Roberto Amaral: Celso Lafer, o complexo de vira-lata e o lobby sionista

Tempo de leitura: 6 min
27 stembro 2024: O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, discursa na 79a sessão da Assembleia Geral da ONU, em NOva York, EUA. Foto: Loey Felipe /ONU

O complexo de vira-lata e o lobby genocida

Por Roberto Amaral*

Celso Lafer, para quem não sabe, é o nome de um ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil nos governos Fernando Collor (1992) e Fernando Henrique Cardoso (2001-2002).

De suas passagens pelo Itamaraty não se conhecem registros notáveis, mas se notabilizou quando, em janeiro de 2002, proporcionou lamentável fissura na dignidade nacional.

Em viagem oficial aos EUA, submeteu-se, no aeroporto de Miami, a tirar os sapatos ao passar pelo controle de segurança do aeroporto. O episódio, que não honrou a tradição da Casa de Rio Branco, gerou polêmica na imprensa e mal-estar nos círculos diplomáticos.

A crítica variou entre a censura ao comportamento subserviente do nosso ministro e os protestos contra o tratamento tido como nada amistoso dispensado à autoridade brasileira. Ficou nisso.

Vale acrescentar que Celso Lafer, além de ex-ministro, é professor-doutor aposentado da USP, a mais importante universidade brasileira.

Nada obstante os justos  títulos, se aventura como lobista da guerra e do governo facínora que comanda o enclave de Israel na Palestina, responsável pelo primeiro genocídio – ainda em curso – do século XXI. É, pelo menos, o que exala de seu artigo “O embargo à compra de equipamentos de Israel” (Estadão, 20/10/2024).

A primeira leitura sugere tratar-se de adaptação de provável Parecer, requerido por quem não se sabe e talvez não seja relevante saber.

Pode ter sido a indústria armamentista, pode ter sido a caserna desatendida, pode ser, até mesmo, o ainda ministro da defesa em sua campanha visando, em momento muito delicado, a desestabilizar a política externa do presidente Lula, seu chefe.

Apoie o VIOMUNDO

Fiquemos com a “melhor” hipótese: os interesses do sionismo.

O texto não honra o professor sênior. Seja na forma, seja no conteúdo, seja, principalmente na tentativa de argumentação jurídica, que poderia ser seu ponto alto.

Assim, por exemplo, Lafer abre o arrazoado cavalgando afirmação absolutamente imprópria à terminologia jurídica, ao afirmar que o presidente Lula “embargou a compra de equipamentos”. Ora, essa hipótese é descabida até mesmo como tese.

A insustentabilidade da premissa primária torna insanavelmente descabidas as considerações dela consequentes. E revela negligente e capenga compreensão do quadro constitucional pertinente. O que é incompreensível em texto da lavra de um jurista.

Comecemos, porém, com seu surpreendente desconhecimento das leis das licitações, pois a arguição visa a contestar o ato do presidente da república que revogou concorrência do ministério da Defesa que aprovara a compra, pelo ministério, de equipamentos militares de empresa com sede em Israel, Estado beligerante contra a civilização.

Diz Lafer que a decisão não tem base “nos princípios que disciplinam a administração pública brasileira (…)”.

Vejamos o que reza a lei das licitações (Lei nº 14.113/2021):

“Art. 71 –  Encerradas as fases de julgamento e habilitação, e exauridos os recursos administrativos, o processo licitatório será encaminhado à autoridade superior, que poderá:

I –  (…)

II – revogar a licitação por motivo de conveniência e oportunidade”.

O professor se esmera em elogios ao insubordinado ministro da Defesa e (eis o ponto nodal da questão); na mesma toada desanca a política externa. Afirma que a decisão presidencial “não se justifica pelos princípios da paz e da solução pacífica do conflito…”.

Ora, o beneficiário da compra seria um Estado beligerante, e fornecendo-lhe divisas, o Brasil estaria objetivamente se associando aos seus crimes!

Lafer, porém, insiste e logo adiante escreve, retomando a linguagem dos pareceres jurídicos: “Concluo assim do acima exposto que a decisão do presidente Lula é uma sanção discriminatória que não se amolda aos princípios norteadores das relações internacionais e da administração pública do país”.

