Juan Gasparini: Assassinato por papel-jornal

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Em 15 de dezembro, a Câmara de Deputados da Argentina aprovou um projeto de lei que declara a fabricação, distribuição e venda de papel-jornal no país como “interesse público”. A decisão, que envolve a Papel Prensa S/A., não a desapropria, apenas determina que será fixado preço único para a venda de papel-jornal para todas as empresas.

A Papel Prensa foi criada por uma associação entre grupos privados e o Estado argentino. Durante a ditadura, o seu controle, que pertencia ao grupo Graiver, foi transferido, por preço irrisório, para o Clarín e o La Nación, que eram unha e carne com o regime militar.

Isso aconteceu logo após a morte do seu líder David Graiver, num mal-explicado acidente de avião. Em entrevista ao Opera Mundi, o jornalista Juan Gasparini afirma que Graiver teria sido vítima de um atentado da CIA. Realizada em 2010, ela ajuda a compreender a batalha atual pelo papel-jornal na Argentina. Daí,  por sugestão de ZePovinho, estarmos republicando-a agora.

do Opera Mundi, sugerido por ZePovinho

Em 1990, o jornalista argentino Juan Gasparini lançou um livro sobre um dos temas mais controvertidos da história recente da Argentina: a morte do empresário David Graiver, em um acidente de avião com causas nunca esclarecidas e a venda da Papel Prensa, principal empresa responsável pela fabricação e distribuição de papel-jornal para os jornais argentinos, aos grupos Clarín e La Nación, maiores conglomerados de mídia do país. Vinte anos depois, uma acusação feita pelo governo de Cristina Kirchner faz o assunto se tornar o centro da discussão política na Argentina.

Após mais de dois anos de pesquisa, Juan Gasparini escreveu El Crimen de Graiver, reeditado em 2007 sob o título David Graiver: El Banquero de los Montoneros e que agora chega à terceira edição. A nova versão acrescenta um prólogo e um epílogo que atualizam os acontecimentos e começou a chegar às livrarias da Argentina na última sexta-feira (3/9).

Em entrevista ao Opera Mundi, Gasparini fala sobre sua hipótese sobre a morte do banqueiro, sobre a obscura venda das ações da Papel Prensa e sobre o investimento de 17 millhões de dólares que teriam sido doados a Graiver pela guerrilha dos Montoneros, um dos braços armados do peronismo.

A primeira edição do livro foi lançada em 1990, sete anos após o fim do regime militar. Foi difícil encontrar o material para fazer a pesquisa para o livro? Como foi essa busca?

Para fazer uma investigação jornalística, é necessário juntar uma série de circunstâncias e condições. Eu tinha provas materiais e documentos, que já tinha usado na minha tese de doutorado em Genebra sobre a derrota da guerrilha peronista, que deu origem ao meu livro anterior sobre este assunto, Montoneros: final de cuentas, publicado em 1988. Tive também a sorte de conseguir uma parte importante dos autos do processo contra os Graiver que já existia na Justiça civil, após o fim da ditadura militar, em 1983. Pude examinar muita informação em Genebra com Alberto Naón, alto funcionário do grupo Graiver, que morava aqui, onde eu também moro. Consegui bastante material publicado na imprensa dos Estados Unidos e tive a sorte de conhecer um piloto do mesmo tipo de avião em que David Graiver morreu. Analisei as causas do acidente, que me levaram à conclusão de que foi um atentado.

Qual é sua hipótese sobre a morte de Graiver?

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O que eu investiguei e defendo no meu livro, sem que ninguém tenha desmentido, é que foi um atentado executado pela CIA. Para mim, é evidente que as políticas dos EUA e da CIA, em particular, estavam totalmente entrelaçadas com as ditaduras. O próprio Senado norte-americano já pediu desculpas por essas intervenções.

Qual era a relação entre Graiver e os Montoneros?

Meu livro explora a hipótese de um investimento de cerca de 17 milhões de dólares dos Montoneros no grupo Graiver. Tratou-se, a meu ver, de uma operação combinada entre os chefes da organização e o próprio David Graiver, operação consentida pela então mulher dele, Lidia Papaleo, e conhecida pelo irmão do banqueiro, Isidoro Graiver, como eu explico no livro.

A relação entre Graiver e os Montoneros pode ser ou é usada pela oposição ou por simpatizantes do regime militar para legitimar a venda da Papel Prensa?

Eu poderia concluir que a operação para aniquilar o grupo Graiver a cargo das forças armadas seguiu um plano de três fases sucessivas e interdependentes. A primeira foi decapitar o grupo, uma multinacional avaliada em 200 milhões de dólares com tentáculos na Argentina, na Bélgica e nos EUA, abatendo seu chefe, David Graiver, num assassinato reconhecido pelo jornal Clarín de 2 de junho de 2010.

