Ângela Carrato: Lula e a verdade histórica sobre Dilma; é hora de sepultar de vez a mentira

Tempo de leitura: 5 min
Arte: Carlos Lopes/Viomundo


LULA E A VERDADE HISTÓRICA

Por Ângela Carrato*

A família Marinho mantém-se firme na oposição a Lula nas pautas que lhe interessa. E os demais veículos da mídia corporativa brasileira farão o mesmo.

Não é simples, para o cidadão comum, em se tratando da mídia corporativa, perceber isto e os interesses aí estabelecidos. Até porque esta mídia sempre foi mestre em apresentar como sendo de todos os interesses que são exclusivamente dela e da classe dominante da qual é parte.

Entender o jogo desta mídia no momento atual exige muita atenção, conhecimento do seu passado e de como ela opera, para não cair na cilada fácil das aparências.

É isso o que pretendo fazer aqui.

Nos países democráticos, é convenção a mídia aguardar os 100 dias de um novo governo para fazer as primeiras críticas e cobranças.

É o tempo considerado minimamente razoável para uma nova gestão se instalar e começar a funcionar.

No Brasil da mídia corporativa golpista, que sempre esteve do lado de ditadores, que passou pano para corruptos e entreguistas e também para o genocida, é no mínimo curioso observar como isso não se aplica.

A complacência com o governo genocida, antipopular e antinacional de Bolsonaro, para não dizer apoio mesmo, foi substituída por pancadaria um tanto velada e outro tanto descarada contra o nascente terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

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Engana-se quem assiste à TV Globo e acha que ela agora é Lula.

Para mudar de ideia, é só ler os editoriais e colunas do jornal O Globo, porta-voz da família Marinho, da Folha de S. Paulo e do Estado de S. Paulo, quando se trata de democracia e da pauta econômica.

Sem dar desconto sequer para o fato de Lula ter conseguido, na segunda semana no poder, derrotar aquilo que parecia impossível – um golpe de estado bancado por terroristas bolsonaristas e por parcela do próprio Exército -, a mídia corporativa parte para o ataque, valendo-se das penas de aluguel de sempre, das carimbadas fontes econômicas e de todo um jogo de cena para enganar bobos.

Depois de Juscelino Kubitschek, em meados dos anos 1950, é a primeira vez que um presidente civil consegue enquadrar o “partido militar”.

Desde a proclamação da República, os militares se consideram uma espécie de “poder moderador”, acima dos demais.

Esse feito, por si só, deveria ser suficiente para Lula ter seu início de terceiro mandato digno dos maiores aplausos.

Mas, para esta mídia, ele está indo longe demais ao propor uma pauta econômica desenvolvimentista, priorizar a integração da América Latina como fator de desenvolvimento para os 33 países da região e, sobretudo, dar nome aos bois, quando chama de golpe o que Dilma Rousseff sofreu em 2016.

Lula está colocando os militares no seu devido lugar, está reposicionando o Brasil no mundo e, sem risco de cometer exageros, acredito que refundando a própria República nos parâmetros do que uma república deve ser.

Os 21 anos de ditadura militar foram seguidos pelo retorno de um frágil e débil poder civil.

Sarney foi tutelado pelos militares. Collor foi uma invenção da classe dominante e da mídia, que não deu certo.

Já FHC, com seu governo neoliberal e entreguista, tornou-se o queridinho da classe dominante, dos “barões da mídia” e dos interesses internacionais.

Os governos que fizeram a diferença foram os dois de Lula e o primeiro de Dilma, porque o segundo dela simplesmente não existiu. Foi inviabilizado pelos golpistas.

Tão fundamental quanto colocar o Brasil de novo no mundo e de retomar o processo de integração da América Latina é reposicionar questões para a compreensão do nosso passado recente, do momento atual e também de aspectos essenciais para o nosso futuro.

Pela narrativa da classe dominante, Dilma foi alvo de impeachment. Seria verdade, se ela tivesse cometido algum crime de responsabilidade. Não cometeu e isso já está mais do que provado. Mesmo assim, a versão do impeachment prevalece na mídia corporativa.

Suas contas foram aprovadas e não se verificou qualquer corrupção ou crime que tenha cometido. As tais “pedaladas”, inventadas pela mídia, nem a própria mídia consegue explicar o que seriam.

Por outro lado, as mentiras, criadas e repetidas incessantemente pela mídia, foram essenciais para aprofundar a ideia de corrupção por parte do PT e retirar Dilma do poder.

É importante lembrar que a classe dominante brasileira já havia perdido quatro eleições seguidas e não tinha qualquer perspectiva de vitória.

O que Dilma enfrentou foi uma campanha pesada dos interesses da classe dominante associada aos interesses internacionais, que consideravam que a presidenta era nociva por ter criado a Comissão da Verdade, sobre os crimes da ditadura, e por defender uma Petrobras forte e o pré-sal como passaporte para o futuro dos brasileiros.

Ninguém pode se esquecer que transformar a Petrobras em vaca leiteira para os interesses internacionais, como fizeram Temer e Bolsonaro, sempre esteve no centro do golpe e contou e conta com os aplausos da Globo, da Folha de S. Paulo e assemelhados.

Recolocar a história no seu devido lugar é essencial para termos a real percepção do que aconteceu. E há uma linha direta entre o golpe contra Dilma e tudo de ruim que se abateu sobre o Brasil desde então.

