Washington não pode proclamar González, alertam Manuel Domingos, Roberto Amaral e José Genoino

Tempo de leitura: 3 min
Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA. Foto: Rede social de Blinken

Washington não pode proclamar González

Por Manuel Domingos Neto, Roberto Amaral e José Genoino Neto*

A política tem sua lógica, nem sempre clara à primeira vista, notadamente em tempo de mudanças radicais.

Está em curso a mais espetacular virada desde a queda de Roma. A supremacia anglo-saxã, imposta paulatinamente desde as circunavegações e revoluções burguesas, busca sobrevida perante a arrancada, até há pouco implausível, de desafiantes poderosos.

Os sinais de hecatombe se anunciam com a exibição de instrumentos de destruição em massa, o cerco à Rússia, a concentração de arsenais em torno da China, o estimulado ressurgimento da capacidade militar da Alemanha e do Japão, a tentativa de naturalização do genocídio em Gaza, os massacres incontáveis e invisíveis de africanos, a ardilosa capacidade de manipulação de comportamentos de indivíduos, sociedades e Estados pelas novas mídias e pelos múltiplos estímulos à bestialidade neonazista.

Ontem à tarde, Washington avisou aos latino-americanos: percam as ilusões de autonomia, domínio da riqueza própria, desenvolvimento integrado, respeito aos direitos humanos, superação de valores racistas e patriarcais, reconhecimento de povos originários e vida social em harmonia com a natureza: nada disso nos interessa, o mundo é dos fortes e nós somos os fortes.

Washington não se move por nossos interesses.

Anthony Blinken, em outras palavras, encarnou a religiosidade consagrada em 4 de julho de 1776, segundo a qual o novo país seria terra da promissão e, por mandato divino, surgira para dominar o mundo.

Encarnou também o recado de Monroe, emitido em 1823, segundo o qual ninguém d’além-mar se metesse em terras americanas.

Pleno de autoridade, Blinken declarou encerrada as eleições na Venezuela e proclamou eleito Edmundo González.

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Santificou os baderneiros à soldo de golpistas, atribuindo-lhes a condição de cidadãos de bem. Exigiu que as forças da lei não reprimissem o quebra-quebra terrorista.

Diante de um governo venezuelano envolto em procedimentos eleitorais demorados e de líderes latino-americanos demasiado prudentes, para não dizer desavisados, Washington atribuiu-se poderes de junta eleitoral no país que abriga a maior reserva de petróleo do mundo, projeta-se sobre o Atlântico e o Pacífico e é porta de entrada para a Amazônia.

Anthony Blinken ungiu-se da condição de porta-voz do povo venezuelano e da “comunidade internacional”. Ditou regras para “uma transição transparente” do poder na Venezuela.

Com uma penada, jogou ao córner tratativas de entendimento com os maiores países latino-americanos: Brasil, México e Colômbia. Deixou três respeitáveis líderes democratas na condições de atores irrelevantes.

Trata-se de intervenção direta, sem meneios.

A arrogância desmesurada acaba prestando serviços aos latino-americanos: alerta os crédulos na profissão de fé democrática dos candidatos a donos do mundo.

Não há grandes novidades no processo vivido pela Venezuela. Muitos imaginavam que a lisura das eleições seria o grande objetivo de Washington.

Preferiam esquecer o longo rol de intervenções que, desde o século XIX, impossibilitaram o exercício efetivo da soberania, a estabilidade política, o desenvolvimento socioeconômico, as reformas sociais e a integração latino-americana.

Depositaram fé em bons propósitos de quem se acredita credenciado por Deus a organizar a vida no Planeta.

Os democratas e reformistas sociais latino-americanos estão diante de duas opções: acatar a sina de colono submisso ou rejeitar a vontade imperialista.

Não se trata de apoiar ou rejeitar Maduro ou Gonzáles. Trata-se de defender a soberania venezuelana e, por extensão, a soberania dos países latino-americanos, lembrando que nenhum deles pode se defender sozinho.

