A desintegração do Atlântico Norte
Por Pedro Augusto Pinho*
Na segunda-feira, 4 de março de 2024, os noticiários das agências e mídias internacionais, estrangeiras e de poucas nacionais brasileiras foram verdadeiros avisos fúnebres da Aliança do Atlântico Norte.
Lembrem-se, caros leitores, que há dez anos, os serviços de inteligência, articulação de golpes e arruaças dos EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Países Baixos, Bélgica, Dinamarca, Itália, Noruega, Portugal, entre outros, se articularam contra a Rússia.
Daí, surgiu o Euromaidan, um movimento de aparente conteúdo local, que depôs o presidente eleito da Ucrânia, Victor Yanukovich. Acusaram-no de ”corrupção”, mas o motivo real era sua proximidade com a Rússia.
O ”entronizado” foi o artista circense Volodymyr Zelensky, a serviço de várias agências de inteligência, como CIA, MI6, BND alemã, DGSE francesa, além das inteligências militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Veja bem, contra a Federação Russa, não um grupo de países comunistas mas de capitalistas.
Refiro-me aos países integrantes da Comunidade dos Estados Independentes, ou seja: Bielorrússia, Ucrânia, Armênia, Azerbaijão, Cazaquistão, Moldávia, Quirquistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão.
Esses países até tiveram desastrosa experiência neoliberal sob a presidência de Boris Yeltsin. Só que, desde o início do século 21, vinham se desenvolvendo social, econômica e tecnologicamente. E sem dominação estrangeira.
O objetivo do levante era avançar sobre o território russo, tomar seu petróleo e o das repúblicas aliadas, destruír suas economias e transformar o maior país do mundo em colônia dos capitais do Atlântico Norte.
Apoie o VIOMUNDO
Não contavam, porém, com a fibra do povo russo que:
1) derrotou a Alemanha nazista na II Grande Guerra;
2) sobreviveu à queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS);
3) superou o governo do pândego Yeltsin, que dançava embriagado em palcos públicos para deleite das potências ocidentais; e
4) vinha se reconstruindo sob a governança de Vladimir Putin.
Não me venham com democracia, por favor.
Eu quero saber onde existe este governo do povo, pelo povo e com o povo?
Na Arábia Saudita?
Nos Emirados Árabes Unidos?
No Iraque ocupado pela empresa estadunidense Halliburton Company (pertencente à Vanguard Group e à BlackRock), que já teve como CEO Dick Cheney, antes vice-presidente de George W. Bush?
Este CEO da Halliburton foi um dos arquitetos da Guerra Global ao Terrorismo (2001) e dos proponentes da Operação “Liberdade do Iraque” (sic).
Nem os EUA, com sua bicentenária constituição, significam sucesso democrático.
Lá, a elite plutocrática governa o país pelo jogo bipartidário. Democratas e republicanos comungam dos mesmos ideais, métodos e mesma sujeição aos multimilionários. Um verdadeiro governo nas sombras.
EUA E EUROPA HOJE
Nos EUA, o candidato republicano vai concorrer com “habeas corpus” preventivo, concedido pela Suprema Corte, o STF estadunidense. Só isso já diz muito da democracia plutocrática dos EUA.
As negociatas com justificativa da invasão da Rússia à Ucrânia (já desmoralizada pelos próprios vazamentos atlanticistas) levou a agência Sputnik a divulgar que o Reino Unido, só com motores de seus aviões de treinamento, perderá 55 milhões de euros.
Também no Reino Unido, as insatisfações trabalhistas e os descasos gerenciais provocaram o vazamento de produtos químicos em Manchester. Entre eles, o oxicloreto de fósforo que pode causar tosse, asfixia e edema pulmonar.
O vazamento da conversa do alto comando alemão, relatado em diversas médias, irritou os aliados da Aliança Atlântica, segundo afirmou o deputado democrata cristão (CDU) Roderich Kiesewetter.
“Nossos parceiros, a França e o Reino Unido, agora consideram a Alemanha pouco confiável, porque a Rússia soube o que não deveria saber”, declarou Kiesewetter, acrescentando. “A Ucrânia deve vencer essa guerra a qualquer custo”.
No que se alia, ao desespero do presidente francês, Emmanuel Macron, que inquirido sobre possível envio de soldados para o campo de batalha, respondeu: “nada deveria ser descartado”.
A França está em clima de rebelião, com os agricultores e funcionários públicos fazendo greve, passeatas e bloqueando ruas e estradas. Os “coletes amarelos” até perderam proselitismo diante das diversas camadas da população francesa revoltadas.
