João Damasceno: Se os juízes tiverem medo, ninguém poderá dormir tranquilo

Tempo de leitura: 4 min

Se os juízes tiverem medo, ninguém poderá dormir tranquilo

por João Batista Damasceno, reproduzido no blog do juiz Marcelo Semer

O assassinato da juíza Patrícia Lourival Acioli é a ponta do iceberg do poder paralelo construído pela política de segurança no Estado do Rio de Janeiro. O perigo de se criar cachorros bravos e deixá-los soltos para atacar os indesejáveis aos seus donos é que depois não mais distinguem a quem estão autorizados morder.

A Juíza Patrícia Acioli se destacava no exercício da magistratura por sua coragem e desconsiderações pessoais na hora de decidir. Os embusteiros do poder, despidos de poder real, costumam maltratar os fracos e se acovardam diante de quem consideram fortes e poderosos. Ela, com seu sorriso doce, não deixava transparecer sua enorme coragem na afirmação da ordem jurídica, fosse na defesa dos injustiçados ou na condenação dos culpados, pouco importando suas posições sociais.

Em 1997 ela prolatou decisão na qual determinava prazo para que o Governador Marcelo Alencar reformasse ou desativasse instalações de internação de adolescentes na Ilha do Governador, onde se entulhavam menores em conflito com a lei. Atendendo aos interesses do governo o então presidente do tribunal, fundado em dispositivo de discutível constitucionalidade, suspendeu a decisão da juíza e a afastou do Juizado da Infância e Juventude para o qual estava designada. Juntos, tomamos posse na entrância especial, último patamar da carreira na primeira instância no Rio de Janeiro, no dia 01 de junho de 1999.

O poder nem sempre fala. Mas emite sinais. A retirada da escolta da Juíza Patrícia Acioli pela direção do tribunal pode ter sido sinal suficiente para os interessados na sua morte de que ela não contava com apoio institucional para o trabalho que desempenhava no Tribunal do Júri de São Gonçalo, competente para processamento e julgamento de grupos de extermínio e milicianos. E pode ter encorajado a audácia de outros.

O Tribunal de Justiça, durante a presidência do Desembargador Antônio Carlos Amorim, constituiu a Guarda Judiciária, que posteriormente foi desativada e seus 287 agentes e inspetores se encontram desviados de função. A segurança institucional no Poder Judiciário fluminense foi entregue à Polícia Militar, cujos agentes não se encontram subordinados hierarquicamente ou disciplinarmente ao judiciário, mas aos seus comandos.

Em data recente relatei em coluna no jornal O DIA a decisão do comandante do 13º BPM que absolveu disciplinarmente policiais militares, apesar da filmagem pelo sistema de monitoramento, que espancaram mulher que procurara entrar no fórum durante um plantão noturno e a impediram que tivesse atendimento. Nenhuma providência teria sido tomada contra eles não fosse a ciência pessoal do fato pelo juiz plantonista ao então presidente do tribunal, Desembargador Luiz Zveiter, que tomou a decisão possível de retorno deles à corporação.

A entrega da segurança judiciária à Polícia Militar, em contraposição aos princípios que orientaram a criação da Guarda Judiciária, pode não se apresentar a mais apropriada forma de autonomia funcional. Mas pavimenta o caminho para as relações pessoais entre os exercentes de funções nos distintos poderes.

A segurança no Tribunal de Justiça está entregue à Polícia Militar e um dos mais importantes órgãos do tribunal é a Diretoria Geral de Segurança Institucional (DGSEI), cuja atividade não pode se limitar ao recolhimento de computadores de juízes que quiserem trabalhar além do horário de expediente na parte externa do Fórum, como ocorreu na presidência do Desembargador Murta Ribeiro. Mais que a segurança pessoal e patrimonial, o trabalho de tal diretoria há de compreender serviços de inteligência ou conexão com os órgãos de inteligência do Estado para evitar fatos desta natureza.

