”O mundo deveria encarar algumas ameaças de Trump com menos seriedade”, diz historiador indiano. VÍDEO

Tempo de leitura: 6 min
Vijay Prashad é historiador, escritor, jornalista, comentarista político e intelectual marxista. Foto: Captura de tela de vídeo

Para Vijay Prashad, mundo deveria ‘encarar algumas ameaças de Trump com menos seriedade’ em 2025

Convidado do Brasil de Fato Entrevista analisa os principais acontecimentos do ano na política internacional

Por Rodrigo Durão Coelho. no Brasil de Fato

Um dos principais temas do notíciário internacional do ano que começa deverá ser a volta de Donald Trump à Casa Branca. Mesmo antes de assumir um novo termo à frente do governo dos EUA, ele vem causando polêmicas com ameaças diversas: desde “resolver” a guerra da Ucrânia em 24h, até deportar em massa milhões de migrantes e confiscar o canal do Panamá.

Uma de suas ameaças principais é sobretaxar produtos de outros países, em tese, para beneficar a produção estadunidense. Punir com sanções países que deixem de usar o dólar para transações comerciais é outra variante desta ameaça.

Para o historiador indiano Vijay Prashad, um dos mais relevantes marxistas da atualidade, apesar de ressaltar que o novo governo dos EUA deve ser mesmo má notícia para a maioria das nações, as ameaças do bilionário não deveriam ser levadas tão a sério.

“A esta altura, 70% dos países em desenvolvimento no mundo sofrem sanções estadunidenses. O que eles vão fazer? Sancionar 100% deles? Isso isolaria os EUA. Então, acho que devemos encarar algumas dessas ameaças do Sr. Trump com menos seriedade”, disse Prashad.

Vijay Prashad é historiador, escritor, jornalista, comentarista político e intelectual marxista.

O pensador indiano é o último convidado do ano do BdF Entrevista.

Na conversa, ele revisa alguns dos principais assuntos que foram destaque em 2024 no noticiário internacional, como as eleições na Venezuela e nos EUA, o avanço da extrema direita, guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza, além de mudanças climáticas e a inteligência artificial.

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Assista ao vídeo com a entrevista na íntegra e leia abaixo alguns dos principais trechos:

Brasil de Fato: Gostaria de repassar com você alguns dos acontecimentos mais importantes do ano, que ganharam o noticiário internacional, começando pela Venezuela. Tivemos a eleição, cujo resultado foi contestado pela oposição e por países estrangeiros, incluindo os EUA e a União Europeia. O que você achou?

Vijay Prashad: A primeira coisa que eu diria é que existem países europeus em situação de quase guerra ou de guerra e é muito difícil para eles realizar uma eleição. A imensa campanha de sanções contra a Venezuela é, na prática, uma guerra.

Teria sido apropriado para o governo adiar essas eleições, honestamente, sabe? Já tivemos experiências suficientes no mundo todo para saber que, em situações assim, é muito difícil levar a cabo uma eleição. O aparato estatal não está funcionando plenamente, a população está sofrendo e lutando, muitas pessoas tiveram que migrar para o exterior.

O simples fato de que milhões de pessoas deixaram a Venezuela já põe em xeque a capacidade do país de fazer uma eleição. Várias das embaixadas estão com equipes desfalcadas etc. Apesar disso tudo, a Venezuela realizou a eleição. Parte da justificativa foi o Acordo de Barbados, que o governo venezuelano firmou com a oposição e que foi negociado pelos EUA.

Veja que os EUA estão desesperados para levar o petróleo venezuelano à Europa, devido às sanções contra a Rússia. A Europa está tendo dificuldade para conseguir combustível.

Ao longo de 2022, os EUA assumiram compromissos com a França e a Itália para comprar petróleo venezuelano. Havia uma verdadeira esperança de que, se o Acordo de Barbados se sustentasse, o petróleo venezuelano poderia entrar na Europa.

A eleição foi contestada, como sempre. A oposição vem contestando as eleições desde o início da era Chávez. Isso já era esperado. Mas a reação de diversos países foi um pouco surpreendente.

