anunciaram, logo após o episódio, que existiriam balões espiões chineses que estariam sobrevoando a América Latina. Uma informação sem dúvida destinada a provocar rejeição à China na região.

E Kiev aproveitou a onda estratosférica para acusar Moscou de enviar balões para a Ucrânia. O mesmo fez Taiwan, em relação a Beijing.

É muito pouco provável que esse balão abatido seja espião. E, mesmo que fosse espião, seria pouco provável que tivesse funcionado bem para seus supostos fins.

Em contrapartida, o balão de ensaio comunicacional que os EUA lançaram a seu respeito funcionou bem.

Espionados cotidianamente pelos EUA, ficamos olhando para a estratosfera de fake news.

Olhem para cima!

*Marcelo Zero é sociolólogo e especialista em Relações Internacionais

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Zé Maria

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“A Poesia é uma Poderosa Arma Simbólica
contra a Violência Autoritária”
MARCIA TIBURI
https://twitter.com/MarciaTiburi/status/1625950431678500888
.
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15/02/2023
Deutsche Welle (DW)

“Peritos Concluem que Pablo Neruda foi Envenenado”

Análise Pericial feita nos restos mortais do escritor
diz que o poeta chileno não morreu de câncer,
como afirma a versão oficial, mas em consequência
de uma toxina bacteriana (Clostridium botulinum).

Peritos internacionais determinaram que o poeta
chileno Pablo Neruda morreu envenenado, há 50 anos,
12 dias após o Golpe Militar do General Pinochet em 1973.

Antigo motorista do escritor, Manuel Araya, argumentou
durante décadas que Neruda havia sido assassinado.
.
.

    Zé Maria

    .
    .
    Enquanto por décadas, ele [Pablo Neruda] era amado pelo mundo,
    o General Pinochet o odiava.
    Não apenas porque os fascistas e autoritários em geral odeiam a poesia,
    mas porque a poesia de Neruda era política, falava do mundo real
    e da dor do povo diante de poderosos capitalistas abusadores.

    A poesia se transformava, assim, em poderosa arma simbólica
    contra a violência autoritária.

    Pinochet, ditador responsável pelo assassinato de uma geração de críticos
    e pessoas que desejavam mudar o mundo para melhor, livrando-o da miséria
    e da exploração, é o provável responsável por seu envenenamento.
    Um médico injetou-lhe a bactéria do botulismo quando ele precisou
    se hospitalizar em 1973.

    A ditadura no Chile tinha começado há pouco, em 11 de setembro.

    Seu amigo [Salvador] Allende, Presidente Eleito do Chile], havia sido
    morto pelos militares golpistas na mesma data.

    Em suas memórias publicadas postumamente, ele escreveu:

    “A vida política veio como uma tempestade para me tirar do meu trabalho.
    Voltei mais uma vez para a multidão.
    A multidão humana tem sido para mim a lição da minha vida.
    Posso chegar a ele com a timidez inerente do poeta, com o medo do tímido,
    mas, uma vez no seu seio, sinto-me transfigurado.
    Eu faço parte da maioria essencial, sou mais uma folha na grande árvore humana.
    Solidão e multidão continuarão a ser deveres elementares do poeta
    do nosso tempo.

    Em solidão, a minha vida foi enriquecida pela batalha das ondas na costa chilena.
    Fiquei intrigado e apaixonado pelas águas de combate e pelas rochas
    em combate, pela multiplicação da vida oceânica, pela formação impecável
    das ‘aves errantes’, pelo esplendor da espuma do mar.

    Mas aprendi muito mais com a grande maré das vidas, com a ternura vista
    em milhares de olhos que me olhavam ao mesmo tempo.

    Esta mensagem pode não ser possível a todos os poetas, mas quem quer que
    a tenha sentido guardá-la-á no seu coração, desenvolvê-la-á no seu trabalho.

    É memorável e desolador para o poeta ter encarnado para muitos homens,
    por um minuto, a esperança.”

    Se, após 50 anos, descobre-se a verdade sobre o envenenamento do poeta,
    por que não deveríamos continuar perguntando
    “Quem mandou matar Marielle e Anderson?”.

    A resposta a essa pergunta precisa vir à tona no governo democrático atual.

    MARCIA TIBURI
    Escritora
    Professora de Filosofia
    Université Paris 8
    https://twitter.com/MarciaTiburi/status/1625950431678500888
    .
    .

+almeida

Olá!
Eu sou o Poder
Eu sou o Maior
Eu posso Tudo
Tá tudo Dominado
Não ousem Contestar
Afinal, quem Manda,
USA e abUSA
Sou EEUU

    Gilmar Antunes

    Olá
    Eu sou o Poder
    Eu sou o maior
    Eu posso tudo

    Afinal quem manda
    USA e abUSA
    Sou EEUU.

    KKK
    Muito bom.

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