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Desembargadores relatam que presenciaram a Juíza Patrícia Acioli solicitar pessoalmente segurança ao presidente do tribunal. Em data recente ofícios de outro juiz, endereçado e reiterado, ao atual presidente do tribunal solicitando segurança sequer mereceu resposta. A DGSEI diz já haver apreciado a questão, sem revelar o conteúdo de sua manifestação, e remetido à presidência. A presidência do tribunal não respondeu ao juiz. A segurança dos exercentes de poder de Estado há de ser tratada como segurança do Estado, em proveito da sociedade.

A morte de qualquer pessoa diminui a humanidade. Os vínculos de solidariedade social que constroem a civilização desautorizaram o assassinato de qualquer pessoa. Mas, o assassinato de um magistrado traz o simbolismo de que as próprias instituições não estão em condições de regular funcionamento. Quando o juiz tem medo, ninguém pode dormir tranqüilo.

A desorganização dos serviços públicos foi meio utilizado pelos coronéis para instituir poder pessoal no Brasil rural de outrora. A destruição das prerrogativas da magistratura e desconsideração à sua importância para a sociedade democrática é meio de destruir os direitos que caracterizam uma sociedade cidadã.

A concepção de uma justiça norteada por metas quantitativas tem equiparado a atividade de julgar com a produção em série das fábricas de parafusos ou de sabonetes, sem consideração às peculiaridades de cada caso. Neste contexto um juiz deixa de ser tratado como magistrado, membro do Estado encarregado da missão de dizer o Direito, e passa a ser tratado como gestor, nome moderno de capataz, porque subserviente a interesses dominantes, nem sempre republicanos.

O momento se apresenta propício para a magistratura reafirmar o Estado de Direito e, agindo com a sobriedade institucional que dela se espera, reafirmar os valores próprios da sociedade democrática; a defesa da independência do Poder Judiciário não só perante os demais poderes como também perante grupos de qualquer natureza, internos ou externos à magistratura; a busca da democratização da magistratura, tanto no ingresso quanto nas condições de exercício funcional; o fortalecimento das prerrogativas dos juízes em proveito da cidadania, considerando-se a justiça como autêntico serviço público que, respondendo ao princípio da transparência, permita aos cidadãos o controle de seu funcionamento.

Mas, fundamental será que a magistratura busque, a partir deste episódio, a promoção e a defesa dos princípios da democracia pluralista e a difusão da cultura jurídica democrática e dos valores que caracterizam uma sociedade como republicana.

*João Batista Damasceno, cientista político e juiz de direito do TJ/RJ. Membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD).

As insinuações de Flávio Bolsonaro sobre a juíza assassinada

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Comentários

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Ariston [Alvares Cardoso

Seria muito bom para o país e proporcionaria tranquilidade para o povo brasileiro se o STF fosse constituido somente de juizes federais sem vínculo com a política como é no atual sistema, Ministros indicados para defender interesses individuais de governantes, grupos, Empresas e poder financeiro, como os Srs. Gilmar, Fux e não se sabe quantos outros mais que na maioria das vezes, assim como os legisladores nacionais, estaduais e municipais, que recebem rios de dinheiro para defender os interesses públicos e fazem o contrário defendendo interesses escusos muitas vezes contra o Estado brasileiro

FrancoAtirador

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Ajufe pede a Dilma juiz federal no Supremo

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) enviou na tarde desta terça-feira (2) ofícios à presidente da República, Dilma Rousseff, ao vice-presidente da República, Michel Temer, ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e ao advogado-geral da União, Luís Adams, defendendo a indicação de representante da magistratura federal para o Supremo Tribunal Federal, em razão da vaga aberta com a aposentadoria da ministra Ellen Gracie.

A Ajufe argumenta que os juízes de carreira, para serem investidos no cargo, realizam acirrado concurso de provas e títulos, enfrentando milhares de candidatos para alcançarem a condição de agentes políticos do Estado. Além disso, com a saída da ministra, os juízes federais ficarão sem representante na corte máxima do país.