Se os europeus estão desesperados pelo petróleo venezuelano, por que eles questionariam o resultado da eleição?

E ainda por cima insistiram em violar a soberania da Venezuela, questionando onde estavam as atas, pedindo que as mostrassem. Não existe nenhuma obrigação na Venezuela de tornar isso público.

Aliás, o candidato da oposição tem que se dirigir ao órgão do governo, o Conselho Nacional Eleitoral, para solicitar a contestação, e isso não foi feito, porque o candidato da oposição fugiu para a Espanha logo em seguida.

É claro que os países da região, como o México e outros, tentaram mediar a situação, mas não havia realmente espaço para nenhuma intervenção. E eles também absorveram essa ideia estadunidense esquisita de exigir as atas, os papéis, que é algo inconstitucional.

É como se eu dissesse que nas últimas eleições brasileiras houve fraude. Por quê? Porque o processo eleitoral não foi como eu queria. Esqueça as leis brasileiras.

É curioso que isso tenha acontecido. No fim das contas, Maduro iniciará um novo mandato em janeiro. Isso vai acontecer, é um fato consumado. No entanto, as sanções contra o país podem aumentar no governo Trump.

Como você avalia a postura do Brasil ao exercer o poder de veto na reunião do Brics que impediu a Venezuela de entrar para o bloco?

Para ser sincero, às vezes é difícil entender a política externa brasileira. Eu vejo que o Ministério das Relações Exteriores é bem independente e tem um longo histórico de confiança em sua competência, capacidade etc. Pelo que me disseram, Lula não dita, necessariamente, a política externa do país, em relação a qualquer pauta, e que há muitos interesses em jogo.

Eu fiquei um pouco surpreso quando o Brasil bloqueou a entrada da Venezuela ao Brics. É evidente que a Venezuela é uma das maiores economias potenciais da América Latina. O México, com certeza, não vai entrar para o Brics, porque já está envolvido em acordos de livre comércio com a América do Norte, com os EUA e o Canadá. Então a Venezuela é um candidato óbvio a membro do Brics.

É um mistério, é quase como se o Brasil não quisesse outro país latino-americano no grupo do Brics. Mas, para ser sincero, eu não entendo.

O que poderia ser melhor para o Brasil do que ter a Venezuela dentro do Brics e que outros países do bloco pudessem ter influência sobre a Venezuela? Teria sido uma ferramenta valiosa ter as reservas de petróleo da Venezuela dentro do Brics, que hoje, basicamente, abarca a Opep+ com a adesão da Arábia Saudita, Rússia etc.

A adesão da Venezuela teria sido uma excelente maneira de considerar moedas, novos sistemas financeiros etc. Então, o Brasil realmente perdeu uma oportunidade ao vetar a entrada da Venezuela no Brics.

Você acha que devemos encarar com seriedade a ideia de abandonar o dólar e usar outras moedas em transações entre países do Brics?

Olha, eu não sou dos que acreditam que a desdolarização é algo fácil, eu acho que é muito difícil. É difícil pelos seguintes motivos. Para que uma moeda, uma grande moeda, se torne uma moeda global para reservas, comércio internacional etc, o país de onde vem essa moeda é obrigado a abrir mão do controle de seu capital. Ou seja, não pode haver controle de capital.

Você tem que permitir que as sua moeda seja comprada e vendida no mercado internacional etc. Nesse sentido, os EUA prestam um serviço ao mundo, ao permitir que seus recursos sejam negociados no mercado internacional. Os chineses jamais aceitariam que o yuan fosse negociado abertamente. Eles continuarão usando controles de capital, controlam o sistema financeiro deles de maneira muito estrita etc.

Nenhuma outra moeda, hoje, tem realmente capacidade de ser como o dólar. Por outro lado, muitas transações bilaterais e multilaterais já estão ocorrendo sem o uso do dólar ou uma terceira moeda para negociar uns com os outros. Isso gera alguns problemas porque nem todas as negociações são facilmente reconciliáveis.

