“Quem se entrega à mídia se arrisca a ser destruído”, escreveu Mirian Dutra em 2004
Tempo de leitura: 4 minMÍDIA & PRIVACIDADE
‘Até onde vai a privacidade?’
por Miriam Dutra
dica dos Amigos do Presidente Lula
copyright Blog do Noblat, 1/09/04, reproduzido no Observatório da Imprensa
No momento, essa é a grande questão na Espanha. Um país que saiu do script e criou um verdadeiro fenômeno: a imprensa do coração, a chamada ‘prensa Rosa’. Qualquer sociólogo europeu ou psicólogo admite que a Espanha supera os demais países quando abre espaço para falar dos chamados famosos, gente que não trabalha, que não se sabe de onde vem, mas que está nas páginas de todas as revistas e é comentada nas tvs diariamente.
São filhos, namorados, ex-maridos, ex-mulheres – não há um critério que predomine. Quem por um segundo fez sucesso na Espanha ou apareceu num jornal ou na tv pode ter certeza que no dia seguinte terá um paparazzi no seu pé. Nos países europeus, até por conta das casas reais, da nobreza enfim, isso sempre fez parte do cotidiano. Mas na Península Ibérica, a fofoca se transformou numa loucura!!! Avançou todos os sinais.
Exatamente nesta época, final de verão, quando revistas e tvs atraem grandes audiências oferecendo fotos coloridas e entrevistas exclusivas, o povo que tudo consume com indisfarçável avidez começa a se perguntar ao mesmo tempo até onde vai a privacidade, até onde se pode invadir de todas os modos possíveis e impunemente a vida de uma pessoa.
O debate pegou fogo desde que morreu há um mês Carmen Ordoñez, uma socialite filha de toureiro, ex-mulher de toureiro e mãe do toureiro Francisco Rivera. Morreu de overdose.
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Vivia de drogas, anfetaminas e soníferos, e freqüentava o jet set. Seu corpo não agüentou estilo de vida tão explosivo. O mais interessante, contudo, era que ela já não tinha mais dinheiro para sustentar seus prazeres e caprichos.
Vivia de vender entrevistas exclusivas sobre sua vida. Por aqui, nenhuma entrevista de celebridade é concedida de graça. Todas são pagas e muito bem pagas.
A indústria do coração movimenta pelo menos um milhão de dólares por ano em entrevistas ou fotos. E o pior: a cada dia tem mais gente vivendo disso.
Outro fato que mexeu com a indústria do ‘corazon’ foi a fotografia do primeiro-ministro Jose Luiz Rodrigues Zapatero de férias com a família na ilha de Menorca. Tradicionalmente, os governantes posam para os fotógrafos com as famílias (mulher, filhos e agregados) quando entram de férias.
Depois são deixados em paz. Dessa vez não foi assim. Zapatero acabou fotografado com a família dele (duas filhas de oito e dez anos) num barco.
Ficou furioso ao ver a foto das filhas estampadas em várias revistas e jornais.
Mandou um protesto formal a todos os meios de comunicação: a privacidade da sua família deve ser preservada de todas as maneiras, alertou. Mas como preservar a intimidade da família Zapatero num país onde a Duquesa de Montoro, Eugenia Mzartinez de Irujo, é internada vítima de um ataque de ansiedade causado pelo assédio dos paparazzis – fotógrafos free-lancers que vendem o que fazem a quem lhes paga mais?
Alguns críticos da legislação espanhola dizem que ela é muito boazinha com casos como esses. Os juízes se enrolam com os argumentos de uns e de outros e no fim não sabem dizer quem tem razão.
No Japão, jornalistas reconhecidamente teimosos e insistentes são punidos até com demissão. Os Estados Unidos estudam uma mudança em suas leis que regulam o assunto para torná-las mais severas.
O fato é que os excessos da imprensa em toda parte incomodam cada vez mais a políticos, atores, atrizes, famosos em geral e aspirantes à fama. Ocorre-me, porém, uma pergunta: quando você decide sua vida já não sabe o que enfrentará? C
laro, isso não significa que sua vida terá de ser um livro permanentemente aberto e acessível a todo mundo. Mas creio que cada um sabe ou deve saber até onde quer ir. Quem se entrega à mídia se arrisca a ser destruído.
Ah, sim, tem mais um fato que não posso deixar de contar. Os ‘famosos’ daqui quando não têm dinheiro ou bastante dinheiro ‘criam uma situação’. Um casamento, por exemplo, um divórcio, uma briga e até uma falsa gravidez. Só para ganhar algum em troca de uma entrevista exclusiva.
É assim que muita gente vive ou tenta viver bem na Espanha ! Olé !!
(*) Míriam Dutra é jornalista e vive em Barcelona
PS do Viomundo: Ao publicar o artigo, em 1994, Ricardo Noblat ainda não trabalhava para as Organizações Globo. Ele anunciou Mirian como nova colunista do blog, mas foi o único artigo assinado por ela. Segundo Os Amigos do Presidente Lula, pode ter sido um recado à Globo, que confirmou ter reduzido o salário de Mirian em 2004. Agora Noblat defende seu empregador com a singela história de que ela entrou na sala de um diretor e pediu para trabalhar no Exterior. Foi atendida! Quem, como eu, foi correspondente da emissora em Nova York, sabe que não é tão simples assim. Noblat pergunta: “Míriam reclama, hoje, de pouco ter trabalhado quando de Lisboa foi para Londres e, de lá, para Barcelona. Ora, então por que não voltou? Ou por que continuou recebendo salário da Globo sem pegar no pesado?”. A pergunta deveria ser outra: por que a Globo sustentou no Exterior uma correspondente que não trabalhava?
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Comentários
Urbano
Adivinhem quem normalmente o faz…
carlos
Eu quero lá saber quantas meretizes esse vagabundo teve, o povo quer saber é quanto esse vagabundo enviou através de offshores nas ilhas caymam e outras no Panamá dinheiro do povo brasileiro dos nossos impostos prá essa que é tão vagabunda quanto a irmã e o filho porque tá no DNA deles.
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