Francisco Teixeira: A prostração intelectual da universidade no Brasil e talvez no mundo
Tempo de leitura: 13 minA prostração da Universidade
A Universidade vive um processo de desertificação irreversível dos seus alicerces
Por Francisco Teixeira*, em A Terra é Redonda
ESCOLA SEM PENSAR
2008. Final de semestre.
Numa sala de aula de estudantes do sexto semestre de Direito, o professor de Ciências Políticas se dirige a um dos seus alunos e lhe pede para que ele apresente uma breve síntese das identidades e diferenças do conceito de estado de natureza em Hobbes e Locke. Deixa de fora de sua inquirição Rousseau.
Discorrer sobre os dois primeiros autores já exigia certo esforço intelectual digno de nota.
Depois de passar certo tempo em silêncio, talvez refletindo sobre o quê dizer, o aluno, desassombradamente, olhou para o professor e, com certo ar de desplante, responde: “professor, no estado de natureza, o homem vivia martelando cabeça sem saber o que fazer, como diz Hobbes e Locke. Tá certo, mestre”?
“Engenhosa, sua resposta”, responde o professor. Para não o constranger perante seus colegas, pergunta-lhe se ele cometeu algum erro de português, de concordância.
“Não professor, não cometi nenhum erro; não que eu saiba”.
“Pobre alma! Nem se dá conta de sua indouta ignorância da língua materna”, pensa o professor, que, em seguida, olha para seu pupilo e comenta com seus botões: “imagino como essa criatura vai se arranjar, quando tiver de redigir uma procuração ou fazer uma sustentação oral. Talvez não se faça objeto de zombaria entre seus pares … Afinal, todos são “homines sunt ejusdem farinae” [São homens da mesma farinha].
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Transcorrido alguns segundos, o professor se volta para o aluno e lhe recomenda ter cuidado de não sai por aí “martelando a cabeça”, pois poderá quebrar o martelo.
Depois disso, sai da sala de aula, resignado com sua impotência em romper com aquele estado de barbárie intelectual em que vivem, confortavelmente, os seus alunos.
Esse quadro anedótico é real, não é ficção. Aconteceu com este narrador, o que o levou, naquele mesmo ano, a escrever o presente texto. Antes, porém, é digno de nota ressaltar o que o induziu a trazer a público, um texto produzido, para discussão em sala de aula, escrito há tanto tempo.
Foi o excelente artigo do professor Daniel Afonso da Silva, “Alicerces desertificados”, publicado no site A Terra é Redonda, de 24/03/2024, que motivou este articulista a retirar da gaveta suas reflexões sobre o ensino, motivadas pela brilhante e genial resposta de seu aluno de Ciências Políticas, quando fora inquirido a apresentar as características do estado de natureza em Hobbes e Locke.
“Alicerces desertificados” expressam, nu e cruamente, o estado de prostração intelectual em que hoje se encontra a universidade no Brasil e, talvez, no mundo.
Assertivamente, constata que “O reservatório de saber, conhecimento e cultura que os espaços universitários historicamente representaram foi rebaixado a níveis de banalização e vulgaridade jamais imaginados ou suportáveis, mesmo pelos seus mais violentos e históricos detratores de plantão”.
Constatação que traz à superfície imediata da questão, o que todos veem, mas se calam numa atitude de acumpliciamento, embasbacados com o estado de prostração em que se encontra o ensino em geral; impotentes diante o processo de desertificação dos alicerces dos campos reservados pela sociedade para a produção de conhecimento universal.
“Quem se dispuser a ler novamente o magnifico artigo do professor Paulo Martins”, comenta Daniel Afonso, “Universidade Para Quê”, certamente, vai reler “que ‘a crise da universidade, antes de tudo, deve refletir a respeito da atração dos jovens’ e trazer novamente à consciência os questionamentos: ‘Será que professoras e professores das melhores instituições do Brasil conseguem entender que aquilo que lhes foi importante não é mais suficiente a cativar os estudantes de hoje? Talvez os jovens não busquem a universidade pelos mesmos motivos. Daí nos resta ponderar: ‘para que servimos?’”
“Para que servimos”, afinal? A resposta a essa questão, que traz subjacente certa preocupação com o ser útil, infelizmente é negativa, ou seja: “não mais servimos para nada!”.