Seu cliente fica exposto nesta afirmação que se esvai na pura retorica: “É [a decisão de Lula] equivocada avaliação diplomática do interesse nacional, fruto de uma opacidade intencional (sic.) de sua política externa, animada por um ímpeto de depreciar Israel no cenário geopolítico das paixões e tensões da vida internacional”.

Quem deprecia Israel – e o está levando ao justo isolamento internacional – é sua política declaradamente genocida e covarde, de base racista, sustentada pelo guarda-chuva financeiro, militar e estratégico dos EUA. E que não se aguarde o julgamento da história. Ele  se acha em pleno andamento, e Israel já é réu.

Lafer, como se vê, finge desconhecer o Preâmbulo da Constituição, que institui um Estado Democrático destinado a assegurar, entre os valores supremos ali enumerados, o compromisso com a “solução pacífica dos conflitos” na ordem internacional.

Além disso, igualmente ignora os princípios constitucionais das relações internacionais do Brasil (art. 4º), onde se destacam o da “prevalência dos direitos humanos”, a autodeterminação dos povos”, a “defesa da paz” e o “repúdio ao terrorismo e ao racismo”.

Todos esses princípios estão sendo frontalmente agredidos por seu cliente.

Uma gama de manifestações emitidas no âmbito das Nações Unidas e nos fóruns internacionais denominam o que está ocorrendo em Gaza e na Cisjordânia, criminosamente ocupadas por Israel,  e agora no Líbano, como flagrante continuidade do genocídio mais visível e documentado da história da humanidade.

A atitude do Brasil, por seu chefe de Estado, recusando o ignóbil papel de conivente e colaborador do  projeto sionista – tentado mediante o disfarce de compras de armas (uma forma de financiar o Estado agressor) –  não é apenas o legítimo exercício de uma faculdade presidencial. É, também, o cumprimento de exigência constitucional e, acima de tudo, o atendimento de irrecusável dever moral.

Lamentavelmente, faz-se necessário lembrar a um ex-ministro de relações internacionais que o Brasil está submetido à jurisdição da Corte Internacional de Justiça, cuja atuação vem revelando a extensão do genocídio sionista, a abundância dos crimes contra a humanidade, em permanente exercício pelo Estado do Israel (cujos interesses e crimes são defendidos pelo professor-parecerista) e uma forma, ainda que parca do ponto de vista econômico, mas monstruosa do ponto de vista moral, seria nossa contribuição financeira para o horror, mediante a insólita compra de armamentos.

Na contramão dos interesses da guerra, está o Brasil, legal e  moralmente, obrigado a envidar todos os esforços ao seu alcance para fazer cessar e prevenir a continuidade do inominável massacre imposto às vítimas do genocídio em curso.

O mínimo é não ajudar financeiramente o massacre de palestinos, a obsessão sionista, que o mundo se recusa a barrar.

Considerando que o presidente da República deveria, na apreciação da licitação, levar em conta tão simplesmente sua legalidade formal – abstraindo o mundo e a realidade fática –, e levada às últimas consequências as abstrações históricas sugeridas pelo artigo, estaria o Brasil de outrora política e eticamente autorizado, em tese, a comprar equipamentos, eficientes que fossem, utilizados em campos de concentração nazistas, desde que fossem objeto de licitação vencida pelo regime opressor. O que nossa honra repele.

No frigir dos ovos, estamos em face  do insólito discurso da caserna atrasada, de que é locutor o ministro Múcio, para nos dizer que a decisão do presidente Lula “desconsidera não só a conveniência, mas também a oportunidade da administração pública brasileira de aprimorar, pela zelosa ação do Ministério da Defesa, a qualidade do equipamento das Forças Armadas”. Não é por aí.

A qualidade do equipamento das forças armadas do Estado brasileiro depende da anterior definição – política e do poder civil – do papel que lhe deve ser destinado.

E este papel só terá sentido quando as tropas se libertarem da subordinação doutrinaria das formulações do Pentágono, que elege, em detrimento da defesa da soberania nacional, a prioridade do combate a um inimigo interno que inventa: a ameaça comunista que só sobrevive nas mentes tacanhas de espertalhões e golpistas.

De outra parte, não dispõe de forças armadas o país que as aparelha com equipamentos, tecnologia e doutrinas estrangeiras. O reaparelhamento das forças armadas do Estado brasileiro depende de tecnologia e indústria bélica autônomas.

