Fuleiragens topográficas
Por Lelê Teles*
Peguei um táxi em Uberlândia – enfim, a hipocrisia -, o taxista, muito magro, curiosamente nasceu na Praia do Forte (BA) e tinha o singelo apelido de Náufrago de Porto Seguro.
“Mas Ceará possível?!”, pensei comigo.
Ele me disse que tinha viajado com um marinheiro triste, de Porto Alegre, e uma garota trans emasculada, de Rolândia, para passar o Ano Novo em Natal.
“Muitos turistas na cidade!”
Ele disse que viu um anão, de Pau Grande, chavecando uma evangélica, de Santos, enquanto um maneta, de Palmas, batia boca com um cego, de Boa Vista.
Veja você.
“O bombeiro, de Botafogo”, ele continuou tagarelando, “sentado à mesa com um ateu, da Cidade de Deus, um pagodeiro, de São Rock e um jardineiro, do Mato Grosso, dizia que era proibido fazer churrasco em Hortolândia”.
Pensei comigo: ” o que diria o analfabeto, de São Tomé das Letras, numa hora dessas?”
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Lembrei de um amigo metaleiro, nascido em Sossego, apaixonado por uma garota, de Três Corações, dizendo que nasceu pra ser corno.
Deus é fiel, a namorada dele, não.
Ouvi de um mendingo, de Diamantina, que tá cheio de macho alfa na Chapada dos Veadeiros, a maioria é redpill de Passo Fundo.
“Solteiro?”, perguntei ao taxista, ele me disse que sim e que dispensou a companhia de duas virgens, de Piranhas, porque Amazonas.
“Pode Pará”, ordenei, “Jesus nasceu em Belém, foi criado no açaí, no tacacá e no tucupi. Quem me disse isso foi uma popozuda de Curralinho”.
“Sou da macumba, moço”, disse o taxista, “sei nada de Jesus”, e mostrou uma foto dele criança, com um pai de santo, sentado no capô de uma velha Brasília, placa de São Paulo.
“Há Deus!”, ele disse.
“Ah, Deus”, respondi.
“Adeus”, dissemos em coro.
Palavra da salvação.
*Lelê Teles é jornalista, roteirista e publicitário.
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