Carta aberta de Morvan ao ministro Cid Gomes: Da Vinci, inspirai-nos
Tempo de leitura: 3 minCarta Aberta Ao Excelentíssimo Senhor Ministro Da Educação — Ainda A Questão Do Curriculum
por Morvan Bliasby, em seu blog, via e-mail
Li, com a atenção devida, vossa entrevista ao Portal Globo – Entrevista Cid Gomes, e gostaria de discutir, no proveito de toda a Nação brasileira, haja vista a atomicidade das políticas educativas e educacionais, passando à reflexão sobre ideias do discurso ali contido, mesmo se se considerarem as implicações, intencionais ou não, da interpretação deste mesmo discurso.
Transcrevendo, sob determinado prisma, a parte mais importante, reitero, sobre as implicações e decorrências que aproveitarão ou não à sociedade, d’hoje até, quiçá, daqui a cinquenta anos, onde se diz:
“Se o jovem tem vocação mais para a área tecnológica, aprofundar matemática, física; se tem vocação mais para a área de humanas, poder ter sociologia, filosofia. Não forçar todos a terem tudo, como é hoje, que se obriga todos os alunos do ensino médio a terem conhecimento sobre todas as áreas. Como é uma novidade, vai de encontro à tradição de pelo menos 40 anos no país, deve ser precedido de uma grande discussão, vamos ouvir experiências de outros países, tem diversos modelos, mas acho que é possível mudar em quatro anos”.
Ora, senhor Ministro, esta [pseudo] dicotomia humano X técnico (Sic!), antiga, profundamente arraigada em nosso meio acadêmico, é o que há de mais retrógrado e lesivo ao país.
Tais políticas maniqueístas, excludentes mutuamente, remontam aos jesuítas, os quais suprimiram toda e qualquer tentativa de se ensinarem “ciências” (Sic!), pois estas, por trazerem em seu bojo questionamentos nada afáveis ao Estado teocrático de então, deveriam ser defenestradas, em nome da ordem e da manutenção do status quo.
Tivéramos um enorme déficit em ciências exatas, justamente por esta visão fragmentada e manietadora da sociedade e esta produziu os seus efeitos perversos por várias gerações.
Depois, mercê do Estado totalitário, cujo desaguar redundou no golpe de 1964, as ciências do Departamento de Humanas passaram a ser as proscritas, pois estas ensejavam aos educandos ideias “libertadoras”, questionamentos políticos, etc.
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Retiraram-se das grades curriculares do ensino médio, de longe o grande ‘laboratório’ destes ensaios, as disciplinas “questionadoras” (filosofia, psicologia, sociologia), colocando-se em seus lugares a famigerada OSPB.
Sabe-se muito bem o alcance destas medidas para a [de]formação de toda uma geração de seres humanos.
O ensino médio deveria ser repensado a partir do que já advertia Baudelaire, sobre o “discurso duplo” na Educação.
Dever-se-iam preparar homens. Estes deveriam optar por ser operários ou não e, em sendo-os, operários conscientes do seu papel social.
Precisamos romper com esta dicotomização em prol de uma sociedade livre.
Este menosprezo (histórico, mas nem por isso desimportante) pelas ciências humanísticas é tragicômico por estarmos justamente falando sobre um Governo que conhece, no lombo, o peso da falta de educação política do seu povo.
Um Governo cuja mandatária e todo um conjunto de pessoas discordantes do modelo antinacional sofreu as agruras, físicas e psíquicas, de lutar pela libertação do seu país.
Não operemos quais jesuítas às avessas, colocando o “tequiniquês” acima de tudo e vilipendiando o pensar filosófico.
Estamos no momento histórico no qual mais o Brasil precisa de um livre pensar. Temos um atraso cultural, mas no seu sentido mais amplo.
Não é uma questão de formar um homem para servir a determinados propósitos, mas sim de formar homens livres e estes só o são quando não têm sua oportunidade de uma visão libertária solapada, dolosamente ou não.