Os jovens não buscam mais a universidade movidos pelo sentimento de aprender por aprender. O jovem de hoje já não mais se alegra com o pensar. Também pudera!
Num mundo em que a especialização técnica transformou as ciências num conhecimento de migalhas, os leitores perderam o encanto pela leitura desinteressada. Consequência natural da transformação da sociedade em um mundo de especialistas, em que cada um, cada vez mais, menos sabe de mais coisas.
Nesse contexto, é indigência cultural e política chega a beirar as raias da idiotia. É o preço que a sociedade se vê obrigada a pagar por essa forma extremada de especialização do saber.
É um preço muito alto! Decerto que sim.
É com tristeza que hoje se vê multiplicar a produção de textos de leitura fácil e rápida.
Os clássicos da Filosofia, da Economia Política, da Sociologia, todos estão nas bancas de revistas, para serem lidos em 90 minutos.
A obra de uma vida toda, como as de Kant, Hegel, Marx, por exemplo, é condensada em poucas e ligeiras palavras. Alguns trechos de fácil compreensão são selecionados para o leitor citá-los e, assim, pousar de intelectual diante de uma plateia tão mal preparada quanto ele.
Nesse mundo, muitos escritores não precisam de muitos esforços para se tornarem conhecidos do público. Se têm a sorte de escrever o que as pessoas desejam ler, é meio caminho andado para a fama.
De tudo isso resulta claro que a especialização caminha de mãos dadas com a mediocrização da cultura.
O amálgama dessa união é a fome por dinheiro da burguesia, que transformou as sociedades numa grande feira comercial, onde tudo é comercializado.
Em sua ânsia de Midas, preocupou-se em dirigir o espírito humano para as artes úteis, fazendo-o a perder, pouco a pouco, o gosto pelas coisas que enobrecem a alma.
Resultado: de um lado, criou especialistas ignorantes nas coisas do espírito; de outro, rebaixou-os à condição de indivíduos que só fazem uso de linguagens cifradas, acessíveis praticamente aos seus pares de gueto.
Esse estado de coisas é diagnosticado por Alfredo Bosi, em seu clássico A dialética da colonização, quando, assim, descreve a entrada do mundo na era pós-utópica.
Diz ele:
“Um engenheiro de produção assaz renomado entre os seus pares dizia-me com o desplante cândido dos néscios que a psicanálise é a última superstição do século XIX, opinião confortada por uma doutora em comportamento sexual de ratos engaiolados, a qual asseverava que Freud escreveu cantos para babás ansiosas. No outro canto do salão (era uma festa acadêmica), uma sisuda titular de Semiótica lançava do alto dos seus sememas um anátema contra as Ciências Exatas que, a seu ver, não passariam de hábeis arranjos binários. Mais de um jornalista mal egresso da sua pós-graduação decretava o inglório passamento de Hegel e Marx atribuindo a causa mortis de ambos a golpe de automação. Em geral, uns e outros abonavam-se com citações de um autor japonês tido como genial que já constatara o fim da História, o óbito das ideologias e a entrada na era pós-utópica”[i].
É nessa direção que se procura trazer alguma contribuição ao excelente artigo do professor Daniel Afonso, com a pretensão de buscar as causas mais profundas que desertificaram os alicerces da universidade.
AS RAZÕES DA PROSTRAÇÃO INTELECTUAL
Vive-se uma época em que o homem desaprendeu a pensar.
Já não lê mais textos demorados, que exijam dele o mínimo esforço para compreendê-los; prefere os que o dispensam de pensar, pois é mais cômodo que outros o façam por ele; que simplifiquem para ele tudo que demanda tempo para ser compreendido; se possível, que reduzam as teorias sistêmicas, e complexas, em meia dúzia de enunciados, que caibam em poucas páginas.
Coisas dos tempos pós-modernos? Antes fosse! Como diria Kant, é mais fácil ser menor.
Pensar dá trabalho, pois exige o esforço da reflexão, o que só se adquire quem ousa abrir mão dos prazeres comezinhos imediatos da vida, para se dedicar às coisas do espírito e nelas encontrar a “alegria do pensar”[ii].
