Marcelo Justo: Os riscos de aterrissagem forçada da economia chinesa
Tempo de leitura: 5 minA pergunta que todos fazem em suas ponderações sobre o futuro da economia mundial é se a China sofrerá a aterrissagem forçada prevista por economistas como Nouriel Roubini, que conta, entre suas credenciais, com o fato de ter alertado sobre os perigos econômicos mundiais antes da debacle de 2007-2008. A temida aterrissagem forçada chinesa será a gota que falta para o copo transbordar, provocando a depressão da qual o mundo vem se esquivando desde a queda do Lehman Brothers?
por Marcelo Justo, direto da China para Carta Maior
O adágio econômico que surgiu com o deslocamento da Grã-Bretanha como primeira potência mundial e a primazia global estadunidense do pós-guerra dizia que quando “os Estados Unidos espirravam, o mundo inteiro ficava gripado”. Com a irrupção da China como segunda potência global e a crise profunda vivida pelos EUA, União Europeia e Japão, a pergunta da hora é o que pode acontecer se a China se somar a essa lista de enfermos. A temida aterrissagem forçada chinesa será a gota que falta para o copo transbordar, provocando a depressão econômica da qual o mundo vem se esquivando desde a queda do Lehman Brothers?
A presença econômica chinesa é sentida por todos os lados. No mundo desenvolvido, na América Latina e na África, em seus vizinhos asiáticos orientais e não orientais (Austrália, Nova Zelândia). Nos principais mercados, é um fator determinante das flutuações dos preços internacionais. Sua plena incorporação ao cenário econômico global, completada com seu ingresso na Organização Mundial do Comércio em 2001, gerou uma disparada de preços das matérias primas, revertendo o que havia sido teorizado como uma irreversível queda de seu valor em relação aos produtos manufaturados.
A China é hoje o maior consumidor de energia, o primeiro importador de soja e o primeiro produtor de automóveis. Entre 2004 e 2009, foi responsável por 40% do incremento do consumo petroleiro. A Ásia é seu principal parceiro comercial, os EUA o segundo. A Alemanha, segunda exportadora mundial, baseou sua recuperação no período pós-2008, na demanda chinesa. O comércio com a América Latina passou de 10 bilhões de dólares, em 2000, para 100 bilhões em 2009, com o Brasil sendo convertido no principal sócio comercial e político por meio do BRIC.
A pergunta que todos esses atores estão fazendo em suas ponderações sobre o futuro é se a China sofrerá a aterrissagem forçada prevista por economistas como Nouriel Roubini, que conta, entre suas credenciais, com o fato de ter alertado sobre os perigos econômicos mundiais antes da debacle de 2007-2008. Em seu último informe, apresentado na semana passada, o encarregado da Ásia para a América Latina, do Fundo Monetário Internacional (FMI), Anoop Singh previu uma desaceleração da economia chinesa. Seu diagnóstico coincide com o de analistas públicos e privados, mas os percentuais com os quais lidam tiram um pouco do dramatismo da previsão. Singh baixou a previsão de crescimento chinês de 9,6% para 9,5% este ano e de 9,5% para 9% em 2012, índices pelos quais qualquer economia mundial suspiraria de desejo.
No entanto, como as bruxas do famoso ditado, as fissuras da economia chinesa são reais: o perigo de uma implosão com forte impacto global não é imaginário.
O difícil equilíbrio de um gigante
O impacto da atual desaceleração mundial está sendo notado nas exportações chinesas, setor chave do impressionante crescimento do gigante asiático nas últimas décadas. Em setembro, caíram pelo segundo mês consecutivo e o superávit comercial chinês baixou de 17,8 bilhões de dólares para 14,5 bilhões. Se se comparam essas cifras com o superávit de julho (31,5 bilhões) percebe-se uma clara tendência descendente que dificilmente será revertida nos próximos dois anos. Essa tendência deve-se, por um lado, a um enfraquecimento da demanda dos Estados Unidos e da União Europeia que, dada a atual crise econômica de ambos, não vai se modificar no curto prazo, mas também responde à valorização do yuan que subiu em cerca de 30% desde 2005.
