Lúcia Garcia: “Não basta para o negro ampliar sua escolaridade”
Tempo de leitura: 3 minpor Luiz Carlos Azenha
O Brasil precisa de uma ampla campanha de valorização cultural do trabalho dos negros, se quiser superar as disparidades salariais entre negros e não negros observadas na mais recente pesquisa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, o Dieese.
A avaliação é de Lúcia dos Santos Garcia, que comandou a equipe de cerca de 500 pesquisadores que, durante o ano de 2013, ouviu mais de 600 mil trabalhadores nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal, na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Dieese. Um recorte da pesquisa, analisando a situação dos negros no mercado do trabalho, será divulgado nesta terça-feira.
A pesquisa constatou que os negros (e pardos) recebem bem menos por hora trabalhada que os brancos independentemente da escolaridade. Sim, você ouviu bem: INDEPENDENTEMENTE da escolaridade. Em média, a hora trabalhada do negro/pardo vale 63,8% da hora trabalhada do branco.
Os pardos, assim definidos a partir da observação dos pesquisadores (em menor escala, por autodeclaração), foram agregados aos negros por serem tão vítimas de preconceito/discriminação quanto.
Mas, de onde vem a diferença?
Segundo os dados levantados pela pesquisa, do fato de que negros e pardos ocupam majoritariamente os postos de trabalho na base da estrutura produtiva, empregos que exigem, segundo Lúcia, “menor potencialidade cognitiva, baixa intensidade de conhecimento, são mais difíceis, perigosos e repetitivos, exigem força física e pouca decisão ou criatividade”.
Exemplos?
Analisem os quadros abaixo:
Apoie o VIOMUNDO
Lúcia dos Santos Garcia trabalha na PED desde 1994.
A partir dos dados que coletou nos últimos anos, constatou que a escolaridade aumenta, com certeza, a renda do negro, mas não diminui a desigualdade com os brancos.
Por que?
Ela acredita que o preconceito persistente tem formas insidiosas e subterrâneas de se manifestar, de tal forma que atropela toda a legislação vigente e dificulta a ascensão dos negros e pardos em suas carreiras. Embora isso não tenha sido objeto da pesquisa, Lúcia está certa de que o fato de que a maioria dos empregadores é branca é fator importante. Haveria uma “naturalização” da ideia de que o trabalho do negro é inferior, justificando assim salários menores independentemente do setor da economia ou da escolaridade.
Em São Paulo, segundo dados da pesquisa, enquanto 18,1% dos brancos chegam a cargos de direção e chefia, para negros e pardos o percentual é de 5,7%.
Lúcia destaca que é senso comum entre os brasileiros que o trabalho dos imigrantes brancos estrangeiros deu grande contribuição à construção do país, mas não se diz o mesmo daqueles que efetivamente construiram desde sempre o Brasil.
Por isso, além de defender as cotas para empregos — por exemplo, de funcionários públicos — a pesquisadora propõe campanhas de valorização do trabalho do negro, da mesma forma que se fez para superar preconceito e discriminação homoafetiva ou contra as mulheres.
A contribuição fundamental dos negros para a construção do Brasil, diz ela, “precisa ser dita, repetida, trabalhada nas escolas, com as novas gerações”. Políticas afirmativas, no caso brasileiro, não são suficientes: é preciso lidar com a herança cultural do escravismo, que se expressa no fato de que um negro/pardo com diploma superior continua ganhando cerca de 60% do valor de uma hora trabalhada por um branco.
[Quer mais conteúdo exclusivo como este? Ajude a financiar o Viomundo]
Clique abaixo para ouvir as duas partes da entrevista. Ela começa com uma boa notícia: a taxa de desemprego dos negros/pardos está ficando mais próxima da taxa de desemprego dos brancos.
No pé do post, os gráficos da pesquisa.
Comentários
Adelina
” Não basta para o negro ampliar a sua escolaridade” . Não basta mesmo, é necessário quebrar os paradigmas da sociedade corrompida na qual vivemos.. é necessário abrir os olhos e notar que cor da pele não faz a pessoa ser inferior ou superior. Não basta também dizer que o racismo/preconceito no Brasil não existe, porque essa pesquisa mostra que independente da escolaridade um negro ganha menos que um não negro. PORQUE SERÁ ? É assim que o racismo/preconceito no Brasil não existe ?! O resultado positivo das cotas nas universidades justifica sua ampliação para o mercado de trabalho, porém, as oportunidades para negros e brancos não são iguais e não podemos fechar os olhos diante dessa situação. Assim como cotista nas universidades têm desempenho igual ou superior aos não cotistas é possível que essa realidade se encaixe no mercado de trabalho, se houvesse melhores oportunidades.
