Pedro Augusto Pinho: Começa hoje o 27º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo
Tempo de leitura: 6 minPor Pedro Augusto Pinho*
Começa na quarta-feira e vai até sábado (5 e 8 de junho) o 27º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, que tem como tema principal A Base de Um Mundo Multipolar: Formação de Novos Pontos de Crescimento.
Conhecido pela sigla SPIEF (de St. Petersburg International Economic Forum, seu nome em inglês), o Fórum é realizado anualmente há 26 anos.
Ao longo desse período, consolidou-se como evento internacional centrado em questões-chave da agenda econômica global. Um espaço que possibilita aos participantes trocarem as melhores práticas e conhecimentos no interesse do desenvolvimento sustentável.
O SPIEF nasceu em 1997.
Na época, a Rússia vivia um período histórico conturbado:
*Boris Iéltsin era o presidente (10/07/1991-31/12/1999. Nos dois últimos anos do seu governo, teve quatro primeiros-ministros (Viktor Chernomyrdin, Sergey Krienko, Yevgeny Primakov e Sergei Stepashin) até Vladimir Putin assumir o cargo, em 9 de agosto de 1999.
*A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) havia sido dissolvida em 26 dezembro de 1991.
*As antigas repúblicas socialistas, que estavam sendo corrompidas pelo capital financeiro internacional, desregulado na década de 1980, ficaram sem a estrutura do Estado soviético e sem substituto, inclusive a Rússia. Foi um período de grande balbúrdia, desgoverno, paraíso para o capital financeiro e grupos marginais.
Provavelmente, esses mesmos capitais criaram, em 1971, o Fórum Econômico Mundial (FEM), em Davos, na Suíça, para disciplinar e homogeneizar sua atuação no planeta. E também promover para a continental URSS o mundo econômico específico pós-comunismo.
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De 1997 a 2002, apenas dois presidentes de países participaram do SPIEF:
— O social democrata Milos Zeman, que presidiu a República Tcheca de 2013 a 2023; foi o responsável pela adesão do país à União Europeia (UE);
— Alexander Lukashenko, que governa a Bielorússia desde 1994.
Lukashenko é controverso. Os EUA e a UE proibiram a entrega de vistos para ele e sua família. Mas é considerado exitoso na passagem do comunismo para o capitalismo, tendo firmado alianças com a Rússia e a República Popular da China (China).
Desde a ascensão de Vladimir Putin à presidênciada Rússia, em 2000, o SPIEF passou a ser um espaço de debates do mundo multipolar.
Em 2023, mais de 17.000 participantes de 130 países participaram do SPIEF nos formatos real e virtual.
Além das tradicionais questões sobre economia e operações militares especiais, tratou-se igualmente das ações agressivas do Ocidente à Rússia e a outros países que não comungam do mundo unipolar, financeiro e belicoso.
Em 2023, os cinco blocos temáticos do SPIEF foram estes:
- A economia mundial na época de uma virada global
- A economia russa: da adaptação ao crescimento
- Construindo a soberania tecnológica
- Conservação da nação e qualidade de vida como uma prioridade
- Mercado de trabalho: resposta aos novos desafios.
Os convidados de honra do Fórum foram os presidentes da República Popular Democrática da Argélia, da República de Armênia, da Ossétia do Sul e de Cuba, além de 150 altos funcionários, chefes de organizações e associações internacionais, ministros das Relações Exteriores, chefes de missões diplomáticas.
As mais numerosas foram as delegações dos Emirados Árabes Unidos, China, Índia, Mianmar, Cazaquistão, Cuba e EUA.
Segundo material de divulgação do Fórum 2024, mais de 6.000 representantes de empresas russas e estrangeiras de 75 países e territórios participaram do Fórum em 2023.
SIGNIFICADO DO SPIEF
O mundo neoliberal está em crise.
Desde 1980, quando obteve as desregulações financeiras, verdadeiro “laissez passez” para as finanças, o que não se encontra para qualquer outra atividade econômica, permitiu, em uma década, decuplicar o número de “paraísos fiscais” pelo mundo afora.