Não se trata, ainda, de simpatizar ou não com programas governamentais que afetem a vida do povo venezuelano, eternamente saqueado pelo Império.

Trata-se simplesmente do direito de cada Estado definir com autonomia suas políticas públicas e erradicar de vez a condição de Washington de xerife e tribunal do mundo.

A carência de petróleo de Washington não pode ser resolvida através da guerra. Aliás, a guerra amplia desmesuradamente tal carência.

A ordem mundial será digna quando as práticas de pilhagem forem substituídas por negócios vantajosos para as partes interessadas.

Essa proposição se choca com a experiência histórica, mas não podemos deixar de sonhar com um mundo de paz.

Não existem perspectivas alvissareiras para a América Latina sem a formação de uma grande corrente que conjugue a luta contra o imperialismo com a luta pela democracia e por reformas sociais.

A integração de esforços da América Latina não pode ser postergada.

Não vivemos numa ilha isenta das turbulências planetárias. Podemos entrar subitamente no olho do furacão provocado pela mudança da ordem mundial.

As pretensões de Washington estão nos conduzindo neste sentido. É hora de nosso subcontinente tomar decididamente partido contra a presunção da unipolaridade.

A política tem lógica e a intervenção estadunidense na Venezuela escancara as pretensões imperiais dos Estados Unidos.

Washington não tem direito de proclamar González presidente da Venezuela.

Defendendo o povo e o Estado venezuelano, defenderemos os povos do mundo.

Manuel Domingos Neto é doutor em História pela Universidade de Paris. Autor de O que fazer com o militar – Anotações para uma nova Defesa Nacional (Gabinete de Leitura)

*Roberto Amaral foi presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula. É autor do livro História do presente- conciliação, desigualdade e desafios (Editora Expressão Popular e Books Kindle).

*José Genoino é ex-deputado federal.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Zé Maria

.

“É o Petróleo, Estúpido!”

“O Elo entre Golpe na Venezuela,
Petroleiras e Bancos Norte-Americanos,
Trump, Olavo, Bolsonaro, Neofascistas,
Ultraliberais, Globo” …

Por Plínio Teodoro, na Revista Fórum (*)

Guru do neofascismo no Brasil e autor de O Imbecil Coletivo (1996)
— um prenúncio da horda que criaria no país —, Olavo de Carvalho
usou a tese do “teatro das tesouras” para explicar, segundo ele,
uma falsa oposição entre PSDB e PT, que teriam como objetivo comum
a alternância no poder.

A tese, propagada pelo clã Bolsonaro para cooptar a camada que
se julga mais “intelectualizada” da horda bolsonarista, no entanto,
poderia ser usada para explicar o picadeiro que existe na relação
entre a ultradireita neofascista e os atores do sistema financeiro
neoliberal, que atuam para concentrar ainda mais riqueza nas mãos
de bilionários e aprofundar o fosso da desigualdade.

No Brasil, a face mais aparente desse “teatro das tesouras” é o cênico embate entre Jair Bolsonaro e seus asseclas contra a Rede Globo,
da família Marinho, e a mídia [neo]liberal.

Bolsonaro, que sempre defendeu o nacionalismo econômico e era contra
a privatização da Petrobrás, só recebeu aval da mídia liberal para ser o
“anti-Lula” em 2018, quando acatou a indicação de Paulo Guedes como
tutor da economia brasileira.

Guedes é membro fundador do Instituto Millenium, think tank ultraliberal financiado por Globo, Estadão, Editora Abril e bancos transnacionais,
como o Merrill Lynch, comprado pelo Bank of America em 2008.

Nos quadros do ultraliberal Instituto Millenium podem ser encontrados nomes como Rodrigo Constantino, Ali Kamel, Demétrio Magnoli,
Merval Pereira, Carlos Alberto Sardenberg, Pedro Malan, entre outros.
Além de Guedes, o instituto lista como especialistas Ives Gandra Martins, Hélio Beltrão e até (pasme!) Marcelo Madureira — sim, o ex-Casseta & Planeta.

