Wanderley Guilherme dos Santos: ” A oposição quer colher o que não plantou”
Tempo de leitura: 12 minMarina é o que há de mais atrasado no espectro político brasileiro. É atrasada em relação a tudo. Foto: Thiago Ripper/RBA
A oposição brasileira quer colher o que não plantou
Para o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, o Brasil investe desde 2007 em infraestrutura e políticas públicas historicamente vetadas pelas elites. Alguns frutos já colhe. Outros estão por vir
por Paulo Donizetti de Souza, da RBA
Quando escreveu a obra Quem vai dar o Golpe no Brasil?, em 1962, Wanderley Guilherme dos Santos conquistou um respeitável espaço na ciência política ao antever a tramoia civil-militar detonada dois anos depois, que interromperia por quase três décadas os avanços sociais, políticos e culturais do país. Desde então, jamais deixou de investigar as contradições e desafios da democracia brasileira. Ainda hoje, estuda de seis a oito horas por dia para quatro pesquisas acadêmicas – sem deixar de desfrutar, “a lazer”, de livros de arqueologia, romances policiais e séries do Netflix.
Com história acadêmica ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde graduou-se em Filosofia em 1958, hoje é professor aposentado de Teoria Política da UFRJ, professor e fundador do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj). A completar 79 anos no próximo 13 de outubro, com 18 obras publicadas, dedica um de seus trabalhos a desconstruir as contradições entre os liberais contemporâneos e a escola do pensador Adam Smith, precursor dessas teorias no século 18, mas que mesmo ele ainda pressupunha ter uma dose razoável de valores morais humanistas e solidários a sustentar as sociedades que viriam a fundar o capitalismo – “Vivemos o mundo da antipatia social”, diz.
Para o cientista, poucas vezes o Brasil tentou empreender um ciclo econômico mais expansivo para o desenvolvimento humano. Teve alguns períodos, com Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, em que os avanços acabaram sendo alvos de “vetos das elites”. Segundo Wanderley, as políticas sociais iniciadas por Lula em 2003, seguidas de investimentos em infraestrutura antes negligenciados pelos governos de plantão, iniciaram um novo ciclo – mantido e ampliado por Dilma –, que permitiu ao país trilhar rumos diferentes dos ditados pelas potências do centro econômico que semearam a crise mundial de 2008. Ele acredita que o Brasil está pronto para novos saltos de crescimento em seu PIB nos próximos anos. Está em jogo nestas eleições uma disputa com a velha oposição despida de projetos, ávida para desfrutar desse legado e desviar-lhe da rota mais adiante.
Um trabalho seu de 1962, Quem vai dar o golpe no Brasil?, anteviu 1964. E hoje, o senhor vê algo que permita temer um choque de retrocesso da democracia?
Em absoluto. Em 64 havia uma fragmentação das forças políticas relevantes, além de a própria sociedade também estar muito fragmentada. Isso tornava impossível a formação de uma coalizão sustentável de apoio ao governo. Por outro lado, a oposição também estava de tal modo fragmentada que não conseguia formar uma coalizão alternativa, só conseguia formar uma coalizão de veto. E havia uma radicalização ideológica profunda que não permitia uma composição. Era impossível a negociação política. A proposta hegemônica da esquerda no período, de pressionar pela aprovação de um projeto consistente de desenvolvimento, era suicida. Isso hoje não existe.
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Em um artigo recente na revista CartaCapital, o senhor fala da presença, no cenário político, dos “especuladores da moral”. Qual é a semelhança entre eles e os especuladores do mercado financeiro?
Os especuladores dos mercados financeiros lucram com expectativas. Não criam nada, captam recursos e os revendem. O lucro deles não vem da criação de produto. Vem da diferença obtida com a especulação. A mesma coisa são os especuladores do mercado político. Eles criam fatos e factoides, podem eventualmente “lucrar” algo, um acréscimo em termos de aprovação, mas sem a criação de um projeto. A fama ou o apoio que recebem não decorre de uma sugestão de valor nacional ou econômico, mas de uma expectativa. É simplesmente “vamos acabar com a corrupção”, “isso tudo precisa mudar” etc. O sucesso tanto em um caso, o especulador financeiro, quanto no outro, o especulador moral, não decorre da criação de nada. Decorre da manipulação de expectativa. É a mesma coisa.
