Geraldo Elísio: Participantes ativos do golpe de 64 declaram que foi golpe, sim, com CIA e tudo

Tempo de leitura: 4 min
Lincoln Gordon, Philip Agee e Magalhães Pinto

Golpe bem dado e mal acabado

por Geraldo Elísio, especial para o Viomundo

Causa-me perplexidade em pleno 2019 a discussão em torno da definição se 64 foi um movimento ou um golpe civil-militar.

Resolvi, então, garimpar no meu baú de repórter declarações a respeito, tanto em matérias feitas por mim quanto por colegas.

Para que não digam que é coisa de esquerdista, tive o cuidado de buscar falas de pessoas que participaram ativamente do golpe civil-militar de 1964.

De saída, resgato uma declaração do ex-embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, em entrevista publicada na revista Veja, de 15 de outubro de 1997.

A uma pergunta feita pelo então repórter Eurípedes de Alcântara, Lincoln Gordon começa assim a resposta:

— Mesmo assim no dia do golpe, os navios…

Os barcos a que Gordon se refere dizem respeito à Operação Brother Sam, denunciada em primeira mão pelo jornalista Marcos de Sá Corrêa, em reportagem publicada do extinto Jornal do Brasil, em 18 dezembro de 1976.

O documento foi encontrado na Biblioteca e Museu Lyndon Johnson, em Austin, Texas, nos Estados Unidos.

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Lyndon Johnson presidiu os EUA de novembro de 1963 a janeiro de 1969. Para contrapor o rótulo de caipira, se orgulhava de dizer que foi ele quem salvou o Brasil de cair na órbita comunista.

Outra fala importante é a do major brasileiro Paulo Viana Clementino, chefe do Estado Maior Revolucionário, em 1964.

Segundo ele, “64 foi um golpe bem dado e mal acabado porque terminou nas mãos da UDN”, a antiga União Democrática Nacional, de Carlos Lacerda e Magalhães Pinto.

O primeiro, ex-governador do Rio de Janeiro, o segundo, apontado como “líder civil da revolução”, governou Minas Gerais.

A repórter Cláudia Furiati também tratou do golpe de 64 na entrevista com o ex-agente da CIA Philip Agee, publicada em setembro de 1997 pela revista IstoÉ.

— Em que medida a CIA participou do golpe militar do Brasil em 64? – perguntou-lhe Furiati.

– A preparação do golpe visando à derrubada de Goulart … – começou a responder-lhe Agee .

Ou seja, o ex-agente da CIA aceitou com naturalidade e confirmou o vocábulo golpe.

Agee ficou conhecido após publicar, em 1975, o livro Inside the Company: CIA Diary (Por dentro da Companhia: Diário da CIA).

No livro, ele descreve em detalhes e com documentação, o envolvimento da CIA com empresas americanas bem como o papel da agência dos Estados Unidos em vários assassinatos, golpes de estado e atividades ilegais na América do Sul e Central.

– Foi então a CIA que realizou o golpe militar de 1964? – prosseguiu Furiati.

— Sem sombra de dúvida – disse-lhe Agee.

Quem também confirmou o golpe foi o general José Lopes Bragança, anticomunista ferrenho, ativo na derrubada do ex-presidente João Goulart, o Jango, na época em que atuava no Serviço de Informação.

Em entrevista que me concedeu, publicada em janeiro de 1977 no jornal O Estado de Minas, o general, além de admitir que foi golpe, revelou detalhes de um tenebroso plano para assassinar Jango.

Fui o primeiro a denunciar isso. Seria durante um comício que Jango faria em 21 de abril de 1964, na Praça da antiga Estação Férrea Central do Brasil, hoje estação central do metrô de superfície de Beagá.

Porém, o golpe precipitado pela marcha do general Olympio Mourão, em 31 de março de 1964, derrubou o governo Jango 21 dias antes de ele ir a Minas.

Tenho tudo isso documentado e guardado, inclusive as laudas do jornal (exceto a que está abaixo) em que transcrevi a entrevista, rubricadas pelo general, onde ele conta como seria a operação.

Essa lauda, especificamente, dei presente há muitos anos ao filho de Jango, o filósofo e escritor  João Vicente Goulart, numa vinda dele a Minas.

Essa imagem  da lauda assim como todos os casos que menciono acima estão  no meu livro Baú de Repórter – Memórias do Jornalismo Analógico, Editora Neutra, lançado em 2016.

Aliás, a história do plano do general  José Lopes Bragança é contada também pela professora Heloísa Starling, da UFMG, no livro que lançou em 1986 e no qual ela usa golpe no título. Chama-se: Os Senhores das Gerais – Os Novos Inconfidentes e o Golpe de 1964, da editora Vozes.

É bastante tempo passado para querer se questionar uma verdade.

Queiram ou não Bolsonaro e apoiadores, saudosistas da época da ditadura, o golpe de 1964 é fato.

Dizer que não, é tentar fraudar a história, como bem observa a professora Heloísa Starling. É mentir.

Geraldo Elísio como repórter de campo, no início da carreira. Depois, entrevistando a cantora Nara Leão, o ex-presidente Juscelino Kubitschek,  general Ernesto Geisel, o ex-presidente Tancredo Neves, o jurista Sobral Pinto e o ex-presidente de Cuba, comandante Fidel Castro. Lançado em 2016 pela Editora Neutra, Baú de Repórter tem prefácio de Ângela Carrato, jornalista e professora da UFMG, e pósfacio do jornalista Mauro Verkema

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Zé Maria

“O PSL quer censurar minha participação num debate na UFRJ.
Não é ano eleitoral, portanto não há restrição ao convite.
A universidade é um lugar de ideias.
Há uma fragilidade de concepção democrática.
O debate na UFRJ é sobre a reforma da Previdência e me cabe, como deputado e membro da CCJ da Câmara, falar onde quer que seja sobre o tema.
Essa tentativa é muito atraso.
Atraso em relação à concepção da universidade e à ideia de que o presidente não possa ser criticado publicamente.
Eles deveriam participar de uma seita e não de um partido político.
A coisa está mais messiânica do que democrática”

https://t.co/P8PNfIAyCy
https://twitter.com/MarceloFreixo/status/1113940385456373766

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