A segunda etapa foi executada respeitando as aparências da legalidade, com a assinatura de sua viúva e sua herdeira em liberdade – ainda que, sem dúvida, sob o controle e a pressão do regime militar. A transação deveria parecer limpa, neutralizando eventuais críticas. Tinha de observar as formas de uma transação comum, responsável, para que o projeto monopolizador do “insumo vital” destinado a abastecer jornais e revistas em escala nacional, a “joia da coroa” dos Graiver, mudasse de mãos sem despertar medos nem suspeitas.

A terceira etapa foi a expropriação forçada do muito que restava para os Graiver, para quem parecia dispensável acatar as regras republicanas. Esse saque foi feito com os espoliados já na prisão. E começou um mês depois de quando estiveram presos clandestinamente, passando de imediato a serem condenados a grandes penas de prisão pela Justiça Militar.

Teriam chegado a cometer um assassinato por causa da Papel Prensa?

Essa é também parte da minha hipótese de trabalho. Graiver foi assassinado por ter recebido um investimento de 17 milhões de dólares da guerrilha peronista, dinheiro que ajudou o banqueiro a se instalar no centro mundial das finanças capitalistas em Nova York, comprando dois bancos.

Mas, após sua investigação, é possível concluir que a organização deu algum dinheiro para a empresa?

Isso é a Justiça é que deveria dizer, se avaliasse que há motivo para investigar, mas hoje não é esse o caso na Argentina. Os Montoneros entregaram para Graiver o dinheiro de dois sequestros de empresários, Juan e Jorge Born e Henrich Metz, em setembro e outubro de 1975. Seria preciso averiguar se, entre essas datas e a morte de Graiver, em agosto de 1976, o banqueiro injetou capital na Papel Prensa. Judicialmente, os processos contra os Montoneros foram extintos e nunca se soube a eventual porcentagem de dinheiro da guerrilha na empresa.

Qual foi o impacto do livro quando ele foi lançado pela primeira vez na Argentina? Foi polêmico?

O livro nunca teve muito impacto, nem em 1900, nem em sua reedição em 2007. Vamos a ver agora a terceira edição que vai sair nos próximos dias. Nunca ninguém se queixou do livro, nem houve polêmicas importantes. Agora, sim, há um certo escândalo e me atacam cotidianamente, mas estou feliz por estar na luta, de pé e pela verdade histórica.

Recentemente, em uma entrevista ao jornal Tiempo Argentino, a viúva de Graiver disse que recebeu ligações dos Montoneros. A que ligação ela estava se referindo? Era uma ameaça de morte?

Na declaração de Lidia Papaleo ao governo para ser incorporada ao dossiê apresentado pela presidente Cristina Kirchner, em 24 de agosto de 2010, não existe nenhuma alusão a suspostas ameaças que teriam sido feitas pelos Montoneros à viúva de Graiver. Na entrevista de Lidia Papaleo ao Tiempo Argentino, ela disse: “Também houve um telefonema dos Montoneros”. Estava se referindo a uma ligação que teriam feito a ela no México, pouco depois do assassinato do marido, em 7 de agosto de 1976. A ligação foi feita no dia 9 de agosto de 1976 e os Montoneros a fizeram para dar pêsames, não para ameaçá-la.

Como o senhor avalia essas medidas do governo de Cristina, que têm tido como objetivo acabar com o oligopólio da mídia na Argentina?

Eu moro desde 1980 em Genebra, na Suíça, e só fui à Argentina apenas para viajar. Parece que a nova lei de mídia pelo atual governo é saudável, antimonopólios, favorece a pluralidade e uma melhor administração e acesso da população à informação.

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Comentários

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Eric Nepomuceno: Principal executivo do Clarín torturou e ameaçou matar viúva e filha de ex-dono de empresa de papel-jornal « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Juan Gasparini: Assassinato por papel-jornal […]

Quando a imprensa mata « Ficha Corrida

[…] http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/juan-gasparini-assassinato-por-papel-jornal.html Rate this: Sirva-se:Like this:LikeBe the first to like this post. Deixe um comentário […]

Elias SP SP

HOJE – 26/12/2011 – Notícia de primeira página do jornal La Nacion: LA PRENSA, ES ÚLTIMO LÍMITE DEL PODER

O artigo do jornalista Carlos Pagni, no La Nacion, apresenta-nos a medida exata de uma Argentina muito mais avançada na Ley de Medios do que o Brasil.

La prensa suele estar acorralada allí donde no existen sistemas políticos competitivos. No es por azar que las denuncias que se escuchan en foros internacionales sobre restricciones al periodismo en América latina se refieren a Cuba, Ecuador, Venezuela o Bolivia, donde el poder es monopolizado por el gobierno. En los países que carecen de oposiciones desafiantes los medios son el límite final de la voluntad del que manda.

