por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa
Os jornais amanhecem nesta quarta-feira, 2 de novembro, dia dedicado a homenagear os mortos, com o relato de um verdadeiro velório. O sistema econômico global range sob o peso das crises sucessivas e o leitor é atirado de um lado para outro, entre a esperança e o pessimismo, como o navegante sob tempestade.
Deste lado do Atlântico, as águas ainda se agitam pouco, mas a imprensa destaca sinais de desconforto.
Quando o ex-presidente Lula da Silva declarou, há três anos, que a crise financeira de 2008 chegaria ao Brasil “como uma marolinha”, os jornais fizeram manchetes com o catastrofismo de seus opositores.
Os fatos lhe deram razão até aqui e o tsunami não chegou às nossas praias.
Mas, no mundo globalizado e interdependente, impossível prever quanto os tremores nos países desenvolvidos vão afetar as economias periféricas e emergentes.
Os jornais brasileiros trazem nesta quarta-feira alguns dados que mostram certos efeitos negativos da crise européia sobre a economia brasileira.
Mas é preciso cuidado na leitura.
A Folha de S.Paulo, por exemplo, inverte completamente os números para criar um viés negativo no cenário que também tem boas notícias.
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Observe o leitor: o fato central é que a balança comercial brasileira obteve em outubro um superávit de US$ 2,35 bilhões, o maior desde 2007. Trata-se de um resultado 28,9% maior do que o saldo obtido no mesmo período do ano passado.
Além disso, foram os maiores valores já alcançados para o mês de outubro desde que esse acompanhamento começou a ser feito.
Pois bem: na Folha, essa notícia auspiciosa se transforma num pesadelo: os editores do jornal preferem destacar que, nesse quadro otimista, sempre há alguma coisa para assustar o leitor.
A Folha deixa escondida a informação do crescimento das exportações brasileiras e abre o seguinte título: “Com crise, vendas do Brasil para Europa perdem fôlego”.
Na verdade, os dados divulgados pelo governo indicam que as vendas de produtos brasileiros para Espanha, França e Itália cresceram em outubro menos do que a média dos primeiros nove meses do ano.
No entanto, comparadas ao mesmo mês do ano passado, as exportações brasileiras para a Europa cresceram mais de 13%, apesar da crise.
O pessimismo como opção
Na vida real, as exportações brasileiras em outubro deste ano bateram o recorde histórico referente a esse mês.
Com a substituição de alguns itens e o aumento das vendas de café, petróleo e minério de ferro, o Brasil praticamente anulou o efeito da crise em seu comércio com os países europeus.
Além disso, as vendas para os Estados Unidos aumentaram mais de 39% em outubro deste ano, índice superior à média de 31,8% registrada nos nove meses anteriores.
Apesar de a economia americana estar, como se diz, andando de lado.
E não foi apenas isso: o saldo da balança comercial brasileira no total foi positivo, com o maior superávit dos últimos quatro anos, e as importações também se mantiveram em alta, ou seja, o mercado interno continua aquecido.
No entanto, o viés da Folha é absolutamente pessimista.
No Estado de S.Paulo, os fatos parecem mais transparentes – “Superávit comercial bate recorde em outubro”, diz o título da reportagem.
Mas o texto está espremido entre a principal matéria da página de Economia e um anúncio, sem qualquer destaque, no meio de notícias sobre a crise na zona do euro e seus efeitos no Brasil.
No Estadão, além da abordagem correta, com o título refletindo o aspecto positivo da notícia, acrescenta-se que, apesar da crise que também afeta a economia americana, o Brasil reduziu o déficit com os Estados Unidos e as exportações para aquele país vêm crescendo em ritmo importante.
No Globo, a notícia do superávit da balança comercial está escondida em um parágrafo no pé de uma reportagem sobre a desaceleração na indústria brasileira.
Claro que há notícias ruins por todo lado. Afinal, o coração do sistema capitalista apresenta sintomas de taquicardia desde setembro de 2008 e não há sinais de remédio capaz de produzir alguma estabilidade.
A solução da véspera, com o suposto acordo para a dívida da Grécia, se transformou em pesadelo com a decisão do governo grego de submeter a proposta a um referendo.
Sendo a Grécia o berço da democracia ocidental, qual a surpresa?
Também era esperado que, em algum momento deste ano, a indústria brasileira reduzisse o ritmo. Os estoques para o Natal estão prontos, as compras de equipamentos foram aceleradas até o primeiro semestre e os investidores estão na expectativa de uma solução para o problema europeu.
Mas o que é mais do que sabido vira manchete nos principais jornais do país simplesmente porque é a pior notícia do dia.
Alguém aí pode explicar qual é o propósito da imprensa ao tentar derrubar o ânimo dos brasileiros?
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Comentários
Morvan
Boa noite.
Atenção Azenha, Conceição e visitantes do Blog:
A propósito do artigo em tela, Os dados do IDH do Brasil estão defasados em 5 (cinco) anos!
