Os dias depois de amanhã
Em 2 de outubro próximo, pelo que as pedras movimentadas recentemente nos tabuleiros político, econômico e social, pelo desempenho dos dois únicos candidatos competitivos e pelas pesquisas de opinião, Lula sairá vitorioso já neste primeiro turno. São favas contadas. Mas, se também não forem, não quero nem discutir.
Desejo me ater ao que acontecerá nos dias do novo mandato de Lula, ou seja, durante os quatro anos, após o 1º de janeiro de 2023.
Há certa precipitação da minha parte, mas, posso garantir que o assedio do capital já deve ter ocorrido, há algum tempo. De novo, as palavras “centrão” e “governabilidade” serão ouvidas a exaustão.
Betinho dizia que “quem tem fome tem pressa”. Ele lutava por um Natal sem fome. Nós conseguimos chegar a todos os dias do ano sem fome. Mas, regredimos e, hoje, diariamente, a fome está na nossa calçada.
Obviamente, Lula dará prioridade para acabá-la, por sinal pela segunda vez, o que é muito justo.
O velho refrão volta a ser citado: “O presidente terá que formar uma base parlamentar.”
Sugiro ao presidente que, se algum canalha quiser se aproveitar da dificuldade criada para oferecer facilidade, coloque-o em confronto direto com a própria sociedade, o que será benéfico também para esta, pois estará sendo politizada.
A penetração atual da mídia social é a grande vantagem deste novo mandato. Uma comunicação direta do presidente com a sociedade sem censores, com menos filtros e interferências tendenciosas, é alvissareira.
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O desenvolvimento da tecnologia, mais uma vez, vem ao encontro da sociedade. O vencedor do pleito usou muito a tática de conversar frequentemente com a sociedade.
A decisão mais difícil que Lula terá que tomar, em todo seu novo mandato, ocorrerá no primeiro momento, se já não ocorreu.
Trata-se do velho “honrar contratos”, corroborado pelo adendo, que diz: “contratos estes que são atos jurídicos perfeitos”.
A minha posição sobre essa questão é simples. “Podem ser juridicamente perfeitos, mas são perfeitos social e eticamente?”
Se, hoje, uma expressiva maioria dos eleitores acata a tese que não existiram “pedaladas fiscais” e este foi o argumento utilizado para usurparem o mandato presidencial, e como Temer, dolosa ou culposamente, foi o maior usufrutuário deste golpe, ele pode ser considerado como principal usurpador do mandato presidencial.
Não venham me dizer, encarecidamente, que ele foi eleito para substituir a presidente em caso de vacância do cargo.
Todos sabem que Dilma não recebeu votação expressiva de “eleitores do Temer”. Ele foi o poste encontrado para fechar a chapa junto aos integrantes do “balcão de negócios” da eleição de 2014.
Assim, as decisões socialmente mais impactantes tomadas no período do principal usurpador estão sub judice e podem ser revistas.
Senão, por que existem decisões judiciais que são revogadas depois de serem constados erros?
Por que os processos contra Lula foram todos anulados?
Por que os carrascos argentinos foram julgados e muitos condenados a prisão perpétua?
Por que Chávez conseguiu renegociar contratos de exploração de petróleo com petrolíferas estrangeiras, assinados pelo seu antecessor, que eram danosos para a sociedade venezuelana?
Ninguém garante que muitas petrolíferas beneficiadas com a isenção de pagamento de tributos pela vida útil de determinados campos precisavam do incentivo fiscal.
Pelo cálculo de técnico da Câmara dos Deputados, a evasão de tributos durante a vida útil dos campos beneficiados é da ordem de um trilhão de reais.
Sei que sou uma das poucas vozes, mas insisto em ecoá-la com todo o ar dos meus pulmões: “É preciso rever muitas das reformas desta época, incluindo a trabalhista e a previdenciária, licitações da ANP, a privatização da Eletrobrás, o saqueio do patrimônio da Petrobrás em diversas áreas, et caterva”.
Para isto, é preciso eleger deputados e senadores comprometidos com a sociedade, que formarão a base de apoio do presidente, a sua sustentação política.
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