Roberto Amaral: Para enfrentar o apagão que incomoda, também a energia nuclear
Tempo de leitura: 5 minCom uma capacidade instalada de 361 MW, a Usina Hidrelétrica de Mauá, localizada no Paraná, inaugurou em dezembro duas de suas cinco turbinas. Ela deve estar em pleno funcionamento até o fim de janeiro. Foto: Divulgação Usina Hidrelétrica de Mauá / ABr
O apagão que incomoda
por Roberto Amaral, em CartaCapital, enviado por e-mail pela direção nacional do PSB
Afastada a ameaça de ‘apagão’ ou racionamento neste início de 2013, é preciso ter presente que, se os problemas estruturais não forem atacados de imediato, a crise de fornecimento de energia elétrica permanecerá rondando o país na próxima década, a menos que, desgraçadamente, não nos reencontremos com o crescimento econômico.
Como explicar as reincidentes crises de fornecimento de energia elétrica (lembram-se os leitores dos apagões de 2000/2001 e da crise de 2008?), se o Brasil tem à sua disposição um dos mais ricos conjuntos de fontes energéticas do mundo, constituído pelas alternativas hidráulica, nuclear, petrolífera, eólica, solar e, até, do carvão, além do etanol e da biomassa?
Ocorre que o sistema brasileiro é fundado, essencialmente, na energia produzida pelas hidrelétricas (algo como 80% de toda a produção nacional) contando com a complementaridade das termoelétricas. A presença de fontes alternativas como a solar e a eólica (em crescimento) é ainda irrelevante e assim permanecerá por muitos anos, e a participação da fonte nuclear é irrisória, bloqueada por uma ignorância fanática.
De fato, hoje e ainda por muito tempo, dependemos e dependeremos da energia fornecida pelas hidrelétricas; dependemos, portanto, do regime das chuvas. A propósito, todos os nossos reservatórios estão presentemente operando próximos da linha de segurança, restando ao operador nacional a única alternativa disponível: acionar as termelétricas. Assim, em face da crise hídrica, estão operando todas as termelétricas, a um custo altíssimo, tanto financeiro quanto ambiental.
(Não há milagres: ao pressionarmos um interruptor, a luz só se acenderá se houver geração e transmissão de eletricidade…)
Mesmo a fonte hídrica, particularmente na Amazônia, já está ameaçada. Porque as hidrelétricas, para serem construídas, dependem do humor de ambientalistas articulados com o Ministério Público, sempre prontos a embargar os projetos de engenharia (o caro leitor terá acompanhado o noticiário acerca de Belo Monte?) que tirariam melhor proveito das quedas d’água que a natureza nos aquinhoou. Por isso, as novas hidrelétricas estão sendo projetadas para operar a fio d’água, sem reservatório. E o reservatório é o único meio de estocar combustível – água –, para que as hidrelétricas operem nos períodos de estiagem.
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Para que um sistema hídrico se auto-regule, são necessários seis meses de acumulação na capacidade de armazenamento, de forma a compensar os efeitos da sazonalidade da precipitação pluviométrica, assim como a ocorrência de períodos mais longos de seca. No Brasil, essa capacidade já foi de dois anos. No entanto, devido ao forte crescimento do consumo de energia elétrica, o valor hoje está em torno de 5,8 meses. A previsão tende a agravar-se, se levarmos em conta que as novas usinas programadas para entrar em operação têm uma razão de acumulação/produção de apenas dois meses, em decorrência daquelas exigências ambientais que impõem rigorosos limites na área a ser alagada pelos respectivos reservatórios.
Eis por que a crise das hidrelétricas se transforma em crise de todo o sistema, e as termelétricas, de simplesmente complementares, transformaram-se em essenciais. Reconheça-se, porém, que elas nos estão salvando do racionamento, elas e o sistema nacional que interliga todas as redes.
O Brasil precisa construir um portfólio de fontes de energia, razoavelmente equilibrado, o qual, sem descartar a hidrelétrica, compreenda, principalmente, o crescimento da núcleoeletricidade e a redução do uso das fontes fósseis. Impõe-se, para tanto, preliminarmente, o resgate do planejamento do setor elétrico, deixado de lado por governantes seduzidos pelas “vantagens” do mercado.
