Em editorial com foto de Lula, “The Lancet” diz que o ”Brasil precisa de uma mudança urgente”; íntegra da tradução
Tempo de leitura: 4 minDa Redação
A revista The Lancet é uma das publicações científicas mais importantes do mundo.
Na edição do último sábado, 03-09, publicou editorial sobre as eleições no Brasil.
Título: Novos começos para América Latina? Uma foto do ex-ptresidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva ilustra-o
“Se as previsões atuais estiverem corretas, o presidente Jair Bolsonaro será derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva, seja no primeiro turno, em 2 de outubro, ou no segundo turno, em 30 de outubro”, diz o editorial.
“Entretanto, a diferença entre ambos está ficando mais estreita”, prossegue.
“Há temores de que Bolsonaro, conhecido por sua volatilidade e incitação indireta à violência, não sairá passivamente. Ele [Bolsonaro] já criticou o sistema de votação eletrônica do Brasil na presença de embaixadores estrangeiros”, alerta.
The Lancet destaca:
“O manejo desastroso que Bolsonaro fez da pandemia de Covid-19 e seu desrespeito às mulheres, minorias étnicas, povos indígenas e meio ambiente são amplamente conhecidos”.
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“Durante o reinado de Bolsonaro, as medidas de proteção social foram prejudicadas pelo financiamento reduzido, as desigualdades e a pobreza aumentaram acentuadamente, e o Brasil voltou a fazer parte do Mapa da Fome da ONU”.
Para The Lancet, o “Brasil precisa de uma mudança urgente”.
Abaixo, a tradução da íntegra do editorial.
The Lancet, editorial: Novos começos para América Latina?
“As apostas são altas para as próximas eleições presidenciais do Brasil.
Se as previsões atuais estiverem corretas, o presidente Jair Bolsonaro será derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva, seja no primeiro turno, em 2 de outubro, ou no segundo turno, em 30 de outubro.
Entretanto, a diferença entre ambos está ficando mais estreita.
Há temores de que Bolsonaro, conhecido por sua volatilidade e incitação indireta à violência, não sairá passivamente. diz o texto, que ressalta as críticas do atual mandatário ao sistema eleitoral brasileiro.
Há temores no país de que Bolsonaro, conhecido por sua volatilidade e incitação indireta à violência, não vá aceitar a derrota em silêncio. Ele já criticou o sistema de votação eletrônica do Brasil na presença de embaixadores estrangeiros.
O manejo desastroso de Bolsonaro com a pandemia de Covid-19 e seu desrespeito às mulheres, minorias étnicas, povos indígenas e meio ambiente são amplamente conhecidos.
Durante o reinado de Bolsonaro, as medidas de proteção social foram prejudicadas pelo financiamento reduzido, as desigualdades e a pobreza aumentaram acentuadamente, e o Brasil voltou a fazer parte do Mapa da Fome da ONU.
De acordo com dados da 2ª Pesquisa Nacional de Insegurança Alimentar divulgados em junho, estima-se que 30,7% dos brasileiros estejam experimentando insegurança alimentar moderada ou grave devido à combinação da pandemia, aumento do desemprego, enfraquecimento de programas sociais e desmantelamento de políticas de bem-estar social.
Mais de 3,5 anos de governo Bolsonaro deixaram o Brasil em sua pior posição em décadas.
As questões perenes de desigualdade, pobreza e corrupção continuam prejudicando os brasileiros e sua saúde.
A violência baseada em gênero e com armas ainda é galopante e a decisão de Bolsonaro de relaxar as leis de armas foi um passo na direção errada.
Correspondência publicada no The Lancet descreveu como cientistas e instituições científicas foram prejudicados. O Brasil precisa de uma mudança urgente.
Se as previsões para a eleição do Brasil estiverem corretas, ele se juntará a outros países latino-americanos onde há uma esperança renovada de mudança social progressiva.
Os dois líderes mais recentemente eleitos na América Latina são Gustavo Petro (na Colômbia), ex-guerrilheiro que assumiu em agosto, e Gabriel Boric (no Chile), no cargo desde 11 de março.
Embora muitos líderes latino-americanos tenham sido eleitos com promessas de renovar a saúde e a educação, combater a corrupção e a pobreza e proteger os direitos dos trabalhadores, muitos ainda não conseguiram mudanças substanciais.
Boric e Petro se diferenciam dos demais pela inclusão de proteção climática e sustentabilidade, proteção dos direitos das mulheres e inclusão política de minorias étnicas em seus manifestos.
Pela primeira vez na história do Chile, a maior parte do gabinete e metade dos ministros são mulheres.
A vice-presidente é Francia Márquez, uma afro-colombiana ativista ambiental e de direitos humanos.
Boric tem uma forte agenda ambiental com um claro entendimento de que os combustíveis fósseis pertencem ao passado, uma espécie de exceção em uma região onde muitos governos ainda apoiam as exportações de mineração e petróleo.
Em 4 de setembro, os chilenos votarão em um referendo sobre uma nova constituição, que inclui o direito ao aborto eletivo e afirma que o sistema nacional de saúde é universal.
Petro se comprometeu a combater a desigualdade, fornecendo educação universitária gratuita, reformas previdenciárias e altos impostos sobre terras improdutivas.
Os desafios são enormes, mas seu governo já anunciou um novo e ambicioso plano tributário progressivo destinado a arrecadar trilhões de dólares para programas de combate à pobreza e bem-estar social.
A região também precisa de uma organização de saúde forte e líder para apoiar os Estados membros em seus esforços para melhorar a saúde e o bem-estar de suas populações.
Um novo diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) será escolhido em votação secreta na 30ª Conferência Sanitária Pan-Americana de 26 a 30 de setembro.
Brasil, Colômbia, México, Panamá, Haiti e Uruguai têm candidatos indicados e o novo diretor começará um mandato de 5 anos em 1º de fevereiro de 2023.
A estabilidade financeira está no topo da agenda dos candidatos, pois, em 2020, o primeiro ano da pandemia de Covid-19, a OPAS esteve perto da insolvência, com od estados membros atrasando os pagamentos e os EUA, que tinha como presidente Trump, interrompendo seu apoio à OMS.
Mas a OPAS também precisa de uma agenda que priorize claramente, com maior urgência, examinar as lições aprendidas e as mudanças necessárias para a região após a pandemia.
A OPAS precisa de um líder enérgico que imponha respeito político e técnico entre os Estados membros e que não tenha medo de correr riscos ou responsabilizar os países por suas ações em saúde.
Há uma chance sem precedentes de novos começos na América Latina; uma oportunidade de fazer mudanças positivas para aliviar a profunda negligência, desigualdade e violência. Esperamos que o Brasil opte por aproveitar esta oportunidade”.
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Comentários
Homero
Rídiculo estardalhaço para um edital estrangeiro. Merecemos tudo que está acontecendo. Não sabemos nos organizar internamente, ser resistência e força de transformação para o fim da exploração.
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