O mundo ainda sofre efeitos da crise de 2008, mas os países do centro econômico ainda querem restaurar os mandamentos que desencadearam a crise. Os mercados podem determinar as dinâmicas dos governos?
O potencial de novas ondas especulativas escapa da possibilidade de intervenção de governos como o brasileiro e de outros países emergentes. O que cabe a países como Brasil, Índia, Argentina, México, é administrar a defesa dos efeitos negativos desses ciclos. E nesse sentido o desempenho do Brasil tem sido espetacular. Mas os empresários brasileiros ficam na expectativa das decisões do FED (o banco central norte-americano) mais que das decisões do BC. Isso mostra o caráter subordinado de uma parte da economia brasileira, e curiosamente a que tem um papel importantíssimo, uma vez que os estímulos para a expansão e fortalecimento desse segmento industrial têm sido dados sistematicamente pelo governo, pela defesa do mercado interno justamente quando acaba o mercado externo. O empresariado pouco moderno não acompanhou a transformação do país.
Fala-se muito em gargalos de infraestrutura que não deixam o país ser competitivo, o que, aliás, não é de hoje. O país deixou de fazer alguma lição de casa?
Aí é que está a questão. Durante décadas, o Brasil, seus governantes e mesmo seu empresariado nascente não estavam dispostos ou preparados nem para sonhar com um país moderno, economicamente forte, aquilo que eles diziam que queriam. Na década de 1930, o debate fundamental era se o Brasil só devia exportar ou se devia criar indústria. Então, durante todas essas décadas, em não havendo sonho da possibilidade de um país moderno, não foram lançadas as condições básicas dessa modernidade, rodovia, ferrovia, aeroportos, transportes hídricos, nada. Isso tem a ver com o PIB, hoje dito pequeno, e do qual a oposição brasileira deseja se aproveitar nos próximos anos.
O que está acontecendo agora é justamente um investimento maciço naqueles setores, nas condições absolutamente necessárias para o crescimento do PIB. Porque no contexto existente não haveria mais como crescer o PIB, não tem mais pra onde andar o agronegócio, não tem como as empresas industriais crescerem. Então, o Brasil cresceu enquanto foi possível. Para crescer mais, não tem jeito: tem de expandir isso, e isso obviamente, enquanto está sendo feito, reduz um pouco a capacidade de crescimento. Agora a partir de 2016, 2017…
Os números do PIB são confiáveis e essenciais?
O número considerado do PIB é o geral, a média do país. Se tomarmos por setores, transporte, aeroviário, portuário, seria muito diferente. O número geral dilui os indicadores e tem servido pouco para medir o que está se passando no país em termos de transformação. O crescimento do PIB do Nordeste nos últimos anos é três a quatro pontos percentuais acima do crescimento nacional. O do Centro-Oeste é PIB chinês. Como o indicador nacional inclui tudo isso e misturado, fica pequeno. Quando todos os investimentos – em geração de energia, portos, estradas etc. – que hoje estão sendo feitos estiverem em condições de operar, o PIB vai ser uma enormidade. A oposição sabe disso. E se chegasse ao governo se apropriaria. Diria: “Tá vendo? Como eles não sabiam governar, o PIB agora está crescendo”. Seria fácil, porque, até apesar dessa oposição, o PIB vai crescer. Houve o crescimento da renda e do mercado interno, está havendo crescimento da infraestrutura e descentralização da economia – o que era fundamental. A oposição quer colher o que não plantou.
A propósito de oposição, fala-se muito numa suposta necessidade de medidas impopulares, reduzir salários, promover desemprego para segurar a inflação, cortar gastos públicos. Precisa?
Do ponto de vista do manual ortodoxo da economia, e daí o meu espanto com a mediocridade dos nossos economistas de oposição, eles estão certos. Afinal, é isso que está escrito nos livros, e eles não conseguem dizer outra coisa. Mas estava escrito em 2002 também, em 2005, 2006. E a partir de 2007 o país começou a fazer o PAC, o Plano de Aceleração do Crescimento. E em 2008, quando começou a crise braba, o Lula já havia promovido um processo de substituição de consumidores. Durante muito tempo, o Brasil viveu um processo de substituição de importação. A partir das políticas de transferências de renda, de valorização do salário mínimo, de estímulo ao consumo interno, o Brasil chegou a 2007, 2008, pronto para um processo de substituição de consumidores. E isso não ocorreu a nenhum deles da oposição. Não há uma determinação divina de que a aplicação de sua cartilha seja inevitável. A espécie humana sobrevive justamente por sua capacidade de se reinventar e superar desafios. E não por reincidir em experiências desfuncionais, como essas medidas de austeridade. Como é que elas podem ser consideradas remédios eficazes para os mesmos problemas que ajudaram a causar?