Nos Países Baixos, nórdicos e mediterrâneos, o que se vê são greves, desemprego, desindustrialização, desabastecimento. Um clima que pode levar a troca de governo fora das condições constitucionais.
A extrema direita está lambendo os lábios. Vê a oportunidade de repetir a tomada do poder, como ocorreu há pouco menos de 100 anos: Mussolini, em 1922, na Itália; Hitler e Salazar, em 1933, na Alemanha e Portugal, respectivamente; e Franco, em 1939, na Espanha. Sob olhares vazios dos demais dirigentes.
Israel prossegue o massacre dos palestinos, a destruição de suas casas e a expulsão de suas terras, sob o olhar complacente do Atlântico Norte, o que só piora a situação dos atuais governantes.
Porém, no fundo, está a incapacidade da governança neoliberal, em sua origem. Não são as colônias, em busca de liberdade que escolhem novo sistema de poder, de gestão da sociedade.
São os filhos de Ludwig von Mises, Friedrich Hayek, Milton Friedman que, no afã de agradar o capital financeiro, elaboraram um modelo de ingovernabilidade, que só produz concentração de renda, nada de aumento na produção e na melhoria do nível de vida.
Além disso, um modelo useiro e vezeiro da corrupção e de métodos ilícitos para obter e manter o poder e as vantagens dele advindas.
Neste século, EUA e seus aliados estão provocando guerras por toda parte, para: justificar gastos militares e comissões aos políticos, como é o padrão estadunidense; se apossar de reservas minerais e de combustíveis, não mais disponíveis em seus países e colônias remanescentes; ou impor danosos financiamentos para transferência e concentração de renda.
Por toda parte esse cenário vai gerando revolta e indignação.
Não há mais o comunismo para culpar, salvo em países de muito precária educação e cultura, como o Brasil, onde os próprios alunos, após reforma do ensino médio, reclamam que não têm aulas de português, de história, mas de “o que rola por aí”, “RPG” e “Brigadeiro caseiro” (oglobo.globo.com/brasil/noticia/2023/02/aula-de-rpg-ou-de-cuidados-com-o-pet-professores-e-pais-criticam-disciplinas-inusitadas-do-novo-ensino-medio.ghtml).
Há um risco efetivo de guerra global. Os que torcem por isso são doidos ou imbecis.
Se não morrermos todos, a vida será muito mais difícil e os recursos ainda mais escassos.
* Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.
Leia também
Heloisa Villela: EUA ensaiam mudança de posição sobre massacre em Gaza por Israel; vídeo
Comentários
Zé Maria
Excerto
“Israel prossegue o massacre dos palestinos, a destruição de suas casas e
a expulsão de suas terras, sob o olhar complacente do Atlântico Norte, o que só piora a situação dos atuais governantes.
Porém, no fundo, está a incapacidade da governança neoliberal,
em sua origem.
Não são as colônias, em busca de liberdade que escolhem
novo sistema de poder, de gestão da sociedade.
São os filhos de Ludwig von Mises, Friedrich Hayek, Milton Friedman
que, no afã de agradar o capital financeiro, elaboraram um modelo d
e ingovernabilidade, que só produz concentração de renda,
nada de aumento na produção e na melhoria do nível de vida.
Além disso, um modelo useiro e vezeiro da corrupção e de métodos ilícitos
para obter e manter o poder e as vantagens dele advindas.
Neste século, EUA e seus aliados estão provocando guerras por toda parte,
para:
justificar gastos militares e comissões aos políticos, como é o padrão estadunidense;
se apossar de reservas minerais e de combustíveis, não mais disponíveis
em seus países e colônias remanescentes; [e/]ou
impor danosos financiamentos para transferência e concentração de renda.”
.
Morvan
Do ponto de vista da necessidade de atingir o seu nêmesis, a China, até que a ideia [tresloucada, como veio a se mostrar, a posteriori da “democratização” na fascista de priscas eras, a Ucrânia] era a via correta, a solução de encaminhamento primordial. Bater no “menor” e ensaiar balões visando ao seu teleológico… Só não contavam que o mero “sparring” não era um contendor tão simples assim, malgrado a própria história mostrasse o contrário (Napoleão e Hitler conheceram a dureza de tratar com os russos; Macron, o anódino, e Bidê, o amnésico, por exemplos, também o deveriam…), não porque o Complexo Industrial Militar dispusesse de mais opções, mas porque tinha de haver guerras. Sabemos como funciona a indústria da morte. Democracia como quimera.
Gisele Ferreira
Excelente materia, vou compartilhar c amigos
Deixe seu comentário