Os cinco principais mitos que se repetem, na cobertura dos protestos no Oriente Médio
20/2/2011, Juan Cole, no Informed Comment
5. O mito da mulher humilhada nos países muçulmanos
Cara blogosfera de direita e caro Bill Maher:
Párem de generalizar, quando falarem da posição da mulher nos países muçulmanos, considerando só o terrível assalto que a repórter Lara Logan da CBS [matéria em http://articles.latimes.com/2011/feb/15/entertainment/la-et-0216-lara-logan-20110216] sofreu, atacada por uma gangue de bandidos. Comentar em geral sobre todo um grupo, a partir de um único incidente, chama-se “fanatismo”. Também é falácia (se duas palavras que, juntas, somam mais de seis sílabas, e uma é proparoxítona, forem demais para os destinatários desse postado, as duas palavras podem ser traduzidas por “o cérebro de vocês deu chabu”), conhecida como “generalização falsa” [sobre “falácia”, ver http://www.unc.edu/depts/wcweb/handouts/fallacies.html]. Ninguém dá sinal de perceber que as tais indefesas mulheres egípcias salvaram Logan. Ninguém lembra que Anderson Cooper também foi agredido.
Há muitos casos de repórteres e celebridades atacadas por multidões, aqui e lá. Os idiotas-da-direita, Bill Maher e outros, jamais generalizam quando os atacantes são ocidentais; e sempre generalizam quando são árabes.
Atenção Bill Mahrer, racista, odiador de muçulmanos:
Acorde. Não é verdade que as mulheres não votam em 20 países muçulmanos [ver http://en.wikipedia.org/wiki/Timeline_of_first_women%27s_suffrage_in_majority-Muslim_countries], e pare de generalizar para 1,5 bilhão de muçulmanos, considerando só os 22 milhões que vivem na Arábia Saudita wahhabista – único país em que as mulheres são proibidas de dirigir automóveis, e homens votam (em eleições municipais e só) mas as mulheres, não. Seria como generalizar, a partir só dos amish da Pennsylvania, para todos os cristãos dos EUA e pretender que todos os cristãos dos EUA são obcecados com carroças e inimigos da energia elétrica.
4. O mito da influência do Irã no Bahrain
É falso que as manifestações no Bahrain tenham sido influenciadas pelo Irã. É processo nascido no próprio Bahrain, dos árabes xiitas que são tratados como cidadãos de segunda classe em sua própria terra.
No sábado à noite, [matéria em http://ca.reuters.com/article/topNews/idCATRE71I0X320110220],
“os manifestantes acamparam na Rotatória da Pérola [‘praça’ Pérola, como também se diz no Brasil, mas é mais “rotatória” (para carros) do que “praça” (para pessoas)], no centro da capital, enquanto seus representantes reuniam-se, preparando-se para as conversações com o governo.
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E telegramas publicados por Wikileaks mostram que o governo dos EUA repetidas vezes desmentiu qualquer interferência que o Irã teria sobre a monarquia sunita do Bahrain” [ver, sobre isso, o telegrama “S E C R E T SECTION 01 OF 03 MANAMA 000528”, de 5/8/2008, em http://www.guardian.co.uk/world/us-embassy-cables-documents/164906].
3. É mito que todos os clérigos muçulmanos sejam aiatolás khomeinis
Yusuf Qaradawi, pregador muçulmano de 84 anos, tem raízes na Fraternidade Muçulmana de antes de a Fraternidade ter optado pela via parlamentar e desistir da resistência armada, mas, nem por isso, é um aiatolá Khomeini. Qaradawi falou a milhares de pessoas na praça Tahrir na 6ª-feira. Em 2001, Qaradawi conclamou os muçulmanos a lutarem contra os Talibã e a al-Qaeda ao lado dos EUA. Na 6ª-feira, falou do papel dos cristãos coptas na revolução egípcia e disse que se acabaram os tempos das disputas sectárias. Qaradawi é reacionário em vários assuntos, mas não é radical. Além disso, nada leva a crer que os movimentos de jovens e de sindicatos que arrancaram Hosni Mubarak estejam interessados em seguir cegamente as opiniões de Qaradawi.
2. É mito que os partidos muçulmanos radicais controlarão todos os novos governos que surjam na Região
Considerando o futuro da Túnisia e o futuro do Egito, é falso – como repetem os propagandistas de Israel e odiadores de muçulmanos como Barry Rubin – que os partidos muçulmanos fundamentalistas sempre vencem eleições livres nos países de maioria muçulmana. É ideia, perdoem a franqueza, estúpida, já desmentida por exemplo nas eleições no Paquistão em 2008, na Albânia em 2009, no Curdistão, no Iraque pós-2003 e em todas as eleições na Indonésia.
