Getúlio e o trabalhismo ainda hoje
Por Vivaldo Barbosa*
Dois textos que circularam neste domingo merecem reflexão.
Um é a entrevista no jornal O Globo do professor Jessé de Souza, um dos grandes intelectuais do nosso tempo e profundo intérprete da realidade brasileira nos períodos difíceis que atravessamos.
Aborda Jessé de Souza o fato de que partidos e correntes políticas que procuram atuar no campo popular, misturados com questões passaram a se chamar de identitarismo, estarem enfrentando dificuldades de dialogar e de se relacionar com os pobres.
E que uma boa parte dos pobres vem aceitando as pregações da direita, do conservadorismo e até do fascismo.
Alerta Jessé: é importante “validar” o pobre. “É o que Getúlio fez. Inclusive do ponto de vista racial. Para redimir o humilhado é preciso celebrar suas virtudes, afirmar que eles não são lixo, o que a direita faz hoje”.
E Jessé se prepara: “Sei que vou levar cacetada, mas está na hora de o PT aprender com Getúlio Vargas”. “O PT nasceu dando de ombros para a herança getulista”, opondo o que chamou de “sindicato livre” contra o “peleguismo trabalhista”.
Fica claro no pensamento de Jessé as razões das dificuldades de setores progressistas aceitarem Vargas e o trabalhismo.
Para Jessé, “PT e PSDB são mais parecidos do que imaginamos, nascidos de braços diversos da mesma elite paulista com pendores social democratas”.
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Conclui Jessé: ”Quem ofereceu a face popular ao PT foi o Lula”.
Outro texto a ser refletido é do professor Carlos Eduardo Martins, uma das melhores figuras da academia brasileira na atualidade, ao analisar a entrevista de Jessé de Souza.
Afirma Carlos Eduardo Martins: “Está corretíssima a proposição de Jessé de que uma retomada da esquerda no Brasil deve passar com um reencontro com a era Vargas. É contra a era Vargas que o neoliberalismo e o fascismo fazem a sua ofensiva. E é claríssimo que a social democracia periférica de 3ª via petista não é capaz e nem quer defendê-la”.
E lembra o grande intelectual trabalhista Theotônio dos Santos, para quem “o socialismo no Brasil deve ser construído pela superação dialética do trabalhismo e não por sua negação”.
Adverte Carlos Eduardo Martins que “o identitarismo não pode estar descolado do universalismo”, o que a “direita liberal” procura fazer.
Estas reflexões nos levam à compreensão correta do trabalhismo: o trabalhismo é um pensamento genuinamente brasileiro com o caráter de universal, voltado para o Brasil e o povo brasileiro.
O diálogo de Getúlio e do trabalhismo com os pobres e o povo brasileiro em geral foi conferir direitos pela Legislação Trabalhista e Previdência Social, colocar o Brasil de pé com as estatais estratégicas e a estruturação do estado Nacional para garantir nossa soberania e o domínio das nossas riquezas e implantar a ideia do desenvolvimentismo.
O diálogo com os pobres hoje no Brasil há de recomeçar com a recuperação do salário mínimo, como fez Getúlio que o decretou em 1940, com valor que segundo os cálculos dos economistas, tocaria hoje nos 7.000 reais, e em 1954, quando teve a coragem de aumentar em 100% o valor do salário mínimo.
Nunca vou me esquecer da afirmação de um velho companheiro, o Ananias, da área da música e do samba, um sábio: “A Carteira de Trabalho instituída por Getúlio foi a segunda Lei Áurea para os pretos”.
O trabalhismo e Getúlio Vargas procuraram outorgar direitos ao povo brasileiro e criaram um partido político para lutar por esses direitos, o PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO, o PTB, que hoje procuramos refundar.
*Vivaldo Barbosa é Presidente Nacional do PTB, em formação.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Comentários
Nelson
Um excelente texto do deputado Vivaldo Barbosa. Me refiro a ele assim porque foi a forma com que as notícias me fizeram conhecê-lo.
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Já passou da hora – em muito – de a esquerda, em todas os seus matizes, reconhecer os avanços fabulosos trazidos pela Era Vargas a nossa nação. Até mesmo Leon Trotsky apoiou Getúlio, para desespero da turma do PSTU, que, possivelmente, nunca expôs esse apoio a seus militantes.
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Em artigo recente, o eminente economista Paulo Nogueira Batista Jr afirmou que Getúlio Vargas foi o maior presidente que nosso país já teve. E eu concordo plenamente com o Batista Jr.
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Que Lula tem seu valor, não há lugar para dúvidas. Porém, até agora está longe, bem longe do realizado por Getúlio. E não tenho qualquer prazer em afirmar isso, pois gostaria de estar vendo, no curso normal e sempre esperado da História, o PT e Lula a superarem, largamente, a Era Vargas.
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É lamentável admitir, mas creio que nunca verei isso. Exatamente porque, como afirma, apropriadamente, nosso sociólogo Jessé Souza, o PT tem muito em comum com o PSDB. Posso estar enganado, mas acho que uns 30% das figuras de relevo do PT se sentiriam bem melhor acomodados junto aos tucanos.
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Lembro que, anos atrás, Aloisio Mercadante andou declarando que PT e PSDB tinham muito a contribuir com a democracia brasileira. E eu fiquei me perguntando: como assim, um partido que impôs, a ferro e fogo, um plano econômico altamente deletério e uma política neoliberal idem, em prejuízo de, no mínimo, 95% por cento do nosso povo, pode contribuir com nossa democracia?
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Um partido que impôs a privatização de tudo que estivesse a sua frente – só não conseguiu privatizar mais porque não se reelegeu em 2002 -, na entrega ao grande capital, notadamente o estrangeiro, de todas as riquezas e patrimônio pertencentes ao povo brasileiro, teria algo a dizer sobre democracia, a verdadeira?
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