Entrevista com Valter Pomar: PT, um partido ímpar
No Página 13, 11 DE FEVEREIRO DE 2013, sugerido pelo Ivo Pugnaloni
“Temos quer voltar a ser um partido que atua também nos anos ímpares e que sabe combinar luta social, luta ideológica, construção e partidária, com disputa eleitoral, ação parlamentar e governamental”.
O jornal Página 13 entrevista nesta edição Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT e Secretário Executivo do Foro de São Paulo. O dirigente petista faz uma análise da trajetória do partido que completa 33 anos, no dia 10 de fevereiro. Fala sobre os dez anos do partido frente ao Governo Federal; e a necessidade de que o Processo de Eleições Diretas, que será realizado este ano seja capaz de formular uma nova estratégia para o PT enfrentar a atual situação política, nacional e regional e mundial.
PG13 – O PT completa 33 anos no dia 10 de fevereiro. Qual é a diferença do PT de 1980 e de hoje?
Valter Pomar – A principal diferença é que hoje somos governo nacional e temos melhores condições para materializar nossas propostas. Mas conquistamos a presidência de República em condições muito diferentes daquelas que existiam em 1980 ou em 1989. O PT é diferente, o Brasil é diferente, a América Latina e o mundo são diferentes.
PG13 – O que mudou desde fundação do PT para cá?
Valter Pomar – De maneira geral, a onda neoliberal que começou nos anos 1970 afetou negativamente o mundo do trabalho, as nações em desenvolvimento, o estado de bem estar europeu, o socialismo de tipo soviético e causou imensos estragos na cultura progressista, democrática, de esquerda em todo o mundo. Tudo isto constrange o potencial de um governo de esquerda.
PG13 – Como, apesar deste contexto negativo, o PT ganhou as eleições presidenciais?
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Valter Pomar – Há várias causas. O neoliberalismo chegou tardiamente no Brasil, quando já estava refluindo no resto do mundo. Em parte por isto, em parte por nossas virtudes, conseguimos impedir os tucanos de implementar o neoliberalismo até o fim: por exemplo, preservamos estatais importantes, como o Banco do Brasil e a Petrobras. O que quer dizer que a correlação de forças aqui não era tão negativa quanto em outras partes. Por outro lado, apesar de também ter sido impactado, o PT conseguiu ampliar sua influência eleitoral nos anos 90, o que funcionou como um contraponto ao refluxo das lutas sociais naquele mesmo período e funcionou como um acúmulo de forças fundamental para entender a vitória de 2002. E, por fim, há um fato importantíssimo: uma parte da burguesia brasileira estava descontente com o fundamentalismo neoliberal de FHC e não fez contra Lula 2002 o que havia feito contra o Lula 1989. Essas são algumas das causas que nos levaram a vencer. A correlação de forças não impediu o PT de ganhar as eleições presidenciais de 2002, mas produziu um governo muito diferente do que faríamos, por exemplo, se tivéssemos vencido em 1989. Naquela época teríamos um governo de esquerda, já a partir de 2003 tivemos um governo de centro-esquerda.
PG13 – Em que o PT avançou?
Valter Pomar – Aqui é preciso distinguir as coisas. O PT nos anos 80 era o partido da luta contra a ditadura e contra a transição conservadora, um partido de oposição, ancorado nas lutas sociais e no socialismo como objetivo. Já nos 90 nos convertemos em alternativa de governo contra o neoliberalismo. E a partir de 2003, viramos o partido do presidente da República. Assim, do ponto de vista de massa, nossos êxitos se confundem com os êxitos do governo, que de maneira muito resumida consistem em ter melhorado a vida do povo, recuperado o papel do Estado e adotado uma política de integração regional. Numa frase, estamos nos desfazendo da herança maldita do neoliberalismo. Mas o Partido não pode ser avaliado apenas pelo que fez ou deixou de fazer enquanto governo. Temos objetivos históricos que vão muito além daquilo que um governo é capaz de fazer. E, neste aspecto, o balanço é mais contraditório.
PG13 – Você acha que nesses anos o PT retrocedeu?