Mais ainda: Bolsonaro só ficou no poder quatro anos, porque a mídia fez vista grossa para os seus crimes e convenceu parte da população de que “o PT roubou”.

Desmontar a mentira de que Dilma foi alvo de impeachment é o ponto de partida para desconstruir a narrativa sobre corrupção que os golpistas tentaram colar no PT.

Narrativa necessária para que fizessem o resto do serviço: criminalizar e prender Lula, sem provas, por 580 dias, tirá-lo da disputa presidencial em 2018 e apoiar um candidato de sua conveniência, como foi Bolsonaro.

Quando Lula afirma, com todas as letras, que Dilma sofreu um golpe, a mídia cai de pau nele. Ela faz isso por ter enorme culpa no cartório, por não ter e nem pretender fazer qualquer autocrítica.

Lula não disse nenhuma inverdade e, menos ainda, foi precipitado como acreditam pessoas do próprio campo progressista.

A hora para se recolocar a verdade nos trilhos é agora. Uma mentira de tamanha envergadura e tamanho efeito letal, a ponto de quase destruir um país, não pode continuar norteando a vida brasileira.

Mostrar que Dilma foi alvo de um golpe sepulta a narrativa de corrupção por parte do PT e mostra como a classe dominante, por sua ganância e falta de qualquer compromisso social, jogou o Brasil numa crise sem precedentes, além de colocar a nu o modus operandi dos ricos e endinheirados.

Conviver com corrupção e com desumanidade, os ricos sempre conviveram, sem quaisquer problemas. Que o digam as torturas durante a ditadura militar, a corrupção fardada, no passado e no governo Bolsonaro, os genocídios durante a pandemia e o envolvendo a etnia Yanomami.

Onde estavam antes os agora indignados com a fala de Lula em que ele dá nome aos bois?

Os jornalistas Merval Pereira e Dora Kramer, por exemplo, que amavam os tucanos, não aceitam que os golpistas sejam chamados de golpistas. Já os tucanos querem proibir que o golpe seja chamado de golpe.

Qual a credibilidade destes profissionais se observarmos o que fizeram antes e o que falam agora?

Lula sabe o que faz quando força essa turma a sair da toca e revelar sua verdadeira identidade. Claro que estas figurinhas vão continuar atacando-o. Disso não há qualquer dúvida.

Passar a limpo a recente história do Brasil é essencial para seguirmos no caminho da democracia.

É essencial para desmascarar falsos democratas e oportunistas de plantão.

Talvez aí seja possível entender o desespero do golpista Temer. E da própria mídia golpista, que não viu nada de errado quando ele e Bolsonaro retiram direitos trabalhistas e previdenciários da população, privatizaram empresas estratégicas, não perceberam o cano das Lojas Americanas S.A. e menos ainda os “erros” do Banco Central independente do governo, mas de rabo preso com o mercado.

Lula está separando o joio do trigo, uma tarefa gigantesca que apenas dá os seus primeiros passos.

Vai gerar muitos solavancos, mas precisa ser feita e não cabem mais adiamentos.

Será sobretudo pedagógica para os desavisados e os eternos “isentões”, que, no fundo, compactuaram com o horror dos tempos golpistas.

Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG

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Comentários

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Nelson

“Bolsonaro só ficou no poder quatro anos, porque a mídia fez vista grossa para os seus crimes e convenceu parte da população de que ‘o PT roubou’.”

Fosse Leonel Brizola, Lula, Boulos ou Dilma o(a) presidente e estivesse a cometer 5% das barbaridades que Bolsonaro estava cometendo, qual seria a reação dos órgãos da mídia hegemônica e seus comentaristas?

Já faz bastante tempo que faço essa pergunta nos debates que procuro travar com as pessoas.

E não deixo de responder que Globo, Band, Record, SBT, Rede TV, Folha, Estadão, Veja, Istoé, Época, RBS, ZH e etc, estariam, a todo momento, chamando o povo brasileiro a sair às ruas e às praças de todo o país para exigir a derrubada de mais um(a) presidente. Mesmo durante a pandemia, quando estavam proibidas as aglomerações de pessoas.

E volto a questionar as pessoas. Será verdadeira, então, essa história de que a Globo e boa parte da mídia estavam contra Bolsonaro?

Zé Maria

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“Temer pratica ‘ilegítima defesa’
ao rebater acusação de golpe”.
diz ex Advogado Geral da União

“O fato de ter havido um processo de impeachment formal não quer dizer que não tenha havido um golpe”.
“Eu até entendo o ex-presidente Michel Temer falar o que ele fala, que eu chamaria de ‘ilegítima defesa’.
Ele vai sempre se defender dizendo que não participou, mesmo quando as suas próprias entrevistas demonstram que ele reconhece que não houve crime de responsabilidade.”

José Eduardo Cardozo,
ex Advogado Geral da União (AGU),
à Jornalista Mônica Bergamo.
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Zé Maria

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“1) A capa de institucionalidade que revestiu o impeachment da presidenta Dilma não muda o fato de que ela não cometeu crime nenhum.
Foi, sim, vítima de uma falsa acusação e de um golpe político;”

2) O governo q se seguiu implantou, sem ter sido eleito para isso, o teto de gastos contra investimentos na saúde e educação, a supressão de direitos do trabalhador, o desmonte dos instrumentos do Estado p/ o desenvolvimento, privatização selvagem, dolarização dos combustíveis;”

“3) O Brasil paga até hj por aquele período, q abriu caminho p/ o mais nefasto governo da História.
Foi p/ recuperar a democracia ameaçada e reconstruir o país q se formou uma ampla frente em torno de Lula.
Construir alianças pelo bem do país não significa apagar a História.”