Experimentar tal sentimento é como mergulhar num grande lago, sem pressa de atravessá-lo de um só nado. Somente aqueles que cultivam “a paciência do mergulho”, que vão até as águas mais profundas, encontrarão “as pérolas do encantamento”.
Quem ler por obrigação ou para matar o tempo jamais poderá voltar a se encantar com o mundo, que de tão familiar e conhecido, nada lhe espanta.
Quando as pessoas preferem de bom grado os braços da preguiça, a razão e a imaginação são as primeiras a serem banidas da vida dos homens.
Hegel já pressentia isto, quando aconselhava os estudantes de Filosofia a tomarem distância do mundo imediato, para mergulhar na íntima noite da alma e assim voltarem a enxergar o mundo com outros olhos; para conhecerem de forma diferente o que já é habitualmente conhecido de todos sabido.
O conselho de Hegel se perdeu nas noites do tempo. Tocqueville testemunhou o início dos tempos em que o homem começou a perder o interesse pela reflexão demorada.
Ele percebeu que o descaso com a leitura e a reflexão são um mal-estar permanente das sociedades modernas, das sociedades democráticas, como assim definia o nascimento da modernidade.
Apesar do ranço conservador de suas ideias, ele diz, com acerto, que, quando as formas tradicionais de vida são superadas por um estado social igualitário, os homens preferem cultivar certo gosto intelectual depravado, habituando-os a querer o espetáculo à literatura, as emoções do coração aos prazeres do espírito.
É uma forma de sociedade que leva os homens a dedicarem a maior parte de suas vidas aos negócios e, consequentemente, pouco tempo às letras. Por isso, “gostam dos livros obtidos sem dificuldades, que se leem depressa, que não exigem eruditas pesquisas para serem compreendidos. Pedem belezas fáceis, que se entregam por si mesmas e que se podem deleitar de imediato; necessitam de emoções vivas e rápidas, e clarões súbitos, verdades ou erros brilhantes que os arranquem no ato de si mesmos e os introduzam de repente e, como por violência, no meio do tema”[iii].
Em que pesem as acusações preconceituosas sobre a sua obra, principalmente por parte da intelectualidade de esquerda, Tocqueville não enxerga o presente com os olhos fixos no passado.
Simplesmente reconhece que não há mais lugar para o cultivo desinteressado das ciências. No entanto, ele repara que o capitalismo não hostiliza as ciências para celebrar a simples e pura ignorância. Não é isso que acontece.
O que muda é o fato de não mais cultivá-las por elas mesmas, pois a produção do conhecimento desinteressado, como assim Aristóteles definia a Filosofia, foi substituída pelo conhecimento com aplicação prática imediata.
Que o diga o autor da Democracia na América, para quem não é verdade que os homens “que vivem nas eras democráticas sejam indiferentes às ciências, às letras e às artes; cumpre somente reconhecer que eles a cultivam da sua maneira e introduzem, nesse âmbito, as qualidades e os defeitos que lhes são próprios”[iv].
É assim que ele vê a sociedade americana, onde o igualitarismo social estava mais plenamente desenvolvido. Nela, os americanos só podem se dedicar à cultura geral da inteligência nos primeiros anos da vida.
Aos quinze anos, eles entram numa carreira; assim, sua educação acaba, na maioria dos casos, no ponto em que a nossa começa. Se vai além, dirige-se apenas para uma matéria especial e lucrativa; estudam uma ciência como se abraça um ofício e só se interessam pelas aplicações cuja utilidade presente é reconhecida”[v].
Por essa razão, acrescenta que lhes falta tanto a vontade como o poder para dedicarem ao trabalho da inteligência, às coisas do espírito. Afinal, o desejo universal de bem-estar material e a busca incansável para consegui-lo levam os homens a preferirem o útil ao belo, a cultivarem as artes que servem para tornar cômoda a vida.
Para “espíritos dispostos dessa maneira”, comenta que “qualquer método novo que leve por um caminho mais curto à riqueza, qualquer máquina que reduza o trabalho, qualquer instrumento que diminua os custos da produção, qualquer descoberta que facilite os prazeres e os aumente, parece o mais magnífico esforço da inteligência humana. É principalmente por esse lado que os povos democráticos se interessam pelas ciências, as compreendem e honram. Nas eras democráticas, requerem-se em particular das ciências os prazeres do espírito; nas democracias, os prazeres do corpo”[vi].