El Gobierno se concibe a sí mismo como el único intérprete del interés popular. El ejercicio de la crítica no es visto, entonces, como el derecho a expresar una interpretación alternativa, sino como la trampa tendida por quienes defienden intereses oligárquicos en contra de la felicidad general

La presunción de que el periodismo es un vocero de intereses reaccionarios está muy arraigada en Cristina Kirchner. = A suposição de que o jornalismo é um porta-voz dos interesses reacionários está profundamente enraizado em Cristina Kirchner.

Enfim, na Argentina não é só o Clarín que age como imprensa golpista, o La Nacion também…assim como no Brasil: O Globo, Folha de SP, Estado de SP, Veja entre outros.

Eugênio l da Costa

A história da Argentina é muito diferente da nossa, mesmo que agora tenha aparências, na lei de imprensa que se quer aqui. Os lideres da Argentinas foram populistas de direita, o maior o Gal Peron.
Eles tinham uma postura de direita mesmo antes da ditadura, eles deram aliso politico as nazistas e depois pagaram caro, acumpliaram os nazistas e esses mesmo militares se voltaram contra o povo.

Marat

Mais uma vez a Argentina dá um banho no Brasil, que prefere seguir os ditames de Washington… Para muitos aqui (que são macacos amestrados dos EEUU), liberdade e democracia são sinônimos de consumo… enquanto isso, os argentinos ensinam o que é uma verdadeira democracia!

    Archibaldo S. Braga

    Marat, ellos tienem cojones roxos!!!!!Braga

    Marat

    rsrsrsrsrsrs – me fez lembrar o Collorido

ZePovinho

E viva a liberdade de expre$$ão dos donos da imprensa-empresa!!!!

ZePovinho

A Maria Christina Mendes Caldeira,presente no Barão de Itararé,também divulgou essa bomba:
http://blogladob.com.br/geral/bomba-os-roberto-ma

Bomba: Os Roberto Marinho sócios de Kadafi
Por Redacao Blog Lado B | Publicado:12 de setembro de 2011

João Roberto Marinho, o falecido patriarca, Roberto Irineu Marinho e José Roberto Marinho: sócios de Kadafi no Banco ABC-Roma

Uma bomba, como aquelas da OTAN jogadas na cabeça dos líbios, acaba de atingir em cheio o QG da TV Globo.

É a notícia de que Roberto Marinho e seus filhos foram sócios de Muamar Kadafi nos anos 80/90, no banco ABC-ROMA (RO-MA são iniciais de Roberto Marinho, e ABC as iniciais do Arab Banking Corporation). http://www.abcbrasil.com.br/port/ri/companhia/his

O Arab Banking Corporation tinha e tem o Banco Central da Líbia (estatal, sob comando do governo Kadafi) como principal acionista desde sua criação em 1980.

O sociedade entre os Marinho e o governo de Kadafi foi criada em 1989, como expansão dos negócios financeiros da família Marinho, que já detinha a Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários ROMA desde os anos 70, e durou até o ano de 1997.

Curioso observar que a sociedade Marinho-Kadafi começou logo após o governo Líbio ser acusado de envolvimento no atentado terrorista que derrubou um avião na Escócia (dezembro/1988). Durante todo o tempo em que durou a sociedade com os donos da TV Globo, a Líbia foi alvo de sanções, embargos da ONU e congelamento de dinheiro no exterior. Kadafi só começou a se reaproximar dos países da Europa Ocidental em 1999 e só reconciliou com a Europa e EUA em 2004.
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Leia também:

Justiça brasileira bloqueia participação da Líbia em banco que já teve Roberto Marinho como sócio
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Francisco Niterói

Na carta maior tem um artigo excelente do eric nepomuceno mostrando como "os defensores da liberdade de imprensa- clarin e la nacion" fazem pra dificultar aos meios de imprensa menores o acesso a este insumo básico que é o papel de imprensa. Coisa que a nossa midiazona esconde muito bem pra poder tocar as trombetas do apocalipse da "liberdade de imprensa ameaçada".

    luiz pinheiro

    O que o Clarin quer não é liberdade de imprensa, é liberdade para monopolizar o papel imprensa.

    Marat

    Eles, assim como nossos barões midiáticos locais não são democratas, são uns mentirosos-malandrões que ainda pensam que podem enganar a todos com seus embustes e suas trapaças. É bom eles saberem que Pinochet, Videla, Viola et al estão todos na lata de lixo da história e os tempos são outros. Lógico que o Brasil está excluído deste processo, infelizmente!

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