GLEISI HOFFMANN
Deputada Federal (PT/PR)
Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT)

https://twitter.com/Gleisi/status/1619058918780706816
https://twitter.com/gleisi/status/1619058920521363456
https://twitter.com/Gleisi/status/1619058922241019904

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/FnfGLt5WYAA6tKQ?format=jpg
https://twitter.com/i/status/1618854443847647233

Independentemente do que falem ou escrevam @s C@lunistas
da Mídia Tucana redundantemente Neoliberal, 2016 FOI GOLPE.
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“Globo, Folha e Estadão se incomodam com Lula falando
que houve um golpe contra a Dilma em 2016.
É que Globo, Folha e Estadão apoiaram aquele golpe, saca?
Aliás, todos que estão incomodados são justamente
os apoiadores e operadores daquele golpe.”
#FoiGolpe
https://twitter.com/DemianBezerra/status/1618301011436933120
.
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“Cheque é uma ordem de pagamento.
Cheque ‘sem fundos’, porém, é um golpe.
Impeachment é um instrumento de controle do poder.
Impeachment sem ‘crime de responsabilidade’, porém, é golpe.
Não se trata de uma questão ‘ideológica’, mas técnica.”

“A questão é saber: teve ou não ‘crime de responsabilidade’?
Aliás, o que é ‘crime de responsabilidade’?
Segundo a lei, quais condutas configuram ‘crime de responsabilidade’?”

Professor Rubens Roberto Rebello Casara
Juiz de Direito (TJ/RJ)
Mestre em Ciências Penais (UCAM)
Doutor em Direito (UNESA)
Fundador do Movimento da Magistratura
Fluminense pela Democracia (MMFD)
Membro da Associação Juizes para a Democracia (AJD)
Escritor, Autor dos Livros:
“A Era Pós-Democrática” (2019) e
“Bolsonaro: o Mito e o Sintoma” (2020)
(https://youtu.be/hiNo0Ampyjs)
https://revistacult.uol.com.br/home/rubens-casara-bolsonaro-o-mito-e-o-sintoma/

https://twitter.com/RCasara/status/1618716079756578816
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“Michel Temer, Marta Suplicy, Merval Pereira, Dora Kramer
e outros querem passar pano e insistir que 2016
não foi Golpe.
Perdem tempo, é inútil.
A história registra que o impeachment sem lastro jurídico
inaugurou uma série de rupturas que nos trouxeram
ao fatídico 08/01/23.”

“… dá pra reconstruir e sempre reafirmar a verdade sobre isso,
memória histórica não é uma fase isolada do todo.

Jurista Carol Proner
Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
Instituto Joaquín Herrera Flores – IJHF

https://twitter.com/CarolProner/status/1618848165461098496
.
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Zé Maria

Excertos

“Pela narrativa da classe dominante [incluindo os Empresários
Donos dos Meios de Comunicação, por intermédio dos quais]
Dilma foi alvo de impeachment.”

“O que Dilma enfrentou foi uma campanha pesada dos interesses
da classe dominante associada aos interesses internacionais,
que consideravam que a presidenta era nociva por ter criado a
Comissão da Verdade, sobre os crimes da ditadura, e por
defender uma Petrobras forte e o pré-sal como passaporte
para o futuro dos brasileiros.”

“Ninguém pode se esquecer que transformar a Petrobras
em ‘vaca leiteira’ para os interesses internacionais, como fizeram
Temer e Bolsonaro, sempre esteve no centro do golpe e contou
e conta com os aplausos da Globo, da Folha de S. Paulo e assemelhados.”

“Conviver com corrupção e com desumanidade, os ricos sempre conviveram,
sem quaisquer problemas.
Que o digam as torturas durante a ditadura militar, a corrupção fardada,
no passado e no governo Bolsonaro, os genocídios durante a pandemia
e o envolvendo a etnia Yanomami.
Onde estavam antes os agora indignados com a fala de Lula em que ele
dá nome aos bois?”
“Os jornalistas Merval Pereira e Dora Kramer, por exemplo, que amavam
os tucanos, não aceitam que os golpistas sejam chamados de golpistas.
Já os tucanos querem proibir que o golpe seja chamado de golpe.”

“Recolocar a história no seu devido lugar é essencial para termos
a real percepção do que aconteceu.
E há uma linha direta entre o golpe contra Dilma [em 2016] e
tudo de ruim que se abateu sobre o Brasil desde então.”

“Passar a limpo a recente história do Brasil é essencial para seguirmos
no caminho da democracia.
É essencial para desmascarar falsos democratas e oportunistas de plantão.”
.
.

    Zé Maria

    .
    .
    Em 2013, ano anterior à Reeleição de Dilma Rousseff,
    um Movimento de Manada Fascista direcionado
    pela Imprensa-Empresa Tradicional (Mídia Venal)
    invadiu o Prédio do Congresso Nacional.

    Essa afronta coordenada contra as Instituições do
    Estado Brasileiro só se distinguiu da Tentativa de
    Golpe de Estado deste ano de 2023, porque naquela
    época não houve Planejamento Estratégico e Logístico
    das Forças Militares do País, como ocorreu agora.