Essa diversificação de fontes é exigida por um cotidiano pontuado por apagões ou ameaças de apagões, pelo aquecimento global, pela poluição dos combustíveis fósseis e a constante variação de seus preços no mercado internacional. Diversificação também imposta pelas crescentes dificuldades – na sua maioria artificiais e contrárias aos interesses nacionais –, que, sob os mais diversos pretextos, vêm sistematicamente atrasando o programa hidrelétrico brasileiro.
A mesma ignorância antipatriótica que obstaculiza a construção das hidrelétricas é responsável pelo atraso da alternativa nuclear, que independe do regime das chuvas e da importação de matéria-prima, pois possuímos uma das maiores reservas de urânio do mundo e dominamos as técnicas de sua extração e enriquecimento.
Por razões as mais diversas, tanto Angra I, projeto norte-americano da Westinghouse, quanto Angra II, projeto alemão da Kraftwekunion, tiveram, durante a construção, interrupções e retomadas, e só entraram em operação comercial em 1985 e 2001, respectivamente, ou seja, foram necessários 13 anos para construir Angra I e 25 anos para construir Angra II, quando o tempo médio mundial é de sete anos. Angra III está atrasada 35 anos, quando o programa original, de 1975, previa a construção de oito usinas!
Por óbvio, ninguém neste país está satisfeito com os índices recentes de nosso crescimento econômico. Mas é fácil concluir que não podemos pensar em retomada do crescimento, e muito menos planejá-lo, sem prévio aumento da oferta de eletricidade. Esse aumento, para operar-se em segurança, deverá, todavia, compreender o desenvolvimento de todas as fontes disponíveis. Por outro lado, o desarranjo dos sistemas de distribuição, fruto da criminosa privatização do setor, exige providências imediatas para assegurar investimentos em melhorias dos sistemas e na sua manutenção adequada, para impedir a ocorrência de apagões provocados por falhas operacionais.
O aumento da produção de todas as fontes, oferecendo segurança ao sistema em qualquer época do ano, de par com a melhoria da rede de distribuição, em síntese, o aumento da oferta de energia, aciona o crescimento econômico e o desenvolvimento social, os quais, por seu turno, aumentam a demanda por energia. Trata-se, porém, de um círculo virtuoso.
O extremo dessa equação se confunde com os limites das reservas das fontes energéticas, mesmo renováveis, inclusive as hidrelétricas, e as derivadas da biomassa, porque, até para países de dimensões continentais como o Brasil, há limites para a substituição da produção de alimentos (de que carecem nosso povo e a humanidade) por plantações de cana-de-açúcar, soja e oleaginosas em geral, destinadas à produção de combustível alternativo. O desafio de nossos dias – produzir energia em volume suficiente para atender a uma demanda que se eleva continuamente como preço do progresso – é relativamente maior em países como o nosso, que luta pela consolidação de seu parque industrial e pela retomada do crescimento econômico. No Brasil, esse crescimento deverá ser exponencialmente maior se levarmos em conta que nosso consumo per capita ainda pode ser considerado baixo, comparado, seja às médias mundiais, seja ao ritmo dos ‘emergentes’ mais dinâmicos, seja, principalmente, às necessidades de nossas populações.
Não é só a construção de um reservatório, ou de uma usina nuclear, que causa impacto ambiental. A maior poluição vem da pobreza: saneamento, lixo, dengue e cólera também são questões ambientais que só podem ser enfrentadas com desenvolvimento. E não há desenvolvimento sem geração de energia.
Roberto Amaral é cientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004. Para ler mais do autor, clique AQUI.
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Comentários
Fabio Passos
Os ambientalistas precisam entender que, infelizmente, não podemos desembarcar do resto do mundo. Eu até queria, mas o mundo real não permite.
Não conseguiriamos viver em uma bolha dentro do regime capitalista. O regime precisa ser derrubado em todo o planeta. Antes que o destrua.
Um clássico: Village of the Water Mills – Kurosawa
http://www.youtube.com/watch?v=w1FIps–PGg
O Brasil não pode mesmo deixar sua capacidade de produção de energia com apenas 2 meses de segurança em função de sazonalidade de chuvas. É muito pouco.