Em 2006, antes da reeleição do Lula, seus articuladores argumentavam que o governo ainda devia muito ao país, pois não se resolvem 500 anos de problemas em quatro. Que ficou devendo em relação ao que havia prometido, mas que não ficou devendo a nenhum governo anterior. Esse diagnóstico ainda perdura?
No primeiro mandato, de 2003 a 2006, foram lançadas bases de uma política social que propunha distribuição de renda. Bolsa Família, valorização do salário mínimo, ProUni, redução de impostos, política de cotas, Minha Casa, Minha Vida… Agora, é preciso equacionar as reformas por onde vai caminhar o desenvolvimento, senão nem essas políticas se sustentam. Há uma lista enorme de programas criados entre a década passada e depois de 2010. Hoje, para gente que antes não existia, há a presença do Estado do berço à velhice, mas isso será sempre pouco, estará sempre aquém da capacidade de qualquer governo. A política social “cria problemas” para si própria. Excelente! Então, a partir de 2007, começa uma mudança estrutural em relação aos eixos anteriores e tudo isso deixa um legado histórico. O que está sendo feito é o Brasil moderno, do século 21, não é brincadeira. Agora é que estamos terminando a primeira grande fase do governo dos trabalhadores, que se deu em duas etapas, uma de 2003 a 2006 e outra de 2007 para cá. E agora virão os grandes PIBs.
O que definiria a ruptura com a “outra fase”?
O Pronatec já havia sido criado pelos quadros do Ministério da Educação ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, mas o governo vetava. Já existia um programa social aqui e ali, mas que não fazia diferença na vida do país. Então, a ruptura foi em 2003, quando se dá um significado maior a esses programas e a seus efeitos. E agora continua. O que existe hoje é um conjunto de políticas destinadas a segmentos sociais que até 2002 não faziam parte dos roteiros governamentais. A agenda de vetos dos governos elitistas, até 2002, era maior que a agenda positiva. A elite se unia em torno do que não queria que fosse feito. A ruptura com isso teve de ser enorme, e está sendo. E quando você mexe em algo em que antes não se mexia tem consequências. Então, claro que há deficiências, mas criadas pelo avanço. E que só pelo avanço serão resolvidas.
A existência de mais de 30 partidos não é um entrave para o entendimento pelos cidadãos da democracia e da política como meio de realização de suas aspirações?
Não é a quantidade de partidos que determina se o sistema político funciona ou deixa de funcionar. A Inglaterra, por exemplo, tem 12 partidos, mas a taxa de desperdício de voto na Inglaterra, ou nos Estados Unidos, é fora do comum. O Brasil tem uma das menores taxas de desperdício do voto do mundo, porque aqui todos os votos contam: o seu voto para uma pessoa, mesmo que ela não se eleja, conta para a coligação. Na verdade, haveria muito menos problemas se não tivesse um segundo turno eleitoral. A necessidade de ir para um segundo turno é que faz com que você tente se apropriar de uma mercadoria criada pelo Tribunal Superior Eleitoral, que é o tempo de televisão, a moeda de chantagem dos pequenos partidos.
O senhor acha que a Marina é uma terceira via como pretendia ser o Eduardo Campos?
Marina Silva é o que há de mais atrasado dentro do espectro político brasileiro. Ela é atrasada economicamente, na concepção de sustentabilidade que tem, na modernização da política da produção, em termos de costumes sociais, em relação a tudo. É uma missionária retrógrada. E pode ganhar uma campanha contra ela, se ameaçar Aécio.
Os protestos do ano passado produziram um impacto negativo sobre a política – sem nome, sem rosto, nem classe, nem lado – e também ao PT e a Dilma. Por que os outros políticos não foram chamuscados?
Eu não tenho resposta para isso a não ser uma brincadeira: São Paulo deveria ter sido vitorioso em 1932, porque isso só acontece em São Paulo. Em Minas, que foi o terceiro estado a ter mais depredação e violência, o Fernando Pimentel (PT) está levando numa boa. E aqui no Rio, o segundo, não existe PSDB. No Rio sempre foi uma disputa ruim, mas não como São Paulo. O Garotinho é o norte atrasado do estado. Não houve nada no Norte Fluminense em junho de 2013, nem em 2012, nem em 2011, está fora do tempo. E o Garotinho que querque continue atrasado, porque se avançar ele deixa de ser representante. O Crivella é o evangélico. Pezão é um centro mais moderno, mas não é “político”. Lindberg é aventureiro. Então, o Rio de Janeiro está essa porcaria.