Consciente das limitações do modelo exportador, atentos à experiência japonesa que, de ameaça à supremacia estadunidense nos 80, passou a doente crônico do mundo desenvolvido, o governo está buscando um novo modelo de crescimento com o acento posto no consumo doméstico. Este modelo, consagrado no 12° Plano Quinquenal, anunciado em março desde ano, é parte de um forte debate interno sobre a direção futura do “socialismo com características chinesas” que começou com moderado giro à esquerda que representa a dupla do presidente Hu Jintao e do primeiro ministro Wen Jiabao.
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O problema é que uma mudança desta natureza requer tempo, além de eficiência para superar obstáculos, vencer interesses criados e evitar os inevitáveis deslocamentos sócio-econômicos de uma transformação aplicada a uma sociedade de quase 1,4 bilhões de pessoas. Dois alicerces do novo plano, a reforma do sistema previdenciário e da Saúde, estarão finalizadas em 2015 e 2020, respectivamente. A reforma do sistema tributário entrou em vigor em setembro, eliminando o imposto sobre a renda para cerca de 80% da população, mas seu impacto econômico depende de um fator imprevisível: a cautelosa conduta dos consumidores acostumados a poupar para suprir as carências de uma rede de contenção social.
Os EUA e a União Europeia vêm pressionando para uma aceleração desta mudança de modelo baseada em uma exigência única e excludente: uma valorização da moeda que converta a China em um país que importe mais e exporte menos. A recente votação do Senado dos EUA em favor de uma lei que abre caminho para sanções contra Pequim é o último passo de uma política que pode terminar em uma guerra comercial. Mas o grande temor que a China desperta não é pelos zig-zags desta imprevisível mudança paradigmática, mas sim pelas vulnerabilidades geradas por seu crescimento de 10% anuais nos últimos 20 anos.
A vida traz surpresas
A área que mais preocupa analistas mundiais e chineses é o setor de empréstimos bancários vinculados à construção e a dívida de municípios e províncias. O vertiginoso crescimento das últimas duas décadas deu origem a uma bolha imobiliária com uma triplicação dos preços da propriedade a partir de 2005. Hoje, esse setor constitui cerca de 10% do Produto Interno Bruto Interno, valor similar ao da bolha espanhola no final de 2006 e muito acima da que o Japão experimentou nos anos 80.
Segundo indicou recentemente à Carta Maior, Guan Jianzhong, diretor da agência classificadora de risco chinesa Dagong, se deixamos de lado as exportações, “o crescimento se baseia no investimento na construção e na urbanização”. O risco de uma “subprime” chinesa está no ar. Se chegar a ocorrer, os analistas se dividem entre os que calculam que a queda do mercado imobiliário arrastará o setor bancário produzindo uma crise sistêmica e os que opinião que esse impacto será limitado.
A este risco soma-se a dívida municipal e regional de quase 2 trilhões de dólares, resultado do gigantesco plano de investimento de 2008-2009 que permitiu a China sair airosa da crise financeira internacional. Segundo Zhu Min, atual vice-diretor do FMI e ex-funcionário chinês, os empréstimos constituem hoje cerca de 200% do PIB, o dobro que antes da crise de 2008. Em setembro, o governo mostrou os resultados de uma auditoria dos municípios que situava a dívida local média entre 25 e 38% do PIB.
Segundo o governo, esse estudo demonstra que o risco da dívida soberana “está muito abaixo do existente nos EUA ou na União Europeia”. Mas os labirintos do setor imobiliário-financeiro já provocaram surpresas no passado. Depois da subprime estadunidense, ninguém se atreve a descartar que a opacidade das atividades especulativas escondam uma bomba-relógio.
Grande parte do problema é que devido às pressões contraditórias que enfrenta, a China tenha que levar adiante um política que, ao mesmo tempo, controle a bolha imobiliária e a inflação, mas não esfrie a economia, sustentação fundamental do poder do Partido Comunista chinês. O governo elevou os depósitos bancários, as taxas de juros, introduziu impostos sobre o segundo imóvel e outras restrições ao mercado imobiliário, todas medidas que estão tendo o impacto desejado sobre o preço da propriedade, mas que também correm o risco de matar o paciente. Em setembro, revelou-se que uma das mais importantes construtoras privadas, Greentown China Holding Ltda, Havia sofrido uma queda em suas vendas de aproximadamente 2,6 bilhões de dólares.
