O papel das ruas (e da personalidade) na política
Durante o carnaval de 2024, o grande fato político foi a operação policial e judicial contra a cúpula do golpe.
Os golpistas reagiram e, no dia 25 de fevereiro de 2024, realizaram uma demonstração de força, voltada a pedir anistia.
A anistia favoreceria, antes de mais nada, o cavernícola e os fardados que estiveram no centro da operação golpista. Na prática, possibilitaria ao cavernícola disputar pessoalmente as eleições de 2026.
Importante dizer que, neste caso, seria uma anistia-sem-julgamento-nem-condenação-prévia.
Ou seja: seria como na auto-anistia que os militares se concederam no final da (mais recente) ditadura, quando torturadores, assassinos e ocultadores de cadáveres, bem como seus mandantes, não foram julgados, não foram condenados, mas já foram anistiados preventivamente.
A anistia pode resultar de uma ação no Congresso, onde as forças de direita e extrema-direita têm maioria. Nesse sentido, trata-se de uma oferta de “pacificação”, oferta dirigida pela extrema-direita em direção ao centrão e à direita gourmet.
É por isso, aliás, que o cavernícola, em seu discurso, insistiu em duas teses:
a) golpe exigiria tropas na rua;
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b) golpe avalizado pelo parlamento, não seria golpe.
Estas duas teses são, exatamente, as que a direita gourmet utiliza para argumentar que, em 2016, não teria havido golpe, apenas impeachment.
No fundo, o cavernícola está dizendo que seria prudente, para os que “viraram a página do golpe” de 2016 (impeachment) e de 2018 (prisão e interdição de Lula), também virar a página da intentona golpista de 2023.
Se depender da história deste país, a proposta de anistia tem tudo para ganhar adeptos na direita gourmet. Afinal, a história deste país é a história dos acordos pelo alto, do pacto das elites, da conciliação por cima.
Assim, se a esquerda quiser impedir que a extrema-direita “passe uma borracha” no passado (e, fazendo assim, poder continuar descendo a borracha no lombo do povo), é fundamental não depender das instituições.
O STF e o Congresso já demonstram diversas vezes, inclusive nos últimos anos, seu compromisso com o “estado democrático de direita”.
Portanto, se a esquerda quiser impedir que a extrema-direita seja anistiada, que o cavernícola recupere a elegibilidade, é preciso contrabalançar a pressão golpista.
E isso se faz de várias maneiras, mas principalmente ocupando as ruas e demonstrando que a extrema-direita não é a única capaz de mobilizar centenas de milhares de pessoas em defesa de suas teses.
Há quem considere mobilização algo desnecessário, pois o julgamento e condenação caberiam ao STF.
Os que pensam assim, saibam que estão – pela inação – ajudando a extrema-direita a conquistar a anistia, seja via amolecimento do Supremo, seja via decisão do Congresso.
Há quem considere mobilização algo perigoso, entre outros motivos porque faz tempo que a esquerda não demonstra capacidade de encher as ruas; e um ato fraco seria pior do que ato nenhum.
Os que pensam assim deveriam então admitir que estão aceitando, como uma fatalidade, que a extrema-direita chegou para ficar e voltará ao governo, em prazo mais ou menos curto de tempo.
Ademais, deveriam lembrar que na comemoração da vitória de Lula, as ruas ficaram infinitamente mais cheias do que no dia 25 de fevereiro.
E aí chegamos no papel da personalidade na história. Lula, em 2022, construiu uma frente ampla com base no argumento de que é necessário defender a democracia.
Em 2023, teve início um governo auto-denominado de “união e reconstrução”.
Pois bem: não haverá democracia, não haverá união, não haverá reconstrução, ao menos com algum sentido popular, se a extrema-direita continuar colocando uma faca na garganta do país.
E a manifestação do dia 25 de fevereiro de 2024 foi exatamente isso: uma faca na garganta.
Assim, para dar consequência à “defesa da democracia”, cabe a Lula apoiar, ajudar a convocar e estar presente no ato nacional que as frentes convocaram para o dia 23 de março de 2024.
Isto basta? Não basta. É preciso, também, uma inflexão à esquerda na política do governo.
Mas até para que isso seja possível, é preciso barrar a ofensiva da extrema-direita.
Por isso, toda força para as mobilizações de março.