Também precisamos dominar e utilizar a tecnologia atômica, não como fonte principal, mas complementar ao sistema.
E é claro que devemos recorrer a fontes de energia alternativas/limpas, mas elas são capazes de prover energia a um país que precisa crescer a no mín. 7%aa?
Marcelo S.
Concordo. No final das contas, o problema acaba sendo militar. Se o pais nao cresce economicamente, nao tem como sustentar um exército, perdendo rapidamente a soberania e ai o próprio ambientalismo iria por água abaixo.
Entao, por mais que a lógica do crescimento adoidado nao faca sentido a nível global, ela é uma realidade, e deve ser combatida a nivel global. Se o ambientalismo consegue enxergar isso, consegue tb entrar num debate sobre como levar o desenvolvimento adiante com o mínimo de danos ao ambiente. Isso poderia levar à aceitacao da energia nuclear. Mas ao recusar ambas, nuclear e hidroelétrica, acabamos deixando o verdadeiro debate nas maos de quem nao se interessa muito pelo meio ambiente.
Marcelo S.
o vídeo é muito bom!
Fabio Passos
É um filme sensacional.
Aqui o pesadelo atômico:
Akira Kurosawa Sonhos Monte Fuji em Chamas Legendado
http://www.youtube.com/watch?v=Zlp5juUe-NY
vlad
Não existem apagões.
Não leram a cartilha da patrulha vitual?
Marcelo S.
mas nao existe. O problema atual é que a producao encarece, já que as termoelétricas é que assumem. Mas nada comparado aos custos de um apagao. Antes, nao existiam sequer essas termoelétricas.
Pode ler nessa cartilha aqui:
http://www.valor.com.br/brasil/2967070/termeletricas-clima-e-crescimento-afastam-racionamento-diz-consultor
henrique de oliveira
Os ambientalista querem um país lindo , porem miseravel , sem crescimento nem tecnologia sem energia não se desenvove , e depois ainda falam da França , Noruoega , Holanda etc.
Nem indio quer ser indio basta ver suas vestes e atitudes.
Marcelo S.
O debate sobre energia costuma ser no Brasil um nebuloso e cheio de erros pra todos os lados. Até mesmo nesse texto, que na minha opiniao chega a uma conclusao correta, o autor se sai com coisas do tipo: “ignorância antipatriótica” ao se referir à ambientalistas….. pelo amor de Deus….
Sejamos ambientalistas e pragmáticos. A hidroelétrica faz tempo já nao é mais uma energia limpa. Ela alaga centenas de km² no coracao da biodiversidade, e nem sei listar os efeitos disso, pra nao falar nos índios. Devemos ao mesmo tempo ponderar que o agronegócio é o verdadeiro vilao da amazônia, se é pra falar em km² de desmatamento. Por outro lado, a energia nuclear nao acupa espaco, nao emite carbono, e temos tecnologia pra isso. O problema é o lixo atomico, que colocado num lugar estável e sem terremotos, nao deve ter grandes problemas… Outro problema é a explosao e derretimento nuclear, algo muito raro, entao a usina deve ir para longe das grandes cidades. Mas no balanco das coisas a nuclear ganha, o brasil ganha e a natureza ganha. Eólica e solar vao demorar pra aparecer em grande escala. Sei que muitos nao gostam da idéia, mas hoje negar a nuclear é afirmar a hidroelétrica.
Araújo
Sem querer desrespeito aqueles que não têm o conhecimento suficiente do problema energético: “ENERGIA É ESTRATÉGICO, IMBECIL”
Atividade estratégica na mão do privado, principalmente em um país com nossa característica, é um risco. Infelizmente a Presidenta, que foi Ministra de Minas e Energia, manteve alguns pilares do sistema elétrico do governo FHC, cujo modelo seria a privatização total de todas suas atividades, incluindo aí a geração e a transmissão. Manteve a coordenação da operação do sistema interligado na mão de uma entidade privada, o Operador Nacional do Sistema – ONS um dos grandes responsáveis pelo apagão no governo FHC, no período, 2000/2001, e agora pelos diversos blackout que vêem ocorrendo nos últimos anos. Anteriormente a operação do sistema interligado era feito de modo cooperativo, entre as empresas do setor, através do GCOI – Grupo Coordenador da Operação Interligada. O surgimento de diversas entidades: ONS, ANEEL, CCEE, EPE, etc tornou o sistema elétrico extremamente oneroso, nem porisso mais confiável. Sendo necessário rever este modelo, retornando essa atividade para mão do governo, visto que, praticamente todos os investimentos sempre têm aportes de verbas pública.