Fátima Oliveira: Cotas para parlamentares negros, discussão que promete – Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Lúcia Garcia: “Não basta para o negro ampliar sua escolaridade” […]
Mário SF Alves
E como não existe reação sem ação anterior que a determine, e jamais nos permitindo ignorar a dívida social do Brasil com seu povo, especialmente os afrodescendentes, tomo a liberdade de transcrever parte final da Nota pública do PT
_________________________________________________
O PT envidará todos os esforços para que a partidarização do Judiciário, evidente no julgamento da Ação Penal 470, seja contida. Erros e ilegalidades que tenham sido cometidos por filiados do partido no âmbito de um sistema eleitoral inconsistente – que o PT luta para transformar através do projeto de reforma política em tramitação no Congresso Nacional – não justificam que o poder político da toga suplante a força da lei e dos poderes que emanam do povo.
Na trajetória do PT, que nasceu lutando pela democracia no Brasil, muitos foram os obstáculos que tivemos de transpor até nos convertermos no partido de maior preferência dos brasileiros. No partido que elegeu um operário duas vezes presidente da República e a primeira mulher como suprema mandatária. Ambos, Lula e Dilma, gozam de ampla aprovação em todos os setores da sociedade, pelas profundas transformações que têm promovido, principalmente nas condições de vida dos mais pobres.
A despeito das campanhas de ódio e preconceito, Lula e Dilma elevaram o Brasil a um novo estágio: 28 milhões de pessoas deixaram a miséria extrema e 40 milhões ascenderam socialmente.
Abriram-se novas oportunidades para todos, o Brasil tornou-se a 6ª economia do mundo e é respeitado internacionalmente, nada mais devendo a ninguém.
Tanto quanto fizemos antes do início do julgamento, o PT reafirma sua convicção de que não houve compra de votos no Congresso Nacional, nem tampouco o pagamento de mesada a parlamentares. Reafirmamos, também, que não houve, da parte de petistas denunciados, utilização de recursos públicos, nem apropriação privada e pessoal.
São Paulo, 14 de novembro de 2012.
Comissão Executiva Nacional do PT
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Principios-Fundamentais/PT-reage-e-critica-STF-pela-politizacao-de-julgamento/40/26084
Fabio Passos
O resultado positivo das cotas nas universidades justifica sua ampliação para o mercado de trabalho.
Assim como os cotistas nas universidades tem desempenho igual ou melhor do que os demais estudantes, também será assim no mercado de trabalho.
Os futuros cotistas, que hoje tem sua ascenção social tolhida pelo racismo e preconceito, terão desempenho igual ou superior – eu não tenho a menor dúvida de que será superior! – ao da “elite” branca e privilegiada (e vagabunda!).
Sr.Indignado
Vou ligar. Quero uma verde.
Lúcia Garcia: “Não basta para o negro ampliar sua escolaridade” | vinteculturaesociedade
[…] Veja mais em: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/lucia-dos-santos-garcia-nao-basta-para-o-negro-ampliar-sua-e… […]
Zanchetta
E porque time de futebol só pode ter craques? Queremos cotas de “pernas-de-pau” em nossos times de futebol…
Fabio Passos
Cotas sim!
E contranger as corporações que praticam este descarado e odioso racismo.
Por ex… O que a FIESP tem a dizer diante do resultado desta pesquisa?
Nada? Inadmissível!
A “elite” branca e racista precisa prestar contas a sociedade!
Por que as indústrias de SP praticam racismo e o que a FIESP vai fazer concretamente para mudar esta putrefata realidade que criou?
E isto se extende as demais organizações e sindicatos patronais do Brasil…
DX
Eu creio ser aceitável o regime de cotas para as Universidades. Mas não concordo de forma alguma com cotas para concurso público.
Zanchetta
E vem aí as cotas para ex-detentos…
Não demora muito e todos que conseguirem se encaixar em alguma definição terão suas cotas.
Cotas para negros, brancos total, amarelos, com vitiligo, gordos, muito gordos, magros, muito magros, bichas, gays, homossexuais, travestis (sim, cotas diferentes para cada tipo), cabeçudos, pernas curtas, pinto pequeno (aí eu quero ver alguém declarar que é), barrigudos, mancos por acidente, mancos congênitos, e por aí vai…
Lourds
Não haverá cota para fascistas como você.
Fabio Passos
Esta desigualdade horrenda não é um acidente.
É uma situação construída pela minoria branca que construiu um Apartheid Social no Brasil.
É fato notório que o psdb-PiG-dem são partidos da “elite” branca e racista.
ali kamel, demetrio magnoli são alguns dos pistoleiros pagos pela casa-grande para atacar políticas de Estado e ações concretas que combatam as desigualdades causadas pelo racismo e preconceito.
Já passou da hora de implodir a casa-grande!