O presidente da Ajufe, Gabriel Wedy, ressalta ainda que com a escolha de um juiz federal, o Brasil terá não só um ministro extremamente qualificado. “É de salientar que a indicação de um juiz federal de carreira ao cargo manterá democrática e plural a composição do Tribunal, um benefício incalculável ao jurisdicionado e à sociedade como um todo”, defende.

http://www.ajufe.org.br/portal/index.php?option=c

FrancoAtirador

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Em nota, associação de juízes federais critica falta de segurança para magistrados

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgou nota hoje (12) criticando o Estado pela falta de segurança para o trabalho dos magistrados. “Muitos juízes deixam a competência criminal com medo de serem mortos e isso faz com que a sociedade fique à mercê”, diz a nota.

Na nota, assinada pelo presidente da instituição, Gabriel Wedy, a Ajufe informa que o nome de Patricia Acioli constava em uma “lista negra” composta de 12 pessoas “marcadas para morrer” e encontrada com um suspeito de tráfico de drogas, detido no estado do Espírito Santo. Segundo a associação, Patrícia era “uma juíza criminal que realizava exemplarmente o seu trabalho no combate ao narcotráfico, em defesa da sociedade”.

A Ajufe lembra que a juíza tinha recebido uma série de ameaças e que o carro dela já havia sido metralhado. Mesmo assim, segundo a entidade, ela não contava com qualquer segurança à sua disposição. De acordo com a instituição, no ano passado, dezenas de juízes federais que julgam o narcotráfico internacional e o crime organizado também foram ameaçados em decorrência de suas atividades.

Na nota, a Ajufe destaca ainda que a falta de segurança motivou uma paralisação nacional de juízes federais no último dia 27 de abril. A entidade cobra a aprovação do Projeto de Lei 03/06, que cria a Polícia Judiciária, vinculada ao Poder Judiciário, que seria a responsável por fazer a segurança dos juízes. Segundo a Ajufe, o projeto encontra-se paralisado no Congresso Nacional.

Agência Brasil
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Marcelo

Autoridades com medo da violencia me vez lembrar deste texto :
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Marcelo

Se a morte diaria de centenas de brasileiros não juizes nos chocasse e indgnasse tanto quanto o assassinato dessa juiza , talvez não chegassemos ao ponto das autoridades terem com medo .

beattrice

Excelente artigo,
uma análise precisa do drama vivido pelos juízes dignos do cargo que tentam honrar o Judiciário nas várias instâncias.
Em tempo,
o silêncio do Ministro da Justiça a respeito é retumbante.
Mas quem espera algo diferente disso de um Cardozo Dantas?

FrancoAtirador

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Antes mesmo desse assassinato a sangue frio,

a maioria dos Magistrados já tinha medo.

E promotores também.

Eles são os primeiros a não dormir tranqüilos.

Isso, quando conseguem dormir.

É um dos motivos da leniência e negligência judiciária.

Há poucas Patrícia Acioli e poucos De Sanctis

no Poder Judiciário Brasileiro.
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Por falar no, agora desembargador, Fausto De Sanctis:

Com a aposentadoria da ministra Ellen Gracie Northfleet,

abriu-se uma vaga para ministro do STF.

A OAB e a mídia oligárquica já estão em campanha.
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    beattrice

    Seria uma indicação mais do que justa e um tributo à cidadania,
    mas não vai ser ESSE ministro da justiça [com minúsculas]
    que o fará, não o Cardozo DANTAS.

    FrancoAtirador

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    É difícil, quase impossível, mas não custa tentar.

    A maioria ainda não se conscientizou da importância
    de se ter um Juiz ou uma Juíza federal, competente,
    não comprometido(a) e verdadeiramente justo(a),
    no Supremo Tribunal Federal.

    Não vejo mobilização nenhuma da população.

    Na anterior, soaram apenas algumas vozes no deserto.