Uma saída ordenada deste labirinto imobiliário-financeiro é uma pré-condição para que a China seja parte da solução e não do problema que atinge a economia mundial. Dados os tortuosos caminhos dessa devastadora matriz especulativa, está claro que nem o saudável 9% de crescimento anual que a China goza hoje a protege da incerteza que ronda toda a economia global.
Tradução: Katarina Peixoto
Comentários
Saul Leblon: Grécia, o banco ou a vida | Viomundo – O que você não vê na mídia
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Jason_Kay
"Dilma tira poder de ministro e assume as negociações sobre a Copa de 2014"
Fragilizado com denúncia de corrupção na pasta, Orlando Silva deixa de ser o interlocutor do governo brasileiro e perde atribuição de negociar aprovação da Lei Geral da Copa
O próximo passo é a queda.
EUNAOSABIA
Tem cara que viaja pesado por aqui… segundo o especialista em economia ou que quer que seja, a derrocada da China será uma boa para nós…
Se esse rapaz tivesse vivido nos anos 30 e fosse empresário ou funcionário de uma empresa, ele iria chegar no trabalho no dia 24 de outubro de 1929 e dizer… ""aí turma… uma excelente, mas excelentes notícia para nós, a bolsa de valores de Nova Iorque quebrou"""…
Não percebe que o mercado interno é altamente dependente do mercado externo, naquilo que os economistas chamam de "efeito repercussão""" – esse país é o mesmo de 1534 – fala como se o pré sal fosse começar a ser explorado semana que vem, se quer temos tecnologia para isso, fala como se a oferta por si só crie demanda (deve ser o Jean Baptiste Say dos trópicos), ou seja, acha que a simples instalação de uma montadora aqui (se ocorrer de fato) seja capaz de gerar demanda por si mesma…por fim, num devaneio estratosférico, o pobre homem sugere sabe o que??? que a África será nossa salvação…. os africanos vão importar o que do Brasil??? mandioca??? Os bens que o Brasil produz são demandados por países ricos, de alta renda e com grandes mercados e não pelo Gabão….
Será que ele já ouviu falar em """teoria da demanda superpostas""? é claro que não…já leu algo sobre o "Paradoxo de Leontief??? demanda intra-setorial??? sei que estou pedindo demais… que tal ele buscar no google…o teorema de Stolper-Samuelson…. sei que é inútil… esse é da linhagem do..""Hoje andamos de cabeça erguida graças ao nosso grande e amado e bla bla bla"""""….
Isso parece piada??? É bom que seja, pois se não for, o caso é muito grave..
Saudações.
Jason_Kay
Que SURRA intelectual. E o pior que é só falando o óbvio.
Isso ilustra bem o nível dos "progressistas" que temos por aqui…
Jorge Zimbábue
Se algo nesse contexto acontecer, os bancos brasileiros terão que repatriar seus trilhões a partir de agora, para investimento interno, concorrer para expansão do mercado de commodity, por exemplo e capitalizar a indústria petrolífera para que os frutos do pré-sal amadureçam mais rapidamente, alavancar o setor de transporte rodoviário e ferroviário, etc…. Afinal esses trilhões foram tirados de nós brasileiros, justo retornem ao país para fomentar a atividade econômica. Do contrário, toda essa grana lá fora pode virar pó num piscar de olhos e não vai haver um novo "PROER" para beneficiar um setor amplamente favorecido pelo neoliberalismo tupiniquim de FHC e seus asseclas. Até hoje o brasileiro tem que pagar para ter conta em banco, tudo é cobrado do correntista porque eles os banqueiros ganham tão pouquinho se não bastassem as taxas de juros estratosféricos durante o reinado do Ali Babá e seus 40 ladrões, que além de proletarizar o trabalho vendeu o Brasil a preço criminoso, colocando no olho da rua milhares de país de família!
leandro
basta o governo regulamentar. Não faz porque os bancos são os maiores financiadores das campanhas. Hoje os bancos cobram muito mais taxas que na época do fhc e depois de quase 9 anos desse governo nada mudou.