Valter Pomar – As pesquisas, inclusive as nossas, mostram que o PT segue sendo o partido com maior apoio popular, 24%, muito à frente do segundo colocado, que é o PMDB, com 6%. Mas somos os maiores, num ambiente em que cai o número de brasileiros e brasileiras que manifestam preferência por algum partido: 61% em 1988, 44% em 2012. De maneira geral, podemos dizer que nos últimos dez anos melhoraram as condições materiais de vida do povo brasileiro, mas a subjetividade popular não acompanhou o ritmo. Por subjetividade, eu me refiro ao ambiente cultural em geral, à postura dos meios de comunicação e da indústria cultural, à qualidade da educação pública, à auto-organização social, à democratização da política e à vida interna dos partidos. No concreto: hoje no PT temos mais filiados-eleitores que filiados-militantes. E nossa vida interna, nosso debate, está longe, muito longe, da que necessitamos para governar e principalmente transformar profundamente o país.
PG13 – Apesar disto, podemos falar que o PT é hoje o maior partido de esquerda da América Latina e um dos maiores do mundo?
Valter Pomar – Eu evito usar esta expressão, porque me recorda uma frase de um ministro da ditadura militar acerca da Arena. Brincadeiras a parte, o PT não é dos maiores partidos do ponto de vista numérico. Pode ser que esteja enganado, mas acho que o percentual de brasileiros filiados ao PT é inferior ao de uruguaios filiados à Frente Ampla. Aliás, o PT precisa crescer muito em número de filiados, o que exigirá garantir a existência de núcleos, de formação e de comunicação partidária. Mas voltando a tua pergunta, embora numericamente possamos não ser os maiores, ao menos proporcionalmente, do ponto de vista político o PT é visto hoje como um dos partidos mais importantes do mundo e da América Latina. Não apenas porque governamos o Brasil, com os êxitos já citados, mas também porque expressamos uma esquerda que soube resistir relativamente bem à crise do socialismo soviético e da social-democracia.
PG13 – Quais os principais desafios do Partido para o próximo período?
Valter Pomar – Um dos desafios é não viver do passado glorioso, nem se conformar com o presente exitoso. Noutras palavras: o PT não pode virar um partido que tem um grande passado pela frente. Até porque, se fizermos isto, seremos derrotados pela direita, que está se renovando, se reciclando, nos atacando e experimentando caminhos para nos derrotar. Outro desafio é deixar de ser um partido de anos pares, ou seja, um partido que vive fundamentalmente em função dos processos eleitorais, dos governos, dos mandatos parlamentares e do pagamento das dívidas das campanhas anteriores.
Temos quer voltar a ser um partido que atua também nos anos ímpares e que sabe combinar luta social, luta ideológica, construção e partidária, com disputa eleitoral, ação parlamentar e governamental. Foi com esta combinação de formas de luta que acumulamos forças para vencer em 2002. Um terceiro desafio é construir uma estratégia que nos permita passar para uma nova etapa, uma etapa de reformas estruturais no país. Aqui, em minha opinião, trata-se de atualizar o programa e a estratégia democrático-popular e socialista que o PT elaborou nos anos 80. Até porque, o sucesso relativo de nossa ação governamental está recolocando os dilemas estratégicos que o Brasil viveu naquela época. Evidentemente, um quarto desafio é a reeleição para a presidência em 2014, ampliar nossa presença nos governos estaduais e nos parlamentos.
PG13 – Neste ano, além das comemorações dos 33 anos do PT, o partido realiza o Processo de Eleições Diretas. Qual é a importância do PED?
Valter Pomar – Depende. Se o regulamento do PED for respeitado, ou seja, se houver debate, democracia interna e, principalmente, se pararmos de importar para dentro da nossa vida interna práticas oriundas das eleições tradicionais, se tudo isto for feito, o PED pode ser muito importante para formular uma nova estratégia para o PT enfrentar a nova situação política, nacional e regional e mundial. Resumidamente: em parte por causa dos efeitos da crise, em parte porque a burguesia não gosta da combinação de salários altos e desemprego baixo, está ocorrendo uma mudança na postura do grande capital frente ao governo federal encabeçado pelo PT.
Ou seja, estão deixando de existir aquelas condições excepcionais que permitiram a um governo de centro-esquerda, liderado por Lula, melhorar a vida dos pobres e garantir grandes lucros aos ricos. O PED é o momento de debater esta nova situação e de decidir que caminho seguir. Claro que haverá os que defendem que o caminho a seguir é fazer concessões ao capital, via concessões, desonerações, subsídios e flexibilizações na legislação trabalhista e social. Confio, entretanto, que a maioria do Partido vai optar por outro caminho: mais democracia, reformas estruturais, fortalecer o mundo do trabalho, reafirmar nossos compromissos socialistas.
PG13 – O que diria para o militante petista e para o simpatizante do partido nos 33 anos do PT? Qual é hoje o principal inimigo e a principal ameaça ao PT?