1. É mito que Facebook e Twitter tenham sido as principais forças de mobilização: os sindicatos foram muito mais importantes, nos levantes populares no mundo árabe
Apesar da importância de Facebook e Twitter como ferramentas de comunicação e mobilização, os sindicatos e as organizações de fábricas foram mais importantes nos levantes no Oriente Médio, que a mídia social. Na Líbia, o ataque do regime contra os serviços de internet não impediu um grande levante em Benghazi, que o regime reprimiu com extrema violência.
Para acompanhar os acontecimentos na Líbia, minha indicação.
Comentários
Mário Augusto Jakobskind: Delegação brasileira é barrada na Líbia | Viomundo – O que você não vê na mídia
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Quem é o “cachorro-louco do Oriente Médio” « CartaCapital
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Quem é o “cachorro-louco do Oriente Médio” | Viomundo – O que você não vê na mídia
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Bianca
me dá o resumo do egito?
o que aconteceu?
quem tá por trás?
quem será o sucessor?
brigada
Marat
O PIG é a personificação da piada do Salim: Chega uma pessoa e pergunta:
– onde está o Salim?
o Salim saiu
– Puxa, que pena, eu tinha que dar um dinheiro a ele
– o senhor não entendeu direito: o Salim sou eu…
O PIG noticia de acordo com o que seus patrões ordenam: Se o país é aliado, a cobertura mente e tergiversa a favor, se o país é inimigo dos EEUU, a cobertura mente e tergiversa contra…
Bucaneiro
Boa parte dos comentaristas daqui são exatamente assim, só que na polaridade oposta…
Marat
Talvez seja um reflexo do comando mundial nas mãos de psicopatas…
JULIO
interessante dizer que a mulher arabe é pirmida num país chamado Brasil a cada 2 minutos uma mulher é espancada e a Eloa, e o assassino da Mércia e a Vanessa estrupada em Varzea grande vamso acordar para mudar as nossas leis
Gisela
A HUMILHAÇÃO DAS MULHERES NO MUNDO ÁRABE NÃO É MITO. Essa conclusão não veio apenas por causa do ataque à reporter não, por favor né! É um fato, originado na religião e distorcido e exagerado pelos costumes, leis, etc. Não podemos ignorar isso e chamar quem reclama de racista não! Eles são machistas mesmo, não há como negar! Você sair na rua sozinha já faz de você um alvo, mesmo coberta dos pés à cabeça…é um absurdo! Em vez de ensinar os homens a respeitar as mulheres, como no ocidente, as mulheres q tem que viver escondidas, cobertas, vigiadas por irmãos, pais, maridos. Deprimente! Não estou generalizando, alguns países islâmicos são piores que outros, alguns nem exigem o véu, mas chegar ao ponto de dizer que isso é um mito é vergonhoso e não contribui em nada para melhorar a qualidade de vida das mulheres árabes.
Jair Almansur
Desculpe-me Gisele mas em dezenas de paises não árabes as mulheres sofrem a mesma restriçao (e até maiores) do que voce menciona. Experimente uma mulher pegar um trem de suburbio lotado para ver se ela não é violentada por encostoes masculinos? Isso no Rio de Janeiro e São Paulo. O que ocorre é que a comparação e feita por gente que vive em situação de elite em seu pais e observa situação precária em outro pais.
carmen silvia
Gisela quem te disse que todas as mulheres no mundo árebe são desrespeitadas?Cuidado com as simplificações e generalizações.O que conhecemos de fato sobre esses povos e sua cultura?E sobre nos mesmas aqui no laico ocidente também não somos presas de uma série de ritos impostos pela nossa cultura e nem nos damos conta?A violência contra a mulher não é uma prerrogativa muculmana muito menos árabe e bem lembrou o Jair dos riscos que corremos quando tentamos simplesmente pegar um trem ou ônibus lotado?
Bonifa
Até os anos 50, o cristianismo oficial pregava um recato que beirava a clausura completa entre as mulheres. Uma espécie de lei da burka. Apesar do catolicismo se erigir sobre a figura da Virgem, as mulheres eram consideradas fonte de todo o pecado e não havia lugar para ela no esquema educacional cristão senão nas escolas domésticas. E não há, em todos os evangelhos, assim como não há no Corão, nenhum fundamento discriminatório resistente para além das considerações de contexto puramente histórico, que justifique a ditadura imposta sobre as mulheres pelos sacerdotes, tanto no cristianismo quanto no islamismo. No hinduismo nem se fala. Hoje se sabe que as sociedades do vale do rio Indus, onde nasceram todo o hinduismo, todo o fundamento dos livros sagrados e todos os iogas, eram sociedades onde o elemento feminino predominava, inclusive politicamente.
Colin Brayton
O blog de Juan, que existe desde antes da "nuvem de cogumelo" dos necons, á chamado de "Opinião Informada," nome no qual se encaixa bem. Também escreve muitas vezes no Counterpunch, último bastião do pensamento político independente.
