por José Viegas Filho, na Folha S. Paulo, via blog Projeto Nacional
A ansiedade e a pressão especulativa que marcam as finanças internacionais estão longe de servir de bússola às decisões dos governos.
Nada indica que haja uma saída para a crise europeia — mesmo mundial– que não envolva uma recessão prolongada, possivelmente associada a fortes flutuações e violentos impactos financeiros.
Recordemos que toda essa situação foi produzida pela euforia –nem comunistas, nem terroristas, nem anarquistas, nem operários rebeldes — e na vigência da mais ampla desregulação e livre-iniciativa.
Embora seja impossível isolar inteiramente as duas coisas, é útil considerar a situação separadamente, do ponto de vista dos governos e do ponto de vista da elite financeira. Governos à parte, a atuação do mercado, no manejo das dívidas dos países mais fragilizados, tem sido tumultuada e tumultuosa.
Os números são erráticos, as reações são imediatistas, não refletidas e apresentam uma tendência a dramatizar dificuldades, criando grandes oscilações que produzem sensíveis perdas e ganhos financeiros. Ganha quem joga pesado.
A ação do mercado reage apenas às questões imediatas e se implementa por meio de programas de computadores para os quais a noção de longo prazo sequer existe e cuja sensibilidade política e social é, por definição, igual a zero. Essa ação tem como objetivo inegável ganhar dinheiro a curto prazo. Na hora de tomar decisões estratégicas, os governos não encontram nenhum apoio na parafernália tecnológica do mercado financeiro.
No entanto, essa força não encontra quem a contenha, e sua importância para a gestão das coisas públicas e privadas é onipresente e permanece inquestionada. A ação do mercado continua a ser a referência principal a guiar as ações dos governos.
Mas o que se vê é que a ansiedade e a pressão especulativa que têm caracterizado as finanças internacionais estão longe de ser a melhor bússola para as decisões dos governos. A atuação estreita e reativa do mercado é antes fator de perturbação do que de sensatez.
Os governos do hemisfério Norte se endividaram para evitar o colapso do mercado financeiro em 2008, usando trilhões de dólares do dinheiro dos contribuintes para corrigir os erros da própria elite financeira. Em decorrência disso, as economias nortistas entraram em estagnação. Os governos, agora, têm que cortar gastos sociais, deixando suas populações carentes de serviços básicos e sob a constante ameaça do desemprego. E o mercado exige dos políticos a austeridade que ele próprio não mostrou ter.
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Assim é que os governos dos países do Norte, já carentes dos instrumentos de ação que foram dissolvidos pela onda antirregulatória, tampouco são capazes de impor um rumo sólido à economia. Seguindo, com unanimidade, a mesma lógica liberal que levou à situação em que se encontram, continuam tentando aplicar uma solução de mercado a uma situação para a qual este não oferece contribuição.
Saudades de Nelson Rodrigues, que nos ajudou a superar o “complexo de vira-lata” e nos deu sábios conselhos sobre a “unanimidade”.
José Viegas Filho foi Ministro da Defesa do Governo Lula e é embaixador do Brasil na Itália
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Comentários
David
Desculpe, mas não foi isso que aconteceu !
Em 2008 os governos salvaram os bancos, não o mercado financeiro (há sim uma diferença). Salvaram os bancos para salvarem sua pele ! ou seja, quem está no poder quer se manter no poder.
O Lehman Brother quebrou, o Citti e o Bank of America quase quebraram, a GM foi "estatizada" não se lembram disso ???
O resultado disso tudo foi a eleição de OBAMA, a bomba explodiu no colo de Bush e o povo votou em Obama.
Os governos se endividam para se manterem no poder !
No Brasil a Sadia tinha falido, mas como isso causaria pânico aqui o governo negociou uma fusão com a Perdigão, mesmo ocorreu com a Nossa Caixa Nosso Banco que foi comprada pelo Banco do Brasil.
