por Gianni Carta, em CartaCapital
A cúpula do PSDB, ao lidar com jornalistas que criticam seus integrantes e legenda, age com a leveza de um paquiderme. Deixa pegadas por onde passa na sua tentativa de forçar repórteres a se retratarem – no caso de CartaCapital esforço vão. Foi o que fez Adriana Vasconcelos, coordenadora de Comunicação Social da Executiva Nacional do PSDB, em conversa telefônica na sexta-feira 30 com Gabriel Bonis, jornalista de CartaCapital.
Vasconcelos ligou acelerada e a falar em tom alto para reclamar de artigo publicado pelo website do semanário intitulado “Resenha de A Privataria Tucana causa demissão de jornalistas da Revista de História da Biblioteca Nacional”. Em poucos termos, Bonis aprofundou uma nota do jornalista Elio Gaspari, no qual o colunista conta como uma resenha de autoria de Celso de Castro Barbosa favorável ao livro de Amaury Jr. sobre as falcatruas do PSDB deixou “possessos” os líderes da legenda. Em seguida, Barbosa e o editor-chefe da publicação, Luciano Figueiredo, foram demitidos.
A lógica de Vasconcelos, repetida em carta para a direção de CartaCapital após a escaramuça telefônica com Bonis, é a seguinte: o “jovem repórter” (ela cisma em associar sua juventude a uma suposta falta de experiência ao longo do texto) teria sugerido que o deputado Sérgio Guerra, presidente do PSDB, “pediu a cabeça” dos jornalistas. E, “segundo as regras da ética do bom jornalismo” o “jovem” deveria ter ouvido a direção nacional do PSDB antes de publicar sua matéria.
Pequeno e crucial detalhe: em momento algum Bonis sugere que Guerra teria, como enfatizou Vasconcelos, “pedido a cabeça” dos jornalistas da Revista de História. O jornalista simplesmente relata o que constava na mídia, e inclusive no website do PSDB.
A cúpula do PSDB não acha esquisito dois jornalistas serem demitidos após a legenda ter colocado pressão na Revista de História?
O PSDB, vale exprimir, considera a Revista de História como uma publicação governamental. E pelo fato de receber verba da Petrobrás deveria se manter isenta de questões políticas. Vasconcelos, de fato, defendeu essa tese no entrevero com Bonis. No entanto, a publicação é da Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (Sabin,) que, embora seja uma sociedade sem fins lucrativos, cobra taxas de associação anuais a variar de um salário mínimo a mais de 20 mil reais. A Sociedade é composta inclusive por bancos como o Bradesco e o Itaú. Além disso, a Revista de História é vendida em bancas e por assinatura, logo tem fins comerciais.
Por meio de uma nota, o presidente da Sabin, Jean-Louis Lacerda Soares, afirmou que “não interfere no conteúdo editorial da revista”. E emendou: “A atribuição relacionada ao conteúdo é do Conselho Editorial”. Em suma, Barbosa tem o direito de opinar sobre A Privataria Tucana na Revista de História. Deveria.
A Petrobrás anuncia, aliás, em várias publicações e mesmo assim todas elas têm a liberdade de criticar o PSDB. Isso, claro, acontece pouco, para não dizer nunca, visto que a vasta maioria desses periódicos têm tangíveis pendores tucanos.
Por exemplo, Luciano Figueiredo, o editor-chefe da Revista de História, portou-se de forma nebulosa. Em entrevista para CartaCapital, Barbosa contou que Figueiredo “concordou com quase tudo que eu havia escrito”.
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No entanto, tudo leva a crer que houve pressão para levá-lo a mudar de ideia. Guerra enviou uma carta de protesto a Figueiredo, e outra à ministra da Cultura, Anna de Hollanda. Consta que Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central no governo de FHC, teria sido um dos mais ativos mobilizadores na campanha contra a resenha de A Privataria Tucana.