Mas, para tanto, o país (dramaticamente ainda preso ao falso destino de economia agroexportadora, imposto pela classe dominante de sempre) carece de um projeto de ser: em pleno século XXI não temos clareza de que sociedade pretendemos construir, e quando ensaiamos qualquer movimento que vise a um mínimo de independência, a independência possível ditada pelas nossas circunstâncias, somos bombardeados pela pelo 1% de ricos e muito ricos, como os donos da Faria Lima, comprometida com  nossa condição de país dependente na esquina do capitalismo.

***

O BRICS e o complexo de vira-lata – A cúpula do BRICS reúne em Kazan, na Rússia, países que abrigam mais da metade da população mundial.

Veículos como CNN e Bloomberg registram a grandeza do evento. Mas por aqui, nessa miséria de informação e de análise, nove entre dez comentaristas insistem em fazer crer que:

1) o líder russo está isolado (devido à guerra contra a OTAN na Ucrânia);

2) O BRICS nada mais é que uma provocação ao “Ocidente” (ao qual julgam pertencer).

A cobertura do Jornal Nacional é de uma facciosidade de fazer inveja à Fox News.

Hesitação diplomática – Em seu discurso na cúpula dos BRICS, feito remotamente, o presidente Lula denunciou, com firmeza, que “Gaza se tornou o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo. Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano”.

Nada obstante isso, que é muito, o chanceler Mauro Vieira afirmou à imprensa, em Kazan, que não está em consideração romper relações com o Estado genocida: “Romper relações não leva a nada, só leva ao acirramento da situação, pode levar a conflitos maiores na região”, aduziu.

Erra o ministro, e o melhor exemplo de seu erro de avaliação é o caso do apartheid, regime racista (como o do enclave sionista) que foi isolado e enfraquecido após diversos países africanos e europeus romperem relações com a África do Sul.

A serventia da bonança – O ministro Fernando Haddad celebrou, nas redes sociais, o fato de o FMI haver atualizado a projeção de crescimento econômico do Brasil, de 2,1% para 3%: “Crescimento sustentável com inflação controlada e justiça social”, exultou.

De fato, sobram razões para celebrar a bonança: trata-se de um ótimo momento para aplicar controle de capitais, taxar as grandes fortunas, rever as faixas do IRPF (como prometido), ampliar o investimento público em Saúde e Educação e mandar para as calendas toda proposta reacionária de arrocho no povo trabalhador. Mesmo porque 2026 está logo ali.

E lá se foi mais um amigo – Vladimir Carvalho foi um grande cineasta-documentalista porque era, acima de tudo, um grande brasileiro.

*Roberto Amaral foi presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula. É autor do livro História do presente – conciliação, desigualdade e desafios (Editora Expressão Popular e Books Kindle).

* Com a colaboração de Pedro Amaral

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

.
.
O Estado-Maior General das Forças Armadas Iranianas emitiu um comunicado detalhando o ataque agressivo do regime sionista contra o território persa, lançado na manhã de sábado, realizado com o apoio dos Estados Unidos da América (EUA).

Abaixo segue a íntegra do texto do comunicado:

“A honrada nação do Irã Islâmico é informada de que os aviões inimigos sionistas cometeram uma agressão aberta contra as leis internacionais na manhã de sábado, 26 de Outubro.

Do espaço de que dispõe o exército terrorista norte-americano no Iraque, a cem quilômetros das fronteiras do Irã e de longe, foram lançados vários mísseis aéreos de longo alcance, que possuem uma ogiva muito leve, aproximadamente um quinto das ogivas dos mísseis balísticos iranianos. .

Esses mísseis foram direcionados contra alguns radares fronteiriços nas províncias de Ilam, Khuzistão e em redor da província de Teerã, causando danos limitados e de baixo impacto, devido à ação oportuna da defesa aérea do país.

Este ataque resultou em danos em determinados sistemas de radar, alguns dos quais foram imediatamente reparados e outros estão em processo de substituição.

Nessa ação ilegítima e ilegal, foi detectado e interceptado um número significativo de mísseis, enquanto aviões de combate inimigos foram impedidos de entrar no espaço aéreo do país.

O Irã, embora reserve o seu direito legal e legítimo de responder no momento apropriado, enfatiza o estabelecimento de um cessar-fogo duradouro em Gaza e no Líbano para evitar o massacre de pessoas indefesas e oprimidas às mãos do regime sionista.

