
Trump se inspirou num economista inexistente
Por Rui Martins*, no Observatório da Imprensa
Diante do caos criado em todo o mundo pelo presidente estadunidense Donald Trump, a imprensa se mobilizou para localizar qual sua fonte de inspiração, sabendo-se não ser Trump muito chegado à leitura.
Ninguém pode imaginar Trump, que enriqueceu com aplicações e investimentos imobiliários, procurando se informar consultando livros e teses de economistas sobre direitos aduaneiros, mundialização ou mercado livre.
Por isso, a grande curiosidade da imprensa era saber onde Trump se inspirou ou quem lhe deu a ideia de taxar pesadamente todos os produtos importados, numa espécie de nacionalismo aduaneiro.
Quem muito procura acaba por achar e pode encontrar algo surpreendente.
A editorialista de O Globo Dorrit Hazarim confirma o sentimento dos que procuram explicar o que se passa na Casa Branca, citando o desabafo do economista Paul Krugman, Nobel de Economia. Ele diz: “os dois homens mais poderosos dos Estados Unidos ficaram completamente loucos… ambos perderam o senso da realidade”.
Foi nesse clima que a imprensa norte-americana descobriu a inexistência de um economista pretensamente formado em Harvard, inspirador básico das altas tarifas decretadas por Trump, criadoras do caos e da queda das bolsas de valores em todo o mundo, inclusive o clima de tensão atual entre EUA e China.
Mas para se entender tudo, desde o princípio, é preciso retornar ao ano de 2017, quando Trump pediu ao seu genro Jared Kushner para lhe indicar um economista que pudesse reforçar de maneira acadêmica suas opiniões sobre a China.
Ora, Kushner foi procurar o economista entre autores de livros no site Amazon e ficou impressionado com o livro Death by China (que pode ser traduzido como Morto por culpa da China) e contatou seu autor, Peter Navarro, diplomado pela Universidade de Harvard.
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Havia muitos pontos em comum entre Navarro e o pensamento do então presidente Trump, tanto que o economista logo se tornou seu assessor na campanha eleitoral pela reeleição.
Trump perdeu para Biden, mas conservou Peter Navarro, que agora é seu principal conselheiro em Economia e o cérebro da guerra econômica declarada pelos EUA ao resto do mundo.
Ora, Peter Navarro ferrenho adversário da China, cita sempre em seus livros com referência um economista, também formado em Harvard, Ron Vara.
E quem é ou era o reputado economista Ron Vara? O mistério foi praticamente elucidado durante um programa da jornalista Rachel Maddow, no canal MSNBC. Um corte dessa emissão de TV viralizou com o título “a história real e ridícula por trás do plano tarifário que tornou Donald Trump numa catástrofe mundial”.
Nesse corte, Rachel Maddow pergunta por que Navarro tem tanta convicção no aumento das tarifas aduaneiras como boa solução para os Estados Unidos. Ora, Navarro se baseia em outro economista, Ron Vara, mas esse economista não existe. Trata-se de um anagrama do nome Navarro!
Em síntese, nem Peter Navarro assumiu a paternidade do aumento das tarifas aduaneiras, capazes de provocar inflação e recessão inclusive nos EUA, preferindo jogar nas costas de alguém fake, inexistente.
Quem não está gostando nem um pouco é Elon Musk, por estar perdendo com as flutuações das bolsas de valores. Para ele, Peter Navarro é um idiota ou textualmente “mais burro do que um saco de tijolos”.
Talvez maneira indireta de criticar o caos provocado por Trump, antecipando uma próxima primeira crise dentro do governo Trump.
Referência:
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/01/21/quem-manda-na-economia-do-governo-trump-novo-secretario-do-tesouro-dos-eua-foi-socio-de-soros-e-gay-e-ja-apoiou-democratas.ghtml
Corte de Rachel Maddow no Tiktok
www.tiktok.com/@maddowshow/video/7491100995892596014
https://pt.euronews.com/business/2025/04/09/quem-e-quem-na-guerra-comercial-entre-a-ue-e-os-eua
https://www.estadao.com.br/economia/musk-ataques-peter-navarro-burro-idiota-tarifas/
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*Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
*Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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