Bancada negra da Câmara de Porto Alegre denuncia assassinato brutal no Carrefour; vídeo

Tempo de leitura: 5 min

Bancada negra eleita em Porto Alegre repudia crime e convoca ato “justiça para Beto”

Para a bancada negra eleita à Câmara de Porto Alegre, crime revela dimensão do racismo estrutural na cidade e no país

Marcelo Ferreira — Brasil de Fato

Na véspera do Dia da Consciência Negra, o Brasil se depara com mais um brutal assassinato de uma pessoa negra.

João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi agredido até a morte em uma unidade do supermercado Carrefour localizado no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre, na noite desta quinta-feira (19)

Os agressores, dois homens brancos, um segurança privado do estabelecimento e um integrante da Brigada Militar, foram presos em flagrante e são investigados por homicídio qualificado.

A bancada negra eleita à Câmara de Vereadores de Porto Alegre concedeu uma coletiva de imprensa onde repudiou o crime.

Bancada negra eleita repudia crime

Na manhã deste Dia da Consciência Negra, a bancada negra eleita para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre alterou sua agenda, frente ao ocorrido, e concedeu uma entrevista coletiva a respeito do caso, em frente ao supermercado.

Os cinco vereadores eleitos manifestaram solidariedade à família de Beto e repudiaram o crime, destacando que o caso não é isolado e revela a dimensão do racismo estrutural na cidade e no país.

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“Era para ser um dia que a gente se apresentava para a cidade que elegeu cinco jovens negros, a primeira bancada negra da história da Câmara de Vereadores e a gente é pego de surpresa numa noite em que a gente acorda e tem mais um dos nossos corpos atirado no chão”, disse Bruna Rodrigues (PCdoB), ressaltando que o Estado e o Carrefour precisam assumir suas responsabilidades.

Segundo a vereadora eleita, o grupo foi até o local para cobrar respostas e para dizer que todos os dias da bancada serão de luta.

“Enquanto tiver um corpo nosso atirado pela cidade a gente vai estar junto e lutando para que isso se encerre”, afirma.

“Infelizmente esses corpos pretos precisam lutar para existir”, conclui.

“Resolvemos transferir a coletiva para cá e usar essa coletiva como denúncia contra a violência policial contra negros e negras no Brasil”, explica Laura Sito (PT).

Ela também aponta que a morte do Beto não é um caso isolado.

“Nós, inclusive, nesse ano de 2020, testemunhamos vários casos, desde o menino Miguel [assassinado] por um PM até tantos jovens negros assassinados pela força do Estado ou por negligência racista de terceiros. Infelizmente a cena que nós vimos ontem é mais uma dessas”, lamenta.

A vereadora eleita destaca que essa primeira ação foi de denúncia e que os cinco se colocaram à disposição da família para o que precisarem.

“Nossa principal tarefa, que o povo nos designou, é estar nas ruas lutando por dignidade e justiça e nós nos manteremos, não só hoje, mas ao longo do próximo período.”

Matheus Gomes (PSOL) lamenta as cenas horríveis.

“As imagens dele sendo espancado dentro do supermercado estão girando o Brasil e o mundo e está nítido o que aconteceu ali, quem é homem e quem é mulher negra sabe o quão inseguro é andar dentro de um supermercado ou qualquer estabelecimento comercial”, destaca.

“Nós nunca vimos uma cena de tamanha brutalidade e desumanidade acontecer em nosso país com um corpo que não seja o nosso”, reflete.

“Essa é a dinâmica de racismo no Brasil, nenhum dia de sossego, nenhum dia de paz para a população negra da periferia”, afirma o vereador eleito. Para ele, é dever não só da população de Porto Alegre, mas de todo o Brasil, reagir ao caso.

“A gente precisa mostrar que esse tipo de ação não vai ser naturalizada, banalizada, a gente tem que reagir a essa situação. O Carrefour é o primeiro a ser responsabilizado, é reincidente em situações como essa de violência, aconteceu na dependência dessa multinacional que precisa ser responsabilizada.”