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Comentários
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/GHjDgOQW8AAUmOe?format=jpg
“Federação Brasil da Esperança (PT-PV-PCdoB) Lança
Deputado Federal ROGÉRIO CORREIA Pré-Candidato à
Prefeitura de Belo Horizonte”
https://twitter.com/Gleisi/status/1763374223932739951
Agora que a Fascistinha ‘Nikole Kid’ Vai Tremer na Base!
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Zé Maria
Vídeo: https://twitter.com/i/status/1763655847031226679
MARÇO É MÊS DE LUTA!
MULHERES EM DEFESA DA DEMOCRACIA
No dia 8 de Março, nas Manifestações que vamos fazer em todo o Brasil, vamos colocar a Bandeira da Democracia e da Punição para aqueles
que fizeram a Tentativa de Golpe.
#SemAnistia! #PelaDemocracia!
https://pbs.twimg.com/media/GHhcgSsXcAAhLGZ?format=jpg
GLEISI HOFFMANN
https://twitter.com/Gleisi
Deputada Federal (PT/PR)
Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores
https://twitter.com/ptbrasil/status/1763655847031226679
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Zé Maria
https://t.co/KtQmaiy9Vz
Discurso do Presidente @LulaOficial na Abertura
da 8ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo
da Comunidade dos Estados Latino-Americanos
e Caribenhos – CELAC.
Na TV PT ou em PT SAT (Canal 1313):
https://youtu.be/GW1clM5e9go?t=13
https://twitter.com/PTbrasil/status/1763596547076370496
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Zé Maria
https://t.co/7Ecdb6FLFM
“Brasil ascende ao Topo das Economias Globais
após Sucesso do 1º Ano do Governo LULA
O Brasil marcou sua Posição entre as 10 (Dez)
Maiores Economias do Mundo após um
Crescimento Anual de 2,9% no Produto Interno
Bruto (PIB) em 2023.”
https://twitter.com/oCafezinho/status/1763668295733879139
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Ki Legal!
Agora, ‘só’ falta distribuir toda essa Riqueza
aos Brasileiros e Brasileiras Trabalhadores.
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Zé Maria
A Mobilização nas Ruas Não Muda a Situação de JairBolsonaro
O ex-Capitão do Exército conseguiu levar às ruas um público fiel,
mas em um número é muito inferior ao necessário para tirá-lo
da defensiva política
Por Josué Medeiros (*), na CartaCapital
Como esperávamos, Jair Bolsonaro realizou um ato em sua própria defesa
na Avenida Paulista no domingo, dia 25 de fevereiro.
A manifestação contou com a presença de 185 mil pessoas, segundo
uma estimativa da USP.
As imagens da multidão defendendo um projeto golpista assustam,
mas o ex-presidente demonstrou mais fraqueza do que força no domingo.
Bolsonaro é a principal liderança de um movimento autoritário que utiliza
a tática da mobilização social para manter coesa sua base e para fustigar
os adversários – sejam políticos ou mesmo as instituições – e, com isso,
avançar em seus objetivos.
No caso, o ex-presidente tinha duas metas: a primeira era reafirmar
sua posição de principal liderança da direita brasileira, algo que ele
alcançou, dado o tamanho da manifestação.
O segundo objetivo era mais ousado: demonstrar força política para barrar
as muitas investigações contra ele, que já o deixaram inelegível e podem
levá-lo à prisão.
Aqui, podemos afirmar que ele falhou.
O ex-capitão mobilizou muito menos gente do que quando estava
na presidência.
No 7 de Setembro de 2021, o então presidente convocou manifestações
de enfrentamento aberto ao STF.
Os atos ocorreram em cerca de 200 cidades do país e ele próprio esteve
presente em Brasília e São Paulo, acompanhado por mais de 100 mil pessoas
em cada uma delas.
Em 2022, ele, já candidato à reeleição, transformou o desfile oficial em
ato de campanha e convocou seus apoiadores para outra jornada
de mobilização.
Novamente, um número próximo de 200 municípios tiveram manifestações
naquele feriado.
E, outra vez, Bolsonaro se fez presente em duas delas, em Brasília e
no Rio de Janeiro e em ambas o público passou de 100 mil pessoas.
Em 2024, fora do poder e acuado política e juridicamente, Bolsonaro
optou por concentrar todo seu poder de fogo em uma só cidade, São Paulo.
Conseguiu êxito em levar um público fiel, que sustenta sua liderança,
mas é um número muito inferior ao que ele já foi capaz de mobilizar
e que é necessário para tirá-lo da defensiva política.
O discurso de Bolsonaro no ato também atesta sua fraqueza atual.