O senhor escreveu que considera a mídia brasileira fechada e reacionária e que a principal vítima disso é o cidadão comum. Por que o governo não mexeu nesse vespeiro?
Eu diria que é o dilema do revolucionário. Um líder revolucionário não toma uma iniciativa se não sabe qual apoio terá. Há dois erros possíveis de cálculo: um é não tomar a iniciativa quando haveria um apoio grande, mas que não pode se manifestar porque não houve uma ação inicial, uma sinalização; outro é quando há a iniciativa e não há apoio nenhum. Eu não sei qual foi o cálculo feito pelo governo. Mas se pensa que tem pouco apoio para essa medida, está temeroso demais.
Estaria superestimando o poder das empresas de comunicação…
Eu acho que esse foi o cálculo. Então, tem de haver um poder de persuasão. Se tomar iniciativa, poderá constatar que o mesmo povo que antes da revolução parecia não estar nem aí pode chegar e dizer “opa! era por isso mesmo que eu não estava satisfeito, eu vou nessa…” O próprio ato ilustra, ilumina, esclarece. Eu posso citar Lênin: a revolução educa. Há uma óbvia insatisfação do cidadão educado, que busca revista, jornal, procura se informar. E pra isso é que existe a política, para dar exemplo, fazer e ver o que acontece. Não vai ter censura nem restrição de liberdade. Quem não está satisfeito com o jornal vai querer que o jornal acabe? Não. Vai querer um jornal melhor.
O que o senhor acha do ensino universitário? O número de universidades públicas aumentou, algumas passam por crises. No geral, a universidade brasileira vai ajudar a construir um novo modelo de sociedade? Ou ficou voltada para formar reprodutores do sistema baseado no consumo?
O crescimento indubitável do número de universidades e de universitários fatalmente vai levar a uma redução do nível. Vai ter de haver um tempo de maturação para que essas universidades passem a ter realmente um papel maior na criação do saber. E não vejo como justo cobrá-la disso agora. Há, sim, nichos de excelência que estão botando pra quebrar. Mas o problema é que a universidade no mundo todo está ficando obsoleta, porque a taxa de crescimento do conhecimento e suas subsequentes criações tecnológicas estão a uma velocidade que a universidade leva tempo para alcançar. A universidade é uma organização, uma forma de garantir a manutenção e a difusão do conhecimento, e nela outros conhecimentos vão surgindo. O problema é que hoje a universidade difunde um conhecimento que já é obsoleto.
O mundo está perdendo a fertilidade de líderes e pensadores? Ainda vai haver inteligência capaz de propor novas soluções?
Ah, vai, de outro tipo, mas vai. Eu tenho um neto de 8 anos, ele vive num mundo do qual eu não participo. Sabe tudo, faz o diabo, tem opiniões estéticas dos filmes que vê com o pai e a mãe, sobre pintura, vai a museu. Essa cultura faz parte da formação dele. Eu sou um homem obsoleto, mas as novas gerações não são. Tenho dificuldades de incluir na minha concepção humanista certos tipos de procedimentos ou de concepções, que eles tratam de maneira perfeitamente natural.
Assim como o século 19 absorveu tudo aquilo que foi criado no século 18, que foi um século de explosão cientifica. Enquanto pensadores do século 18 resistiram às novidades, os do século 19 reagiram numa boa. Isso pra mim (aponta para o computador) não é natureza. Pra mim, natureza é datilografia, aprendi numa boa; aprendi taquigrafia… Então, o problema da universidade é complicado, de longo prazo e não sei como vai ser resolvido. Eu sei que o que ela está ensinando é obsoleto, mas quais são os canais para refazer aquela junção entre a difusão e a inovação? Não faço ideia.
O senhor ainda lê muito?
