Partidos de centro e direita têm menor diversidade racial e de gênero, revela estudo candidaturas em 2022; íntegra

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Tarsila do Amaral. Operários. 1933. Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo

Partidos de centro e direita têm menor diversidade racial e de gênero

Na direita, das 88 candidaturas ao governo do Estado, apenas 8 são mulheres. Nas legendas de centro, não há nenhum candidato preto, amarelo ou indígena disputando uma cadeira no Senado. Os partidos do centro são os que menos indicaram negros para a disputa ao governo do Estado, e a legenda com a maior proporção de brancos (80%) é o NOVO

Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)

A segunda pesquisa da série “Perfil do poder nas eleições de 2022”, elaborada pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) em parceria com o coletivo Common Data, revela o perfil das candidaturas às eleições nacionais, estaduais e distritais deste ano, a partir do cruzamento de dados sobre gênero, raça/cor, patrimônio e posição ideológica, neste caso, usando a classificação de direita, esquerda e centro para os partidos.

Sob esse aspecto, o estudo revela que os partidos da direita são os que têm a maior parte de candidatos brancos (50,4%) e a menor concentração de negros, com 48% na soma de pardos e pretos, ao contrário da esquerda, cujos percentuais são, respectivamente, 44,1% e 54%.

Na questão de gênero, novamente, a direita é quem traz o pior índice de representatividade, com 20% de candidatas ao Senado. Na disputa ao cargo do governo do Estado, a direita tem apenas 5 mulheres, contra 83 homens pleiteando o cargo. Na esquerda, das 107 candidaturas, 28 são mulheres e 79 são homens.

As informações foram levantadas em 15/08, com base na extração dos dados do repositório do Tribunal Superior Eleitoral [1], e a classificação do espectro ideológico utilizada neste estudo é a do Congresso em Foco (2019).

“Apesar de ser a eleição com o maior número de candidaturas de mulheres e de negros, esse dado ainda está distante dos níveis de diversidade que o nosso Brasil precisa”, afirma Carmela Zigoni, responsável pelo estudo e assessora política do Inesc.

“No que se refere ao recorte por partidos, em todos eles há desafios para o alcance da diversidade, mas fica claro que as candidaturas progressistas estão mais avançadas na tentativa de melhorar a representatividade racial e de gênero na política”, acrescenta.

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Das 27.957 candidaturas aptas, neste ano disputam 13.681 brancos (48,9%) e 13.837 (50%) negros (soma de pardos e pretos), além de 171 indígenas (0,61%) e 112 amarelos (0,40%). Não divulgaram sua raça 149 pessoas (0,53%).

Em síntese, em 2018, eram 8.479 mulheres concorrendo (31%); em 2022, são 9.301 mulheres (33,2%), um crescimento de 2,6%.

Em relação à raça, em 2018, eram 12.740 negros, em 2022 são 13.837 negros (49,49%). As candidaturas brancas reduziram 3,9% e as de negros aumentaram 3,5%.

O partido com a maior proporção de pessoas brancas é o NOVO: quase 80% de brancos, 19,3% de negros, 0% de indígenas e 0,84% de amarelos.

A equidade racial parece não ser uma preocupação desta legenda, já que eles têm a menor proporção de pretos e pardos entre todos os partidos brasileiros e não têm nenhuma candidatura indígena.

Em 2018, o NOVO também foi o partido com menos candidaturas de pessoas negras, com 14,49%.

Três partidos se destacam pela grande proporção de negros: o PSOL, com 61% (36,54% de pretos e 24,47% de pardos); o Unidade Popular (UP), com 60% (38,33% de pretos e 21,67% de pardos); e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), com 54,7% de negros (38,36% de pretos e 16,35% de pardos).

O partido com a maior porcentagem de candidaturas indígenas é a REDE, com 3,88% de indígenas, além de 41,16% de brancos, 54,4% de negros e 0,43% de amarelos.

Quanto às candidaturas amarelas, o mais representativo é o PCO: 1,29% de amarelos, 53,55% de brancos, 44,52% de negros e 0% de indígenas.

Além disso, são três os partidos que não apresentam nenhuma candidatura amarela: AVANTE, PV e UP.

Já nos partidos postulantes a uma cadeira no Senado e ao governo do Estado, a diferença na representatividade entre a esquerda e a direita é a mais acentuada nessas eleições.

