por Túlio Muniz
Matérias deste sábado, 31 de Março, nos dois jornais de Fortaleza (O Povo, http://www.opovo.com.br/app/opovo/fortaleza/2012/03/31/noticiasjornalfortaleza,2812216/casa-onde-nasceu-castello-branco-esta-deteriorada.shtml, e o Diário do Nordeste, http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1121391 ) evidenciam o quanto a identidade autocelebratória tende, na mídia, a se sobrepor à História.
Em ambas as matérias, há um quase lamento pelo abandono dos monumentos ligados à vida do cearense Humberto Castello Branco. Entretanto, em momento algum Castello Branco é tratado como “DITADOR” que de fato foi, e sim como “ex-presidente” ou “presidente”. No máximo, a matéria de O Povo, numa última notinha, grafa que “o marechal foi o primeiro presidente da Ditadura militar”.
Ora, as matérias lamentam algo real, o abandono e esquecimento de um casarão do século XIX no centro de Fortaleza, onde o ditador nasceu. Mas nenhuma delas traz o histórico do prédio e sequer arriscam a remeter ao problema sério que é a preservação de patrimônio histórico-arquitetônico na cidade das obras “modernas”.
O “esquecimento” relevado pelas matérias é por conta de quase ninguém lembrar ou celebrar os locais nos quais o ditador nasceu (a tal casa), morreu (o avião bimotor ‘preservado’ num quartel local do Exército) e onde está enterrado (o mausóleu ao lado da sede do governo do Estado.
Para além do aspecto patrimonial, os jornais perderam oportunidade de tratar de algo que pulula Brasil afora, inclusive aqui em Fortaleza: os protestos de jovens estudantes, os “esculhachos” ao longo da última semana.
As manifestações deixam claro que a ferida da ditadura continua aberta, e que se todos os ditadores forma brindados com uma boa morte, os torturadores ainda vivos podem não ter tanta sorte. Portanto, o que deve ser colocado em questão não é “o que” celebrar, mas o “por que”.
Talvez assim se compreenda o desinteresse da população acerca dos monumentos dedicados ao ditador, celebrados tão somente pela memória oficial de um poder institucional, que ainda estende tapetes aos próceres da Ditadura, seja em seus palácios seja em colunas “sociais”.
Promover a celebração da ditadura e de seus percursores é arriscar, talvez, ser relegado ao desprezo dispensado aos ditadores oriundos do golpe militar de 1964.
Túlio Muniz, jornalista profissional, historiador, doutor em Sociologia pela Universidade de Coimbra, Portugal.
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Comentários
Marcio H Silva
Cade o Morvan?
Horridus Bendegó
O jornal O Povo também apoiou a ditadura e homenageia castelo Branco mais por uma questão de bairrismo pois este ditador foi o único cearense a "presidir" o Brasil.
Quanto ao Diário do Nordeste é do aglomerado financeiro do grupo Queiróz-Jereissati (explica a matéria) e não existia na época da ditadura.
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