O estudante “técnico” de hoje, sem uma visão holística da sociedade e sem uma escola que forme seres pensantes é o coxinha de amanhã.
É um potencial zangão da nossa “Mass Media”.
Daí que o curriculum, em qualquer série, não pode ser dicotomizado. Lembre-se. Estamos falando em formar seres pensantes, antes de qualquer coisa.
Uma reunião, um simpósio, uma palestra na fábrica, por estranho que possa parecer, é mais útil, em determinado momento, do que uma explicação sobre o funcionamento de um transístor, pois o conhecimento sobre este componente pode ser obtido, considerando os recursos de busca digital hoje existentes, com igual ou maior proveito do aluno e a reunião terá seu construto a partir das observações ali perpetradas pelos audientes, em conjunto.
Reitero: falamos em formar pessoas.
Disciplinas humanísticas em toda a escola, a partir do período de operações formais, é mister, não é veleidade nem tampouco desperdício.
Só assim, interromperemos o ciclo de visões fragmentadas do conhecimento.
Por fim, lembrar aquele para quem o conhecimento não apresentava visões antípodas: Oh, Da Vinci, inspirai-nos.
Atenciosamente,
Morvan
Morvan Bliasby é Pedagogo com especialização em Orientação Educacional, tendo também Especialização em Recursos Humanos e Prática Organizacional. É autodidata em informática e em eletrônica linear e trabalha no Estado do Ceará como técnico em prospecção em Software Livre, na Seplag.
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Comentários
revenger
Morvam, mandando ver hein?! Excelente! Um exemplo de que apenas conhecimento técnico não forma cidadãos é o do que acontece nas universidades e o malfadado trote, onde futuros médicos e advogados fazem barbaridades com os colegas!
Morvan
Boa noite.
Obrigado, amigo de luta.
Saudações “Dilma, Vamos De Coração Valente; Enfrentar Os Golpistas E Defender A PetroBrás“,
Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.
Jose Medeiros
Morvan Bliasby, quando li o que o futuro ministro da educação expôs em palavras fiquei decepcionado. Sem filosofia, sem o conhecimento de música o jovem terá uma formação de robô. As suas palavras meu caro Morvan são sábias e espero que não caiam no vazio dos corações e mentes daqueles que se dizem da elite e que são responsáveis, pela sua omissão, em que os nossos jovens estejam na rabeira das pesquisas cientificas e pela classe politica ignorante e míope que encontramos por aqui. Sem a introdução ao pensar,sem aprender como funcionam os mecanismos do pensamento filosófico, não se pode aspirar uma nação culta e poderosa.
A minha decepção com este futuro ministro deu-se a partir da sua primeira entrevista.Por favor, Morvan, para o bem do Brasil e do futuro desta nação, não deixe de ser o critico implacável deste ministro que já se apresenta de antemão como incompetente para a função na que foi destinado.
Morvan
Bom dia.
Carissimi hariovaldicos:
Jose Medeiros (qui, 01/01/2015 – 19:36):
Isso mesmo, José Medeiros. A pergunta é qual tipo de homem queremos formar: um zangão, “drone“, ou um ser pensante? Colocaria ainda, no rol de disciplinas, Ética, Direitos Humanos e Xadrez. Xadrez, no caso, é ludopedagógico por excelência.
Saudações bolivarianas; {♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥}; “Dilma, Reforma do Judiciário Urgente; recompra a Petrobrás e cala os coscignas. Xeque Mate; o Velho“,
Morvan, Usuário GNU-Linux #433640 (Fedora 21_x64). Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.
Morvan
Boa tarde.
Antes de tudo, neste ano que se descortina, desejar a todos nós muita ventura e muita coragem para propor, para especular o novo. E aproveitar para agradecer aos Mantenedores do sítio, pelo espaço concedido, bem como agradecer aos comentaristas. Cada comentário é um tijolinho na tessitura dos dias vindouros.
