Ivete Caribé: O dia em que Esquivel inseriu a Mafalda em seu painel sobre vítimas da ditadura na Argentina

Tempo de leitura: 4 min
Mafalda com seu vestido e laço rosas no painel de Adolfo Pérez Esquivel. Foto: Ivete Caribé Rocha

Por Ivete Caribé da Rocha, especial para o Viomundo

Quino foi sempre um amante da paz e da liberdade de expressão, o que fez com que fosse muito perseguido pela ditadura argentina, especialmente devido à sua contestadora e libertária filha Mafalda.

Junto com a sua mulher Alicia, teve de deixar o seu país e viver longo exilio em Milão, na Itália.

Assim, foi natural a aproximação dele com o compatriota Adolfo Pérez Esquivel, que também, perseguido pela ditatura argentina,  teve de deixar o país.

Anos mais tarde, ao voltarem do exílio,  continuaram a luta pela paz, pelos direitos humanos e pela memória.

A morte de Quino em 30 de setembro e o emocionante artigo de Adolfo Pérez Esquivel sobre o amigo me trouxeram à memória o dia em que vi o nosso querido Prêmio Nobel da Paz desenhar a  Mafalda numa homenagem a Quino e sua personagem mais famosa e significativa para gerações.

Sim, sim, Esquivel é um grande painelista.

Esquivel havia  pintado um grandioso mural na Igreja de Santa Cruz – Casa de Nazaré, em Buenos Aires,  representando as vítimas do terrorismo de estado na Argentina.

Mas antes de entrar no painel, que eu conheci antes da sua inauguração, é preciso relembrar a história que envolveu as irmãs do Mosteiro e Igreja de Santa Cruz.

Tudo começa quando elas abriram as portas do mosteiro para as mães dos desaparecidos pela ditadura, conhecidas como Madres da Praça de Maio, e outros militantes políticos.

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O episódio mais cruel relacionado às irmãs moradoras do Mosteiro de Santa Cruz aconteceu em 8 de dezembro de 1977.

Duas freiras francesas — Alice Domon e Léonie Duquet —  a fundadora da Associação Mães da Praça de Maio, Azucena Villafor De Vicenti, e as companheiras Angela Auad, Esther Ballestrino de Careaga e Ana Ponce de Bianco — foram sequestradas no mosteiro, onde se encontravam, e levadas para Escuela de Armada — a ESMA.

Aí, foram torturadas por dez dias e depois levadas para os chamados voos da morte.

Embarcadas em um avião, foram jogadas ainda vivas em alto mar, prática comum na ditadura argentina.

Diferentemente de outros casos, em que os corpos nunca submergiram, os delas apareceram em balneários da província de Buenos Aires

Imediatamente, os militares os enterraram como desconhecidos, em um cemitério clandestino.

Até que, em 1995, Adolfo Francisco Scilingo,  ex-oficial da Marinha argentina que fez parte da repressão de seu país, revelou ao jornalista Horácio Verbitsky os métodos de tortura e mortes praticados pela repressão durante a ditadura argentina.

Além de detalhar a metodologia de extermínio via voos da morte, Scilingo, que sevia na ESMA, contou a metodologia de extermínio via vôos da morte e onde estavam enterradas as freiras e as mães sequestradas no Mosteiro de Santa Cruz.

Calcula-se que  4 mil pessoas  foram mortas pelo terrorismo de Estado que se estabalecera na Argentina.

Scilingo deu os nomes e codinomes dos oficiais que atuaram na ESMA.

Suas revelações levaram à descoberta dos restos mortais de Azucena Villaflor, fundadora da Associação das Mães da Praça de Maio, e dos corpos das irmãs de Santa Cruz, identificados, em 2005, pela equipe de antropologia forense da Argentina

As revelações de Scilingo também possibilitaram a partir de 2008 o início dos julgamentos dos agentes militares e civis, que cometeram os graves crimes de lesa humanidade.

Porém, foi a criação dos Tribunais Especiais de Julgamento dos crimes da ditadura, em 2011, que impulsionou a localização e condenação de inúmeros agentes da ditadura argentina.

Sem dúvida alguma um marco.

Pois bem, Esquivel  faz aniversário em novembro.

Como fazemos todos os anos, em 2011, eu e minha amiga Marianne viajamos para Buenos Aires para comemorar o aniversário dele.

Naquele ano,  Esquivel nos convidou para conhecer o mural de sua autoria no Mosteiro Santa Cruz, que seria inaugurado em 2 de dezembro de 2011. Um grandioso painel, representando as vítimas do terrorismo de estado na Argentina.

Muitos famosos vítimas da ditadura lá, como o arcepisbo D. Angeleli, o padre Carlos Mujica, as mães da Plaza de Mayo e as irmãs do Mosteiro de Santa Cruz estavam retratadas numa obra magnifica e de muito significado histórico.

