Urariano Mota: Odijas, presente! Mário Alves, presente!

Tempo de leitura: 3 min

por Urariano Mota, em Direto da Redação

Recife (PE) – A mais recente indisciplina de militares reformados contra a Comissão da Verdade, em manifesto onde tentam intimidar com as palavras “a aprovação da Comissão da Verdade foi um ato inconsequente, de revanchismo explícito e de afronta à Lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo” acende na gente duas observações.

Na primeira delas, chama a atenção que se dirigem mais aos colegas de farda, na ativa, que aos de fora dos quartéis. O que vale dizer, os generais e coronéis reformados clamam por uma quartelada, por um novo golpe de “31 de março”, mais conhecido adiante por revolução de primeiro de abril. Isso é claro porque em mais de um ponto escrevem – ou gritam, à sua maneira de escrever – que não reconhecem autoridade no atual Ministro da Defesa, nas Ministras de Direitos Humanos e de Política para as Mulheres. E, por extensão, desconhecem o poder legítimo da  Presidenta Dilma.

Na segunda observação, notamos que eles –  os amotinados no manifesto – fazem uma chamada geral, à Nação, aos colegas armados, gritam falar em nome de todos, mas falam em seus próprios, exclusivos e antigos interesses. A saber, quem assim reclama contra a  Comissão da Verdade, teme a justiça e a punição por crimes e acobertamento de homicídios cometidos. E não é preciso muito Sherlock Holmes para essa conclusão. Três dos assinantes são ex-torturadores reconhecidos por ex-presos políticos: os coronéis Carlos Alberto Brilhante Ustra, Pedro Moezia de Lima e Carlos Sergio Maia Mondaini.

Deste último, o ex-preso político e jornalista Ivan Seixas conta que

“esse torturador, oficial médico psiquiatra, era conhecido na OBAN pelo vulgo de Doutor José. Entre outras proezas gozava nas calças ao ver as companheiras nuas se retorcendo com os choques elétricos aplicados por ele”.

Daí podemos entender o tamanho da urgência desses militares reformados contra a volta do conhecimento da História em uma Comissão da Verdade. Invocam os nomes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para melhor abrigo da pessoa criminosa. Mas todos sabemos, por delegação expressa do povo as forças armadas jamais abrigarão ou abrigariam o crime e a perversão.

Ou viveríamos então em uma democracia sob tutela, onde os comandos militares fingem que não têm poder político, como se fossem pais benevolentes.  Seriam crianças, ou incapazes, o poder civil, a República, a Presidenta, os Ministros, o Congresso, a Justiça?

Quer esses amotinados desejem ou não, vem chegando a hora do esclarecimento e da recuperação histórica de homens e mulheres, que viveram em condições-limite. Personagens como estes voltarão:

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“Odijas Carvalho de Souza (1945-1971)

Odijas foi levado para o Hospital da Polícia Militar de Pernambuco em estado de coma, morrendo dois dias depois, aos 25 anos… ‘No dia 30 de janeiro de 1971 fui acordado cedo por uma grande movimentação. Por volta das 7 horas, Odijas passou diante da cela, conduzido por policiais. Apesar da existência da porta de madeira isolando a sala do corredor, chegaram até nós os gritos de Odijas, os ruídos das pancadas e das perguntas cada vez mais histéricas dos torturadores. Durante esse período, Odijas foi trazido algumas vezes até o banheiro, colocado sob o chuveiro para em seguida retornar ao suplício. Em uma dessas vezes ele chegou até a minha cela e pediu-me uma calça emprestada, porque a parte posterior de suas coxas estava em carne viva. Os torturadores animalizados se excitavam ainda mais, redobrando os golpes exatamente ali”.

Ou deste jornalista, intelectual, frágil de corpo e gigante de espírito:

“ – Teu nome completo é Mário Alves de Souza Vieira? –  Vocês já sabem.

–  Você é o secretário-geral do comitê central do PCBR?

–  Vocês já sabem.

–  Será que você vai dar uma de herói? …

Horas de espancamentos com cassetetes de borracha, pau-de-arara, choques elétricos, afogamentos. Mário recusou dar a mínima informação e, naquela vivência da agonia, ainda extravasou o temperamento através de respostas desafiadoras e sarcásticas. Impotentes para quebrar a vontade de um homem de físico débil, os algozes o empalaram usando um cassetete de madeira com estrias de aço. A perfuração dos intestinos e, provavelmente, da úlcera duodenal, que suportava há anos, deve ter provocado hemorragia interna”.