    Parece Estranho que Globo, Folha e Estadão que foram
    Artífices do Golpe de 2016 – que acabou se realizando
    ainda como efeito daquele Movimento Fascista de 2013
    somado à atuação, a partir de 2014, da Força-Tarefa da
    Extrema-Direita Golpista dentro da Operação Lava-Jato,
    sob Coordenação de Sergio Moro e Deltan Dallagnol,
    Juiz e Procurador Suspeitos em Curitiba, no Paraná –
    parece ao menos Curioso que, repita-se, esses mesmos
    Grupos Empresariais de Comunicação que prestaram
    apoio Incondicional à Derrubada da Presidente Dilma
    e à Prisão de Lula, chamem de “Golpistas”, agora, os
    mesmos Golpistas Fascistas (a maioria talvez apenas
    com outros nomes) que invadiram o Congresso.
    .
    .

    Zé Maria

    .
    .
    Em 2016, houve um Golpe de Estado Travestido
    de Processo Constitucional de Impeachment,
    simplesmente porque não houve Crime Nenhum
    da Presidente da República Dilma Rousseff.

    Nem sequer houve as chamadas ‘Pedaladas Fiscais’. *
    .
    .
    * 2016:
    “Perícia do Senado conclui que Dilma não participou
    de pedaladas fiscais e escancara Golpe de Estado”

    https://www.cut.org.br/noticias/pericia-do-senado-conclui-que-dilma-nao-pedalou-e-escancara-golpe-5452
    .
    .
    * 2022:
    “MPF arquiva inquérito sobre ‘pedaladas’
    que levaram ao impeachment de Dilma”

    Além de Dilma e Mantega, também era
    investigado o então secretário do Tesouro,
    Arno Agustin, também inocentado agora.

    A investigação sobre supostas irregularidades em operações de crédito
    entre o Tesouro Nacional e bancos públicos como o BNDES, Banco do Brasil
    e Caixa Econômica Federal no ano de 2015, caso mais conhecido por ‘pedalada
    fiscal’, foi arquivado por deliberação do Ministério Público Federal (MPF).

    As alegadas ‘pedaladas’ basearam o processo de impeachment e culminaram
    no afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff pelo Senado Federal em 2016.

    IC 1.16.000.003555/2016-63

    EMENTA:
    “Assunto: promoção de arquivamento. Inquérito civil.
    Ex-ministro da fazenda. Gestão de contas públicas. Supostas irregularidades.
    Diligências efetuadas. Não comprovação de improbidade administrativa
    ou crime. Fatos analisados pelo Tribunal de Contas da União. Homologação.”

    https://www.conjur.com.br/2022-set-22/mpf-arquiva-inquerito-pedaladas-ligadas-impeachment-dilma
    .
    .
    * 2022
    “TRF-2 EXTINGUE AÇÃO CONTRA DILMA POR PEDALADAS”

    “Decisão Ocorre 6 Anos Após o Impeachment da ex-Presidente”

    Processo 0017202-59.2016.4.02.5101: https://bit.ly/3Y7iL6d

    https://www.conjur.com.br/2022-mar-27/trf-extingue-acao-dilma-rousseff-pedaladas-fiscais
    .
    .
    A VERDADE É QUE, DESDE SEMPRE,

    DILMA VANA ROUSSEFF É INOCENTE.

    Zé Maria

    .
    .
    A Imprensa-Empresa Tradicional (Mídia Venal) não mostra
    explicitamente o Neo-Fascismo, como ele é, porque, quiçá,
    a População encontre Elementos Fascistas nessa Mídia Venal.
    .
    .
    “UM PAÍS EM TRANSE: AS RAZÕES IRRACIONAIS DO FASCISMO”
    (Posfácio do Livro “A Elite do Atraso”)

    “Com o tempo, uma imprensa cínica,
    mercenária, demagógica e corrupta
    formará um público tão vil como ela
    própria.”
    (Joseph Pulitzer)

    “O fascismo sempre foi o ‘plano B’ dos proprietários
    que só pensam no próprio bolso em todos os casos
    históricos relevantes.”

    “A verdadeira elite brasileira, que é a do dinheiro,
    que manda no mercado e que ‘compra’ as outras
    elites que lhes são subalternas, criou o bode
    expiatório da corrupção só da política, como vimos
    anteriormente, para desviar a atenção de sua
    corrupção disfarçada de legalidade.”

    “Toda a sociedade tomou doses diárias desse veneno
    destilado pela mídia, pelas escolas e pela universidade
    e viu, imbecilizada, como não podia deixar de ser, uma
    meia dúzia de estrangeiros e seus capangas brasileiros
    tomarem seu petróleo, sua água, suas terras, seus recursos.”

    “Em nome da moralidade, do combate à corrupção e
    pelo suposto ‘bem do povo brasileiro’, roubaram tudo
    o que puderam e nos deixaram muito mais pobres.”

    Por JESSÉ SOUZA, em seu Blog

    Quando analisei o processo de escrita da primeira edição do livro
    “A Elite do Atraso”, em maio de 2017, o Brasil já entrava de maneira
    decidida no ciclo pós-Golpe de 2013-2016 (*).

    O governo Michel Temer, a serviço precisamente da elite do atraso, passava a vender as riquezas nacionais e a precarizar as condições de trabalho da população com o ataque à CLT, a Consolidação das Leis do Trabalho.