O discurso de posse da Presidente Dilma evocou, dentre tantos temas prementes, a questão da Educação. O próprio lema deste segundo Governo, “Brasil, Pátria Educadora“, já nos mostra a importância que a problemática educacional evoca. Então, imagina-se que o tema ainda irá repercutir muito.
Considero que Cid foi infeliz no seu discurso e que “… como é hoje, que se obriga todos os alunos do ensino médio a terem conhecimento sobre todas as áreas.”. Muito pelo contrário. a nossa carga horária é ínfima, com relação a outros países. Ora, aqui mesmo, na América do Sul, o nosso currículo de nível médio é um dos mais enxutos. Argentina e Paraguai, por exemplo, têm currículos ajustados para desconstruir a história oficial de seus períodos de arbítrio (O deputado Renato Simões, do PT de São Paulo, apresentou projeto de lei (PL 7899/14) para incluir no currículo das escolas brasileiras o tema “a ditadura militar no Brasil e a violação dos direitos humanos”, (obrigado, amiga Rose). Não sei o status da propositura).
Reitero: ao atingir a idade cogno-estrutural-formal, o jovem já deve receber as primeiras lições de humanística, inclusa, claro, história. É preciso entender que nós sempre formamos seres políticos. Se os queremos sujeitos ativos ou vítimas do processo é a questão.
Saudações bolivarianas; {♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥}; “Dilma, Reforma do Judiciário Urgente; recompra a Petrobrás e cala os coscignas. Xeque Mate; o Velho“,
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Muhamad
Cid Gomes é mal-educado e não entende de educação.
O que ele vai fazer no Ministério da Educação?
Contratar Pavaroti e Ivete Sangalo para inaugurar cursinhos de robótica?
Levar sogra e família para passear na Europa por conta do contribuinte?
É a pior escolha do governo Dilma.
Silvio de Barros
Senti um certo preconceito no texto em relação ao “técnico”:
“O estudante “técnico” de hoje, sem uma visão holística da sociedade e sem uma escola que forme seres pensantes é o coxinha de amanhã.”
Parece ponto pacifico que o técnico, não tem a menor chance de ter um mínimo de cultura ou mesmo saber o seu lugar na sociedade.
Entendo que a proposta do ministro, poderia sim ser discutida para se buscar a melhor maneira de ser implementada. Na França, por exemplo, cada estudante faz um “vestibular” voltado pra sua área.
Formação técnica não significa “Robotização”.
É lamentavel que pessoas com formação tão “humana” não consigam pensar fora da caixinha e fiquem difundindo esse preconceito.
Não penso na escola como um período de castigo, onde você é obrigado a aprender alguma coisa.
Não se pode obrigar ninguém a aprender algo para qual não tem a menor vocação.
É um sofrimento injustificavel levar os alunos até um nivel de matemática, por exemplo, que eles nunca vão usar na sua vida (não só na vida profissional!).
Acredito muito mais na liberdade de cada um pra buscar conhecimentos fora dos bancos da escola. O Currículo basico deveria ser mais focado no que o aluno quer aprender.
Sou técnico, engenheiro e professor. Coxinha, não!!!!(pelo amor de Deus!)
Marcelo
Não se trata de demonizar a formação técnica, que é imprescindível. Todavia, a formação da pessoa não se resume a uma profissão, ofício… existe o legado cultural construído pela humanidade ao longo dos séculos, a literatura, as artes, as ciências, a filosofia. Sonegar estes repertórios às novas gerações em nome de “praticidade”, “adequação à realidade” ou qualquer outro chavão é criminoso.
O que é grave no discurso do ministro é a questão da “vocação”, evocada de maneira acrítica, como se fosse algo inexorável, um termo “sagrado”, definitivo. Como se a trajetória da pessoa já estivesse determinada por algum desígnio.Para quem conhece alguns rudimentos da história da educação, da psicologia, o conceito de “vocação” era mencionado para justificar a desigualdade de oportunidades, os pobres eram direcionados a uma formação aligeirada, meramente técnica, enquanto as classes privilegiadas iam para as universidades.