Num mundo assim, a vida dos homens, sublinha Tocqueville, é tão prática, tão complicada, tão agitada, tão ativa, que lhes sobra pouco tempo para pensar.
Os homens dos séculos democráticos apreciam as ideias gerais, porque elas os dispensam de estudar os casos particulares; elas contêm (…) muitas coisas num pequeno volume e proporcionam em pouco tempo um grande produto”[vii].
Homens que dedicam a vida toda a fazer fortuna, não têm mesmo estima pela arte. Se vão ao teatro, vão em busca de divertimento. Não procuram no palco os prazeres do espírito, mas, sim, as emoções vivas do coração; não esperam encontrar uma obra literária e sim o espetáculo; se a encontram, não a entendem; acham-na tediosa e enfadonha.
Por isso, se os personagens representados suscitam “a curiosidade e despertem a simpatia, ficam contentes; sem pedir mais nada à ficção, entram imediatamente de volta ao mundo real. O estilo se faz menos necessário, portanto, porque, no palco, a observação dessas regras escapa mais”[viii].
Tocqueville enxergou longe. Foi contemporâneo teórico de um tempo que ainda não estava plenamente desenvolvido, mas que, de certa forma, já se anunciava. Nisto consiste sua genialidade. Compreendeu que o desenvolvimento das ciências dependeria da sua utilidade prática.
A seu modo, percebeu que os homens somente estudam e desenvolvem as ciências como se abraça um negócio lucrativo. Com isso, anteviu um futuro em que nada que não fosse útil teria interesse para a sociedade.
Mas a maior implicação de tudo isso reside no fato de que a aplicação das ciências passou a exigir sua crescente especialização, a ponto de transformá-la num “saber de migalhas”. Somente assim ela consegue atender às exigências de valorização do capital, que requerem especialistas e não filósofos (isto é: homens letrados, com formação humanística).
As empresas não precisam de pensadores, de homens sábios. Basta que seus trabalhadores saibam ler, escrever e calcular; nada mais.
Afinal, a indústria, como dizia Marx, é a mãe da ignorância. Um paradoxo, se julgado sob perspectiva de um tempo em que a maioria das pessoas interage de forma diária, cotidiana, com alguma tecnologia da informação e da comunicação.
Paradoxo, sim! Pois as pessoas não precisam conhecer como essas tecnologias funcionam; basta-lhes seguir o “script” que cada máquina traz inscrito em seu visor: “pressione este botão, para obter isto”.
Errou? É só desfazer a digitação e começar de novo. É até mesmo vantajoso para os donos do capital que as pessoas ajam como autômatos, pois tais tecnologias são os meios pelos quais são geradas, registradas e distribuídas as informações para acumular e apropriar os valores econômicos dos representantes do “senhor capital[ix]”.
Mundo de analfabetos é o que é a sociedade da tecnologia da informação e da comunicação. Nela, as pessoas vivem mergulhadas na mais profunda indigência científica, cultural e política que chega a beirar a idiotia.
Exemplo disso, oferecem os Estados Unidos. Nesse país, celeiro de prêmios Nobel que comanda o destino do mundo e que já enviou naves para os confins do Sistema Solar, 11% de sua população não sabe o que é uma molécula.
E o que é pior: 44% dos americanos rejeitam o darwinismo e 52% ignoram que a Terra gira ao redor do sol[x].
Pesquisas realizadas pelo astrônomo norte-americano, Carl Sagan, revelam que o norte-americano vive num mundo em que impera a ignorância científica; uma sociedade, comenta ele, dominada pelo analfabetismo científico[xi].
De acordo com seus estudos, 95% dos americanos são cientificamente analfabetos, não têm o mínimo conhecimento de como se dá a aplicação das leis da natureza aos processos de produção da riqueza.
Não é só o analfabetismo científico que apavora o mundo. Antes assim fosse! O homem converteu-se num homo ignotus, caiu num estado de anorexia intelectual.