    As consequências vieram rapidamente: empobrecimento geral da população, abandono dos serviços públicos e alto desemprego.

    Como denunciado no livro, a sociedade continuava sendo induzida pela grande imprensa a perceber todo o processo de saque das riquezas nacionais, da rapina do orçamento público e, consequentemente, da diminuição do poder de compra da população como produto apenas da “corrupção dos tolos” – a corrupção do estado e da política.

    Vale lembrar, para o leitor mal-intencionado ou especialmente das intenções de votos de Lula [nas Eleições Presidenciais de 2018].
    Terminado o pleito, Bolsonaro eleito, Sérgio Moro receberia como prêmio ao seu “trabalho” o cargo de superministro das atividades repressivas.

    Ainda que o candidato com pregação fascista não tenha sido o preferencial da elite do atraso – o conjunto dos proprietários sob comando do rentismo internacional –, o fracasso dos seus candidatos “os ciais”, como Geraldo Alckmin, por exemplo, jogou toda a elite nos braços de Bolsonaro.

    Afinal, o fascismo sempre foi o “plano B” dos proprietários que só pensam no próprio bolso em todos os casos históricos relevantes.

    Mesmo que a alternativa fosse uma simples social-democracia leve e superficial como a incorporada pelo Partido dos Trabalhadores.

    O que explicaria o fato de a maioria da nossa sociedade, sob o pretexto de evitar a chegada de um suposto ladrão à presidência, votar num candidato que faz a apologia do assassinato e da tortura de opositores?
    Quem, em sã consciência, poderia julgar como um argumento moralmente válido subordinar o suposto roubo ao assassinato?
    Como compreender que toda uma sociedade e suas crenças sejam postas de cabeça para baixo?
    Como explicar, enfim, o que parece inexplicável?

    A verdadeira elite brasileira, que é a do dinheiro, que manda no mercado e que “compra” as outras elites que lhes são subalternas, criou o bode expiatório da corrupção só da política, como vimos anteriormente, para desviar a atenção de sua corrupção disfarçada de legalidade.

    Toda a sociedade tomou doses diárias desse veneno destilado pela mídia, pelas escolas e pela universidade e viu, imbecilizada, como não podia deixar de ser, uma meia dúzia de estrangeiros e seus capangas brasileiros tomarem seu petróleo, sua água, suas terras, seus recursos.

    Em nome da moralidade, do combate à corrupção e pelo suposto “bem do povo brasileiro”, roubaram tudo o que puderam e nos deixaram muito mais pobres.

    Essa corrupção que se realiza agora de “verdade”, quantitativa- mente, sem nenhum exagero retórico, é literalmente milhares de vezes maior que toda a corrupção política da história brasileira somada.

    Por sua aparência de legalidade, não chamamos de corrupção quando bancos e corporações compram 400 deputados venais para assinar o que eles querem, não é mesmo?

    Só um imbecilizado pensaria que o mero procedimento, aparentemente legal, é mais importante que o resultado concreto do saque.

    Imbecis: é isso que nos tornamos quando acreditamos no engodo do suposto e seletivo combate à corrupção da política como solução para as nossas mazelas.

    Este livro foi escrito precisamente com o intuito de esclarecer a gênese deste processo histórico de dominação simbólica de toda a sociedade brasileira pela elite do saque e da rapina – legitimada e tornada invisível pelo embuste do combate à corrupção só do estado e da política.

    Nesse contexto, a massa da classe média e suas frações mais conservadoras, infelizmente, amplamente majoritárias, acabam por dar vazão ao ódio aos pobres ao mesmo tempo que são exploradas pelo saque rentista.

    Se a elite eterniza seu acesso aos cofres públicos como coisa sua, assalto que sua imprensa comprada comemora como vitória da “austeridade” contra o “populismo”, a classe média quer a garantia de que o povo continue como sempre foi: pobre, humilhado e obediente.

    A classe média não quer só ganhar mais que os pobres. Ela também quer se deliciar com o prazer sádico e covarde que antes era apanágio do senhor de escravos: o gozo da humilhação contra quem não tem defesa e precisa aturar calado a piada, o abuso, o insulto, a humilhação sob todas as suas formas.
    Não é apenas a revolta – mesquinha, mas racional – contra o acesso dos pobres à universidade e por vê-los competir pelo bom emprego.
    É a raiva também de que o pobre possa usar o mesmo avião e comprar a mesma roupa no mesmo shopping center, ainda que a 24 prestações no cartão de crédito com juros abusivos.
    É a raiva por perder a empregada, aquela que é abusada de mil formas, e os trabalhadores sem qualificação, aqueles que não têm outra opção senão vender sua força de trabalho a qual- quer preço e sob qualquer condição. é desse modo que a escravidão e o ódio ao escravo, agora atualizado como ódio ao pobre, continua no âmago do nosso cotidiano.

    Mas se a ampla maioria da classe média sempre foi implicitamente fascista no seu comportamento prático em relação aos pobres, como explicar o avanço do fascismo entre os próprios pobres?

    É preciso lembrar que esse é um fenômeno historicamente recente.

    O fascismo nasce, como no exemplo do italiano, a partir de uma dissidência do movimento operário socialista. É a oposição entre o internacionalismo clássico do movimento dos trabalhadores e o advento do nacionalismo operário que acaba por dividir a classe trabalhadora, fazendo surgir essa espécie brutalizada de reação dos dominados.