Valter Pomar – Se me pedem para escolher um, eu diria que o principal inimigo é o monopólio da mídia. Hoje, as grandes empresas de comunicação são o quartel-general da direita, dos conservadores. Não apenas do antipetismo, mas anti-esquerda, anti-movimentos sociais, anti-democracia. Agora, a principal ameaça que paira sobre nós é a postura conivente, complacente, tímida, recuada, com que alguns setores do PT e da esquerda em geral tratam este tema.
O inimigo está na dele, está fazendo o seu papel, que é o de nos desmoralizar para nos destruir. O problema está em como atuamos frente a isto. Temos que construir os nossos meios de comunicação próprios, temos que democratizar a verba publicitária dos governos que dirigimos, temos que fazer cumprir as leis (por exemplo, parlamentares não podem ser proprietários de concessões públicas de rádio e TV) e temos que alterar a legislação que regula a comunicação social.
PG13 – Mas o PT já está há dez anos no governo e, como você diz, pouco avançamos na tão sonhada democratização da comunicação. Por quê?
Valter Pomar – Na minha opinião, prevaleceu no governo uma linha incorreta, de conciliação com as grandes empresas de comunicação. O problema de fundo é o seguinte: a saúde é um direito público, a educação é um direito público, é dever do Estado garantir estes direitos, podendo o setor privado ter um papel complementar, mas sob supervisão pública. Pois bem: na comunicação deveria valer o mesmo critério. Mas na prática segue prevalecendo o contrário: a informação e a comunicação são controlados pelo setor monopolista privado, com quase nenhuma supervisão pública, mas com amplo financiamento público via propaganda governamental.
Nós temos os recursos humanos e financeiros necessários para ter uma comunicação pública de imensa qualidade, assim como para ter uma comunicação privada democrática e plural; falta vontade política. E temos a obrigação de democratizar as verbas publicitárias, muito mais do que aquilo que já foi feito.
PG13 – Quero insistir no assunto governo. Em 2013, o partido também comemora os 10 anos do Governo Democrático e Popular. O PT conseguiu os avanços a que se propôs enquanto governo e se manteve fiel à sua plataforma?
Valter Pomar – Não foram dez anos de governo democrático-popular. Foram dez anos de governo federal encabeçado pelo PT. Assim está, aliás, no documento que convoca o Quinto Congresso petista. Infelizmente, na hora de dar nome ao evento, acho que alguém ficou com medo de melindrar os aliados com a história de encabeçado pelo PT; e como falar de governo de centro-esquerda é meio frustrante, tacaram a expressão democrático-popular. Sei que para alguns pode parecer uma firula terminológica, mas não é: precisamos exatamente de um governo que faça reformas estruturais no país, por exemplo, a tributária e a agrária, e o nome que sempre demos a isto foi exatamente governo democrático-popular. Feita esta ressalva, a resposta a tua pergunta é: mais ou menos.
A plataforma do PT não foi globalmente executada nestes dez anos de governo. Em alguns casos, porque a correlação de forças impediu; noutros casos, porque durante muitos anos prevaleceu no Partido a tese de que é melhor um mal acordo do que uma boa briga. Apesar disto, estes dez anos podem e devem ser comemorados: com todas as limitações e contradições, trilhamos o caminho da superação do neoliberalismo, melhoramos a vida do povo e incentivamos a integração regional.
Historicamente, não é pouca coisa. Mas, também historicamente, não é o suficiente. A desigualdade continua brutal, a maioria do povo ainda não tem acesso ao bem-estar social, a democracia política continua refém das elites.
PG13 – Você é um dos dirigentes da Articulação de Esquerda, tendência petista que este ano está comemorando 20 anos de fundação. De que forma a AE colaborou para a construção do PT e no que continua a colaborar?
Valter Pomar – Nos anos 80, a tendência hegemônica no PT era a chamada Articulação. Depois de 1989, houve um grande debate no Partido e nesta tendência, sobre como atuar no contexto da ofensiva neoliberal e da crise do socialismo. Este debate resultou, primeiro, numa guinada à direita, que se tivesse prevalecido teria transformado o PT num partido social-democrata. Num segundo momento, como reação, houve um giro à esquerda: entre 1993 e 1995, uma precária maioria de esquerda controlou o Diretório Nacional do PT.