Desde um bairro, a “City”, em Londres (Reino Unido), estados dos EUA (Dakota do Sul, Delaware, Nevada e Wyoming) até países de diversificadas dimensões e populações,tais como Andorra, Brunei, Catar, Djibuti, Essuatini (ex- Suazilândia), Gâmbia, Honduras, Luxemburgo, Mônaco, Panamá, Samoa, Uruguai, entre muitos outros.
Com as finanças desreguladas e domiciliadas fora do alcance de leis nacionais, o mundo industrializado, que embarcou na canoa neoliberal, vem conhecendo desemprego e retrocesso tecnológico.
E isso se constata facilmente, exceto pela leitura da mídia controlada pelas finanças, e até mesmo pela publicidade desta, com o crescimento econômico e tecnológico da China, do Vietnã, da Índia, da Rússia e do contexto euroasiático e africano, principalmente se comparados com os países europeus ocidentais e latino-americanos, submissos aos EUA, que também retrocedem e incentivam guerras contra a Rússia, contra os países árabes, contra os palestinos e povos asiáticos.
O Fórum de São Petersburgo não tem a divulgação das mídias ocidentais, como ocorre com o de Davos. Mas tem comparecimento de chefes de Estado como não ocorre com o das finanças apátridas na cidade suíça.
Passa para as colônias financeiras, como o Brasil, a percepção errônea de que o mundo segue Davos, quando a maioria dos países, para não falar da população mundial, está com olhos em São Petersburgo.
Males da ignorância, projeto permanente das ações colonizadoras.
Em 27 de maio de 2024, o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, postou, em seu site oficial, uma saudação aos participantes, organizadores e convidados do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo deste ano, cujo lema é “A Fundação de Novas Áreas de Crescimento como Pedra Angular de um mundo multipolar”.
Nesta saudação, o chefe de Estado russo observou que o país está aberto ao diálogo construtivo e à interação com os parceiros, e pronto para trabalhar em conjunto para resolver os problemas econômicos, sociais, científicos e tecnológicos atuais.
Putin diz na mensagem:
“Uma parte cada vez maior da comunidade global deseja ver um sistema justo e democrático de relações internacionais baseado nos princípios da verdadeira igualdade, na consideração dos interesses legítimos de cada um e no respeito pela diversidade cultural e civilizacional dos Estados e dos povos. Estes são os princípios que fundamentam as atividades dos BRICS, que a Rússia preside este ano. É simbólico que a história desta associação em desenvolvimento dinâmico, cujos membros já representam mais de um terço da economia global, possa ser rastreada até ao 10º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, realizado em 2006”.
Ao associar o Fórum de São Petersburgo ao BRICS, Putin mostra que é possível a colaboração mundial fora da colonização, processo de relacionamento que os europeus adotam desde o início da Idade Moderna e foi seguido pelos estadunidenses ao aplicarem a Doutrina Monroe (02/12/1823), reforçada pelo “Destino Manifesto”, de 1845.
Vladimir Putin também afirmou estar confiante de que o 27º Fórum proporcionará o pontapé inicial para novas iniciativas e projetos promissores e que ajudará a construir novo patamar na cooperação mutuamente benéfica entre países e povos.
Em 30 de maio de 2024, o noticioso Middle East Monitor (MEMO) publicou sobre o 27º SPIEF:
“No evento estão presentes todos os ramos da economia e a esfera não produtiva. São estes: Serviços Financeiros e de Seguros; Indústria (de transformação); Tecnologia da Informação; Saúde; Educação e Ciência; Consultoria; Comércio; Telecomunicações e Comunicações.
Já os ramos específicos de negócios são: Construção; Logística e Transporte; Imobiliário; Hotelaria e Turismo; Administração e Direito; Agricultura e Silvicultura; Mineração e Holdings Multissetoriais.