Para essas vidas vem de longe um voz coletiva que se ouvirá: presente.

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Comentários

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Renato M

Abram os arquivos. Investiguem, processem e prendam os torturadores e assassinos. Fechem o Clube Militar. Expulsem os que violarem a disciplina. Não existe anistia para os crimes cometidos pelos trogloditas que tomar o poder em 1964. Que belo exemplo no deu a Argentina que mantém na prisão um ex-presidente. É necessário democratizar as Forças Armadas que ainda vive impregnada pela ideologia anticomunista dos tempos da Guerra Fria. Como? Mudem os currículos das Escolas Militar, pois eles são anacrônicos e e de anti-esquerdimo primário. Para mudar o Brasil será necessário com uma mão abalar o Poder Judiciário e com a outra mudar radicalmente as estruturas da Forças Armadas.

LuisCPPrudente

Os militares da ativa têm que obedecer a hierarquia.

Os velhinhos torturadores e assassinos que estão na reserva a lei não pode fazer mais nada, a não ser que a lei de auto-anistia seja revogada.

Pela revogação da lei de auto-anistia imposta pelos velhinhos torturadores e assassinos em 1979.

Taiguara

Por quê esses milicos “coturnentos” e de “pijamas camuflados” não instituem logo a merdalha do “Cruz Credo do Sul” em homenagem ao verdugo desconhecido? Ôrra meu….saiam à luz do sol.

CHERAVARA

Entendo que essa censura ao pensamento não passa de arbitrariedade, e com isso não concordo.A própria Dilma arquitetou ações contra as instituições,tendo participado da VAR-Palmares na luta pela implantação de um tirânico Estado Socialista nestas plagas.Logo, ela traz sangue nos dentes contra aqueles ,que no seu entender ,desmontaram seu sonho juvenil de uma Cuba ao sul da linha do equador , acionando seu ministro da defesa para punir militares da reserva por crimes de pensamento.Acredito que algumas visitas a um bom psicanalista resolveria todos esses traumas do passado, dos quais esses comunistas ,hoje no poder,não conseguiram se libertar.
Lula lutou tão somente pela melhoria salarial do ABC,lider sindical do passado.Já a nossa dignatária,foi guerrileira de uma causa perdida,daí o contrastante trato com as FFAA.Lula o cordial,o conciliador(reajustes salariais,submarinos,helicópteros,caças franceses,etc…) Dilma(cortes AD INFINITUM…) Sigmund explica. Aquele abraço.

Hildermes Medeiros

Por ter a ver com esse testo, transcrevo comentários que fiz sobre o tema. Não tem cara de 1964, não tem cheiro de 1964, não é 1964. É isto que esses ridículos generais de pijama não percebem. Lá, como agora, em 2012, indisciplina e quebra de hierarquia não são tolerados pelos regimes disciplinares das Forças Armadas. Em 1964, os militares desde os comandantes desrespeitaram a disciplina e não observaram a hirarquia dando suporte a um golpe de estado com comando e apoio dos EUA, mostrando que essas não são bem pilares da vida castrense. Suas atitutudes dão mostras de depender mais de um espírito que perspassa a caserna, que estão sempre dispostos a agir como se estivessem tão somente num território ocupado, cujo comando dessa ação não se encontra propriamente no sistema político do país. Tanto é assim, que os militares são ainda industriados internamente por um curioso ódio comunista, que na realidade inclui tudo que possa ter um viés trabalhista e popular. O regime democrático de direito, por sua vez, admite e permite o contraditório, a defesa de princípios e opiniões, inclusive opiniões políticas. No caso de militares reformados, nossa Constituição admite que se alistem em partidos e possam disputar cargos eletivos. Para estes senhores não tentarem o ridículo de afrontar o poder, num curioso movimento conspiratório vazio, nem colocar seus superiores hierárquicos em situação nada confortável, até vexatória mesmo, o melhor caminho são os partidos políticos. Seus superiores, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, ao agirem somente depois que instados a tanto pela Presidenta da República, Dilma Rousseff e seu Ministro da Defesa, até parece que prevaricavam sendo coniventes com esse tipo de ação de seus subordinados, deixando transparecer que os militares da ativa possam estar de acordo com os atos desrespeitosos desses aposentados, que fazem uso indevido dos Clubes Militares para pressionar politicamente o poder público a agir dentro de seus objetivos, desrespeitando Ministros e a Presidenta, que é a Chefa Suprema das Forças Armadas. É bom que saibam todos que a Democracia tem defesas. Que as dores e os gemidos de mártires, mais do que qualquer outra coisa, ensinaram o Brasil a tratar com esse tipo de problema. Que batam continência e se anunciem.

