Universidade de Columbia ameaça usar Forças Armadas nos protestos de estudantes contra o genocídio palestino
Tempo de leitura: 4 minUniversidade de Columbia ameaça usar Forças Armadas contra estudantes em protesto pró-Palestina
Estudantes de Columbia pela Justiça na Palestina denunciaram que intimidação da faculdade rompeu negociações no campus; universidade aponta para suposto discurso antissemita nos protestos
Por Duda Blumer, no Opera Mundi
O coletivo Estudantes de Columbia pela Justiça na Palestina (CUAD, na sigla em inglês) denunciou na madrugada desta quarta-feira (24/04) que a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, intimidou os alunos com uso da força ao ameaçar chamar as Forças Armadas dos Estados Unidos caso permaneçam protestando contra o genocídio palestino promovido por Israel na Faixa de Gaza.
“A Universidade de Columbia ameaçou os negociadores da CUAD de chamar a Guarda Nacional e a polícia de Nova Iorque (NYPD) se não concordarmos com suas exigências”, anunciou o comunicado de imprensa do coletivo pró-Palestina, que se mantém em acampamento no campus como forma de protesto.
PRESS RELEASE:
Columbia University Threatens Students with the National Guard After Refusing to Bargain in Good Faith.We refuse to concede to cowardly threats and blatant intimidation by university administration. We will continue to peacefully protest. #cu4palestine pic.twitter.com/IqAlXwyeHN
— Columbia Students for Justice in Palestine (@ColumbiaSJP) April 24, 2024
Classificando a coação como “ameaça perturbadora da universidade sobre uma escalada de violência”, os estudantes que têm promovido manifestações no campus de Morningside contra a guerra em Gaza e o financiamento norte-americano para a violência afirmaram que continuam “firmes em suas convicções pela libertação palestina e não serão intimidados pela ameaça”.
O comunicado do CUAD informou que a ameaça da Universidade de Columbia foi feita durante uma mesa de negociação entre a faculdade e o coletivo.
Assim, os representantes da organização deixaram a mesa e se recusaram a retornar até que haja um compromisso por escrito de que a administração não acionará a polícia de Nova York ou a Guarda Nacional contra seus alunos.
O coletivo pró-Palestina justificou sua resistência contra a chamada do exército norte-americano porque “ao longo da história, vimos manifestantes pacíficos serem violentamente reprimidos e atacados pela Guarda Nacional: desde manifestantes do Black Lives Matter em Ferguson, Missouri, até estudantes que protestavam contra a Guerra do Vietnã na Kent State, em Ohio”.
Apoie o VIOMUNDO
Os estudantes denunciam que os manifestantes nessas ocasiões “foram brutalmente espancados e assassinados por se manifestarem pacificamente contra a guerra e a destruição”.
Uma das representantes do CUADA, Sofia Ong’ele, argumentou sobre a decisão da coalizão, afirmando que o coletivo é “diversificado com estudantes predominantemente negros, pardos e judeus, que correm sério risco de sofrer violência policial”.
A ameaça da Universidade de Columbia em recrutar o exército dos Estados Unidos para combater a resistência dos estudantes acontece no sétimo dia de protestos. No entanto, não é a primeira intimidação com violência policial.
No segundo dia de manifestação, no sábado (20/04), a universidade chamou a polícia de Nova Iorque para remover à força mais de cem estudantes que protestavam contra os “ataques genocidas de Israel a Gaza”.
O coletivo ainda questiona o desejo da universidade em querer voltar à normalidade das aulas: “como se o assassinato de mais de 30.000 palestinos – a maioria dos quais são mulheres e crianças – e a destruição sistemática de todas as universidades de Gaza pudesse ser interpretada como “normalidade”.
“Nós nos recusamos a aceitar um mundo em que o massacre em massa de palestinos seja visto como aceitável, normal e lucrativo. Recusamos a aceitar a cumplicidade da Universidade de Columbia com o genocídio”, finalizou o comunicado.
Columbia compra denúncia de antissemitismo
Por sua vez, a Universidade de Columbia não fez nenhuma declaração oficial sobre a ameaça com as Forças Armadas contra os alunos.
Desde o início das manifestações, na última semana, o primeiro posicionamento da faculdade foi nesta segunda-feira (22/04), com a declaração do presidente do instituto, Minouche Shafik.
No documento, Shafik declarou estar “profundamente triste” com a situação no campus, pendendo sua posição para o lado do “receio pela segurança dos alunos”.
Avaliando especificamente as manifestações pró-Palestina, o presidente de Columbia avaliou os protestos como “tensões exploradas e amplificadas por indivíduos não afiliados à Columbia que vieram ao campus para perseguir os seus próprios objetivos”.
Também mencionou “exemplos de comportamento intimidador e de assédio no campus”, apelando para o discurso da “linguagem antissemita” nas manifestações.
Ao falar sobre a guerra em Gaza, Shafik afirmou que “há um conflito terrível que assola o Oriente Médio”, mas que não pode permitir que “um grupo [em Columbia] dite os termos e tente interromper marcos importantes como a formatura para promover o seu ponto de vista”.
Na tentativa de voltar à normalidade das aulas, o presidente chamou por aulas ministradas virtualmente e que apenas o “pessoal essencial” comparecesse ao campus para trabalhar, além de orientar que os alunos que residem nos alojamentos da universidade não fossem até lá.
O pronunciamento do presidente também chamou por uma mesa de negociação “para concluir pacificamente o mandato e regressar a um envolvimento respeitoso uns com os outros”, que, no entanto, foi finalizada com as ameaças recebidas pelos estudantes.
Já o segundo, e até o momento, último posicionamento da universidade, foi nesta terça-feira (23/04), com mais uma declaração do presidente Shafik, ao afirmar que apoia “plenamente a importância da liberdade de expressão, respeita o direito de manifestação e reconhece que muitos dos manifestantes se reuniram pacificamente”.
Mas pondera que os protestos pró-Palestina “levanta sérias preocupações de segurança, perturba a vida no campus e criou um ambiente tenso e por vezes hostil”, de forma que era “essencial um plano para desmantelá-los”.
Nessa declaração, o representante disse que o CUAD e a universidade tinham até meia noite desta quarta-feira (24/04) para concluir as negociações, “caso contrário, opções alternativas para limpar o gramado [dos acampamentos dos manifestantes]” precisariam ser consideradas.
Shafik ainda agradeceu “o apoio das autoridades municipais e estaduais na gestão da crise”, de forma que na segunda-feira (22/04), a governadora de Nova Iorque, a democrata Kathy Hochul, visitou o campus, convocou a prefeitura, a polícia e Shafik para “discutir a necessidade de combater o antissemitismo e proteger a segurança pública”.
Leia também
Alemanha me censurou por apoiar a Palestina, afirma a filósofa Nancy Fraser à Jacobina
Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!
Deixe seu comentário