A arquitetura financeira de apoio às conversações e possibilidades negociais é formada por reuniões com representantes dos BRICS, da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) — fundada em 2001 e composta da China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Uzbequistão, Índia, Paquistão e Irã, da União Econômica Euroasiática (UEE) e da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), formada pela Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Brunei, Tailândia, Vietnã, Laos, Mianmar e Camboja”.
Alguns conceitos, divulgados com o empoderamento do neoliberalismo e o domínio das finanças nos Estados Nacionais, serão objeto de debate, tais como o da globalização, que destrói as características dos Estados Nacionais, das suas condições específicas da natureza física e cultural, da entrega do poder, da soberania, aos mais fortes, o que significa extinguir a autonomia dos países, e que a cooperação internacional e o diálogo empresarial com respeito mútuo são possíveis como se observa nos BRICS, na OCX, na ASEAN, na UEE e na Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR), a nova Rota da Seda, que congrega mais de 150 países.
Na América do Sul, apenas o presidente da Bolívia, Luis Alberto Arce (1963), havia confirmado sua participação. Os presidentes do Brasil, colônia financeira desde 1990, não têm sido participantes dos SPIEF, mas o presidente Jair Bolsonaro participou, por videoconferência, em 2021.
As quedas no poder econômico do dólar estadunidense, das forças armadas dos EUA, na capacidade de influenciar, exceto pelo fomento de guerras, as relações internacionais, fazem de encontros como do SPIEF, cada vez mais relevantes e responsáveis pelo congraçamento das nações.
Um exemplo é o destaque dado à saúde neste 27º SPIEF.
As questões de segurança de medicamentos, dos desenvolvimentos científicos avançados em medicina e farmácia, na cultura física e nos esportes, ocuparam tópico específico sob o título: “A saúde nacional é o recurso econômico mais importante”.
O que alarga a colaboração para além dos aspectos diretamente financeiros que constitui o título do Fórum.
O mundo multipolar se amplia. Apenas os membros da OCX respondem por mais de 70% do território eurasiático, quase metade da população mundial e mais de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2021, ou seja, antes do ingresso do Irã.
Em 2022, o PIB do BRICS, então com cinco países membros, atingiu US$ 25,9 trilhões, com o acréscimo da Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Irã e da Arábia Saudita, saltou para 30,7 trilhões de dólares estadunidenses, ou seja, 29,1% do PIB mundial (dados do Banco Mundial).
Manter-se fora dos encontros da multipolaridade é se afastar dos novos rumos do mundo.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
Leia também
Pedro Augusto Pinho: O mundo multipolar, um fórum e o Brasil
José Luís Fiori: A ”multipolaridade” e o declínio crônico do Ocidente
Comentários
Zé Maria
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“BRASIL É A 8ª MAIOR ECONOMIA DO MUNDO
O IBGE divulgou hoje que o PIB brasileiro cresceu 0,8% no 1º trimestre
de 2024, fazendo o Brasil se tornar a 8ª maior economia do mundo.
O dado surpreende, em apenas um ano e meio de Governo @LulaOficial,
o Brasil saiu da 11ª posição e superou a Rússia, Canadá e Itália para se
tornar a 8ª economia global.
O crescimento divulgado hoje também superou as expectativas
do ‘mercado’, que já pode pedir música no Fantástico:
Só nessa semana, o ‘Mercado’ também superestimou as projeções
de inflação e subestimou o número de empregos criados.”
ERIKA HILTON
Deputada Federal (PSoL/SP)
https://x.com/ErikakHilton/status/1798029524560683085
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Esperamos que toda essa Riqueza Produzida
seja Distribuída à Classe Trabalhadora Brasileira.
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Zé Maria
Excerto
O Fórum de São Petersburgo não tem a divulgação das mídias ocidentais, como ocorre com o de Davos. Mas tem comparecimento de chefes de Estado como não ocorre com o das finanças apátridas na cidade suíça.
Passa para as colônias financeiras, como o Brasil, a percepção errônea de que o mundo segue Davos, quando a maioria dos países, para não falar da população mundial, está com olhos em São Petersburgo.
Males da ignorância, projeto permanente das ações colonizadoras.
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