Roldão Arruda: A Comissão da Verdade e as viúvas da ditadura

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O insulto de Ustra à presidenta Dilma, chamando-a de terrorista, está velho e empoeirado. Foto: Wilson Dias/ABr

por Roldão Arruda, em blog do Estadão, sugestão de Adriano Diogo

Em grupos que defendem a falecida ditadura militar é visível uma certa comoção a cada denúncia que aparece sobre as violências cometidas naquele período. Quando se fala em estupro, sequestro, ocultação de cadáver e outros crimes cometidos por agentes que atuavam acobertados pelo aparato do Estado, esses grupos torpedeiam portais de noticias, blogs e fóruns de leitores com mensagens destinadas a desvalorizar os relatos e a Comissão Nacional da Verdade.

Dizem que deveria se chamar comissão da meia verdade e que foi criada pelo PT para investigar só os crimes cometidos por policiais e militares. Perguntam: e os crimes cometidos pelos militantes de esquerda que pegaram em armas, assaltaram bancos e cometeram outras violências?

Também investem contra meios de comunicação e jornalistas: por que não mostram os dois lados?Por que desenterram o passado em vez de se preocupar com coisas mais importantes, como o mensalão e outras denúncias contra o PT? Por que o jornalista não diz que em 1964 o Brasil estava à beira de um abismo? Se não houvesse o golpe militar e a violência que trouxe em seu bojo, argumentam, teríamos virado uma Cuba.
No fundo, continuam os mesmos. Não gostam da liberdade de imprensa.

A ditadura controlava o que os jornais diziam. Notícias desabonadoras para o regime eram vetadas. A lista de assuntos interditos variava de denúncias de tortura a reportagens sobre casos de corrupção que grassavam no governo. Em 1974 chegaram a proibir notícias sobre a epidemia de meningite que apavorou São Paulo e causou centenas de mortes.

Vigiavam as redações com a suspeita de que não passavam de valhacoutos de comunistas. Afinal, a quem interessava, senão aos comunistas, denunciar que o governo falhara na prevenção da epidemia de meningite? Para que dizer que opositores do regime eram arrancados de suas casas à noite, diante de mulheres e filhos, e levados para locais ignorados, sem direito a defesa, sem qualquer informação para a família, para os advogados e os juízes e sem qualquer possibilidade de habeas corpus?

A retórica desses grupos precisa ser atualizada. Alguém acredita, sinceramente, que a imprensa não dá atenção ao mensalão? Que as lambanças do PT não são denunciadas?
O mesmo se pode dizer em relação ao terrorismo de esquerda, lembrado pelo coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra em seu depoimento à Comissão da Verdade, após solicitar um habeas corpus na Justiça Federal.

O insulto dele à presidente Dilma, chamando-a de terrorista, está velho e empoeirado. Já foi explorado de todas as maneiras desde o momento em que o nome dela começou a ser cogitado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo.

Quantos aos militantes de esquerda que pegaram em armas, é mais que sabido que pagaram pelos seus atos. Uma parte deles foi caçada, localizada e executada barbaramente pelos agentes de Estado. A outra parte, a que sobreviveu, foi julgada e condenada à prisão por auditorias militares. A presidente Dilma teve a sorte de fazer parte do segundo grupo.

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Há milhares e milhares de páginas nos arquivos militares sobre cada um desses militantes. Ao contrário do que ocorre com os arquivos com informações sobre mortos e desaparecidos, elas são públicas.

A questão central é que desde o fim da ditadura, em 1985, o Brasil tenta em vão descobrir a verdade sobre o que não foi dito, os fatos ocorridos nos porões do Estado autoritário. Foi para isso que a Comissão Nacional da Verdade surgiu.

Ela nasceu de uma lei aprovada democraticamente no Congresso, com a tarefa de investigar e esclarecer as violações de direitos humanos cometidas pelo Estado contra cidadãos que deveria proteger. Não é uma exclusividade brasileira: todas as comissões da verdade criadas no mundo agiram da mesma direção.

Seria mais interessante, a essa altura dos debates, que as viúvas da ditadura ajudassem a esclarecer os fatos investigados e prestassem atenção ao debate em torno da Lei da Anistia. Atacar a imprensa, o passado já demonstrou, não é o melhor caminho.

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Lu Witovisk

O que mais de deixa pasma é que qdo falamos em viuvas da ditadura, pensamos na hora em senhores e senhoras. Porém, parcela da juventude repete a mesma ladainha, basta ir a outros portais (yahoo, uol..) para ficarmos de cabelo em pé tamanha a agressividade e ignorância de uma geração que não faz idéia o que foi o momento politico pelo qual o país passou.

Só pra falar mais em golpismo, recomendo, para quem tem interesse em saber um pouco mais sobre A TERRIVEL Cuba, o livro “OS ÚLTIMOS SOLDADOS DA GUERRA FRIA” do Fernando Morais, http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12822.

É ótimo, principalmente para quem ainda acredita nos EUA como baluarte da democracia. E gente que ainda vê Cuba como o “perigo vermelho”.

Fabio Passos

abolicionista

É preciso desmontar sistematica e gradualmente as estruturas militares inimigas da democracia e da nação. Nossas forças armadas estão corrompidas por um corporativismo golpista incompatível com uma democracia saudável, na qual o povo é soberano. Desmontar o golpismo latente no exército é uma tarefa árdua, mas deve ser empreendida de modo sistemático, retirando dos cargos de poder figuras retrógradas, minando a falsa aura de dignidade com que cobrem as chagas de seu passado vergonhoso, combatendo as ervas daninhas mais espigadas do corporativismo e punindo atitudes inconstitucionais. Isso requer coragem e perseverança, será que nosso atual governo possui tais qualidades?

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