Num terceiro momento, a maioria de esquerda foi desalojada: perdemos o 10º Encontro Nacional do PT por apenas 2 votos na tese guia e 16 votos na escolha do presidente do Partido. Durante dez anos, entre 1995 e 2005, a esquerda partidária cumpriu um papel de resistência, oscilando entre 45% e 30% do Diretório Nacional. A Articulação de Esquerda vertebrou, ao lado de tendências como a Democracia Socialista e a Força Socialista, esta resistência.
Certamente cometemos muitos erros, mas olhando para trás acho que cumprimos um papel importante para o PT: sem nós, sem a pressão que exercíamos, a maioria moderada do PT poderia ter levado o Partido para um caminho de desacumulação de forças. Dou como exemplos disto: a tentativa de fazer o PT participar da revisão constitucional, que poderia ter nos custado algumas estatais; a tentativa de aprovar o parlamentarismo, que inviabilizaria de fato o governo Lula; a tentativa de lançar outro candidato presidencial, que não Lula, em 1998; e as ridículas tentativas de tratar o PSDB como nosso aliado, tentativas que até recentemente causaram desastres, como em Belo Horizonte.
PG13 – Qual é o principal legado da AE e desafios daqui para frente?
Valter Pomar – Acho que nosso principal legado foi o que ajudamos a fazer em 2005. Naquele ano, a direita se empenhou a fundo em destruir o PT. Aproveitou-se, para isto, de erros cometidos por setores do próprio Partido. E, frente ao ataque da direita, outros setores do Partido se acovardaram ou ficaram em tamanha defensiva que não conseguiam, nem mesmo, dizer um único motivo para acreditar, defender e votar no PT.
Nós da Articulação de Esquerda, igual a outros setores do petismo, não titubeamos em defender o PT e acho que cumprimos ali um papel muito importante. Embora, é preciso dizer, o papel fundamental tenha sido cumprido pelo petista anônimo, aquela montanha de gente que não apenas foi votar no PED de 2005, mas defendeu o PT na rua.
PG13 – A AE terá candidato no PED. Quem será? Qual a plataforma da corrente para o PT?
Valter Pomar – Teremos candidato, que pode ser alguém da própria Articulação de Esquerda, neste caso provavelmente eu mesmo, assim como pode ser alguém integrante de outro setor, desde que óbvio tenha identidade programática com aquilo que defendemos. Nossa plataforma estará disponível em março, no endereço www.pagina13.org.br.
Seu componente central é: uma nova estratégia para um novo período. Basicamente, defendemos que é preciso passar da ênfase na superação do neoliberalismo, para a ênfase nas reformas estruturais. E que para isto é preciso outro tipo de comportamento partidário: mais mobilização, mais organização de base, mais formação, mais comunicação, mais defesa do projeto socialista. Um partido também para os anos ímpares, como creio já ter dito antes.
PG13 – Qual é a sua avaliação sobre a crise de 2005 e a AP 470?
Valter Pomar – A crise de 2005 tem duas facetas: por um lado, o ataque hipócrita da direita, que tentou transformar um caso de caixa 2 numa crise constitucional e no supostamente maior escândalo de corrupção na história do país; por outro lado, os erros de importantes dirigentes, que se terceirizaram parte das finanças partidárias para um criminoso tucano chamado Marcos Valério. Como a direita não conseguiu nos destruir em 2005, nem conseguiu nos derrotar em 2006 e 2010, abriu-se para eles o caminho da judicialização da política em geral, e para esta estratégia o caso de 2005 caia como uma luva.
Por isto sempre afirmei que o processo no Supremo Tribunal Federal resultaria em condenações. Curiosamente, alguns dos condenados achavam o contrário. A mesma ilusão de classe que os levou a promiscuidade com Marcos Valério, os levou a acreditar no suposto caráter técnico da corte suprema. Claro que para fazer as condenações, foi necessário criar uma nova jurisprudência. Aos inimigos, nem mesmo a lei…
PG13 – O que você pensa sobre os atos que são organizados Brasil afora pelo companheiro José Dirceu?
Valter Pomar – Eu penso que ele está no direito dele se defender, até porque sua condenação foi sem provas. Mas se eu fosse ele, agiria totalmente diferente. Primeiro, pelo papel que ele jogou na construção do PT e na direção do Partido durante a primeira fase do governo Lula, acho que ele tem a obrigação de apresentar um balanço crítico e autocrítico de sua atuação.