Os governos agora tem sim de cortar em educação, saúde, etc etc. Foi oque nós latinos fizemos ! Eles precisam pagar essa dívida, e fazer superavit primário, como nós fizemos !
Acabou a mordomia na Europa essa é a realidade.
Por fim, acho muito demagógico criticar o mecado financeiro. Os culpados são os governos gastões que endividam o país de depois socializam os prejuízos. !
Avelino
Caro Azenha
Quando o deus dinheiro ( ou melhor, o mercado do dinheiro) se torna onipotente, como acontece agora. Nâo tenha duvida, ele arrebenta mesmo.Agora, em momento de crise, os mesmos causadores da crise, irão comprar as riquezas dos países, via privatizaçáo. Assim eles enriquecem ainda mais com a crise, que não é dessa elite.
Saudações
Sergio Luis
E quem será que deu todo esse poder ao "Mercado"? Aqui eu sei que foi o PSDB e o DEM, através do atrelamento da Dívida Pública Interna ao Mercado! Nessa brincadeirinha dos tucanos e demos a dívida saltou de 60 Bilhões para 700 bilhões ao final de 8 anos e continuou sua trajetória no governo Lula, alcançando mais de 2 trilhões de reais. Por conta disso, estamos pagando esse ano 200 bilhões de dólares só de juros, dinheiro que falta na saúde, educação, segurança. Não nego que meu presidente Lula melhorou bastante o perfil da Dívida, mas deu corda demais para o Meireles agradar os amigos banqueiros dele!
FrancoAtirador
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#OccupyTVGlobo
Dia 19/10 às 13h: População vai fazer “faxina" na TV Globo
RJ: A "lavagem da Rede Globo" faz parte das comemorações da Semana Internacional pela Democratização da Mídia, que acontece entre os dias 17 e 21 de outubro, com programação em todo o país.
A “faxina” na Globo acontece na quarta (19), no Jardim Botânico, a partir das 13 horas.
As pessoas estão sendo convidadas pelo Facebook .
“Traga sua vassoura, seu cartaz e junte-se a nós!”
Este é mote do evento, que promete: “a população do Rio de Janeiro fará a faxina que a Rede Globo merece.”
Os organizadores do ato são o RioBlogProg, FALE-Rio, UEE-RJ, DCE FACHA e UJS.
Participe!
A Semana Internacional pela Democratização da Mídia, que apresentará programação intensa em todo o país, terá como tema principal o Marco Regulatório das Comunicações.
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assalariado.
É isso aí,…
O remédio para curar esta doença social, a qual chamamos de sociedade capitalista e comandada pelas elites do capital, esta em arranca-la, de vez, do nosso meio social. Está na raiz do tal Dr. Mercado o diagnóstico dos males sociais, hoje cada vez mais claro para os povos explorados e humilhados pelos reis do G7. Não existe solução que de jeito nesta doença chamada de deus mercado que, quando quebrar, e quebrará (de fato), nos levará a todos ao inferno capitalista. Realmente, o problema do capital é o próprio capital e seu Estado burgues e seus governos cumplices da bancarrota que se desenha. Teremos que matar a cobra com seu próprio veneno. Socialismo ou barbarie, simples assim, sem apêgo ao deus dinheiro,…
ZePovinho
O "capetalismo" é contraditório e vai cair pelas próprias contradições.É a vida,baby.
Geysa Guimarães
Nunca atentei para o "capetalismo", só descobri agora. Obrigada, vou usar adoidado.
Bonifa
A melhor lição desta crise foi que a democracia ocidental representativa deixou exposta sua mais completa falsidade. Era uma disfarçada ditadura de elites econômicas que dependia do completo domínio da opinião pública, através do rígido controle dos arautos. Pareceu funcionar enquanto as migalhas do Lassez Faire ainda eram suficientes para provocar ilusão de liberdade nas populações subjugadas. Duas correntes políticas de elites que se digladiavam gentilmente e se alternavam com o suposto aval dos povos mantidos na ignorancia. Tais elites perderam-se nos vícios das infrações de regras de seu próprio jogo mortal. Esta situação absurda e cruel só será superada quando todo este sistema absurdo e cruel for conscientemente enfrentado e definitamente derrotado.