Resultado: Figueiredo escreveu nota, assinada pelo presidente da Sabin, na qual diz que o texto do jornalista não havia sido revisado pelos editores da publicação e se desculpa com os possíveis ofendidos. Em seguida demitiu Barbosa, e, ironia das ironias, foi dispensado pela Sabin por “razões administrativas”.
Por sua vez, o PSDB reagiu na sexta através da seguinte nota: “A própria Revista de História da Biblioteca Nacional constatou um erro ao publicar o artigo”.
Mas que erro cometeu Barbosa?
Vasconcelos teve a bondade de nos presentear com uma nota redigida, em 28 de março, por Sérgio Guerra. O deputado nega interferência nas demissões. E escreve: “O PSDB tem todo o direito de protestar contra a resenha do livro “A Privataria Tucana” pela “Revista História”, da Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional. Terá também todo o direito de ir à Justiça”.
E Barbosa não tem direito de protestar contra os protestos tucanos?
Pressão por parte da legenda houve. Na conversa telefônica com Bonis, de fato, Vasconcelos não negou que o PSDB fez pressão, embora não tenha pedido cabeças. Houve as cartas para Figueiredo e para a ministra Anna de Hollanda.
E houve o telefonema para Bonis.
Vasconcelos diz na carta (mais uma) endereçada para CartaCapital que o jornalista da revista ficou “irritado”. Foi Bonis, aliás, quem a incentivou a enviar a carta. Este que escreve estava ao lado de Bonis durante a contenda telefônica. Ele é um jornalista calmo, prolífico e um dos mais talentosos que temos. Continuou calmo, mas foi duro quando a coordenadora tucana começou a repetir, ininterruptamente e aos berros, que ele não havia falado com o Guerra. Bonis então disse que se a coordenadora não o deixasse se exprimir seria obrigado a desligar.
Vasconcelos continuou a gritar que ele não tinha procurado Guerra e desligou o telefone na cara do jornalista. Disse que vai “estudar a possibilidade de um processo”.
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Comentários
Márcio Mantovani
Liberdade de imprensa não contempla o uso de publicações pagas COM DINHEIRO PÚBLICO como pistola de um determinado partido, e é essa a questão. Só que o autor deste artigo, assim como os comentaristas, não estão muito preocupados com isso. A história, sem trocadilhos, seria bem diferente se os sinais estivessem trocados. Ou não? Não seriam os petistas a ficar indignados com uma matéria que atacasse o partido vinda de uma publicação paga com dinheiro de impostos de eleitores de TODOS os partidos? Essa indignação, por acaso, é apanágio somente do petismo?
Eunice
Quem viveu desde sempre (a fundação do partido) acolhido e ocultado por favorecimentos, vida fora de regras cidadãs, clubes próprios, ainda não sabe lidar com concorrência, leis, tempos de Occupy. Recomendo terapia.
Pois sua vida tende a piorar muito.
Cleverton_Silva
Eis um exemplo de quem usa e abusa do poder de censura… como é difícil a vida para quem tem teto de vidro, hein, demotucanos???
Marat
Pergunta para a elegantíssima Adriana Vasconcelos: Será que a tal da propalada liberdade de imprensa só é válida para os jornalistas tucanos?
pperez
Os tucanos estão em pânico!
Se até os demos estão ardendo em chamas, que fará quem tem penas!
Julio Silveira
Acho muito bom a transparência demonstrada pela C.C., que trás a publico situações que esses desavergonhados (para ficar no barato), fazem contanto com o anonimato. Deve se tornar habitual desmascarar pressões para demitir profissionais, chefes de familia, pelo ato de atuar atendendo os preceitos de sua profissão. Sómente assim a sociedade será capaz de identificar os hipocritas mentirosos que atuam mafiosamente para ocultar as situações comprometedoras que praticam, no interesse de manterem-se artificialmente no topo das virtudes, para julgamento da sociedade.
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