    Todo fascismo é, portanto, reflexo de uma luta de classes truncada, percebida de modo distorcido e, por conta disso, violento e irracional no seu cerne.
    Na sua base está a manipulação de emoções que geram agressividade, como medo, raiva, ressentimento e ansiedade sem direção, sempre com fins de manipulação política.

    A incompreensão racional, por parte da população, de processos políticos complexos é utilizada para a construção de bodes expiatórios, um modo historicamente e ciente de canalizar frustração e ressentimentos sociais.

    A marginalização de grupos minoritários e a violência aberta e disseminada, contaminando a sociedade como um todo, são as consequências inevitáveis de todo fascismo.

    Depois da tragédia do nazifascismo europeu, imaginou-se, durante um bom tempo, que o mundo estaria livre de ideologias que pregam abertamente o racismo e o ódio indiscriminado.

    No mundo atual, no entanto, seja em países desenvolvidos, seja em países periféricos, a ameaça de uma nova forma de política do ódio, muito semelhante em vários aspectos ao fascismo clássico, é um perigo cada vez mais iminente.

    Por isso, é crescentemente urgente compreendê-lo de forma adequada.

    Essa compreensão tem que sair dos meios acadêmicos restritos e ganhar a esfera pública.

    O pano de fundo é semelhante em todos os casos, mas a forma assumida é sempre particular em cada sociedade.

    O contexto geral do neofascismo contemporâneo parece resultar do processo de desenraizamento político e social dos indivíduos provocado, na esfera política, pelas mudanças do capitalismo financeiro, hoje dominante.

    Por meio de uma política consciente que destruiu ou enfraqueceu sindicatos, partidos e a capacidade associativa em geral – muito especialmente das classes populares –, o capitalismo financeiro cria o isolamento individual como marca da sociedade contemporânea. Isolado, o indivíduo não apenas pode ser explorado, trabalhar mais ganhando menos, sem direitos trabalhistas.

    Acreditando-se “empresário de si mesmo”, ele é deixado politicamente sem defesa.
    Pior ainda, é também cada vez mais dominado pela propaganda neoliberal que diz que as vítimas do desemprego e do subemprego precário, produzidas por um sistema econômico concentrador e improdutivo, são, elas próprias, as culpadas pelo próprio infortúnio.

    Esse indivíduo isolado e indefeso é assolado por uma agressividade que não compreende e, desse modo, ele ou dirige contra si próprio a raiva que sente por sua própria pobreza e privação ou a canaliza contra bodes expiatórios construídos para este m. o caso brasileiro é paradigmático neste sentido.

    Uma multidão de desempregados e subempregados empobrecidos ao longo de anos de política em favor do rentismo nacional e internacional passa a ter a opção de dirigir sua raiva e seu ressentimento contra si mesma – quando não se entrega, como é comum, ao alcoolismo e à depressão – ou contra bodes expiatórios socialmente aceitáveis.

    Os “belgas”, ou seja, a elite do atraso e a alta classe média “europeizada”, que se veem como estrangeiros na própria terra, oprimiram o “Congo”, ou seja, o próprio povo, e o reduziram à pobreza e à ignorância.
    Se transformou em ódio ao pobre o ódio ao escravo negro – eternizado nas classes populares de hoje, majoritariamente mestiças com escolaridade precária e condenadas ao trabalho desqualificado e semiqualificado.

    Essa é a base primeira de todo o ódio e o ressentimento reprimidos e recalcados que são o núcleo da sociedade brasileira contemporânea.

    A ascensão do Partido dos Trabalhadores a partir dos anos 1980, com todas as suas limitações, foi uma inflexão importante no processo de organização popular.

    Com o golpe de 2013-2016, a reação conservadora veio primeiro de cima, da alta classe média nas ruas, da sistemática corrosão de valores democráticos diariamente perpetrada pela imprensa, da cooptação do STF e, por consequência, da destruição da ordem constitucional.

    Foi dito a este povo que a corrupção política havia sido a causa do nosso empobrecimento.

    Entretanto, quando a corrupção dos partidos de elite fica óbvia a todos sem ser reprimida, todo o sistema perde representatividade.

    O golpe de misericórdia foi a prisão injusta do líder das classes populares desmobilizadas.

    Com base em um processo de aparência, o ex-presidente Lula foi impedido de participar das últimas eleições [de 2018].
    Naquele momento, o último elo de expressão racional da revolta popular foi cortado.

    Abriu-se a partir daí a porta para a revolta agora irracional das massas.

    A ascensão do líder com pregação abertamente fascista, Jair Bolsonaro, defensor da ditadura militar, do racismo, da tortura e do assassinato de opositores como arma política, só pode ser compreendida neste contexto.

    O próprio fato de, no governo do Partido dos Trabalhadores, dezenas de milhões de marginalizados terem a experiência do acesso à educação superior e ao consumo de massa, além da expansão de direitos para negros, mulheres e gays, causou violenta reação autoritária.

    Primeiro, de parte da elite e da alta classe média, evidenciada pelo desprezo e pelo ódio ao pobre que caracteriza qualquer sociedade marcada pela escravidão.

    Depois, pela ação de fake news em escala industrial no período eleitoral.