jõao
uol
Em março, vence parcela de R$ 1 bilhão do empréstimo que as Organizações Globo fizeram com o BNDES, para saldar rombo internacional.
Francisco
O crime que foi praticado foi construir Belo Monte sem reservatório. Era para ser um reservatório estrondoso!
Porque seria o último.
O Brasil encontra-se muito próximo do equilibrio demográfico (2,1% ao ano), embora ainda falte uns dez anos para parar o crescimento vegetativo parar.
Logo, se Belo Monte fosse uma hidrelétrica “no talo”, o Brasil dificilmente precisaria de mais grandes hidrelétricas.
Hidrelétricas seriam de pequeno, no máximo (uma ou duas) médio porte, mais por uma questão de distribuição da potência geradora.
Quatro ou cinco nucleares para fazer o “serviço sujo” das atuais termoeletricas (principalmente de stand by para atuar nas secas) e investir pesado na eólica e solar (incluida aí a biomassa, que é solar).
A chave de ouro, nas nossas mãos, é o aquecimento solar direto de agua para banho, chuveiro, lava-loças, etc, nas próprias casas, na própria caixa d’agua.
Só com isso o que sobraria de energia…
Mas ouvimos naturebas abobados para fazer Belo Monte.
Quem paga o prejuizo?
Em Copacabana e Jardins (isso é garantido), não vai faltar luz…
marcosomag
Segundo o Paradoxo de Jevons, lei econômica que ainda não foi revogada pelos fatos, mesmo com eficiência energética crescente existe a necessidade de novas plantas de geração pois o consumo sempre tende a crescer. A abrupta queda do crescimento vegetativo nas últimas 3 décadas não vai nos salvar do racionamento. Infelizmente, serão necessária novas plantas com os inevitáveis custos ambientais.
J Souza
Se não é possível aumentar a produção, porque tudo agride o meio-ambiente, então a solução é gastar menos!
O governo deve estimular as universidades públicas a pesquisar soluções para o consumo de energia, tais como máquinas que consumam menos, e também deve dar incentivos fiscais às empresas que utilizem plantas que consumam menos.
Mário SF Alves
“Essa diversificação de fontes é exigida por um cotidiano pontuado por apagões ou ameaças de apagões, pelo aquecimento global, pela poluição dos combustíveis fósseis e a constante variação de seus preços no mercado internacional. Diversificação também imposta pelas crescentes dificuldades – na sua maioria artificiais e contrárias aos interesses nacionais –, que, sob os mais diversos pretextos, vêm sistematicamente atrasando o programa hidrelétrico brasileiro.”
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Ambientalista… hum… deixei de ser isso no dia que realmente considerei a exata dimensão e significado da expressão “seleção natural” como solução preconizada por ambientalistas (cabeças coroadas) em resposta aos problemas socio-econômicos do Brasil e do mundo.
Rafael
Ok capitalista. Progresso a todo custo, já entendemos.
Mário SF Alves
Não, Rafael. Desenvolvimento socioeconômico; superação do capitalismo subdesenvolvimentista brasileiro; superação da ideologia Casa Grande-Brasil-Eterna-Senzala; e soberania nacional/consolidação da democracia no Brasil e no mundo; isso, sim, talvez, a qualquer custo.
Atenciosamente,
Mário SF Alves.
abolicionista
A energia nuclear pode ser conseguida de forma muito mais segura com o uso de uma substância abundante no planeta Terra: o tório.
Ao contrário do urânio, o tório praticamente não é tóxico. Além disso, a reação de fusão nuclear do tório tende a parar, ao contrário da reação com urânio, que tende a explodir.