Nesse dia, uma das moradoras do mosteiro logo após ver pela primeira vez o painel questionou Adolfo Pérez Esquivel: “É uma obra fantástica, mas por que não está Mafalda?”

Pensei que estava brincando.

Pra mim, aquela obra não comportava a figura da Mafalda.

Mas, Esquivel, prontamente pegou pincel e desenhou o contorno da figura da Mafalda.

A sensibilidade do artista e do homem que sobreviveu à prisão e a um vôo da morte (felizmente não concluído) junto com toda a história de Quino e sua Mafalda inspiraram-no em segundos sobre a importância daquela homenagem.

O desenho ficou inconcluso até a inauguração do painel, em 02 de dezembro, mas na apresentação pública, Adolfo Pérez Esquivel, segundo matéria publicada em 05/12/2011, no Jornal Centro Nueva Tierra:

“Al finalizar su presentación Adolfo anunció, “todavía no está terminado” y, señalando a Mafalda, esa pensadora tan original que no podía faltar en la obra dijo “tengo una diferencia con ella, a mi me gusta la sopa, a ella no”.

Em 8 de dezembro de 2019, novamente fomos convidadas por Adolfo Pérez Esquivel, para festejar os 39 anos do recebimento do Prêmio Nobel da Paz, que comemorou no Mosteiro Santa Cruz – Casa Nazaré.

Registramos, em foto, o painel fora terminado.

Malfalda estava ali, com seu vestido e laço rosas.

Quino vive em Mafalda!

Esquivel, devido ao forte comprometimento do mosteiro com a resistência contra a última ditadura argentina, assim denominou o seu painel:“Y lo reconocieron al partir el Pan… Pinceladas sobre un pueblo que confiando en la fuerza del amor sigue buscando la Justicia y la Verdad”.

Ivete Caribé da Rocha 03/10/2020.

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Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/Ejq53HaXcAUvNcK?format=jpg

Aproveitando a presença da Jurista Ivete Caribé da Rocha, brilhante
Advogada com Experiência Internacional – sobretudo em defesa dos
irmãos latino-americanos oprimidos e perseguidos – e já que na sua
juventude pertenceu à Seleção Paranaense de Voleibol, poderia ela
nos oferecer um Parecer sobre a procedência ou improcedência da
Ação movida no STJD/CBV contra Carol Solberg, a atleta de Volei de
Praia que manifestou-se publicamente utilizando a “expressão” já
popular, que até virou meme nas redes sociais, “Fora Bolsonaro!”,
num ato individual de Protesto Político abarcado, em tese, pelo
Direito Fundamental à Liberdade de Expressão, garantido, inclusive,
pela Constituição Federal em vigor. Sabe-se que, historicamente, na
Ditadura Militar aqui no Brasil quem, no início dos anos 1970, gritasse
“Fora Médici!” teria o mesmo destino que tiveram as freiras e as mães sequestradas no dia 08/12/1977 no Mosteiro de Santa Cruz, na Argentina.

http://www.justica.pr.gov.br/Pagina/Comissao-Estadual-da-Verdade
https://www.unibrasil.com.br/homenageada-da-escola-de-educacao-e-humanidades-ivete-rocha/
http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/

https://s.videos.globo.com/p3/amp/index.html?videosIDs=8872059
https://www.brasildefatorj.com.br/2020/09/21/papo-esportivo-e-quem-e-a-cbv-para-falar-de-etica
https://www.correiodopovo.com.br/esportes/fabiana-critica-cbv-e-defende-liberdade-de-manifesta%C3%A7%C3%A3o-dos-atletas-1.484392

https://t.co/xFIJUrG8eo
https://www.instagram.com/p/CFacFFoj-Nk/

“Meu grito [‘FORA BOLSONARO!’] foi
pelo Pantanal que está em chamas
em sua maior queimada já registrada e
continua a arder sem nenhum plano do governo.
Pela Amazônia, que registra recordes de focos de incêndios.
Pela política covarde contra os Povos Indígenas.
Por acreditar que tantas mortes poderiam ter sido evitadas
durante a atual pandemia se não houvesse descaso
e falta de respeito à Ciência.
Por ver um governo com desprezo total pela Educação e a Cultura.
Por ver cada dia mais os negros sendo assassinados
e sem as mesmas oportunidades.
Por termos um presidente que tem coragem de dizer
que ‘o racismo é algo raro no Brasil’.
São muitos absurdos e mentiras que
nos acostumamos a ouvir, dia após dia.
Não posso entrar em quadra
como se isso tudo me fosse alheio.
Falei porque acredito na voz de cada um de nós.”

“Isso de que não pode, não se deve,
misturar esporte e política não dá mais.
Numa democracia, todas as pessoas podem e devem
expressar suas opiniões sobre qualquer assunto.
Todo mundo tem o direito de se manifestar.”