    Mas não vou desistir: Uma hora o De Sanctis emplaca.
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Ariston Cardoso

Muito se fala sobre a criminalidade que tem crescido assustadoramente em todo o país e o recente assassinato da Juiza no Rio de Janeiro nos mostra claramente que o Governo (e eu não falo da presidenta Dilma que vem fazendo o melhor possível) é o único responsável por tudo isso devido seu desinteresse em combater o crime, ao ponto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sem nenhum constrangimento e respeito aos brasileiros e eu não falo suas Instituições, recomendar a presidenta Dilma, complacencia com a corrupção e crime organizado, sob pena de ser punida, (adverte) certamente dando exemplo do que fez em seus 8 anos de governo antes do Lula que provavelmente seguiu o conselho do comprador de votos. Se o povo brasileiro não acordar para essa situação e se posicionar ao lado da presidenta contra esses bandidos ex e atuais governantes que cultivam a desgraça da corrupção que gera o crime organizado no Brasil, estaremos todos no futuro muito breve, submetidos à mais completa desgraça.

    Silvio I

    Ariston Cardoso:
    Qualquer coisa que ocorre imediatamente se culpa a o Presidente da República. Devemos lembrar-nos, de que estamos em uma Federação. E na Federação, as policias dependem do Governo do Estado.Neste caso, todo indica, que não foi morta por bandidos comuns, si não que parece que foi milícias, ou alguém integrante, ou alguns da policia.O Presidente não intervém nos Estados, e sô o faz em casos excepcionais.

Fernando Cunha

O que vamos fazer para que a morte dessa júiza brasileira não caia, também, no esquecimento?

Enquanto esteve viva, nos defendeu do que há de pior no crime organizado.

E nós, faremos o que pela sua memória?

    Ariston Cardoso

    O que podemos fazer? dar prosseguimento ao que a Juiza iniciou bem como ao que a presidenta Dilma também iniciou e vem sendo combatida pelo Fernando Henrique Cardoso e tantos outros que mostram sem constrangimento e respeito ao povo brasileiro que a corrupção e o crime organizado no Brasil, é fruto do próprio Governo, ou, depois dessas declarações do FHC precisaria de mais provas? Enquanto nos posicionamos apenas indignados com o que falou o comprador de votos e não acreditarmos no seu recado, a nossa presidenta Dilma corre perigo de vida também e esse corrupto deve estar por trás de tudo isso.

    Gerson Carneiro

    Não faremos nada. Começa que logo pela manhã teremos que ir ao trabalho garantir o trocado pra pagar a carríssima conta de internet. E até lá outras tragédias estão acontecendo. É tragédia para pegar de tarrafa. Vamos pegar e escolher quais vamos assistir (no sentido de ver, e não de dar assistência).

Gerson Carneiro

Não a conhecia. Aliás, este post é o primeiro texto que leio a respeito dela. Mas já posso inferir que essa Juíza teve outra nobreza: não fez uso de sua função no Judiciário para promoção pessoal no sentido de descambar para a vida mansa da Política. Como normalmente acontece. Como aconteceu com a Denise Frossard.

Juiz que promove uma ação espetacular e logo se candidata o faz porque é engolido pelo sistema.

    Vladimir

    Nada a ver isso de "como normalmente acontece". Viajou feio.
    Há dezenas de milhares de juízes que trabalham a vida inteira sem se meter em política.

    Gerson Carneiro

    As dezenas de milhares de juízes que trabalham a vida inteira sem se meter em política são as dezenas de milhares de juízes nobres. Estou observando uma ponta e você está observando outra.

    A propósito, você deve conhecer como funcionam os Tribunais. Como são eleitos os Presidentes dos Tribunais. Já ouviu falar no tal de 5º Constitucional que elege Presidentes de Tribunais que não são Juízes. Então observe a proximidade, quase que cumplicidade, entre Política e Judiciário.

    De fato, o aprofundamento nessas questões é uma viagem. E pode ser feia ou bonita.

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