Não sou físico, mas tenho um amigo que é professor de física. Ele me contou que os reatores de tório já existiram e funcionaram perfeitamente. O único motivo para que o tório tenha sido abandonado é o fato de que ele não pode ser utilizado para a fabricação de bombas atômicas. Durante a guerra fria, quando a maioria das usinas norte americanas foi construída, isso parecia ser uma questão importante.
Atualmente, as corporações que lucram os tubos com a produção e a exportação de urânio sabotam sistematicamente todos os projetos que postulam a fabricação de reatores de tório. Parlamentares americanos admitem que o único motivo que impede a fabricação dos reatores de tório é a dependência econômica ocasionada pela escolha do urânio.
A Noruega já desenvolveu seus primeiros reatores de tório. O Brasil corre o risco de ficar para trás, principalmente se as corporações decidirem desaguar aqui o urânio que o primeiro mundo, depois de Fukushima, não acha mais seguro.
Para saber mais sobre o tório, sugiro assistir a um excelente documentário:
http://www.vice.com/pt/motherboard/thorium-dream?Article_page=7
Os links para informações gerais:
http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%B3rio
http://www.tecmundo.com.br/ciencia/13313-cientistas-apostam-no-torio-como-fonte-de-energia-nuclear.htm
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010115061213
http://singularityhub.com/2012/12/11/norway-begins-four-year-test-of-thorium-nuclear-reactor/
http://en.wikipedia.org/wiki/Thorium_fuel_cycle
http://en.wikipedia.org/wiki/Liquid_fluoride_thorium_reactor
Mário SF Alves
Acrecente aí, prezado Abolicionista:
Tório na geração e Tesla na transmissão.
FrancoAtirador
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Bem lembrado!
http://www.wikienergia.pt/~edp/index.php?title=T%C3%B3rio_apresentado_como_combust%C3%ADvel_mais_seguro_para_fiss%C3%A3o_nuclear
Fernando Garcia
Caro colega,
Primeiro é importante notar que usinas baseadas em Tório não são novidades, existem várias plantas, algumas até comerciais, que funcionam com diversos esquemas para a reação de FISSÃO do Tório (FUSÃO do Tório não faz sentido). Notadamente a Índia usa estas plantas. A pesquisa com este tipo de reator é da década de 70.
O Tório na natureza é sim radiotivo e as usinas também geram resíduos nucleares perigosos. Agências, governamentais e não governamentais, independentes não colocam o Tório em uma patamar diferenciado ao do Urânio em relação ao risco ambiental ou viabilidade econômica. Mas o debate técnico em relação a este ponto é acirrado.
Em geral sou contra a energia nuclear. Os riscos envolvidos são muitos. Este tipo de energia é viável apenas porque é fortemente subsidiada e está, em geral, associada a projetos militares.
No caso do Brasil já li trabalhos interessantes mostrando grande potencial energético na criação de parques eólicos e aproveitamento de biomassa. Junto com nossa atual matriz, estas me parecem uma alternativa razoável.
abolicionista
Caro Fernando, não sou físico, por isso peço desculpas pela ignorância, mas seus argumentos ainda não me convenceram, pelos seguintes motivos:
1. O Tório é radioativo, mas muito menos radioativo do que o urânio enriquecido. Seu comentário dá a entender que ambos oferecem os mesmos riscos. Se você é físico, deve saber que isso não é verdade. O tório é um metal natural levemente radioativo. Ele pode ser encontrado em quase todo lugar, ele fica alojado em quantidades pequenas na maioria das rochas e solos, onde é aproximadamente três vezes mais abundante do que o urânio , e é aproximadamente tão comum quanto o chumbo. O solo contém geralmente uma média de 6 ppm de tório. O tório ocorre em diversos minerais , sendo o mais comum mineral de terra rara de tório-fosfato (como as de Catalão-Ouvidor em Goiás ), monazita, que contém até 12% de óxido de tório. Além disso, os novos reatores de tório são minúsculos e ficam embaixo da terra, a sessenta quilômetros de profundidade e não precisam ser manipulados por humanos. É evidente, contudo, que os riscos precisam ser cuidadosamente avaliados, mais um motivo para o governo investir em pesquisas na área…
2. A reação de fissão (comi bola e disse “fusão”, obrigado por corrigir) nuclear do Tório tende a parar, ao contrário da reação do urânio. Se você tem conhecimentos específicos a esse respeito, pode explicar melhor do que eu por que isso acontece, mas o fato é que a reação com combustível de tório precisa ser alimentada para continuar acontecendo. Ou seja, é muito mais difícil um reator de tório explodir (segundo os físicos que escreveram a matéria cujo link eu postei, é simplesmente nula).