No governo, Guedes e Bolsonaro privatizaram 54 ativos da Petrobrás.
Foi o maior montante desde o golpe de 2016 aplicado em Dilma Rousseff
por Michel Temer, que teve como pano de fundo a aliança com a Lava Jato
na sanha de entregar a estatal de petróleo brasileiro.

Vale lembrar que o projeto de privatização tem origem na “PetroBrax”,
mudança proposta por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ainda no
ano 2000, e foi promessa do também tucano José Serra, quando
candidato à Presidência em 2002 [contra Lula] e 2010 [contra Dilma].

Informações vazadas pelo WikiLeaks à época mostraram que Serra
prometeu à então diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações
com o Governo da Chevron, Patrícia Pradal, alterar as regras de exploração
do pré-sal para entregar tudo à petroleira norte-americana.

Os interesses da Globo – e dos financistas bilionários dos quais é porta-voz
– seguem nos dias atuais.

Apontado como “terceira via” para 2026, Tarcísio Gomes de Freitas vem sendo indagado sobre o “futuro” da estatal brasileira.

Em entrevista à GloboNews no dia 24 de julho para celebrar a entrega
da Sabesp ao Grupo Equatorial [- o mesmo que se apropriou da Companhia
Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE) no Rio Grande do Sul],
o governador paulista foi perguntado pelo “analista de economia” da Globo
Daniel Sousa sobre “sua visão de futuro”.

“O senhor considera que existe espaço para a privatização avançar mais
no Brasil, qual a importância da privatização? Talvez, no longo prazo,
o Brasil avançar para uma privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil. Qual é a sua visão mais ampla, mais agregada da privatização?”, disparou
o “analista”.
Tarcísio, então, lançou o compromisso: “há espaço para avançar mais
nas privatizações”.

O “teatro das tesouras” entre o fascismo e o sistema financeiro também é
retratado pela mídia [neo]liberal na questão sobre a [impropriamente denominada] ‘ditadura’ de Nicolás Maduro e nas eleições na Venezuela.

O país está situado sobre as maiores reservas de petróleo do mundo,
estimadas em 303,8 bilhões de barris — 18% do total das reservas provadas
do “ouro negro” no planeta.

Para termos comparativos, o Brasil ocupa a 16ª posição no ranking, com
11,9 bilhões de barris.

Desde o início da chamada Revolução Bolivariana, iniciada por Hugo Chávez
em 1999, a Venezuela passou a usar a riqueza do petróleo para financiar as
chamadas “missões”, que têm por princípio usar os recursos da petroleira estatal PDVSA para reduzir a pobreza e financiar a educação — similarmente
ao que foi proposto por Dilma Rousseff em 2013 com o pré-sal.

Desde então, a Venezuela virou alvo da aliança midiática financista, que financia grupos ligados à burguesia do país, que de tempos em tempos
— geralmente durante os processos eleitorais [senão o tempo inteiro] — buscam colocar um golpe em marcha.

As sanções impostas pelos Estados Unidos da América, onde atua o truste transnacional do petróleo, sufocou o êxito inicial da Revolução Bolivariana.
Principalmente as impostas por Donald Trump em 2019, para sufocar os
venezuelanos.

No entanto, milhões de venezuelanos beneficiados e educados pelo regime
chavista têm claro na memória os interesses do chamado “imperialismo”
e sabem que uma aventura com a ultradireita burguesa — que vive
literalmente em Miami — vai solapar as missões e entregar a maior riqueza
do país aos interesses do sistema financeiro.

Chevron e Corina
Filha de Enrique Machado Zuloaga, um dos maiores empresários venezuelanos, falecido em janeiro de 2023, María Corina Machado,
a atual líder da oposição ao governo Nicolás Maduro, é herdeira
de um império siderúrgico – a Sivensa, que se tornou a primeira
exportadora privada não petroleira do país antes da Revolução
Bolivariana, ainda nos anos 1990.

Com Chávez no poder, as falcatruas da família Machado foram descobertas
e parte da empresa foi nacionalizada.

