Flávio Dino: Frente ampla para derrotar Bolsonaro em 2022 é o essencial

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Eduardo Matysiak

Caminhar com Mandela

Sem renunciar a identidades históricas, precisamos unir e ampliar forças para proteger a nossa Nação, a democracia, os direitos sociais, a cultura e o meio ambiente

Por Flávio Dino, em O Globo

Quando Nelson Mandela ficou livre de arbitrária prisão na África do Sul, ele priorizou uma tarefa: liquidar o apartheid.

Para isso, como ele escreveu na sua autobiografia, o seu partido CNA deveria ser, naquele momento, uma generosa tenda a acolher diversas correntes políticas.

Nenhuma diferença poderia ser mais importante do que acabar com o apartheid. O pensamento progressista no Brasil precisa refletir sobre o exemplo de Mandela.

Em 2018, poucos acreditavam que o obscuro e obscurantista Jair Bolsonaro pudesse vencer as eleições.

Mas ele venceu, beneficiado por uma imensa crise de legitimidade e de reconhecimento da população com o sistema político.

Após 18 meses de desvarios, omissões gravíssimas e denúncias diversas, Bolsonaro mantém razoáveis taxas de aprovação popular.

Recentemente, a nova vitória da extrema direita na Polônia lembra-nos de que o ruim ainda pode piorar.

Apoie o jornalismo independente

Segundos mandatos tendem a propiciar um sentimento de aprovação e induzir a ousadias ainda maiores por parte de mentes despóticas.

No caso brasileiro, o STF e o Congresso têm tido um peso decisivo para conter os arroubos de Bolsonaro.

Terão força para resistir em um segundo mandato?

Se ficarmos presos à configuração política que levou ao desfecho das eleições de 2018, provavelmente ele se repetirá.

É hora de olhar para o futuro.

O momento exige novas estratégias, táticas, ideias. Uma “esquerda conservadora” é uma antinomia e é pouco eficaz.

Diante dos desafios, “esperar acontecer” é uma escolha que minimiza os perigos que o extremismo bolsonarista implica.

O golpe como momento solene, à moda 1964, foi substituído por um golpismo permanente, realizando destruições sucessivas de instituições e de vidas, como as levadas pelo coronavírus.

No interregno (na acepção gramsciana) que vivemos, valores fundamentais como democracia política, direitos dos trabalhadores e liberdade de expressão estão ameaçados por violências, ameaças e manipulações, como a promovida pelo “gabinete do ódio”.

Para uma nova estratégia capaz de superar o interregno em uma boa direção, é essencial ampliar a audiência do pensamento progressista, alcançando homens e mulheres não engajados em movimentos ou partidos.

Este é o mais importante “centro” a ser alcançado.

Ocorre que, para chegar até ele, alianças e modulações programáticas são imprescindíveis.

Quem tem clareza dos seus propósitos não teme o diálogo com os diferentes.

Sem renunciar a identidades históricas, precisamos unir e ampliar forças para proteger a nossa Nação, a democracia, os direitos sociais, a cultura e o meio ambiente.

Curioso notar que as disputas entre os progressistas giram mais sobre fatos pretéritos do que sobre propostas para o futuro.

Portanto, é preciso priorizar mais o futuro dos cidadãos do que o “julgamento” de erros do passado.

Necessitamos de uma ampla união progressista que livre o Brasil do bolsonarismo.

Lulistas, trabalhistas, socialistas, comunistas, verdes, social-democratas, todos têm um grande papel.

Não podem, nem devem, deixar de existir.

A questão é mais simples: abrir portas e janelas para deixar os ventos da Pátria varrerem mágoas.

A forma jurídica que viabiliza a atuação conjunta é uma decisão posterior e inevitável, na medida em que passaram a vigorar regras proibitivas de coligações em eleições proporcionais e instituidoras de cláusulas de desempenho.

Existem importantes experiências no Uruguai, Chile, em Portugal, na África do Sul sobre federações partidárias ou frentes reunidas em um partido.

O debate mais importante, entretanto, não é sobre a forma, é sobre o espírito que deve nos guiar.

Nenhuma diferença entre nós é mais importante do que defender o Brasil do apartheid representado pelo projeto bolsonarista.

É tempo de caminhar com Mandela.

Flávio Dino é governador do Maranhão, foi juiz federal e deputado federal

Apoie o jornalismo independente


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Por uma Frente Ampla de Negros e Índios !
Para derrotar o Genocida em 2020 !
https://youtu.be/2x8KgPf8Pq0
https://youtu.be/NLpfZc79na8

Nilson Moura Messias

Caminhemos com o Mandela, brasileiro: Luiz Inácio Lula da Silva.

Carlos Cardoso

ok. Dino.

As possibilidades são grandes. Todavia seria de bom alvitre que democratas e o sistema de justiça de hoje revisem o erros históricos e o corrijam. É um passo necessário para dar credibilidade a uma proposta de construção unitária

TELESFORO MATOS

Não sei porque o Flávio Dino está enchendo a bola de Bolsonaro…
Frente ampla? Prá quê?
Bolsonaro sozinho, não ganha de ninguém uma eleição…Nem prá síndoco.
O que pode eleger Bolsonaro são as fake news espalhadas aos milhões nas redes sociais e a Globo.
Ponha um freiro nesses dois “casos” e está resolvido.
Frente ampla?… Ora, ora, isso não dura 5 JN’s.

Marcos Videira

Sábias palavras de Flávio Dino. Mas já tem gente se apegando a detalhes pra inviabilizar essa frente democrática. Por exemplo: não se pode comparar Lula com Mandela, porque Lula continua inelegível e Mandela foi candidato a presidente.
Outro diz que não existirá frente sem que o PT participe e o PT só participa se Lula estiver no comando…
Essa posição do PT não é novidade. Historicamente é assim. Em 1988 o PT se negava a assinar a Constituição aprovada. Em 1989 as pesquisas indicavam que o candidato com maior chance de vencer Collor era Brizola. Em 1992, após a queda de Collor, o PT ameaçou fazer oposição a Itamar e puniu Erundina por ter assumido a tarefa de ajudar Itamar a governar o espólio de Collor. Em 1994 o PT fez campanha contra o Plano Real. E essa lista poderia continuar até chegarmos em 2018 (Delfim Neto, consultor de Lula, deu seu testemunho sobre os bastidores da eleição. Revelou o “Segredo de Polichinelo”).
Talvez o resultado da eleição deste ano sirva para que o PT faça uma reflexão e mude de comportamento político. Talvez. Será ?

Deixe seu comentário

Leia também