Porco Rosso

Pelo menos nesse caso o Governo não foi completamente passivo.

[youtube y3IL4iKFVQs http://www.youtube.com/watch?v=y3IL4iKFVQs youtube]

Walter Decker

No LUÍS NASSIF

Procurador da Justiça Militar reabre casos de desaparecidos

De O Globo

Procurador reabre casos de desaparecidos na ditadura

MIRIAM LEITÃO
CLÁUDIO RENATO, ESPECIAL PARA O GLOBO

O deputado cassado e desaparecido durante a ditadura militar, Rubens Paiva, ao lado da mulher e dos filhos
Foto: Álbum de família

RIO – Rubens Paiva, Mário Alves de Souza, Stuart Angel Jones e Carlos Alberto Soares de Freitas foram presos pelos órgãos de segurança em 1971 e desapareceram. Os dois primeiros, segundo testemunhas, foram torturados e mortos no DOI-Codi, na Rua Barão de Mesquita. Stuart Angel foi espancado e arrastado por um carro com a boca no cano de escape na Base Aérea do Galeão. Carlos Alberto, o Beto, morreu na Casa da Morte, centro de tortura clandestino das Forças Armadas em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. Os corpos nunca apareceram. Os quatro casos estão entre os 39 do Rio e do Espírito Santo reabertos no Rio pelo promotor da Justiça Militar Otávio Bravo. Ele achou um novo caminho jurídico.
Supremo Tribunal Federal equiparou o desaparecimento forçado, quando é feito por agentes do Estado, ao crime de sequestro, que permanece. Só se encerra quando aparece a pessoa ou o corpo. O crime aconteceu antes de 1979, mas será que terminou antes de 79? Como essas pessoas, inclusive Rubens Paiva, continuam desaparecidas, o raciocínio jurídico é que o sequestro continua em curso. Se o corpo aparecer, então é crime de ocultação de cadáver.

Ele sustenta, com base nisso, que nesses casos não se aplica a Lei da Anistia, que encerrou os crimes praticados antes de 1979. Bravo está tentando recuperar no Supremo Tribunal Militar arquivos antigos, como o inquérito de 1986 sobre o caso Rubens Paiva. Ele foi aberto logo após a redemocratização. Os militares pressionaram e, por decisão da Procuradoria Geral Militar na época, o inquérito foi arquivado. Bravo ainda não obteve os originais desse inquérito.

Procurador quer documentos das Forças Armadas

Para apurar o caso de Carlos Alberto, o Beto, o promotor ouviu como testemunha Inês Etienne Romeu, que, milagrosamente, sobreviveu à Casa da Morte e, depois, conseguiu localizar o imóvel. Ela declarou que ouviu dos militares que estavam lá que Beto desapareceu na Casa.

– Mandei um documento aos comandos militares pedindo informações e todos os documentos existentes sobre a Casa da Morte. Os comandantes militares entendem que ainda têm status de ministros e me informaram que eu não podia requisitar. Encaminhei o pedido à Procuradora Geral da Justiça Militar, que enviou o pedido. Eles responderam que não há informação – diz o procurador.

O promotor acha que há documentos dentro das Forças Armadas sobre esses fatos ou, pelo menos, informação sobre como foram destruídos.

– O militar destruir documento é crime. Quando um militar destrói um documento, ele tem que fazer um termo explicando a decisão.

Bravo foi a primeira autoridade a ouvir, após 40 anos, Eliana Paiva, uma das filhas de Rubens, que, aos 15 anos, foi presa, agredida e interrogada no DOI-Codi, no dia seguinte à prisão do pai. Portanto, testemunha-chave.

– Nem no IPM de 1986 a Eliana foi ouvida. Isso é inacreditável – comenta o promotor.

Bravo lamenta que o Brasil tenha a “mácula” de ser o único país da América Latina que não investigou crimes do regime de exceção, mas diz estar confiante com a instalação da Comissão da Verdade. O promotor de 43 anos, filho e neto de militares, rejeita o argumento de que há dois lados a serem investigados.

O programa “Espaço Aberto” sobre Rubens Paiva, exibido nesta quinta-feira na Globo News, será reapresentado nesta sexta-feira às 16h05m; sábado às 0h30m e domingo às 19h05m.

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