À época, María Corina já recebia dinheiro do National Endowment for
Democracy (NED), instituição dos EUA criada nos anos 1980 para atuar
na política externa estadunidense, por meio da ONG Súmate, destinada
a “monitorar eleições na Venezuela” e articuladora do frustrado golpe
contra Chávez em 2002.

María Corina tem ligações estreitas com a família Bush — a principal
lobista das petrolíferas internacionais e avalista das “guerras em nome
da democracia” perpetradas em países produtores do óleo pelo mundo.

Uma das principais promessas de María Corina durante sua pré-candidatura — barrada por ter sido inabilitada em 2015 a ocupar cargos públicos — foi justamente privatizar a PDVSA.

Em meio à pré-campanha, a Telesur TV divulgou documentos que mostram
que Corina estaria negociando a entrega da PDVSA à Chevron em troca de
uma “ajuda” eleitoral no valor de US$ 3,2 milhões.

Com sede nos EUA, a Chevron foi a principal beneficiada pela política de
Joe Biden que, [diante da escassez mundial de petróleo e gás, devido ao Conflito Russo-Ucraniano,] começou a levantar as sanções impostas à
Venezuela por Donald Trump, em 2019.

No último dia 17, às vésperas da eleição, a Assembleia Nacional venezuelana [Poder Legislativo da Venezuela] aprovou a prorrogação por 15 anos da
atuação da empresa mista Petroindependiente, subsidiária que pertence majoritariamente à PDVSA (60%) mas tem participação de 34% da Chevron.

A petrolífera estadunidense ainda tem participação em outras empresas
mistas do setor no país, como Petropiar e Petroboscán.

No entanto, para fazer a exploração, a Chevron deve pagar 33% de royalties
para a PDVSA e 50% de imposto de renda para o Estado.

Apesar de lucrar no acordo entre os governos Maduro e Joe Biden,
a Chevron tem ambição maior na Venezuela: controlar totalmente
as maiores reservas de petróleo do mundo.

Para isso, conta com a privatização de Corina e seus aliados, que teriam
um apoio ainda maior com Donald Trump no poder.
Em discurso durante a Convenção do Partido Republicano em junho, o
ex-presidente falou de seus planos no passado, apontando para o futuro
caso vença as eleições para a Casa Branca em novembro próximo.

“Quando eu saí, a Venezuela estava prestes a colapsar.
Nós teríamos tomado o país e pegado todo aquele petróleo.
Seria ótimo”, afirmou.

Parafraseando James Carlile, marqueteiro da campanha de Bill Clinton
à Presidência dos EUA em 1992: “é o petróleo, estúpido!”
Ou melhor, a privatização do petróleo, que coloca Trump, Corina, Bolsonaro,
Globo e atores do neofascismo neoliberal juntos no palco para encenar
o “teatro das tesouras”.

Leia Artigos e Reportagens na Edição Nº 122 da Revista Fórum:
*(https://semanal.revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2024/08/Revista-Forum-122-2.8.2024.pdf)

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Zé Maria

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“É o Petróleo, Estúpido!”

“O Elo entre Golpe na Venezuela,
Petroleiras e Bancos Norte-Americanos,
Trump, Olavo, Bolsonaro, Neofascistas,
Ultraliberais, Globo” …

Por Plínio Teodoro, na Revista Fórum (*)

Guru do neofascismo no Brasil e autor de O Imbecil Coletivo (1996)
— um prenúncio da horda que criaria no país —, Olavo de Carvalho
usou a tese do “teatro das tesouras” para explicar, segundo ele,
uma falsa oposição entre PSDB e PT, que teriam como objetivo comum
a alternância no poder.

A tese, propagada pelo clã Bolsonaro para cooptar a camada que
se julga mais “intelectualizada” da horda bolsonarista, no entanto,
poderia ser usada para explicar o picadeiro que existe na relação
entre a ultradireita neofascista e os atores do sistema financeiro
neoliberal, que atuam para concentrar ainda mais riqueza nas mãos
de bilionários e aprofundar o fosso da desigualdade.