A vereadora Karen Santos (PSOL) descreve o caso como horrível, em meio à euforia da eleição da primeira bancada negra.

“Nosso papel lá dentro [da Câmara] é inclusive esse, estar ao lado, dane-se a agenda formal do 20 de novembro, não é um dia de festa, de comemoração. Não é de hoje que a gente marcha por nossos mortos porque isso é cotidiano, a gente sente. Infelizmente, mais um foi assassinado dentro de uma instituição privada, racista, pra gente conseguir mostrar de novo a importância da gente ter política”, afirma.

Para ela, o que aconteceu não pode ser naturalizado como um acidente ou uma morte qualquer.

“É um crime que acontece todos os dias dentro de shopping center, dentro de outros supermercados, é o racismo institucional e a gente precisa ter pauta para que isso não aconteça.”

Por isso, pede que prefeitura e governo do estado se responsabilizem e lancem medidas de criminalização.

“Não dá para colocar só nas costas dos seguranças, isso é algo reincidente dentro da rede Carrefour, então mais do que nunca, pensar o racismo institucional e como a gente vai cobrar como esse tipo de conduta seja tida como um crime e não como um fato isolado ou acidente.”

Para Daiana Santos (PCdoB), o caso demonstra o racismo estrutural da sociedade brasileira.

“É muito simbólico que nesse 20 de novembro, mesma semana que elegemos cinco jovens negros para a Câmara de Vereadores da cidade, tenhamos que estar aqui vendo mais um de nossos corpos tombarem.”

“Isso é muito um retrato do Brasil que nós temos hoje. Acho que no último domingo, de norte a sul do Brasil, nós mostramos que queremos ter voz e queremos denunciar e combater o racismo”, avalia a vereadora eleita.

“Uma agenda antirracista para o Brasil e Porto Alegre é o que nós vamos avançar no próximo período”, conclui.

Justiça por Beto

Um ato pedindo por justiça para Beto está convocado para às 18h desta sexta-feira (20), em frente à unidade do Carrefour Passo D’Areia, onde ocorreu o crime.

O protesto terá transmissão online pelas páginas no Facebook do Brasil de Fato RS e da Rede Soberania.

“Estaremos aqui por empatia e solidariedade, o que aconteceu com George Floyd aconteceu aqui dentro do nosso território, a cidade de Porto Alegre, a mais racista e segregada do Brasil, e cabe a nós também estar aqui na rua prestando solidariedade e mostrando para a sociedade que não vai passar”, afirma a vereadora Karen Santos.

Beto foi espancado na entrada da loja

O caso ganhou rapidamente as rede sociais após clientes filmarem o crime. Os vídeos circulam amplamente nas redes sociais, mostrando Beto, como era conhecido o homem, sendo espancado após ser levado para a entrada da loja.

Os agressores desferiram uma série de socos no rosto e chutes pelo corpo, deixando o homem desacordado.

Beto foi socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que tentou reanimá-lo sem sucesso.

O Carrefour emitiu uma nota lamentando o ocorrido e classificando o ato como criminoso.

Diz estar tomando providências para que os responsáveis sejam punidos e anunciou o rompimento do contrato com a empresa terceirizada de segurança.

Entretanto, o supermercado carrega um histórico de violência e descaso envolvendo clientes e os próprios funcionários.

Também em nota, a Brigada Militar informou que prendeu os envolvidos após ser acionada e que o policial envolvido na agressão é “temporário, cuja conduta fora do horário de trabalho será avaliada com todos os rigores da lei”.

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Comentários

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Zé Maria

A Brigada Militar (PM-RS) não tem nada a ver com isso,
mas o PM Assassino está preso no Presídio Militar em PoA.
E é a Brigada que faz os treinamentos dos vigilantes no RS.