No caso dos senadores, as legendas do centro são predominantemente de brancos e homens (78%). Os pardos são 18% e não há nenhum preto nem amarelo nem indígena disputando a vaga de senador na direita. A direita tem 68% de candidaturas brancas, enquanto a esquerda tem 58% brancos e 36% negros (21% pardos e 15% pretos).

Para o cargo de governador, a direita e o centro, mais uma vez, pecam pela falta de diversidade, com 67% e 66%, respectivamente, de candidaturas de brancos. Já a esquerda traz 51,4% postulantes brancos, 46% de negros. Em 8 estados, apenas candidatos homens disputam o cargo de governador: Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Rondônia e Santa Catarina.

Para o cargo de governador, a direita e o centro, mais uma vez, pecam pela falta de diversidade, com 67% e 66%, respectivamente, de candidaturas de brancos. Já a esquerda traz 51,4% postulantes brancos, 46% de negros.

Em 8 estados, apenas candidatos homens disputam o cargo de governador: Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Rondônia e Santa Catarina.

Gênero – De todas as 26.822 candidaturas para deputados federais, estaduais e distritais e vereadores, 17.832 (66,50%) são de homens, enquanto 8.990 (33,50%) são de mulheres.

O partido que possui proporcionalmente, no geral, mais candidaturas femininas é o Unidade Popular (UP), composto 75% de candidatas e 25% de candidatos. Já o partido com o menor percentual de mulheres é o AGIR, que apresentou 877 candidaturas, das quais apenas 31,10% são de mulheres e 68,90% de homens.

Há pelo menos 37 pessoas transexuais concorrendo ao pleito – número refere-se à quantidade de candidatos que responderam ao nome social. Vale ressaltar que não é obrigatório informar este dado. Destas, 14 se autodeclararam pardas e 9 pretas.

O estudo também observou os bens declarados dos candidatos. Quanto maior os cargos majoritários, maior o patrimônio.

Os presidentes possuem o maior valor de bens declarados, já os deputados distritais são os que declararam menos. A média de valor dos bens declarados de todos os candidatos é de R$ 830 mil, conforme tabela abaixo.

Os três cargos para o legislativo regional, deputado distrital, com 564 candidaturas; deputado estadual, com 16.085 candidaturas; e deputado federal, com 10.156 candidaturas, possuem média de valor dos bens declarados abaixo dessa média, respectivamente, R$ 432 mil, R$ 535 mil e R$ 748 mil.

Os três cargos para o legislativo regional, deputado distrital, com 564 candidaturas; deputado estadual, com 16.085 candidaturas; e deputado federal, com 10.156 candidaturas, possuem média de valor dos bens declarados abaixo dessa média, respectivamente, R$ 432 mil, R$ 535 mil e R$ 748 mil.

Eleições 2022: Perfil das candidaturas by Conceição Lemes on Scribd

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Zé Maria

CLARA NUNES, 80 ANOS

O CANTO DO “BRASIL QUE FICOU LONGE DOS OLHOS DE ISABEL”

Por Silvia Maria Jardim Brügger, historiadora, mestre e doutora
pela Universidade Federal Fluminense (UFF); onde também fez
pós-doutorado, com o projeto “O canto do Brasil Mestiço: Clara Nunes
e o popular na cultura brasileira”.
É professora da Universidade Federal de São João del Rei.
Autora do livro “Minas Patriarcal: Família e Sociedade” (São João del Rei – Séculos XVIII e XIX)”.
Coordena o Programa de Extensão “Memorial Clara Nunes”,
responsável pela manutenção do acervo da cantora
e desse espaço de memória em Caetanópolis, Minas Gerais.

https://immub.org/noticias/clara-nunes-o-canto-do-brasil-que-ficou-longe-dos-olhos-de-isabel

“CANTO DAS TRÊS RAÇAS”
(Paulo César Pinheiro/Mauro Duarte)

Por CLARA NUNES GUERREIRA

https://youtu.be/dcVKb2ht6BE
.
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil
.
Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou
.
Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
.
Fora a luta dos inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou
.
E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor
.
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô
.
E ecoa, noite e dia,
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
.
Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor
.
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô

https://www.letras.mus.br/clara-nunes/83169/

Zé Maria

“O Novo é o Partido com Maior Proporção de Brancos”,

Partidos de Direita terem Número Muito Menor de Negros
não é um dado novo no País do Racismo Estrutural Histórico.
É até Coerente com a Ideologia Branca Elitista Racista deles.

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