Em segundo lugar, acho que ele deveria acompanhar as deliberações do Diretório Nacional do PT acerca do assunto, que evitam cair na armadilha montada pela direita, que pretende transformar as condenações de alguns filiados em condenação de todo o Partido. Na minha opinião, Dirceu não percebe que a tarefa de defender o PT não deve ser confundida com a tarefa de defender os condenados pelo STF. Em terceiro lugar e mais importante, eu teria enfrentado este tema ainda em 2005, assumindo a responsabilidade política pelos erros cometidos. Se tivéssemos feito isto, estaríamos todos nós, ele inclusive, em melhor condição, agora.
PG13 – Então você acha que estes atos não ajudam ao Partido?
Valter Pomar – Como disse, acho que o Dirceu tem o direito de se defender. E acho que os militantes que se sentem solidários a ele, podem e devem participar. Mas na minha opinião política, estes atos não ajudam o Partido, não ajudam o governo e não ajudam os condenados. O PT deve continuar denunciando os atropelos cometidos pelo STF, deve continuar prestando solidariedade aos condenados, sem que isto implique em deixar de reconhecer os graves erros que foram cometidos. Mas a defesa do PT passa pela ação do Partido em torno dos grandes temas da pauta nacional. Quem quer e precisa colocar este tema no centro da pauta é a direita, não nós.
PG13 – Qual é a posição da AE a respeito da reforma agrária? Qual é a avaliação da corrente sobre a atuação do governo nesta área?
Valter Pomar – Somos totalmente a favor da reforma agrária. Tanto antes, quanto agora. Seja para combater a inflação, seja por segurança alimentar, seja para democratizar a propriedade e o poder, a reforma agrária é fundamental. O desempenho dos nossos governos, nesta área da reforma agrária estritamente falando, é medíocre. O correto seria que a reforma agrária tivesse a mesma importância e a mesma qualidade que a política agrícola, o apoio aos assentados e aos pequenos produtores.
PG13 – Financiamento Público de campanha é fundamental para que?
Valter Pomar – Para que haja democracia. Hoje, a eleição é deformada pelo poder do dinheiro. Não há democracia que resista a isto. E, como a grana chama grana, o investimento das empresas na democracia gera leis e governos em favor das empresas doadoras, gerando também corrupção. A corrupção é um efeito colateral inevitável do financiamento privado empresarial das campanhas eleitorais.
PG13 – Qual é a pauta prioritária para o PT no próximo período? Na sua avaliação em que devemos centrar nossas lutas?
Valter Pomar – Politicamente falando? Reforma política e democratização da comunicação. O PT tem que aproveitar este ano, aproveitar o PED, aproveitar seu Congresso, para debater com a sociedade brasileira sobre os grandes temas de nosso país, sobre o balanço de nossos governos, sobre os desafios futuros e sobre os grandes obstáculos políticos a este futuro, hoje: a influência do poder econômico nas campanhas eleitorais e a deformação informativa e comunicacional imposta pelos monopólios da mídia.
PG13 – E com a classe trabalhadora qual deve ser a nossa relação?
Valter Pomar – O PT continua sendo o Partido preferido pela maior parte dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras. E também somos o partido preferido da maior parte dos militantes sociais. O problema é que a pauta da mobilização social, no sentido amplo da palavra, não apenas reivindicativo, não ocupa um lugar central na agenda das direções partidárias. Ao lado deste problema, que vem dos anos 1990, há um problema novo: o surgimento de uma nova classe trabalhadora, geracionalmente e sociologicamente, isto que alguns chamam indevidamente de nova classe média.
O PT precisa buscar este setor, organizá-lo, mobilizá-lo, impedir que a direita o hegemonize. Em especial a juventude, com destaque para a juventude trabalhadora, que tem que ser reconquistada pelo PT. E para isto precisamos de uma conduta muito forte, que vai desde o funcionamento e postura do PT e da Juventude Petista, passando por fortalecer nosso agir cultural, as politicas de governo etc.
PG13 – E com os países da América Latina, da Europa que encontra-se em crise e EUA?
Valter Pomar – O PT tem uma política internacional bastante ativa, mas os recursos humanos e materiais disponíveis são ínfimos perante a imensidão da tarefa. Na secretaria de relações internacionais do PT temos, contando dirigentes e funcionários, sete pessoas. Quando contamos isto para os chineses ou para os franceses, eles não conseguem acreditar: seus departamentos de relações internacionais contam com mais gente.