Ana
Com relação às cotas p/ negros em concursos públicos, gostaria de reforçar uma consideração. Não é possível que ainda se criem mais cotas para tais vagas, só p/ os negros. Se assim for, que se crie então p/ mulheres, descendentes de índios e toda sorte de minorias que têm alguma desvantagem no mercado de trabalho!
DX
Concordo ANA!
Diferentemente das cotas para Universidades, onde o Reitor é quem decide se alguém é negro/pardo ou não, quem será o “Avaliador” da negritude de uma pessoa no caso do Concurso Público? Serão DIVERSAS pessoas se alegando negro/pardo para obter a vantagem. Tenho uma amiga, cujo pai é negro, casou-se com uma branca, e ela saiu BRANQUINHA. E aí? Como faz? Prova a ascedência negra? Criou-se a confusão.
Beneficiados serão os negros RICOS (que estão cagando para igualdade racial) e que terão acesso aos cursinhos (que são caros). Otários são aqueles idealistas que isso vai mudar alguma coisa…
Homero Mattos Jr
Hoje[final da primeira década do séc. XXI], infelizmente, o que está a ocorrer nos espaços exteriores da sociedade brasileira está a afetar de modo profundamente negativo os espaços interiores da intimidade pessoal e familiar dos brasileiros que, a buscar cercarem-se cada vez mais alto e a entrincheirar-se cada vez mais irredutíveis na segurança de espaços cada vez mais privados e menos sociais, talvez acabem por implantar o ‘feudalismo do século XXI’.
http://passalidadesatuais.blogspot.com.br/2011/06/no-tempo-de-dantes.html
Mauro Assis
Toda a política racista do governo federal só vai aumentar essa discriminação. Quanto mais políticas de favorecimento baseadas na cor da pele forem implementadas mais essa discriminação aumentará.
Resumindo: http://www.youtube.com/watch?v=WNM4txmV0Lc
Quem sabe se não devemos estabelecer cotas para empresários com base na cor da pele?
Rodrigo Barros
Então é simplesmente fechar os olhos e não enxergar o que está explícito? Tem que haver políticas de inserção do Negro seja em qualificação ou cargos de tomadas de decisões. As políticas de ações afirmativas é uma realidade que ajuda a diminuir este abismo.
Ana
Então que se privilegiem as vagas em cargos comissionados. Por exemplo, por que não mais ministros de estado negros no governo?
Com relação aos concursos, para cargos efetivos, já é muito justo o sistema, dando condições inclusive aos negros já favorecidos com cotas das universidades… Todos,negros, descendentes de índios, brancos, têm as mesmas chances. Não é possível que ainda se criem mais cotas para tais vagas, só p/ os negros. Que se crie então p/ mulheres, descendentes de índios e toda sorte de minorias que têm alguma desvantagem no mercado de trabalho!
Narr
Por que em lojas de roupas de shopping quase não há funcionários negros? Se não houver sistema de cotas, como é se resolve esse problema?
DX
Não me venha com hipocrisia. Num shopping, os negros não gostam de comprar coisas com negros.
Fabio Passos
Exatamente.
E além das cotas também é preciso constranger publicamente as organizações comerciais que praticam este racismo despudorado.
Walter
Artigo 3 Inciso IV da Constituição Federal.
Ou então que mudem a Constituição .
Rodrigo Barros
Constituição feita exclusivamente por Não Negros.
Capilé
Para pensar:
A elite baiana, predominantemente negra e parda, paga salários mais baixos às suas babás?
Ôochhh…!
fabricio alves
O ACM Neto não é negro e paga salario baixo as suas domesticas. É pra pensar.
Negro é discriminado no trabalho, confirma pesquisa | A Tal Mineira – Blog da Sulamita
[…] do que se faz para superar a discriminação e o preconceito contra mulheres e homoafetivos – Clique para ler a íntegra da […]
Fabio Passos
O resultado desta pesquisa é comprovação do racismo escandaloso que existe no Brasil.
O PiG, máquina de propaganda da casa-grande, seguramente não vai dar a atenção devida a esta pesquisa. Para a “elite” branca e racista, esconder a realidade é a melhor forma de perpetuar seus privilégios. ali kamel, demétrio magnoli e outras tristes figuras são muito bem pagos pelas oligarquias midiáticas para negar fatos e tentar bloquear políticas públicas de combate ao racismo e seus efeitos.
É dever do Estado tomar ação contra a injustiça.
O governo Dilma precisa tomar ações para coibir esta disparidade injustificável de rendimentos.
Mauro Assis
Qual ação? O que pode ser feito na prática para alterar esse estado de coisas?
Zanchetta
Matar alguns brancos…
Mauro Assis
Assim fosse, se matássemos alguns negros também o problema diminuiria na mesma proporção… estatisticamente o problema diminuiria da mesma forma, não?
Deixe seu comentário