    As necessidades emocionais de um povo tornado pobre e ignorante por sua elite são impiedosamente estimuladas por 400 mil robôs em um tipo de guerra suja já utilizada para a eleição do presidente americano Donald Trump.

    Quando da onda de protestos das mulheres brasileiras sob a bandeira do #EleNão, em todas as grandes cidades do país, contra um candidato abertamente misógino que se diz defensor da subordinação das mulheres, as fake news foram utilizadas para construir mentiras que mudaram o panorama eleitoral a favor do candidato fascista também nas classes marginalizadas e pobres.

    Os protestos sob as palavras de ordem “ele não”, majoritariamente compostos pelas mulheres da classe média mais crítica e engajada, possibilitaram a cooptação do voto feminino das classes populares, última cidadela contra a “ética da virilidade” do fascismo popular.

    Antes disso, o candidato fascista tinha rejeição ampla do voto feminino nessas classes.

    Aqui entra em cena o que há de mais sujo na política das fake news e da mentira institucionalizada.

    Analistas de ultradireita da campanha fascista, que perceberam as consequências do isolamento político dos indivíduos que o capitalismo financeiro representa na esfera política, se aproveitaram impiedosamente desse fato para opor mulheres emancipadas da classe média contra as mulheres pobres e evangélicas, por meio da fusão de imagens reais da passeata com imagens de outros atos, como travestis quebrando santos, mulheres sem blusa, etc.

    Afinal, para quem é pobre e humilhada, o ganho emocional proporcionado pela distinção moral construída artificialmente em relação a mulheres supostamente “indecentes”, por meio de mentiras que não podem ser desmentidas, se torna irresistivelmente sedutor.

    É uma “vingança de classe” – obviamente distorcida e contra a fração errada da classe média – que acaba por funcionar como uma válvula de escape contra a pobreza e a humilhação vividas diariamente por essas mulheres.

    Como já discuti em um livro anterior, a partir de pesquisas empíricas realizadas com os segmentos mais pobres da sociedade brasileira, a oposição “pobre honesto” versus “pobre delinquente” dificulta enormemente qualquer solidariedade de classe entre os mais pobres e marginalizados entre nós.
    O “delinquente” é percebido como o “bandido”, no caso do homem, e a “prostituta”, no caso da mulher.

    Todas as famílias das classes marginalizadas são esgarçadas por essa oposição cuja sombra se derrama sobre todos.

    A importância de líderes políticos que as representem a partir de cima e busquem diminuir a importância dessa contradição interna de classe com uma política pelos interesses de todos os pobres advém precisamente desse fato que comprovamos empiricamente em nosso estudo sobre os marginalizados brasileiros. É isso que o ex-presidente Lula representava.

    Sem isso, a porta fica aberta para a guerra de classe entre os próprios miseráveis, divididos entre os supostos honestos e supostos delinquentes.

    É nesse contexto que a “ética da virilidade”, entendida como a ética dos que não têm ética, reina absoluta.

    O fascismo arregimenta a partir de cima os ressentimentos, medos e ansiedades sem explicação possível e os canaliza a bodes expiatórios. o sentimento antes disseminado pela grande imprensa contra o Partido dos Trabalhadores como covil da corrupção é apenas o mais óbvio.

    Mas todo fascismo usa e abusa da sexualidade reprimida das classes populares.

    A homossexualidade, que não pode ser admitida no sujeito, é canalizada em selvagem agressão externa;
    o ódio à mulher percebida como ameaça, e não como parceira, provoca uma agressiva regressão a padrões primitivos de relações de gênero.

    O pobre não é apenas pobre. Ele é humilhado e dominado por valores construídos para subjugá-lo.

    Isso confere ao fascismo enorme capilaridade e contamina a vida familiar e relações de vizinhança em todos os níveis da sociabilidade popular.

    O que os pobres precisariam saber é por que eles ficaram mais pobres.

    Caso contrário, a raiva e a frustração em estado puro iriam, como foram, inevitavelmente, desaguar no primeiro bode expiatório socialmente legitimado.

    Primeiro o PT, criminalizado e estigmatizado como todas as organizações populares no Brasil [MST, MTST, Centrais Sindicais, etc]. Mas também os gays, os negros, os índios, [os ambientalistas,] as mulheres, os nordestinos e todos que possam se tornar presas fáceis de uma agressividade sem direção.

    Os mecanismos opacos da dominação financeira, sejam os de mercado, como os juros escorchantes embutidos em tudo que compramos, sejam as formas estatais de apropriação do orçamento público como uma dívida pública fraudulenta e nunca auditada, precisam ser conhecidos e debatidos amplamente.

    Essa grande corrupção legalizada precisa ser tornada conhecida.

    Se isso não acontecer, o velho espantalho da corrupção política irá inevitavelmente ocupar o seu lugar.

    O erro da esquerda, que condicionou sua derrota eleitoral, foi precisamente este.

    A espantosa falta de inteligência dos dois principais candidatos da “esquerda” nas últimas eleições [de 2018] foi, precisamente, não terem percebido o elo constitutivo entre o empobrecimento geral da população e sua transfiguração em limpeza moral a serviço do interesse geral.

    Simplesmente não foi revelado à população empobrecida e, portanto, legitimamente raivosa e ressentida com seus representantes, o elo causal que teria permitido compreender a ligação entre o aumento do desemprego, da violência e da pobreza e o embuste da estratégia legitimadora elitista.