Se o PT quiser ampliar sua influência internacional, precisamos conhecer mais, elaborar mais, difundir mais o que fazemos e ter presença física mais intensa em todo o mundo. Não são tarefas difíceis em si, apenas exigem recursos, empenho e paciência para formar novos quadros. Felizmente, embora o PT estrito senso tenha pouca gente envolvida, o petismo no sentido amplo da palavra é muito presente na vida internacional, através dos nossos quadros que atuam na área, seja em movimentos sociais, ONGs, nas universidades e centros de pesquisa, governos e parlamentos. Este petismo internacionalista é fundamental para o PT e muitas vezes é o que suplemente a debilidade do aparato partidário.
PG13 – O que é ser socialista e defender o PT?
Valter Pomar – É fazer o que fazemos. Claro que quando eu vou a algumas atividades, onde a mesa de debate é composta apenas por organizações de ultra-esquerda, uma mais radical que a outra, é difícil. Mas quando eu lembro que o Brasil real é completamente diferente da composição daquela mesa de debate, quando eu lembro que a esquerda brasileira detém apenas 30% do parlamento nacional, quando eu lembro o ódio que a burguesia, a direita e o PIG têm contra o PT, quando eu penso no papel que o PT e o governo brasileiro jogam no mundo, quando eu penso no quanto melhorou a vida do povo nesses dez anos, aí eu acho que defender o PT é uma das coisas mais fáceis e necessárias.
De maneira similar, quando vou a reuniões dominadas por gente acrítica e burocratizada, que acham que está tudo 100% bem, que tem como horizonte máximo administrar, fica difícil. Mas basta mudar de ambiente, para ver que há dezenas ou centenas de milhares de petistas que não querem apenas governar, querem transformar o país e o mundo. Que não aceitam o neoliberalismo e o capitalismo como horizontes intransponíveis. E que não entraram no PT para fazer carreira, para ter cargos, mas sim para organizar e potencializar sua militância. Nestas horas, eu continuo achando válida uma opinião que eu tinha nos anos 80, ou seja, que o petismo pode ser o socialismo adequado às condições brasileiras. A conferir, pois esta história ainda está sendo escrita.
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Comentários
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José Eduardo
Excelente entrevista! Mas sobre Dirceu, Pomar tem toda a razão ao dizer que ele deveria ter ido a público há muito tempo explicar os “erros” políticos que cometeu quando ministro. O que ainda não fez!
Victor
Inteligente entrevista e plena em verdade essa mídia venal é o que há de pior nesse país .
Julio Silveira
Me desculpe o Pomar, mas esse papo de mundo diferente é conversa mole para boi durmir. O Mundo hoje nunca foi tão parecido com aquele que antecedeu a guerras, inclusive as mundiais. Desde sempre temos tido algumas nações com mais ascendência sobre outras, e grupos econômicos e politicos mancomunados, com a finalidade de manter as comunidades no ponto de lhes propiciar a manutençao das prerrogativas do poder. Inclusive no convencimento das sociedades para aceitação do inaceitável, utilizando estratégias de marqueting até para a absorção das vidas nas proprias guerras.
E aqui não é nada diferente. E os arranjos partidários demonstram isso, apenas disfarçado com apenas uma verborragia bem articulada para a engambelação. Visto que, desde sempre, sabemos quais as reais necessidades do país, de suas fragilidades civicas e de cidadania, mas entra ano sai ano e os teoricos da solução após eleitos, ou em postos decisórios, sempre dizem que este momento é diferente, que precisamos de uma nova dinamica para solucionar, e renovam pedidos de tempo para implementar as mudanças para uma nova conciência. Blá, Blá e Blá.
assalariado.
Valter Pomar estas reivindicações que faz, inclusive, sobre a maldita midia burguesa, foram deixadas para traz dentro do partido, em mome de se conseguir mais de 30% do eleitorado brasileiro, depois do Sr. Lula perder 3 eleiçoes presidenciais. Agora, em nome da governabilidade, as ditas esquerdas, fazem mil putarias ideologicas, ou será fisiologicas? A luta é politica e, como aprendiz, ex militante do PT (continuo socialista), sugiro ao Pomar que, admiro e muito, e que, já participei em palestras, mandar para os filiados o que é, quem é, esta agremiação partidária. Em todo caso, tenho uma sugestão, de que um militante partidário, que se diz de esquerda, deve saber, é, conhecer é o seu próprio quintal.
Estão aqui, uma matéria escrita em 2008.