Estou trabalhando em quatro pesquisas. Uma delas tem a ver um pouco com esse “mundo.com”, esse mundo novo, do ponto de vista social. Esses grupos pequenos que aparecem têm a ver com o processo importantíssimo da divisão social do trabalho globalizado que está em andamento e é irreversível, vai tomar conta. Eu estava lendo ontem que o (empresário do setor de siderurgia) Jorge Gerdau está montando fábrica não sei onde porque fica mais barato do que montar aqui. Imperialismo moderno. Um produto hoje tem um componente fabricado na Austrália, outro na Inglaterra, outro no Rio Grande do Sul, e mesmo incluindo os custos de transporte, e instalando uma outra unidade não sei onde para receber tudo e montar, sai mais barato do que fazer tudo numa planta só. É o outsourcing economics. Provoca impacto nas cadeias produtivas e também nas cadeias de solidariedade entre os trabalhadores. Não há uma formação de uma identidade permanente de um certo setor, porque não tem “um” setor. Parte dos precarizados da Espanha tem a ver com isso.
E como está indo?
Eu comecei com Adam Smith (precursor da teoria do liberalismo econômico, 1723-1790) e os clássicos. Sempre houve na economia de mercado uma tensão entre o interesse material e os valores morais – simpatia, benevolência, solidariedade, nada disso junta com interesse material. Isso é uma tensão muito grande, em todos os séculos que eu estou vendo, de lá até o momento atual. Que é um momento de subversão, de recusa da tentativa de encontrar uma solução que compatibilize, é um momento de “fodam-se”. Smith desenvolveu o conceito do fundamento utilitário da simpatia social, termo com que ele explicava a origem da capacidade da humanidade, apesar da naturalidade de seu egoísmo, de imaginar-se no lugar dos outros, o que torna as pessoas conscientes de si e da moralidade de seu comportamento. E a desistência dos pensadores liberais contemporâneos em relação é isso é total. Então, é o mundo da antipatia. Estou te dando de primeiríssima mão como é que eu vou estudar o mundo moderno no qual o Brasil está entrando.
Seria o mundo da desumanização das relações?
É. Você vê aquela disputa em torno da biografia autorizada? Você transforma tudo em mercadoria, não é? A biografia só autorizada significa o seguinte: eu faço da minha vida uma mercadoria. A Paula Lavigne, é isso que ela está dizendo: “Não é que a gente não queira, só precisamos negociar…” O Roberto Carlos está vendendo a própria biografia. É claro que é seletiva. Uns pedaços que dão mais ibope. O resto ele não conta. “A vida secreta de Roberto Carlos por ele mesmo”…
Mas vai vender…
Oh! Mas, meu caro, esse é o mundo horroroso no qual nós estamos entrando. É claro que isso não vai ficar sem resposta. Nem sem reação. Esse é o inimigo. A “mercadorização” de tudo. O cálculo utilitário levado às últimas consequências.
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Colaborou Vitor Nuzzi
Veja também:
Dilma ataca autonomia do BC de Marina: É dar poder de decisão aos banqueiros
Comentários
Mailson
247 – Programa de governo da candidata Marina Silva, do PSB, página 64. Lá está está o “compromisso” assinado embaixo pela líder das simulações de segundo turno com o fim do “crédito direcionado” dos bancos. Na prática, trata-se de uma medida capaz de bagunçar todo o sistema habitacional popular do País. É que, por crédito direcionado, o que se tem são as obrigações dos bancos, públicos e privados, de destinar porcentuais de seus investimentos para linhas de financiamento previamente estabelecidas. Especialmente, as de amplitude social.
Entre o que se inclui o crédito direcionado está o financiamento imobiliário. Os bancos deixariam de ser obrigado a disponibilizar em crédito imobiliário o equivalente a 65% dos recursos da caderneta de poupança. Poderiam deixar uma parte – ou tudo – dentro de sua Tesouraria, rendendo juros, para citar apenas uma possibilidade.
Por este tipo de promessa, ou, como prefere Marina, “compromisso”, ela mereceu declaração entusiasmada de apoio do presidente do banco Itaú, Roberto Setubal. A irmã dele, Neca Setubal, é coordenadora do programa de governo de Marina. Com essa “regrinha”, usando o diminutivo que a candidata usou para se referir à sua “empresinha”, nem Murilo Portugal faria programa melhor. Como se sabe, o ex-secretário do Tesouro dos tempos de FHC e atual presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febran).
Bacellar
Resumindo? Preciso.
Urbano
Os fascistas da oposição ao Brasil odeiam o ‘Bolsa Família’; deve ser para que sobre mais dinheiro para o ‘embolsa propina’ deles, através de obras fantasmas ou eternamente inacabadas…
Maria Klabin
Me pergunto, qual será o grau de escolaridade dos leitores deste blog?