    Ambos defenderam a operação Lava Jato e apenas criticaram “abusos menores”.

    Isso em relação a uma operação de suposto combate à corrupção que literalmente blindou o sistema financeiro – a origem real da corrupção tanto ilegal quanto legalizada –, os órgãos da mídia venal e o poder judiciário como um todo.
    Além disso, se concentrou, seletivamente, na perseguição sem provas a líderes populares, como Lula, e no combate de fachada aos meros “operadores” de esquemas legais e ilegais de apropriação do estado pelos donos do mercado.

    Desde o fim da República Velha, o moralismo postiço do suposto combate à corrupção, elevado ao status de interpretação dominante do país, e a criminalização seletiva da política, do estado e da soberania popular servem à eternização desse modelo e seus dois fundamentos principais:
    tornar o orçamento do estado um banco particular da elite;
    criminalizar sob todas as formas a soberania popular.

    Este bode expiatório da corrupção apenas da política, que detém seu quinhão de verdade – ou não enganaria ninguém – serve para tornar literalmente invisível a corrupção legalizada do mercado.

    Um exemplo concreto ajuda a tornar compreensível o embuste.

    Ninguém em sã consciência deixaria de achar condenável a rapina pessoal do ex-governador Sérgio Cabral e seus 280 milhões de reais desviados e descobertos pela operação Lava Jato.
    No entanto, a população do estado do Rio de Janeiro ficou mais pobre não por conta desses desvios. é um ato recriminável, sem sombra de dúvida, e merece punição exemplar.

    Mas o que empobreceu de fato o estado do Rio de Janeiro foi a propaganda da imprensa venal associada à Lava Jato na campanha de criminalização da Petrobras, empresa de cujos royalties o estado inteiro dependia.

    Não apenas o Rio de Janeiro precisava deles para obras de infraestrutura geradoras de emprego e pagamento de serviços públicos, como o país como um todo dependia da capacidade de investimento da Petrobras, que chegou a representar mais de 50% do investimento público nacional.

    A perda aqui é na escala de centenas de bilhões de reais todos os anos, montante suficiente para empobrecer e desempregar, efetivamente, populações inteiras.

    A superfície aparentemente legal desse expediente permite tornar invisível a histórica expropriação elitista das riquezas nacionais e ainda culpar convenientemente um bode expiatório.

    Legitimada, a patranha elitista pode ser eternizada séculos a fio sem reação e sem denúncia.

    Estigmatizada e criminalizada enquanto empresa, a Petrobras está prestes a ser vendida a preço de banana [pelo Governo Guedes/Bolsonaro], tal como acontece em todo saque privado às riquezas públicas desde que o Brasil é Brasil.

    Ao entrevistar recentemente, para meu último livro, “A classe Média no Espelho”, ex-engenheiros da Petrobras que perderam o antigo emprego e se transformaram em motoristas de Uber, todos me disseram que a culpa de sua desgraça pessoal seria da “política” e do “Cabral”.

    Foi o que aconteceu com a população brasileira como um todo. a invisibilidade desse processo é obviamente ainda maior nas parcelas mais pobres da população.

    Quando a esquerda não denuncia este esquema elitista e, ao contrário, o legitima e valida expressamente, no elogio a Moro e à Lava Jato, me pergunto como pretende não só ganhar eleições, mas também esclarecer a sua população sobre as causas reais de sua desventura e exploração?

    Neste contexto, imaginar que a oposição abstrata entre democracia e fascismo – quando a maioria do povo já vive um “fascismo prático” de violência e exclusão – pode criar comoção e simpatia para sua causa, sem explicar as causas da pobreza real, é de uma ingenuidade atroz.

    https://jessesouza.com.br/artigos/umpaisemtranse

    JESSÉ SOUZA é graduado em direito e mestre em sociologia pela Universidade de Brasília, a UnB, doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e fez pós-doutorado em psicanálise e filosofia na New School for Social Research, em Nova York.
    Atualmente é professor titular de sociologia da Universidade Federal do ABC.

    É autor de mais de 20 livros e de artigos e ensaios em vários idiomas.
    Entre seus maiores sucessos literários, se destacam:

    “A Tolice da Inteligência Brasileira”;
    “Subcidadania Brasileira”;
    “A Elite do Atraso”;
    “A Ralé Brasileira”;
    “A Classe Média no Espelho”;
    “Os Batalhadores Brasileiros”; e

    “A Radiografia do Golpe:
    Entenda Como e Por quê Você Foi Enganado”
    *(https://books.google.com.br/books?id=gKVYDwAAQBAJ).

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Celso Junqueira

Tudo o que aconteceu de 2016 em diante tinha como objetivo o petróleo do pré-sal, cobiçado pelas petroleiras estrangeiras. Mas para isso, era preciso tirar a pres. Dilma e impedir o Luiz Inácio de disputar a eleição. Dilma foi afastada sem ter cometido crime e a Lava-Jato cuidou de prender Lula, com o STF de braços cruzados. O programa de cooperação com a França para a construção de um submarino nuclear e quatro convencionais para monitorar o pré-sal foi para o espaço e a 4a. frota usamericana, desativada no final da 2a. Guerra foi reativada e passou a “vigiar” o pré-sal, que foi retalhado e entregue às petroleiras estrangeiras. Depois disso, Lula podia ser solto e ser presidente, pois o que “eles” queriam já tinham conseguido.

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