Christiano Almeida
Observava reportagem na GLOBO acerca de manifestação em Wall Street.Após sua apresentação fiquei entre o pasmo e o colérico. Senão vejamos: Como não tem o menor interesse em comunicar ao seu publico da crise financeira mundial que, quer queíramos ou náo, começa naquele pedaço financeiro de NY, passou a mensagem de que ela – a manifestação – era um evento de hippies, punks, estrangeiros, estudantes, donas-de-casa (com todo o meu respeito) – não havendo qualquer conotação político-financeira. Passou-se, em outras palavras, que era um espécie de festa, uma caminhada sem sentido. Coisa de desocupados. A Blobo, como sempre, se esgasga no seu próprio vômito.
".. Ô, ô, ô capitalismo selvagem. Eu me perdi, na selva de pedra. Capitalismo selvagem…" – Titãs.
a. augusto alves jr
Oi, Viegas vai diretamente ao ponto com precisao cirurgica: nao adianta pensar que os "players" do mercado estao interessandos em consertar a economia. Nao eh problema deles. Sao agentes que se comportam como um virus. Eles nao estao preocupados com a saude do portador, no caso a sociedade. As palavras de Alessio Rastani devem ser levadas a serio. O virus precisa ser erradicado ou o portador ficara irremediavelmente doente.
Ana Cruzzeli
Gente, mas é incrivel, nenhum, nenhum ministro de esquerda do Lulinha dá gol contra.
Perfeito ex-ministro, perfeito.
Dilminha, minha querida presidenta, ocê tem que enviar mais e mais embaixadores pra zoropa para ensinar como se trata o dinheiro do povo. Marcar mais e mais simposios lá por aquelas bandas do tipo: Faça o que eu digo, pois o que eu digo eu faço.
Sei lá entende, nos brasileiros somos ¨mantega¨ derretida, a gente adora ajudar os irmãos do norte, nunca atrapalhar. E como esse povo tá precisando de ajuda minha gente e como.
luiz pinheiro
Análise curta e precisa. Na mesma linha do que vem dizendo ao mundo a presidenta Dilma e o ex Lula.
O_Brasileiro
Os fazendeiros convidaram os lobos para tomar conta dos animais da fazenda, e ainda não entenderam porque não está dando certo…
Lucas
O problema é que nesse caso, os fazendeiros servem aos lobos. Os governos também não irão solucionar a crise, pois servem aos latifundiários, os rentistas, os grandes empresários, aos banqueiros…E estes últimos, míopes e egoístas, esquecem que sua prosperidade depende do resto da população.
Roberto Locatelli
O deus-mercado é autofágico, pois a riqueza dos ricos depende do consumo dos outros 99% não tão ricos. Se houver recessão, a população reduzirá seu consumo. Sem consumo, não há produção nem venda. Os ricos falirão. Da última vez que isso ocorreu, houve guerra mundial.
Marcos C. Campos
Os ricos não entram em falência nesta situação , a classe média sim, os pobres bem antes. Os ricos mandam seu dinheiro para paraísos fiscais absolutos (ilhas cayman) ou relativos (delaware) mas continuam ricos, mas seu consumo é pequeno para suportar uma indústria nacional.
Um dos problemas atualmente é que a guerra é permanente e de baixo impacto em termos de mortes de cidadãos do império, o que não causa indignação como ocorreu nos anos 60 , na época do Vietnã. Se utiliza mais tecnologia e menos infantaria. Portanto é mais cara e gera menos renda como antigamente.
Então guerras não resolveram o problema , acredito que piorarão, mais déficit e menos renda.
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