No Brasil, a face mais aparente desse “teatro das tesouras” é o cênico embate entre Jair Bolsonaro e seus asseclas contra a Rede Globo,
da família Marinho, e a mídia [neo]liberal.

Bolsonaro, que sempre defendeu o nacionalismo econômico e era contra
a privatização da Petrobrás, só recebeu aval da mídia liberal para ser o
“anti-Lula” em 2018, quando acatou a indicação de Paulo Guedes como
tutor da economia brasileira.

Guedes é membro fundador do Instituto Millenium, think tank ultraliberal financiado por Globo, Estadão, Editora Abril e bancos transnacionais,
como o Merrill Lynch, comprado pelo Bank of America em 2008.

Nos quadros do ultraliberal Instituto Millenium podem ser encontrados nomes como Rodrigo Constantino, Ali Kamel, Demétrio Magnoli,
Merval Pereira, Carlos Alberto Sardenberg, Pedro Malan, entre outros.
Além de Guedes, o instituto lista como especialistas Ives Gandra Martins, Hélio Beltrão e até (pasme!) Marcelo Madureira — sim, o ex-Casseta & Planeta.

No governo, Guedes e Bolsonaro privatizaram 54 ativos da Petrobrás.
Foi o maior montante desde o golpe de 2016 aplicado em Dilma Rousseff
por Michel Temer, que teve como pano de fundo a aliança com a Lava Jato
na sanha de entregar a estatal de petróleo brasileiro.

Vale lembrar que o projeto de privatização tem origem na “PetroBrax”,
mudança proposta por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ainda no
ano 2000, e foi promessa do também tucano José Serra, quando
candidato à Presidência em 2002 [contra Lula] e 2010 [contra Dilma].

Informações vazadas pelo WikiLeaks à época mostraram que Serra
prometeu à então diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações
com o Governo da Chevron, Patrícia Pradal, alterar as regras de exploração
do pré-sal para entregar tudo à petroleira norte-americana.

Os interesses da Globo – e dos financistas bilionários dos quais é porta-voz
– seguem nos dias atuais.

Apontado como “terceira via” para 2026, Tarcísio Gomes de Freitas vem sendo indagado sobre o “futuro” da estatal brasileira.

Em entrevista à GloboNews no dia 24 de julho para celebrar a entrega
da Sabesp ao Grupo Equatorial [- o mesmo que se apropriou da Companhia
Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE) no Rio Grande do Sul],
o governador paulista foi perguntado pelo “analista de economia” da Globo
Daniel Sousa sobre “sua visão de futuro”.

“O senhor considera que existe espaço para a privatização avançar mais
no Brasil, qual a importância da privatização? Talvez, no longo prazo,
o Brasil avançar para uma privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil. Qual é a sua visão mais ampla, mais agregada da privatização?”, disparou
o “analista”.
Tarcísio, então, lançou o compromisso: “há espaço para avançar mais
nas privatizações”.

O “teatro das tesouras” entre o fascismo e o sistema financeiro também é
retratado pela mídia [neo]liberal na questão sobre a [impropriamente denominada] ‘ditadura’ de Nicolás Maduro e nas eleições na Venezuela.

O país está situado sobre as maiores reservas de petróleo do mundo,
estimadas em 303,8 bilhões de barris — 18% do total das reservas provadas
do “ouro negro” no planeta.

Para termos comparativos, o Brasil ocupa a 16ª posição no ranking, com
11,9 bilhões de barris.

Desde o início da chamada Revolução Bolivariana, iniciada por Hugo Chávez
em 1999, a Venezuela passou a usar a riqueza do petróleo para financiar as
chamadas “missões”, que têm por princípio usar os recursos da petroleira estatal PDVSA para reduzir a pobreza e financiar a educação — similarmente
ao que foi proposto por Dilma Rousseff em 2013 com o pré-sal.

Desde então, a Venezuela virou alvo da aliança midiática financista, que financia grupos ligados à burguesia do país, que de tempos em tempos
— geralmente durante os processos eleitorais [senão o tempo inteiro] — buscam colocar um golpe em marcha.