“Um pouco da história das tendencias do PT.”
http://tiagosandes.blogspot.com.br/2008/06/um-pouco-da-histria-das-tendncias-do-pt.html
Considerei esta materia, talvez desatualizada, que vai ajudar a clarear, e muito, os petistas apaixonados por pessoas e não ideias. Isso mesmo, fazer trabalho interno, depois na sociedade.
Sem medo de politizar as massas e, ao mesmo tempo educa -las, politicamente, nas escolas do aprendizado, o que é fazer politica numa sociedade de luta de classes.
“Feito a revolução nas escolas, o povo a fará nas ruas.”
Florestan Fernandes.
Saudações Socialistas.
Antonio
Vamos ver onde esta incompetencia na gerencia do país vai parar. A inflacao está aí na porta, será que o PT usará os recursos da presidenta argentina que manipulou os indices inflacionários? Se usar, nao será surpresa para mim. Que decepção com este partido de pelegos, que está devorando a Petrobrás e a economia juntamente com o PMDB. Podem enganar por muito tempo, mas uma hora a mentira vem a tona, 2014 o PT vai descobrir que o brasileiro não é bobo e ingênuo, para receber pao e circo enquanto a inflacao e a bolha de crédito vem para destruir o povo.
Luís Carlos
A Globo e os demais representantes do PIG são os únicos e verdadeiros censores neste país. Não têm compromisso com demandas sociais e usam de forma absolutamente autoritária e explícita seu poder para destruir a cultura brasileira e inundar o Brasil com valores dos parceiros deles, de hollywood, Wall Street, CIA, etc.
Pedem aumento da gasolina, negam redução das tarifas de energia elétrica, forçam aumento dos juros, tentam empurrar grandes empresas como a Petrobrás para o descrédito, pensando sempre exclusivamente nos “acionistas” e nunca na população e nação brasileira. Acionistas que compram ações de empresa do Governo, sabem que quem decide sobre ela é o governo e portanto, correm o risco de serem contrariados. Pois que arquem com isso.
Globo, Veja e demitis grandes veículos e comunicação forma uma patranha sinistra, sempre pronta para gritar pelos interesses de seus patrocinadores e contra a população. Formam rede que se comunica permanentemente, combinando as manchetes e pautas a serem exploradas conforme conveniências e necessidades próprias. Defendem a propriedade privada antes do direito à vida. Em suma, Globo, Veja e demais são inimigos da população e sempre, sempre trabalharão como aparelhos ideológicos para garantir que sua ideologia, burguesa/neoliberal seja dominante.
Eduardo Oliveira
Quando um tumor se instala em um corpo, combatê-lo de uma maneira eficaz é dever de todas as células que compõem tal organismo, e não temos outro remédio, eficaz e imediato, que não seja a supressão de todo o “sangue” ao qual aquele tumor precisa para se alimentar e crescer mais, mais e mais. Ou seja, se o inimigo maior do socialismo à brasileira, ao qual eu concordo plenamente, é o monopólio da mídia, o PIG, a solução para desconstruir esse poder hegemônico, pode até não ser tão simples, pois que envolve todo segmento socialista, mas temos o dever de reverter, sensibilizando a todos, do risco desse quadro patológico, nas democracias sul-americanas, senão contemporâneas. Felicito ao Valter Pomar pela clareza e sensibilidade e o chamamento não mais a uma ação reflexiva, pois, “a diferença entre o remédio e o veneno não estar na dose”.
Eduardo Oliveira
Salvador/Ba.
José Ricardo Romero
Estamos em ano ímpar. O Lula declarou que sairia para percorrer o país em fevereiro. Onde ele está? Declarando que o PT deveria esquecer o mensalão.
O PT prepara um grande congresso em…2014. Até lá muita conversa, muitas reuniões, muitos projetos…
O Rui (presidente do PT) declarou que este ano seria o da reforma política e da lei da mídia. Agora disse que vai fazer uma tomada de assinaturas para a reforma política e… o que mais mesmo?
O Pomar está certíssimo nas suas declarações, mas fala de um outro partido. Este PT não existe mais. Vai existir com as bençãos dos banqueiros, da globo e do neoliberalismo econômico um novo partido, o da Marina, que tem a cara da Dilma. É um partido feito com o perfil político da nossa presidenta.
FrancoAtirador
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A convicção ideológica do imprescindível Valter Pomar
o fez um líder da resistência socialista dentro do PT.
Quem dera que a AE, a DS e a FS obtivessem a hegemonia.
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assalariado.
FrancoAtirador, a correlação de forças dentro do PT esta, em média, na faixa de 54% para o campo majoritário, e o restante, 46%, esta com essas forças que voce fala.