Não existe “DNA” do engenheiro, do filósofo, do lixeiro, do executivo… Não é preciso reinventar a roda a cada mudança de governo. Fornecer uma base comum a todos,mais ampla e consistente; depois, cursos, currículos e opções mais diversificadas a serem escolhidas conscientemente pelo interessado. O resto é mistificação.
Ana Lúcia O
O problema é as pessoas acharem que nao é preciso ser educador, familiarizado com a problemática da Educaçao, para ser ministro da Educaçao. Mesmo a pessoa sendo bem intencionada (caso de Haddad, nao sei se de Cid…), vai tomar decisoes com base no senso comum e na sua própria experiência escolar.
Ramos de Carvalho
Concordo plenamente com o Morvan, a formação do homem tem que ser plena. O correto seria formação cientifica a todos e a parte técnica ou humana seria decisão de cada individuo. Como isto não é possível, na sua totalidade, temos que nos aproximar o quanto pudermos, mas o que o ministro quer é fugir mais ainda.
Henrique
Não tenho tanto conhecimento acadêmico como os outros que comentaram, mas sai do ensino médio (público) a cerca de sete anos e concordo com o futuro ministro em alguns pontos, acredito que deve haver uma base com todos os conhecimentos, mas sim, deve existir a possibilidade de o aluno se aprofundar em cada área de acordo com as suas afinidades, e que esses aprofundamentos sejam considerados na hora das avaliações para o ingresso na universidade.
No ensino médio atual, algumas áreas não são nem consideradas, como artes e esportes por exemplo. As aulas de artes (quando existem) se resumem a desenho livre e a educação física a “joga qualquer coisa ae…”
Fabio Silva
Formará uma incrível dupla com o futuro ministro da Ciência e Tecnologia, aquele para quem o aquecimento global é uma crendice preconizada por seitas.
Caracol
Com a “robotização” preconizada pelo ministro misturada à imbecilização imposta pela televisão – uma mistura explosiva -, nosso futuro parece ser mais negro que as asas da graúna.
Cibele
Morvan, estou com você! Chocada com essas ideias do Cid Gomes sobre educação. Melhorar não vai, no máximo, ficará como está. O Brasil é um caso sério, às vezes acho que é realmente irreversível o trabalho que a ditadura fez por aqui. Pra manter o otimismo, estou me apegando à saída do Bernardo plim-plim, pelo menos… Parabéns pelo texto e um abraço.
EDUARDO
Morvan, concordo plenamente. A escola tem antes de tudo formar cidadãos. Conhecimentos da constituição, direitos e deveres, ética, etc são fundamentais. Se não criarmos seres políticos estamos fadados a repetir o que escutamos sem pensar ou refletir sobre o assunto.
Maurıcıo
Concordo plenamente com o artıculısta. Inclusıve deverıa ser ıncluıdas as dıscıplınas de Fılosofıa e Étıca nas sérıes fınaıs do prımeıro grau.
Jose Medeiros
Morvan Bliasby, quando li o que o futuro ministro da educação expôs em palavras fiquei decepcionado. Sem filosofia, sem o conhecimento de música o jovem terá uma formação de robô. As suas palavras meu caro Morvan são sábias e espero que não caiam no vazio dos corações e mentes daqueles que se dizem da elite e que são responsáveis, pela sua omissão, em que os nossos jovens estejam na rabeira das pesquisas cientificas e pela classe politica ignorante e míope que encontramos por aqui. Sem a introdução ao pensar,sem aprender como funcionam os mecanismos do pensamento filosófico, não se pode aspirar uma nação culta e poderosa.
A minha decepção com este futuro ministro deu-se a partir da sua primeira entrevista.Por favor, Morvan, para o bem do Brasil e do futuro desta nação, não deixe de ser o critico implacável deste ministro que já se apresenta de antemão como incompetente para a função na que foi destinado.
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