Klaus
O crescimento da economia brasileira no período Lula/Dilma não tem nada a ver com a economia chinesa e sim com o trabalho bem feito por ambos. Se a economia chinesa desabar, o crescimento do Brasil não será afetado de forma alguma.
EUNAOSABIA
Klaus, eles não entenderam ainda… daí os positivos… parecem seres binários mesmo.
Klaus
Por favor, poderiam negativar meu comentário? Foi ironia, pô!!! Me ajuda aí!
Jason_Kay
Digite o texto aqui![youtube 0HNOirvII7g http://www.youtube.com/watch?v=0HNOirvII7g youtube]
Roberto Locatelli
Se ocorrer mesmo uma recessão na China, isso pode ser uma oportunidade sensacional para o Brasil.
Temos um mercado interno em fortíssima expansão. Só este ano serão criadas 2,8 milhões de novas vagas de trabalho. E tem mais: ainda não chegaram ao Brasil as novas indústrias automobilísticas, ainda não começamos a fazer o refino petroquímico do Pré-Sal. Sem contar com a Ferrovia Norte-Sul, a TransNordestina, a FerroOeste. Então, é hora de exportar mais, ocupando o mercado que porventura a China perder.
Outra coisa: a China entrou com força no Continente Africano. O Bfasil ainda está tímido nessa importante frente comercial. Se a China sofrer uma retração, temos que "invadir" a África com nossos produtos.
Agora é hora de reduzir taxas de juros e estimular o crescimento.
Klaus
Mercado interno se expande com o aumento de emprego e de renda; recessão na China, menos exportação, menos emprego e consequentemente menos renda. Recessão na China impacta todo o mundo, consequente os outros países diminuirão a importação da China, mas TAMBÉM do Brasil. A pauta de exportação chinesa é diferente da do Brasil, ou seja, os produtos exportados pela China são diferentes do Brasil. Como vamos invadir a Africa com minérios, carnes e produtos agrícolas e o restante de nossa pauta de exportação se a AFrica também estará em recessão?
César Sandri
Aterrissagem é com DOIS SS MESMO!!
EUNAOSABIA
Tão cum meda lulistas??? oito anos sem fazer o NADA….. se a China chafurdar adeus Noruega do Padim..
Lula foi FHC + China.. só isso mesmo… ele não fez NADA, esse NADA vai começar a cobrar o seu preço.
O Brasil também surfou e surfa sobre esta mesma bolha de crédito internacional.
O sonho do FORD KA pé duro em 120 meses pode estar chegando ao fim.
Tão cum meda???
Leider_Lincoln
Supondo que estejamos receosos, isto demonstra bom senso. Torcer para que tudo dê errado, por outro lado diz também muita coisa a respeito do ser caráter, Sr. Richard…
Jason_Kay
Engraçado…
Você e a maioria absoluta dos "progressistas" não torcem para os EUA irem à falência?
Em relação aos americanos do norte a lógica não é do quanto pior melhor?
Cadê o "bom senso"?
EUNAOSABIA
Pois é, essa turma que integram os MAVs, Milicianos em Ambiente Virtual, estarão a toda a carga no ano que vem…..isso é oficial….
Passaram oito anos torcendo contra o Brasil, eles não faziam oposição a Fernando Henrique, eles faziam oposição ao Brasil…são sabotadores de governos e de políticas, as mesmas que hoje eles adotam como se fossem suas. O PT e Lula sempre foram a favor do quanto pior melhor, eles são mestres nisso, o PT é o Ti Parti Tabajara.
Não enganam é ninguém.
Luciano Mano Negra
Azenha, só corrige aí o título "aterrissagem", com dois S, ainda não li o resto
Conceição Lemes
Obrigada, Luciano. Vamos corrigir. Abs
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