Li outro comentarista comentando o exagero dessa suposta "revolução no Facebook." Concordo. Um punhado de pessoas desconhecidas publicam uma opinião e a CNN automaticamente manda um time para entrevistar "a voz auténtica da juventude." Tem preguiça demais de ir para a rua entrevistar pessoas de carne e osso.
Acho muita manipulação, e um belo exemplo dessa noção da Democracia 2.0. Apenas a voz de quem tem iPhone conta, num país com um abismo entre os ricos e pobres daqueles. 2 milhões de pessoas vivem no cimitério da Cairo, sabia? Pode beber seu coquetel no seu quarto de hotel quatro estrelas e observar a formigação de gente.
Paulo C.
Querido Azenha,
acho interessante que as revoltas no Egito tiveram ampla cobertura no seu site, com aquela ênfase que eles eram vassalos de Israel e isto seria a ruína do estado judeu. As revoltas na Líbia e sua sangrenta repressão ainda não apareceram no seu site, por alguma razão em particular? Talvez por ser antiamericana e antiisraelense, a ditadura líbia era considerada uma ditadura do tipo" bom"? vamos superar este sectarismo político, para o bem de todos! Um abraço,
paulo afins
Sobre o mito 1, o papel dos sidicatos, nossa própria história nos ensina que quando os trabalhadores se organizam podem derrubar ditaduras… alguém lembrou do ABC paulista no final da década de 1970?
E, no caso do Egito em especial, Mubarak caiu quando as greves começaram e não se reverteram.
Seria interessante saber como estão as greves no Egito hoje, pois isso deve dar o tom das reformas por vir.
São os sindicatos, estúpido! | Outras coisas e afins
[…] O Juan Cole publicou um guia com 5 mitos sobre a cobertura da imprensa sobre o Oriente Médio (traduzido e reproduzido no Vi o mundo). […]
mariazinha
E o solo sagrado vai tremer diante da revolta árabe; um povo tão corajoso e valente, com histórico de grande inteligencia e saber, vivendo como ratos em uma terra rica e mágica, mas, sendo explorados pela horda de demônios.
VIVAS AO POVO ÁRABE e todo o povo sofrido do OM! QUE ALÁ os proteja!
Marat
A outra coitada, da Globonews, correpondente em Tel Aviv, não sabe nem se expressar. Ela apenas torce contra os árabes e gagueja o tempo todo, quando não está falando gírias…
Marat
Tive o desprazer de dar uma olhadinha rápida (estava na casa de amigos) na tal de Globonews… Canal ridículo, time de "jornalistas" péssimo, a começar pela vetusta Leilane Neubarth. Essa é mais burra que uma cotia em coma… lógico que esse tipo de gente, com QI similar ao de Diogo Mainardi, é bom para um canal decadente. Em tempo, um amigo me disse que o Diogo Mainardi é tão burro, que se tomar um tombo, e ficar de quatro, num local com carpete verde, ele começa a comer, pensando que é grama!
Andre
Aham, ta bom. Se o Juan Cole falou, tá falado.
CLAUDIO LUIZ PESSUTI
Ok, tudo bem, mas o cara parece ser um especialista em Oriente Medio, tendo inclusive morado varios anos na regiao.Wikipedia nao e totalmente confiavel, mas veja este link:
http://en.wikipedia.org/wiki/Juan_Cole
Andre
Ok Cláudio…
A condiçao da mulher na cultura e religiao muçulmana é um mito, "invenção do ocidente".
Confuso da Silva
Concordo com quase tudo. No entanto, o argumento para justificar que o Irã não influenciou os protestos no Bahrein é falho: diz que os telegramas americanos mostram que não há influencia iraniana no governo sunita do Bahrein, o que justamente implica que seria de interesse do Irã incitar o povo, principalmente a minoria xiita, contra o governo.
Leider_Lincoln
Prezado, no Bahrein os xiitas não são minoria, muito pelo contrário.
Confuso da Silva
Ok, você tem razão. É a maioria, o "povão", mas quem está no poder é o rei sunita. Ainda não mudo minha opinião.
@yakolev
Revoltas em toda África, não só no norte árabe, mas a mídia lamentavelmente falha mais uma vez em mostrar isto.
A cor da pele dos manifestantes e não o petróleo determina a falta d cobertura, já q mtos desses países são exportadores d minerais preciosos e estratégicos http://j.mp/e6r7mJ via Al Jazeera
Pedro
Será que estamos vivenciando a Primavera dos Povos árabe?
Nicolau
O porco do Khadafi resolveu metralhar o seu próprio povo! Resolveu fazer igual Ceausescu na Romênia em 1989! Espero que tenha o mesmo fim que Ceausescu teve: o paredão de fuzilamento!
Claudio Ribeiro
http://palavras-diversas.blogspot.com/2011/02/que…
Cai a "cortina de ferro" do mundo árabe servil ao ocidente e repressor…
Nilva
É muita ignorância ou má-fé desta midiota.
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