Fontes: ONU, Conversa_ Afiada, Tijolaço; Lula, pasmem, que foi quem alardeou o erro (ou seria má-fé?).
Elo de Acesso no CAf: http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/11/04/idh-lula-esta-certo-usaram-numero-velho/ .
Elo de Acesso no Tijolaço: http://www.tijolaco.com/idh-lula-esta-certo-venderam-jornal-velho/
Não é à toa que eles (o PIG) querem calar o cara, a qualquer custo!
:-)
Morvan, Usuário Linux #433640.
P Pereira
Que bom! Deixaram o troll falando sozinho. Ele deve estar inconformado, abandonado, desamparado, totalmente perdido olhando para o alto e perguntando: quem poderá me salvar?
Rodrigo Leme
Notícia ruim vende, é simples. Eu não lembro uma vez – nem no governo FHC – em que os jornais publicavam manchetes sobre o maravilhoso desempenho da economia. O resto é politicagem.
Aliás, um pouco de história: no início da era Lula, o Observatório da IMprensa era impressionantemente crítico ao ex-presidente, recebendo porradas "progressistas" a torto e direito.
De uns anos pra cá, como a onda mudou e o petismo se consolidou no poder, eles inverteram o barco e agora produzem pesadamente colunas como estas do Luciano Martins. Que primor de posicionamento, não? Amanhã se o PCO ganhar eleição, eles viram um site antiimperialista.
ramos_toledo
Caro Rodrigo, os jornais não publicavam manchetes sobre o maravilhoso desempenho da economia na Era FHC, por uma razão bastante simples: A economia não tinha um desempenho maravilhoso. A única coisa que havia era um controle da inflação pautado por taxas de juros e desemprego acima de 20%.
Beltrano esquece da vida mesmo.
Rodrigo Leme
Esquece mesmo…daqui a pouco, o petismo reescreve a história e Lula era o comandante do navio ao invés do Cabral.
ramos_toledo
Faz o seguinte: guarda seu sarcasmo na gaveta de meias e explica pra gente o excelente desempenho da economia brasileira na era FHC. Sou burro e acho que fui enganado esse tempo todos pelos malditos esquerdopatas.
E não vale aquele velho mantra: "Lula colheu os frutos de FHC". Você disse na lata que houve um excelente desempenho na economia durante os anos 90. Agora prova.
Julio Silveira
Eles querem abaixar o animo dos brasileiros para manterem a guia da coleira que nos prende nas mãos dos Yankes. Para eles o senhores do universo por herança universal, simples assim, é a dependencia patologica a serviço da manutenção da amarras. Apesar do todo pessimismo economico mundial vejo a situação sempre com um olhar positivo, por que pode ser que daí um maior discernimento das populações, e começarem a identificar aqueles que em todas as crises estão sempre bem enquanto elas naufragam, e se dêm conta que existe uma ordem neste caos economico em que os politicos eleitos pelo povo atuam sempre a favor dos causadores das crises em detrimento do proprio povo, realizando o sentido inverso da democracia.
Francisco
Raríssimos brasileiros, mesmo os menos instruídos, ligam a TV para "ver as noticias".
A maioria liga para "ver o que a globo diz do 'negócio do ministro" ou o que o jornal da Record diz "desse tal de G20".
Aprendemos e internalizamos, durante a ditadura, que não existe "noticia", existe "versão".
Quanto aos jornais… meu Deus, tenho 45 anos, sou professor universitário e nunca tive uma assinatura. Ao longo da vida (toda a vida) devo ter comprado uns 40 ou 50 exemplares. Revistas, sim. Assino a "National Geographic" e minha mulher uma de decoração e outra de corte e costura. No mais, internet (muita).
Quem liga para esses caras?
M.S. Romares
Não é dificil responder a pergunta final, embora uma análise mais elaborada seria conveniente. A resposta está no próprio texto: passar um pessimismo com a finalidade de tentar colocar o governo em posição desfavoravel. E isso eles vão fazer o tempo todo. Inutilmente, pelo que parece. Falam, falam, escrevem, entrevistam os "especialistas", tentam escamotear os fatos, mas não vão lograr conseguir suas sórdidas intenções.
FrancoAtirador
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Não é bem o ânimo dos brasileiros que a imprensa tem o propósito de derrubar.
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Morvan
Boa noite.
Bem observado, amigo FrancoAtirador. Como sempre, o FrancoAtirador vai no âmago da questão. Mas, veja, se puder derrubar os dois, tanto melhor! Afinal, um povo desanimado é bem mais fácil de manipular. Um povo sem ânimo é um povo sem governo e sem Governo.
:-)
Morvan, Usuário Linux #433640.
FrancoAtirador
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Bem observado, caro Morvan.
O objetivo é criar no imaginário popular um ambiente negativo
para, no final das contas, concluir que a culpa é do governo
ou por inoperância ou por incompetência do(a) governante.
Uma tentativa mal-intencionada de formação de opinião pública.
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josaphat
Ok, Já encontrei.
josaphat
O minha gente, não estou conseguindo acessar a matéria no OI.
Alguém ajuda?
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