Já não lê mais os grandes clássicos da Economia e da Filosofia, que edificaram o pensamento econômico, social e político da modernidade. Prefere os manuais didáticos, que lhe poupam o aborrecimento de pensar.
Não conhece Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Kafka, Drumond, Fernando Pessoa, Shakespeare, dentre outros.
Caso tenha oportunidade de se deparar com um livro desses monstros da literatura nacional e mundial, desanima com o tamanho do seu volume; se lê as primeiras páginas, logo cai em desânimo e o abandona por um texto que fale de bruxaria, esoterismo ou coisas do gênero.
Em sua crítica ao ensino universitário norte-americano, Allan David Bloom, 1987, em Clossing of the American Mind, “lamentava a desvalorização dos grandes livros do pensamento ocidental e a emergência de uma cultura popular que embalava os novos estudantes, incapazes de buscar um sentimento do filosófico para a vida e movidos apenas pela satisfação de desejos imediatos de conhecimento e sucesso comercial”[xii].
Bloom não é uma voz solitária. Susan Jacoby, em seu livro The Age of American Unreason[xiii], reconhece que a substituição da cultura escrita pela cultura do vídeo resultou no decréscimo da capacidade de concentração das pessoas por períodos mais longos.
A impaciência para conseguir informações no menor espaço de tempo criou nas pessoas o hábito pela mensagem em vez do texto; as palavras abreviadas, no lugar de sua escrita completa. Tudo que demanda tempo e raciocínio é recebido com a famigerada e batida frase: “não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe”.
Nesse mundo, as pessoas estão a adoecer coletivamente; todas parecem que foram acometidas de anorexia intelectual.
Até os professores já não sentem mais prazer em dar aula, pois a maioria dos seus alunos já não querem saber de nada que lhes tome mais tempo do que o que conseguem permanecer em sala e aula; nem ler mais sabem.
É a desertificação irreversível dos alicerces da Universidade!
*Francisco Teixeira é professor da Universidade Regional do Cariri (URCA) e professor aposentado da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Autor, entre outros livros, de Pensando com Marx: uma leitura crítico-comentada de O Capital (Ensaio). [https://amzn.to/4cGbd26]
Notas
[i] Bosi, Alfredo. Dialética da Colonização. – São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 352)
[ii] Lima, Batista de. Alegria do Pensar. Conferência pronunciada aos estudantes de Ciências Sociais, da Universidade de Fortaleza, verão de 2004: “O que falta ao jovem de hoje é a alegria do intelecto; a metáfora em forma de poesia, cinema, artes plásticas, teatro, música e literatura. Hoje a leitura está em falta. O jovem não sabe quem é Nietshce nem Foucault, não sabe quem é Kafka, nem Guimarães Rosa. Nunca leu A montanha mágica, de Thomas Mann, nem conhece o poema “A máquina do mundo”, de Drummond. A história é a grande falta para o jovem de hoje. Tudo é história. É preciso ler história, estudar história, fazer história. Estamos fazendo história neste momento e não temos consciência da importância deste momento. História é muito mais isto do que isso, do que aquilo. História é agora. Roland Barthes (2000:8) afirma que entre as ciências antropológicas a soberania pertence à História.
“Ingressar numa universidade é fazer história. É como ingressar num grande lago. Há os apressados que cruzam-no de um nado. Há os que preferem a paciência do mergulho, pois sabem que no devassar das profundezas é onde encontramos as pérolas do encantamento. Viver bem é encantar-se. Infeliz de quem não se encanta com as mais simples das coisas. Um grande filósofo é aquele que se encanta, que se entusiasma até com sua própria sombra. Flaubert, antes de escrever Madame Bovary, era um ocioso, limitava-se a observar o rio Sena, portanto era ocupadíssimo. Quanta filosofia um rio nos transmite. Mas ele também gastava o tempo ou observando a sobrinha comendo geleia, ou observando o comportamento das vacas. Quando se cansava observava as mulheres. Mas tinha outra mania o nosso escritor francês: gostava de burilar frases. Trabalhava uma frase como quem burila um diamante. Assim ele tornou-se escritor. Tenho certeza de que ele concluiu que a escrita literária pode suprir a distância entre o nosso desejo de grandeza e a pequenez do mundo, entre a nossa aspiração à eternidade e a condição de mortal que carregamos” [Lima, Batista de. Alegria do Pensar. Conferência pronunciada aos estudantes de Ciências Sociais, da Universidade de Fortaleza, verão de 2004].