As sanções impostas pelos Estados Unidos da América, onde atua o truste transnacional do petróleo, sufocou o êxito inicial da Revolução Bolivariana.
Principalmente as impostas por Donald Trump em 2019, para sufocar os
venezuelanos.

No entanto, milhões de venezuelanos beneficiados e educados pelo regime
chavista têm claro na memória os interesses do chamado “imperialismo”
e sabem que uma aventura com a ultradireita burguesa — que vive
literalmente em Miami — vai solapar as missões e entregar a maior riqueza
do país aos interesses do sistema financeiro.

Chevron e Corina
Filha de Enrique Machado Zuloaga, um dos maiores empresários venezuelanos, falecido em janeiro de 2023, María Corina Machado,
a atual líder da oposição ao governo Nicolás Maduro, é herdeira
de um império siderúrgico – a Sivensa, que se tornou a primeira
exportadora privada não petroleira do país antes da Revolução
Bolivariana, ainda nos anos 1990.

Com Chávez no poder, as falcatruas da família Machado foram descobertas
e parte da empresa foi nacionalizada.

À época, María Corina já recebia dinheiro do National Endowment for
Democracy (NED), instituição dos EUA criada nos anos 1980 para atuar
na política externa estadunidense, por meio da ONG Súmate, destinada
a “monitorar eleições na Venezuela” e articuladora do frustrado golpe
contra Chávez em 2002.

María Corina tem ligações estreitas com a família Bush — a principal
lobista das petrolíferas internacionais e avalista das “guerras em nome
da democracia” perpetradas em países produtores do óleo pelo mundo.

Uma das principais promessas de María Corina durante sua pré-candidatura — barrada por ter sido inabilitada em 2015 a ocupar cargos públicos — foi justamente privatizar a PDVSA.

Em meio à pré-campanha, a Telesur TV divulgou documentos que mostram
que Corina estaria negociando a entrega da PDVSA à Chevron em troca de
uma “ajuda” eleitoral no valor de US$ 3,2 milhões.

Com sede nos EUA, a Chevron foi a principal beneficiada pela política de
Joe Biden que, [diante da escassez mundial de petróleo e gás, devido ao Conflito Russo-Ucraniano,] começou a levantar as sanções impostas à
Venezuela por Donald Trump, em 2019.

No último dia 17, às vésperas da eleição, a Assembleia Nacional venezuelana [Poder Legislativo da Venezuela] aprovou a prorrogação por 15 anos da
atuação da empresa mista Petroindependiente, subsidiária que pertence majoritariamente à PDVSA (60%) mas tem participação de 34% da Chevron.

A petrolífera estadunidense ainda tem participação em outras empresas
mistas do setor no país, como Petropiar e Petroboscán.

No entanto, para fazer a exploração, a Chevron deve pagar 33% de royalties
para a PDVSA e 50% de imposto de renda para o Estado.

Apesar de lucrar no acordo entre os governos Maduro e Joe Biden,
a Chevron tem ambição maior na Venezuela: controlar totalmente
as maiores reservas de petróleo do mundo.

Para isso, conta com a privatização de Corina e seus aliados, que teriam
um apoio ainda maior com Donald Trump no poder.
Em discurso durante a Convenção do Partido Republicano em junho, o
ex-presidente falou de seus planos no passado, apontando para o futuro
caso vença as eleições para a Casa Branca em novembro próximo.

“Quando eu saí, a Venezuela estava prestes a colapsar.
Nós teríamos tomado o país e pegado todo aquele petróleo.
Seria ótimo”, afirmou.

Parafraseando James Carlile, marqueteiro da campanha de Bill Clinton
à Presidência dos EUA em 1992: “é o petróleo, estúpido!”
Ou melhor, a privatização do petróleo, que coloca Trump, Corina, Bolsonaro,
Globo e atores do neofascismo neoliberal juntos no palco para encenar
o “teatro das tesouras”.

Leia Artigos e Reportagens na Edição Nº 122 da Revista Fórum:
*(https://semanal.revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2024/08/Revista-Forum-122-2.8.2024.pdf)

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