Mário SF Alves
“Não vivemos em democracias. Vivemos em Estados de direito oligárquicos, em um admirável sistema que dá à minoria mais forte o poder de governar sem distúrbios”.
Nesse contexto, o ódio à democracia se apresenta como o ódio ao povo e seus costumes – à sociedade que busca a igualdade, o respeito às diferenças e o direito das minorias –, e não às instituições que dizem encarnar o poder do povo. Um ódio que, segundo Rancière, advoga que o “governo democrático é mau quando se deixa corromper pela sociedade democrática que quer que todos sejam iguais e que todas as diferenças sejam respeitadas. Em compensação, é bom quando mobiliza os indivíduos apáticos da sociedade democrática para a energia da guerra em defesa dos valores da civilização”.
Autor:
Jacques Rancière, renomado filosofo francês autor de A fábula cinematográfica e Nas margens do político. Atualmente, dá aulas na European Graduate School de Saas-Fee e é professor emérito da Universidade de Paris.
Jose
Sério mesmo, nunca li algo tão bom.
FrancoAtirador
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Giannetti, Maria Antonieta na Campanha de Marina
Ao sugerir a liberação de preços represados, assessor do PSB segue fórmula da Rainha da França que mandou o povo trocar pão por brioches
Por Paulo Moreira Leite, via Blog do Saraiva
Devemos a Luís Nassif uma boa análise das ideias econômicas de Eduardo Giannetti, principal assessor econômico de Marina Silva.
Cabe fazer uma análise da visão política por trás do pensamento econômico, também.
As ideias de Giannetti são aristocráticas e antiquadas, traduzindo uma visão de mundo própria de Maria Antonieta, a Rainha da França que no século XVIII recomendou ao povo faminto que procurasse brioches — já que lhe faltava pão — e acabou perdendo a cabeça na guilhotina.
Garoto mimado do Estado mínimo brasileiro, pioneiro do neo-conservadorismo tropical, com muita audiência em jornais onde defende propostas que nunca tiveram voto em urna, o pensamento de Giannetti sofre de uma alienação social em grau absurdo.
Não aceita a noção de que nos dias de hoje a economia de um país não pode funcionar sem respeitar os interesses da maioria, sem garantir a negociação entre classes sociais, base do Regime Político que permitiu ao capitalismo conviver com a democracia e o progresso dos humildes.
Economia, neste pensamento, é um exercício com ratos de laboratório. Não é uma obra de homens e mulheres com sua consciência e seus interesses, direitos adquiridos e projetos para o futuro, para suas famílias e seu país.
A última ideia de Gianetti para a economia, em caso de vitória de Marina Silva, é promover um tarifaço — a medida é tratada por um eufemismo, “choque tarifário” — para liberar preços represados pela política de Dilma Rousseff-Guido Mantega.
São preços administrados, que estão no coração da economia.
Como nós sabemos, o governo busca conter a inflação sem tungar o bolso dos mais pobres, mantendo o desemprego baixo e a distribuição de renda, mesmo em condições especialmente difíceis.
Nem o governo discute a necessidade de, aos poucos, cuidadosamente, reajustar preços e tarifas.
O que se quer é evitar medidas em que só a parte mais fraca seja prejudicada, sem nenhuma recompensa em troca.
Mas estamos falando de outra coisa. A receita de Maria de Antonieta.
Quando as medidas econômicas se transformam em crise política. Há antecedentes.
O mais conhecido governante da América do Sul a mandar o povo trocar pão por brioches foi o presidente da Venezuela Carlos Andrés Perez.
Disputando a sucessão de um governo que possuía uma certa preocupação social, Perez fez um teatrinho previsível.
Apresentou-se se como candidato progressista.
Prometeu fazer um governo capaz de defender a maioria e até condenou ideias conservadoras, próprias do ideário de Margareth Tatcher que seduziu tantos economistas jovens daquele tempo, no Chile, no Brasil e em outros países.
Fazia o jogo do bonzinho, você entende.
Após a contagem dos votos, em fevereiro de 1989
Perez tomou posse e traiu seus compromissos.
Apoiado pelo FMI, liberou o preço da gasolina — referência para tudo o que se consome e se produz no país — que subiu mais de 100%.
A passagem de ônibus subiu 30%.