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/EnRQ4WRW4AIevgp?format=jpg

“A realidade de negros por aqui é muito diferente da enfrentada por brancos:
enquanto o homicídio de não negros caiu 12% de 2008 a 2018,
o de negros cresceu 11,5% (@forumseguranca)”.

https://twitter.com/isoudapaz/status/1329777034147540998

Zé Maria

A Indignação do Povo Negro é tanta,
que prefere mais morrer de COVID-19
do que apanhando da Polícia Militar.
https://twitter.com/i/status/1329900843961815043

Henrique Martins

https://www.terra.com.br/noticias/eleicoes/marcio-franca-contraria-psb-e-diz-que-ficara-neutro,5cbefdb353aab576b39aff81cd27e8d3pgxtkwdp.html

Mantenha sua posição mesmo meu senhor. Esse tipo de apoio não vai dar sorte para Boulos. Fique longe dele por favor.

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1329899527071993857
Protesto Antirracista em frente ao Carrefour,
em Porto Alegre, onde o Jovem Negro João,
foi assassinado na porta do supermercado.

A manifestação foi convocada por organizações
do movimento negro e demais movimentos sociais.

https://twitter.com/PonteJornalismo/status/1329899527071993857

Zé Maria

Beto foi a Gota D’Água que fez transbordar o Balde.
Os Negros não agüentam mais apanhar da Polícia,
e verem os filhos Assassinados nas Portas de Lojas.

“Após o assassinato de João Freitas no Carrefour de Porto Alegre,
manifestantes ateiam fogo no Carrefour da Pamplona, em São Paulo.

João Freitas foi espancado e assassinado por dois seguranças
na noite de ontem (19), véspera do Dia da Consciência Negra.”

https://twitter.com/J_LIVRES/status/1329906656382160902

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1329895969446637574
“Acontecendo agora um ato no Carrefour da Barra da Tijuca,
no Rio de Janeiro em repúdio ao assassinato de João Alberto
em Porto Alegre. Manifestantes ocuparam e fecharam a loja.”
https://twitter.com/Alma_Preta/status/1329895969446637574

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1329887663122501632
Protesto Antirracista, em frente ao Carrefour,
em Belo Horizonte, Minas Gerais
https://twitter.com/eurenesilva/status/1329887663122501632

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1329884717211119617
“TO AGORA NO CARREFOUR, RIO,
CONTRA A MORTE DE JOÃO ALBERTO
EM PORTO ALEGRE!!!!” #VidasNegrasImportam
#DiadaConscienciaNegra #justicaporbeto

Jandira Feghali
Deputada Federal (PCdoB=RJ)
https://twitter.com/Jandira_Feghali/status/1329884717211119617

“Acontece, neste momento, um ato na Av. Paulista (SP)
para pedir justiça a João Alberto, assassinado na noite
de ontem na porta do Carrefour em Porto Alegre (RS).
A manifestação foi convocada por organizações do
movimento negro, entidades sindicais e os demais
movimentos sociais.”
https://twitter.com/PonteJornalismo/status/1329879925629841417

Zé Maria

Enquanto os Sócios Administradores dessas Empresas
não sentirem ‘na pele’ uma Punição Rigorosa Exemplar, pela
Negligência ao Racismo e Brutalidade de seus Funcionários,
esses Homicídios Dolosos contra Pessoas Negras não param.
Se um Racista é Preso, ‘não dá nada’, contratam tantos outros.

Zé Maria

.
.
Os Projetos de Lei nº 27/1999 (*) e 4842/2001 (Apensado)**,
de Autoria do então Deputado Federal, hoje Senador,
Paulo Rocha (PT=PA) e do Deputado Luiz Alberto (PT=BA),
respectivamente, tramitam na Câmara Federal, para
“acrescentar Artigo à Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
instituindo a responsabilidade penal de pessoas jurídicas
cujos funcionários realizem práticas de racismo”.
Referidos Projetos estão parados na CCP, desde 24/08/2015,
aguardando pedido de desarquivamento (RICD, art. 105).

*(https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=14952)
**(https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=29398)

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