Abraços Fraternos.
FrancoAtirador
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Camarada assalariado.
Essa correlação não se traduz
na representação parlamentar.
Muito menos no Governo Federal.
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Leonardo
Muito boa a análise! Tomara que este retorno as lutas pelas reformas estruturantes ecoe sobre seus colegas e que comecem a realizá-las ainda nesta metade final de mandato presidencial, pois o neoliberalismo galopa sem freio ou buçal em terras brasileiras! Um fato interessante é que nos últimos anos a imoral e ilegal Dívida Pública, que compromete quase 50% do PIB nacional e inviabiliza qualquer boa intenção política por reformas, é tema raro entre políticos que sequer apontam este cerne dos problemas sociais, dirá apresentem soluções!
Marcão
Eu só quero continuar mais 20 anos “comendo pelas beiradas, devagar” sem susto!
Quando os vigaristas escravocratas acordarem, não haverá mais voltar.
Eu não tenho pressa alguma!
Só quero ter certeza que implantamos nosso sonho.
O que temos que fazer?
URGENTE!
Fazer a sociedade entender o que está em jogo!
O PRESENTE e FUTURO, sem retroceder um milímetro.
Só isso, nada mais!
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Fabio Passos
Não há dúvida.
O PiG é o principal partido da casa-grande.
globo, veja, estadão e fsp são o sustentáculo do Apartheid Social no Brasil.
As oligarquias decrépitas do PiG são a máquina de propaganda que pretende perpetuar os privilégios da “elite” branca e rica.
Enfrentar o PiG é dever da esquerda,
Mário SF Alves
“… Enfrentar o PiG é dever da esquerda,…”
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Dever não. É mais do que isso, prezado Fábio, é condição de sobrevivência.
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É dever de democratas, isso, sim.
jõao
FEB
16
Globo censura homenagem a Dilma da escola Nenê de Vila Matilde
Durante a transmissão do desfile da escola paulista Nenê de Vila Matilde, a Rede Globo ignorou a ala de homenagem à presidenta Dilma Rousseff. A decisão da emissora gerou protestos pelas redes sociais que, em contrapartida, exigem a imediata regulamentação dos meios de comunicação no Brasil. A Nenê de Vila Matilde foi a primeira a desfilar no segundo dia (8) do carnaval paulista. A escola homenageou as lutas populares.
Com o enredo “Da Revolta dos Búzios à atualidade. Nenê canta a igualdade”, o time de três carnavalescos responsáveis pelo desfile deste ano trabalhou para tentar encerrar o jejum de mais de dez anos sem títulos no carnaval de São Paulo. Apesar da bela apresentação, infelizmente, não foi desta vez. A Escola ficou em 10º lugar. A vencedora foi a Mocidade Alegre.
No Facebook, Marco Costenaro, mostrou o que a Globo censurou durante a cobertura do desfile da escola: “Este vídeo (acima) é do desfile da Nenê de Vila Matilde que homenageia a presidenta Dilma e não foi mostrado e citado na transmissão da Rede Globo”.
“Por isso defendemos a regulação da mídia para ampliarmos o direito a liberdade de expressão e combater o monopólio das empresas que comercializam informação, entretenimento e conteúdo midiático e são concessionárias públicas”, escreveu.
Para o internauta, “a censura só existe de um lado, do lado dos grupos empresariais comandando pelas ‘famílias’ Frias, Civita, Marinho e Mesquita, que decidem o que vc vai ver, ouvir e saber”.
Veja a íntegra da transmissão da Globo e confira o boicote à ala de “Dilmas”:
http://blogdoonipresente.blogspot.com.br/
Posted 15 hours ago by Blog Justiceira de Esquerda
Rodrigo Leme
A Dilma não foi capa da Veja outro dia, com direito a foto de líder soviético (olhos no horizonte, queixo levemente erguido) e tudo?
Narr
Isso só vai acontecer quando a Dilma indicar a filha dela, Dilma II, para se candidatar à sucessão presidencial.
abolicionista
Rodrigo, acho que você nem mesmo acredita nessa tese que defende, por isso você nunca a enuncia, fica apenas na provocação. Você realmente acha que a revista Veja apoia o PT e seus representantes? Você realmente acha que a Veja faz jornalismo imparcial e objetivo?
Quanto ao restante do comentário: Foto de líder soviético? De quem, do Putin? Acorda, Rodrigo, olha que o bonde da história andou e você ficou comendo pipoca na estação…
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