Revoltada, a população enfrentou a polícia, invadiu edifícios públicos, revirou automóveis e incendiou ônibus, num episódio que se repetiu nas principais cidades do país mas levou o nome da capital, seu ponto de origem: Caracazo.
Perez manteve-se no posto graças a um massacre que a população chora até hoje, e que deixou 2 000 mortos, segundo a maioria das estimativas.
Mas seu governo acabou ali, sobrevivendo como um fantasma que perdeu o caminho do próprio túmulo até se extinguir no pleito seguinte.
Antes de Perez deixar o cargo, porém, o coronel Hugo Chávez, então um ilustre desconhecido, foi aclamado como herói ao tentar derrubar o governo num golpe de Estado.
Chávez foi preso e condenado mas, ao sair da prisão, ganhou a presidência pelo voto direto e tornou-se o político mais popular da história Venezuela. Você entende por quê.
Num lance de suprema humilhação, anos depois um agente da CIA divulgou que Andrés Perez estava na lista de agentes remunerados do serviço secreto americano.
Ninguém ficou surpreso.
O monólogo impopular de Giannetti não começou no tarifaço de 2014.
Incluiu outra bandeira cara a Marina Silva, o ambientalismo.
Quando o jornalista Ricardo Arnt perguntou a Giannetti como imaginava que seria possível garantir a preservação ambiental, a resposta veio sem rodeios: sacrificar o consumo da população.
Está lá, na páginas 72 do livro de Arnt, “O que Os Economistas pensam sobre a Sustentabilidade”.
No esforço para diminuir a poluição ambiental
produzida pelos puns do gado na Amazônia,
Giannetti sugere uma mudança na alimentação do brasileiro:
“Comer bife é uma extravagância do ponto de vista ambiental.
O preço da carne vai ter de ser muito caro,
o leite terá de ficar mais caro.
Tudo que tem impacto ambiental
vai ter de embutir o custo real
e não apenas o monetário.
Essa é a mudança decisiva.”
Acho que nem Maria Antonieta diria uma coisa dessas, não é mesmo?
(http://paulomoreiraleite.com/2014/09/09/gianetti-e-maria-antonieta-na-campanha-de-marina)
(http://saraiva13.blogspot.com.br/2014/09/giannetti-maria-antonieta-na-campanha.html)
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Mário SF Alves
“No esforço para diminuir a poluição ambiental
produzida pelos puns do gado na Amazônia,
Giannetti sugere uma mudança na alimentação do brasileiro:
“Comer bife é uma extravagância do ponto de vista ambiental.
O preço da carne vai ter de ser muito caro,
o leite terá de ficar mais caro.
Tudo que tem impacto ambiental
vai ter de embutir o custo real
e não apenas o monetário.
Essa é a mudança decisiva.””
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O pUder subiu nas cacholas. E com um pequeno e asqueroso detalhe: bem antes da hora. Vá entender esses roleteiros. Vá entender esses cristãos-novos que ora caíram sem paraquedas nessa lambança toda de jogar nossa economia na hedionda política neoliberal do cassino financeiro. Vá entender…
Mário SF Alves
Ufa! Enfim, alguém tocou no essencial da questão. De fato, querem colher o que jamais plantaram. E, detalhe, não o fizeram só por incompetẽncia não. Não plantaram porque são terminantemente proibidos de fazê-lo.
Mas… colher, né, aí até que podem. Preferencialmente, se no decorrer dos festejos de tal ilegítima colheita alcançarem o poder de entregar o Brasil. De novo.
Mário SF Alves
“Segundo Wanderley, as políticas sociais iniciadas por Lula em 2003, seguidas de investimentos em infraestrutura antes negligenciados pelos governos de plantão, iniciaram um novo ciclo – mantido e ampliado por Dilma –, que permitiu ao país trilhar rumos diferentes dos ditados pelas potências do centro econômico que semearam a crise mundial de 2008. Ele acredita que o Brasil está pronto para novos saltos de crescimento em seu PIB nos próximos anos. Está em jogo nestas eleições uma disputa com a velha oposição despida de projetos, ávida para desfrutar desse legado e desviar-lhe da rota mais adiante.”
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Eu me pergunto: como não acreditar num cara como este?
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Sim, vivemos a era da antipatia social. E quase chegamos ao retorno da era da ideologia antissocial. Possivelmenete, a depender da velha mídia autoritária, já estaríamos lá.