[iii] Tocqueville de, Alexis. A democracia na América: sentimentos e opiniões. – São Paulo: Martins Fontes, 2000; Vol. II.
Idem.Ibidem.Livro.II, p. 53
[iv] Idem.Ibiodem.p.53.
[v] Idem.Ibidem. Livro.I, p.61.
[vi] Idem.Ibidem. Livro.II, p.51/52.
[vii] Idem.Ibidem.Livro.II, p.19.
[viii] Idem.Ibidem.Livro.II., p. 96/97
[ix] Dantas, Marcos. A lógica do capital-informação: a fragmentação dos monopólios e a monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais. – Rio de Janeiro: Contratempo, 1996.,p.15: “Hoje, a grande maioria das pessoas interage de forma diária, cotidiana, corriqueira, com alguma tecnologia da informação e da comunicação. Esta interação não se resume ao mero uso do telefone à passiva audiência de televisão. Também, num entre outros exemplos, o simples ato de sacar dinheiro em um banco num caixa automático é um fato de telecomunicação. As pessoas, em geral, pouco ou nada sabem sobre como funcionam essas tecnologias: do ponto de vista técnico, é claro, não se poderia exigir isto, exceto dos engenheiros que as projetam e operam; mas, e do ponto de vista social mais amplo? Se não são especialistas (e, no Brasil, excetuando-se os profissionais das empresas de telecomunicações, os “especialistas” não passam de meia dúzia de economistas acadêmicos, sendo ainda mais raros sociólogos, historiadores e até mesmo comunicólogos que estudam de fato e seriamente, o tema), as pessoas, mesmo aquelas mais politizadas, pouco ou nada sabem do funcionamento das comunicações, enquanto meio através do qual é gerada, registrada e distribuída a informação, daí se obtendo valores econômicos e sociais que são acumulados e apropriados pelos diversos agentes”.
[x] Revista Planeta. Edição 403, ano 33, abril de 2006., p. 28/29].
[xi] Sagan, Carl. O Mundo Assombrado pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. – São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 20: “Em todo o mundo, existe um enorme número de pessoas inteligentes e até talentosas que nutrem uma paixão pela ciência. Mas essa paixão não é correspondida. Os levantamentos sugerem que 95% dos norte-americanos são cientificamente analfabetos. A porcentagem é exatamente igual à afro-americana, quase todos escravos, que eram analfabetos pouco antes da guerra civil – quando havia penalidades severas para quem ensinasse um escravo a ler.
[xii] Wood Jr, Thomaz. Homo ignobilis. – Carta Capital., Edição de 02/04/08.
[xiii] Idem.Ibidem.
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Comentários
Zé Maria
O Pior Tolo é o Ignorante Arrogante.
É o Tipo que mais se vê no braZil,
na Extrema-Direita Bolsonarista
-Redundantemente NeoFascista-
inclusive no Parlamento NaZional.
.
Zé Maria
Até o Final do Século 20 – Início do Século 21, com os Adventos
da Dissolução da URSS e do Consenso de Washington, quando
foi Introduzida a Doutrina do Neoliberalismo – especialmente
nas Universidades – como Salvador do Planeta, os Artigos
Acadêmicos se dividiam em Bons e Ruins.
A partir de então, passaram a ser divididos em Bons, Ruins e
IMPRESTÁVEIS, em especial na Área de Ciências Humanas,
sobretudo com o Ascenso e a Infiltração da Extrema-Direita
Neo-Fascista no Mundo Universitário – Efeito do Neoliberalismo.
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Zinda Vasconcellos
Bom, textos desse tamanho realmente, é dífícil conseguir quem queira ler. Mas na verdade a análise é elitista e nao vai às causas. O exemplo que motivou o resto do texto é revoltante. Antes de chamar os outros de ignorantes por um uso lin guístico, o autor deveria ler textos de Sociolinguística para saber que a língua está mudando, e que a concordância com sujeito posposto está desaparecendo mesmo do uso escrito de cientistas, jornalistas, etc, pessoas que vivem da escrita.
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