CAROL SOLBERG
Atleta BraSileira de Volei de Praia
Em Entrevista ao Repórter
Luís Filipe Santos (Estadão).
25/09/2020.

https://twitter.com/Jujuca1987/status/1310683818702057472
https://twitter.com/GuilhermeBoulos/status/1310917613657247744
https://twitter.com/Glauber_Braga/status/1310699630599065601
https://twitter.com/Monica_Benicio/status/1311042800990015491
https://twitter.com/AdelitaMonteiro/status/1311085246385917953
https://twitter.com/TaliriaPetrone/status/1310941272627126273
https://twitter.com/SamiaBomfim/status/1310940584887095299
https://twitter.com/IvanValente/status/1310730063126691843
https://twitter.com/MarceloFreixo/status/1310714947882618880
https://twitter.com/Jandira_Feghali/status/1310991514030538754
https://twitter.com/OrlandoSilva/status/1310692574978605058
https://twitter.com/tuliogadelha/status/1311028626888982529
https://twitter.com/MarciaTiburi/status/1311002194351620099
https://twitter.com/ulTrajano/status/1310712619611889665
https://twitter.com/Debora_D_Diniz/status/1311063505878102017
https://twitter.com/Ale_Lozetti/status/1311294881248301056
https://twitter.com/ricapriotti/status/1311089330014826496
https://twitter.com/sergiotodoprosa/status/1310717033877733377
https://twitter.com/AndRizek/status/1310696338317869057
https://twitter.com/dibradoras/status/1311371355221352448
https://twitter.com/CynaraMenezes/status/1311063841825062914

“Carol Solberg não matou, não estuprou, não roubou,
não cometeu nenhum ato racista ou homofóbico.

Carol Solberg também não queimou mata alguma,
não derrubou nenhuma árvore, não poluiu o mar, nem nenhum rio.

Carol Solberg nem sequer ultrapassou pelo acostamento,
[nem] desrespeitou o sinal vermelho, nem atravessou
fora da faixa ou jogou papel no chão.

A atleta Carol Solberg não xingou o juiz ou jogou a bola na torcida.

A cidadã Carol Solberg apenas disse em alto e bom som

‘Fora Bolsonaro!’.”

Jornalista Juca Kfouri
https://t.co/QiA2iUUMNu
https://twitter.com/BlogdoJuca/status/1313168689697611777

“Carol Solberg está passando por um processo de censura,
que relembra os velhos tempos da Ditadura Militar.
O poder institucional, quando é pra calar,
se utiliza de todos os meios possíveis.
Todo apoio à Carol Solberg!”

Dr. Alexandre Padilha
Deputado Federal (PT=SP)
Ex-Secretário Municipal de Saúde SP (2015-2017)
Ex-Ministro da Saúde (2011-2014)

https://twitter.com/padilhando/status/1310970112489467904
http://padilhando.com.br/2019/11/28/alexandre-padilha-e-thassia-alves-conseguem-nova-vitoria-em-acao-contra-veja-por-fake-news/

https://twitter.com/ptbrasil/status/1313467583174189061
https://twitter.com/Gleisi/status/1313448923814486021
https://twitter.com/JilmarTatto/status/1311106867708538882
https://twitter.com/RogerioCorreia_/status/1311047309711544330
https://twitter.com/rFalcao13/status/1310728230995886080
https://twitter.com/LindberghFarias/status/1310746111796158469

“E se Carol Solberg gritasse ‘Viva Bolsonaro’, ela seria julgada?”
https://twitter.com/Report_Nordeste/status/1313580624343638016

Em Tempo:

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), juntamente com
o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH),
requereu ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD),
na segunda-feira, 5/10, o ingresso das duas entidades
na condição de “amicus curiae” (*), na denúncia apresentada
pela Procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva
contra a atleta de vôlei de praia, Carol Solberg.

Na ação, a ABI e o MNDH, além de requerer o ingresso
como “amicus curiae”, pedem ao relator a absolvição
de Carol Solberg, que foi acusada por dizer
“Fora, Bolsonaro”
ao concluir uma entrevista ao canal Sportv.

O MNDH é um movimento organizado na Sociedade Civil,
sem fins lucrativos, fundado em 1982 e possui uma grande
quantidade de entidades filiadas, articuladas na luta pela
defesa e promoção dos direitos humanos.

*(http://www.abi.org.br/wp-content/uploads/2020/10/Amicus-Curiae-MNDH-STJD-Caso-Carol-Solberg.pdf)
https://twitter.com/ABI_Nacional
http://www.abi.org.br/carol-solberg-abi-e-mndh-pleiteam-amicus-curiae

Nota:

Em razão do Pedido Conjunto da ABI e do MNDH,
o Relator do Processo no STJD adiou o Julgamento
que estava previsto para ocorrer hoje (06/10/2020).

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