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Enfim, a bronca toda não é com o Lula, e não é com a presidenta Dilma. A bronca, o ódio, é em relação à democracia e ao desenvolvimento socioeconômico que inevitavelmente lhe é inerente.
Se a pior elite do mundo [e pior por ser autoritária e historicamente subalterna a interesses alienígenas] PUDESSE, com certeza já teria vestido o Lula de ouro e o elevado à categoria de Heroi Nacional. Só não o faz porque Lula encarna e representa a continuidade e a consolidação dessa democracia e desse desenvolvimento.
Léo
A oposição a Dilma que é Aécio e a “moça da nova velha política” São seres discursivos e nada mais.
O Desenvolvimento citado em um dos comentários, curiosamente os setores que o Brasil se desenvolveu até 2002, foi o mesmo que ocorreu em todo o mundo no mesmo período. Ou seja, o avanço das teles e da mineração teriam desenvolvido do mesmo modo se estivessem nas “mãos do governo” (Um exemplo bem claro vem do DF que até hoje ainda possui em alguns lugares a mesma estrutura da telebras.
Especuladores financeiros lucram porque não existe outros meios de sobrevida, se não por meio do dinheiro.
Especuladores morais (pessoas que possuem o dom ou mal caratismo do discurso bonito) ganham votos, seguidores… porque estudam o que as pessoas gostariam de ouvir ou possuir e prometem sem pestanejar, algo que não se consegue do dia para a noite.
Como o Wanderley já citou na entrevista. O Brasil parece parado, mas existem obras em rodovias federais, Instituíções educacionais publica sendo bem representadas por seus alunos em disputas fora do país na área de tecnologia. Esse tipo de investimento é o chamado investimento a longo prazo.
Urbano
E no Brasil há um magote de bandidos da facção da rapinagem que nunca planta, mas sempre surrupia e come o que outros plantaram. O pior é que esses crápulas roubam, comem e ainda arrotam que foram eles que plantaram. É muito desplante…
Urbano
Os da oposição ao Brasil, quando nada, começam a filar mesmo antes de engatinhar…
Urbano
Em se apertando mais a ‘tartaruga sem carapaça’ (esta é genial), certamente o patrimônio sobe mais um pouco…
Alemao
Atenção leitores, mais uma vez a pregação de que se a oposição estivesse no poder o Brasil teria regredido 500 anos. Curioso é o país também ter se desenvolvido antes da era PT. Para variar mais um argumento contraditório.
Julio Silveira
Regredido até pode ser um exagero, mas com certeza se estivesse no poder a estagnação que já vinha se mantendo seria continuada, com a dependência aos States se acirrando cada vez mais até um ponto que poderia chegar a proposição de plebiscito para virarmos um grande Porto Rico, meta de dez em cada dez entreguistas nativos.
Jorge
O governo anterior, que hoje é oposição, foi tão “bom” que ficou 3 eleições seguidas em segundo lugar e nesta caminha para um obscuro terceiro lugar, mesmo com o apoio da mídia.
Mário SF Alves
Pregação?!!
Quanta pretensão… ou será que entendi mal?
Se bem entendi você está chamando alguém desse quilate intelectual de pregador?
Se assim for, pense melhor, Alemão. Ou, quem sabe, pense dessa vez.
Sugiro o seguinte: leia atentamente a análise de realidade exposta no texto. Após isso, solte suas dúvidas. Aí, sim, fica bacana o embate no campo das ideias.
Mário SF Alves
“Curioso é o país também ter se desenvolvido antes da era PT. Para variar mais um argumento contraditório.”
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Curioso… esse argumento me obrigou a lembrar os Idos de Março, período sombrio da nossa história, intercurso no qual prevalesceu o discurso do “fazer o bolo crescer pra só [e somente só] depois repartir”.
Humm… época, cuja glória foi o dito milagre econômico… não é a isso que você se refere? Peraí, não é dessa mesma época o entendimento de que milagre mesmo era o trabahador brasileiro conseguir sobreviver com o salário mínimo?
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Pois é, Alemão, é prudente não confundir crescimento econômico [pruns poucos] com desenvolvimento socioeconômico que agrega o interesse de todos ou da maioria.
Alemao
Pelo jeito leu Adam Smith e não entendeu nada…
Cid Elias
Muito bom, como sempre, o nosso Professor Wanderley. É claro que vira-latas enrustidos de arianos não iriam concordar…
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