3. A área necessária para se obter a energia necessária com os painéis solares dá o que pensar. O mesmo vale para a energia eólica. Será que uma grande área desmatada, do tamanho do Mato Grosso, coberta de painéis solares, não interferiria no clima? Uma opção seria usar o mar para instalar os painéis, mas sinceramente não sei até que ponto isso é tecnologicamente viável. (Por exemplo, como seria feita a manutenção desses painéis? Quanto custaria para implantá-los a fim de se produzir a quantidade realmente necessária de energia?) Nesse quesito, a energia eólica parece menos agressiva ao meio ambiente.
4. E se não houver sol, haverá energia solar? Vivemos num país com horas de sol limitadas ao longo do ano, esta pode não ser uma opção viável. Além disso, se o sol não brilhar, não será possível captar a sua energia, sendo assim necessário recorrer aos processos de energia convencionais. Também vejo essa desvantagem em relação à energia eólica.
Enfim, apesar das dúvidas que apontei, considero que realmente seja necessário investir em energia solar e eólico, mas não penso que seja viável depender delas. O Ceará, por exemplo, tem sido um grande exemplo da viabilidade da energia eólica, como demonstra a seguinte matéria da Carta Capital:
http://www.cartacapital.com.br/economia/ceara-sera-autosuficiente-apenas-com-energia-eolica-diz-governador/
Um debate interessante sobre os tipos de energia pode ser encontrado aqui (para você ver como não estou de má-vontade: o cara da energia limpa, Stewart Brand, vence o debate).
http://www.ted.com/talks/debate_does_the_world_need_nuclear_energy.html
De todo modo, a despeito das decisões que o país tomará a respeito de nossas fontes de energia, espero que isso seja feito de forma democrática, com um debate amplo e profundo e com um plebiscito popular sobre o assunto.
marcosomag
Haverá espaço na Serra do Cachimbo para os rejeitos caso usemos a nuclear em larga escala? A CNEN vai dar conta do recado? Tais usinas devem ser construídas em áreas razoavelmente distantes dos conglomerados para evitar problemas ainda pouco estudados nas populações, como o prejuízo no desenvolvimento do cérebro dos fetos. Alguém aí acredita que isso acontecerá? Claro que não! O imperativo econômico vai falar mais alto! E o uso do lixo para gerar energia elétrica, a energia solar, bagaço de cana e outras matrizes com menor impacto ambiental, vão sair dos projetos quando? SP e outras metrópoles poderiam gerar muitos MW apenas com o lixo, mas não têm nem políticas de reciclagem descentes, quanto mais aproveitar o lixo para produzir energia.
Urbano
Desde que não queiram impor ao Nordeste os resíduos atômicos, como se já não nos bastasse o multicara eduardo moita aqui em Pernambuco, está tudo bem…
Urbano
Embora transcendental, mas uma informação foi dada através de um famoso canalizador norte-americano de que o homem desconhece uma fonte de energia abundante no planeta Terra. Também foi dito que o homem lida com uma energia perigosa que não sabe como dominá-la.
Hélio Pereira
A França tem mais de 80% de sua energia de Fonte Nuclear e em todos os paises Europeus ela é usada em Larga Escala!
Se temos uma enorme Reserva de Urânio,porque não utilizarmos esta matéria prima?
A energia nuclear pode e deve ser utilizada,sou favorável inclusive ao Desenvolvimento de Armas Nucleares para defender nossas Reservas Minerais,uma vez que “nossos amigos” americanos do norte não são confiaveis e não vacilam em invadir outros paises que tenham os minerais que precisam para “alimentar sua Fome de Poder”.