Já era esperado que ele se colocaria como vítima de uma perseguição
e o ponto alto dessa estratégia foi o choro da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Mas outros dois eixos que apareceram no discurso do ex-presidente
são fundamentais para analisarmos seu futuro político.
O primeiro é seu pedido de anistia para os golpistas do 8 de Janeiro
que já estão presos, o que obviamente alcança aqueles que serão no futuro,
como ele mesmo.
A bandeira da anistia o conecta com a estratégia de acomodação
que o regime militar de 1964 colocou em prática com muito sucesso
no final dos anos 1970 e que foi combatida por militares de extrema-direita,
como o próprio Bolsonaro.
Contudo, diferente dos generais da Ditadura Militar, o ex-capitão perdeu
o ‘timing’ desse movimento:
esse tipo de acordo, para dar certo, precisa ser proposto quando
os perdedores ainda estão no poder e têm, portanto, cartas para colocar
na mesa durante a passagem de bastão.
Já Bolsonaro usou seus últimos meses na presidência para tramar
uma tentativa de golpe, que foi posta em prática em 08 de janeiro
e que foi derrotada.
Com isso, ele não tem nada para oferecer no momento em troca
de tal anistia.
Talvez se tivesse mobilizado mais gente, poderia colocar na mesa
o tamanho do bolsonarismo enquanto movimento político, para além
da popularidade que o ex-presidente ainda conserva.
Mas com esse número que, embora grande, é menor do que ele próprio
já mobilizou em anos anteriores, Bolsonaro seguirá acuado
rumo à condenação por liderar a tentativa de golpe.
O segundo eixo foi sua tentativa de se defender das acusações de golpe,
na qual ele admite que teve contato com a minuta do decreto golpista.
Bolsonaro, uma vez mais, levanta a tese de que a convocação das forças
armadas para garantir a ordem estaria dentro das regras constitucionais,
alegando que golpe só ocorre com tanques nas ruas.
Tal argumento, entretanto, complica mais o ex-presidente, uma vez que
ele passou seus quatro anos de governo ameaçando a sociedade e as
instituições brasileiras com uma convocação desse tipo, que viria
acompanhada de um Estado de Sítio, proibição da livre-manifestação,
fechamento do Congresso, intervenção no STF, entre outras medidas
autoritárias.
Com este pronunciamento, Bolsonaro ofereceu mais uma evidência
(para uma já farta lista) de que, desde que venceu as eleições em 2018,
ele e seu entorno planejaram uma tentativa de subverter a ordem
da Constituição para instalar, em seu lugar, um novo arranjo político
e institucional autoritário.
O plano A passava por vencer as eleições em 2022. O plano B, da tentativa
de golpe, seria acionado em caso de derrota.
Nas duas situações, Bolsonaro convocaria não só as Forças Armadas,
mas também seus apoiadores civis armados nos clubes de tiro para
garantir a mudança de regime.
Nos próximos meses, veremos as investigações sobre as ações
antidemocráticas ligadas ao bolsonarismo avançarem ao mesmo
tempo em que as estratégias para as eleições municipais de 2024
são traçadas.
Isto não é uma boa notícia para o ex-presidente:
ainda que sua liderança junto ao eleitorado de direita seja incontestável,
Bolsonaro se vê isolado na arena partidária.
A ida às urnas eletrônicas que ele tanto detesta serão um novo teste
de sua força política: Bolsonaro precisa consolidar candidaturas
competitivas nas capitais se quiser chegar vivo politicamente –
ainda que preso – nas eleições presidenciais de 2026.
(*) Josué Medeiros é Cientista Político e Professor Adjunto da UFRJ
e do PPGCS da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ);
Coordena o Observatório Político e Eleitoral (OPEL) e o Núcleo
de Estudos sobre a Democracia Brasileira (NUDEB) vinculado
ao Departamento de Ciência Política (DCP) do Instituto de Filosofia
e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);
Graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF);
Mestre em Ciência Política pelo IESP/UERJ. Graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF);
Doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
https://www.escavador.com/sobre/5254451/francisco-josue-medeiros-de-freitas
https://www.cartacapital.com.br/opiniao/a-mobilizacao-nas-ruas-nao-muda-a-situacao-de-bolsonaro
Zé Maria
Mobilização, sim, com a Pauta da Classe Trabalhadora, não do Bolsonaro.
Ibsen
Me parece que a data será 24 de março, um domingo.
No mais é exatamente isso. A esquerda parece propensa a conceder sua existência ao judiciário.
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