Alertamos o governo terrorista e criminoso dos Estados Unidos da América – que desempenha um papel central no apoio às ações criminosas do regime sionista para perturbar a segurança da região – para evitar a propagação do conflito e da insegurança na região e a morte de pessoas inocentes, especialmente em Gaza e no Líbano.

Advertimos também que os EUA não se deixam ficar ainda mais presos no atoleiro que o regime ilegal e ilegítimo de Israel criou para si e para os seus aliados.”

https://es.irna.ir/news/85640226/Estado-Mayor-de-Fuerzas-Armadas-Ning%C3%BAn-caza-israel%C3%AD-pudo-entrar

https://en.irna.ir/news/85640217/Israeli-regime-used-US-controlled-airspace-in-Iraq-to-attack

Zé Maria

“isRéu usou o Território do Iraque
Controlado pelo Exército dos EUA,
a 100 quilômetros da Fronteira do Irã,
para realizar o ataque”,
afirmou o Estado-Maior das Forças Armadas Iranianas neste sábado (26). segundo a Agência de Notícias Tasnim.

Zé Maria

.

A História comprova que é uma ilusão imaginar que

Sionistas de isRéu cumprirão Qualquer Acordo de Paz.

O Sionismo é por natureza Racista, Ofensivo e Belicista.

.

Zé Maria

.

“isRéu Atacou o Irã
E não Convenceu!”

Por Salem Nasser

No Selective Blindness:

https://youtu.be/eiYXJN4h_N0

.

Maria Madalena

Prefiro seguir a linha do mestre e sábio LULA e sua equipe nesse caso. Sempre que vou contra o que eles decidem – erro! Eles que estão dentro do jogo sabem as regras e como desviar do mais perverso inimigo que ronda a nossa casa. Assim sendo confio que esse, neste momento, ainda é o melhor caminho.

Zé Maria

Irã e Iraque Fecharam o Espaço Aéreo
na Madrugada de Sábado para Domingo

Qualquer Espaçonave ou Armamento Aéreo que sobrevoar os Territórios dos Dois Países será Prontamente Abatido

Fonte: IRNA

Zé Maria

GUERRA TOTAL TERCEIRIZADA

Apoiado logisticamente pela OTAN (USA/EU/UK) isRéu

Bombardeia 2 Cidades do Irã, dentre elas a Capital Teerã.

Segundo informações da IRNA, Agência de Notícias do Irã,
não houve vítimas nem abalos à Infraestrutura do País,
pois os mísseis israelenses teriam sido interceptados:

“Uma fonte da segurança iraniana disse
que alguns dos sons ouvidos foram devido
à atividade de defesa aérea em Teerã,
e a defesa aérea operou com sucesso
durante o incidente [ataque israelense].”
https://x.com/IrnaEnglish/status/1849967640313262589
“Os serviços de emergência em Teerã
relataram que nenhum incidente que
exigisse assistência foi relatado na
capital e seus arredores até as 3h22
da manhã de sábado [Horário Local].”
https://x.com/IrnaEnglish/status/1849968011270078946
“Apesar de alguns rumores e especulações
da mídia ocidental e israelense, o Aeroporto
Imam Khomeini está em condições estáveis,
e nenhum incidente de segurança foi relatado.
Os voos neste aeroporto estão operacionais,
os balcões estão abertos e o check-in de
passageiros está em andamento.”
https://x.com/IrnaEnglish/status/1849971420584964274
https://x.com/IrnaEnglish/status/1849983227873673525

https://en.irna.ir/

Maria Madalena

Toda vez que achei que Lula e sua equipe estavam errados quebrei a cara! Menos no segundo mandato da Dilma que por conhecer os velhos perversos capachos do perverso império, sem potência sexual, desesperados atrás de um viagra pago com dinheiro público para uma descarga que aperta o botão ou puxa o cordão e vai embora levando um pouco do mau cheiro junto, entendi que não dá para arriscar tudo. Belchior me disse certa vez, sobre um assunto parecido, que era preciso não provocar demais as feras para elas não se voltarem contra a mãe latina com fazem com a mãe Palestina e região. Assim sendo, no meio de estudos sobre a região, penso que a base americana que USA os judeus com escudos humanos para disfarçar de estado é burra e está com sangue nos dentes. Mas também com os dias contados.
Abraços carinhosos.

Deixe seu comentário

Leia também