Norte-americanos não tem amigos,apenas interesses!
abolicionista
Caro Hélio Pereira, que tal trocarmos o urânio pelo tório, que é muito mais abundante e muito mais seguro?
Hélio Pereira
abolicionista,toda alternativa que gere energia é válida,principalmente quando nos deixa independente dos americanos do norte!
Athos
Utilizar o tório seria ótimo mas estamos discutindo soluções de hoje e hoje o torio não e alternativa.
Não existe reator comercial. O tório e para daqui a 15 ou 20 anos.
Hoje a solução e geração nuclear de urânio e pesquisar os novos fast reators.
Tem que pesquisar em todas as direções. Nas infelizmente não pesquisamos nada.
O Brasil não conyroi um reator experimental ha 50 anos.
Fernando Garcia
A idéia que reatores a base de Tório sejam muito mais seguros não é confirmada por agências independentes. Há acirrado debate técnico sobre este ponto (dê um olhada nos links que você mesmo colocou acima). A idéia não é nova e está sendo vendida como “a salvação da pátria”, e acredito que devemos ser mais cautelosos.
A Índia iniciou um programa de pesquisas na área na década de 60. Sem dúvida é o país mais avançado neste assunto (e não a Noruega) e aquele que irá investir em usinas a base de Tório em maior escala. Algumas fontes falam em algo da ordem de 60 usinas, algumas já iniciadas!
Um boa fonte sobre a questão nuclear (infelizmente em Inglês), talvez seja a edição de outubro de 2010 da Physics World (é totalmente não técnica). Trata-se de uma reportagem pré-Fukushima, quando a onda da energia nuclear para combater aquecimento global esteve no auge… coloco que “talvez seja” porque devemos ser especialmente desconfiados ao ler sobre o tema de energia…
http://physicsworld.com/cws/download/oct2010
Porco Rosso
Não é a primeira vez que esse Roberto Amaral recorre à falácia de reduzir à qustão ambiental as críticas à construção de megahidrelétricas na Floresta Amazônica. Pra ele índio, extrativista, ribeirinho, pequeno agricultor, nada disso importa se é para o bem da gente civilizada no sul do País.
Mário SF Alves
Porco,
Desde já elejo-o catedrádico em Roberto Amaral. Mas, agora sério, pense bem, não seria você aquele que de fato está sendo reducionista?
Att.,
Mário SF Alves [ex-ambientalista]
MariaC
Mas ninguém diz: a população é mal educada e não economiza. Todos os prédios de governos estão acesos o dia todo. Não desligam nem no período de almoço longo, que sabemos que é. Não mudam o horário de comércio que se fosse mudado em uma horinha só, já mudaria o horário do chuveiro, o pico mais idiota de todos. As construções são um “deusnosacuda” em termos de desperdício.
Miranda
A cerca de dois anos li um artigo do Washington Novaes que mostrava ser possivel um maior aproveitamento das usinas hidreletricas ja em funcionamento e com sua modernização, produzir cerca de 20% a mais de energia.
Claro que tambem devem existir estudos sobre perdas no transporte dessa energia até o usuario. Os aparelhos de baixa eficiencia associados ao uso indevido de equipamentos que permanecem desnecessariamente em stand by tambem devem contribuir para o desperdicio.
Sabemos que no Brasil existe pouco investimento para o desenvolvimento de uma matriz energetica mais diversificada.
Juntando isso a outras coisas que nao sei por falta de conhecimento tecnico, acredito ser possivel uma utilização mais racional da energia eletrica, sem que isso signifique um menor nivel de bem estar e de desenvolvimento economico.
Fábio
Enquanto a palavra mágica for “crescer” (ao invés de MELHORAR !!! ), nossos recursos e belezas naturais serão gradativamente DIZIMADOS, até finalmente nos darmos conta de que dinheiro NÃO É ALIMENTO !!
jeanette
http://www.ecodebate.com.br/2008/12/11/efeitos-desconhecidos-da-mineracao-de-uranio-artigo-de-marcia-gomes-de-oliveira-suchanek-e-norbert-suchanek/
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