Se o Brasil fizer uma negociação desigual com a Bolívia, o que ele vai fazer com os pesos bolivianos que sobraram? Não tem o que fazer, a não ser que ele possa comprar coisas com esses pesos, digamos, da Argentina, do Chile ou de outro país. Então, se você não puder reconciliar completamente esses sistemas comerciais, até mesmo o comércio bilateral terá limitações. Até hoje, alguns países só aceitam dólares, euros etc.

Nós não veremos a desdolarização ou o surgimento de uma moeda dos Brics tão cedo. Eles vêm avançando em direção a mais negócios com moedas locais. Mas eu não vou soar o sino e anunciar que a desdolarização já está acontecendo. Esse seria um processo bem longo e não sei dizer como seria.

O que você acha das ameaças de Donald Trump contra quem desdolarizar suas transações externas?

Trump fez muitas declarações recentemente. “Tarifa” é uma das palavras preferidas dele. Ele diz que vai sancionar países que se recusarem a usar o dólar etc. Não sei quantas dessas ameaças são verdadeiras: Sanções de 100% para certos países. Isso vai ser prejudicial para os EUA, como disse Claudia Sheinbaum, presidenta do México.

As sanções ao México são uma loucura porque há tantos carros estadunidenses que são montados no México e viajam pela fronteira com os EUA. Então, todos esses carros estadunidenses feitos no México vão cruzar a fronteira com sanções de 100%? As pessoas nos EUA não poderão mais comprar carros.

Portanto, há muitas falsas ameaças no discurso dele. Atualmente, os EUA já aplicam sanções à maioria dos países que começaram a comercializar sem o dólar.

A Índia e o Irã fazem negócios em rúpias, entre outros exemplos. O que os EUA vão fazer? Sancionar a Índia?

A Índia é um dos poucos países em desenvolvimento que ainda não sofrem sanções dos EUA. Acho que não é possível que tudo o que ele disse aconteça. Ninguém vai deixar tudo isso acontecer.

Edição: Lucas Estanislau

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Zé Maria

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Na Argentina de Milei INFLAÇÃO Anual “Estável”: 166%

[Por Extenso: Cento e Sessenta e Seis Por Cento.]

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Zé Maria

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“HOMENS DE BEM”
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“Três homens [que se diziam] evangélicos foram presos pela polícia
do Espírito Santo por abusarem sexualmente de adolescentes de
igrejas evangélicas de Cariacica, na Região Metropolitana de Vitória.

Eles diziam estar ‘possuídos’ e ameaçavam e abusavam de meninas
entre 13 e 18 anos de idade das Igrejas da Cidade.

POSSUÍDOS PELO BOLSONARISMO BANDO DE FDP!”
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Zé Maria

https://t.co/VuA3ekOIsP
https://x.com/FilipaBrunelli/status/1874762141020160245

“Me solidarizo à Vereadora reeleita de Araraquara [SP],
@FilipaBrunelli (PT), que foi atacada durante a cerimônia
de posse com ofensas transfóbicas.

A agressão começou após ela dizer que faria oposição
ao governo municipal da Cidade e políticos que desrespeitam
os direitos humanos.

Filipa, uma das poucas Vereadoras trans de nosso país,
é um exemplo de luta, perseverança, compromisso com
os direitos de todas as pessoas e constrói um mandato
popular e alicerçado nas necessidades reais da população
de Araraquara.

Esses ataques, além de transfóbicos, são uma admissão.

Uma admissão de que quem ousar trabalhar pelo bem
de Araraquara está indo contra os interesses dos políticos
conservadores da Cidade.

Filipa, que eles continuem falhando em te intimidar,
assim como falharam nos últimos quatro anos,
e conte conosco sempre!”

ERIKA HILTON
Deputada Federal (PSOL/SP)
https://x.com/ErikakHilton/status/1875246151428907120

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Zé Maria

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“Se Não Há Bem que Perdure,
Não Há Mal que Sempre Dure”.
(Provérbio Português)
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Zé Maria

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A República de Weimar também Não Considerou Sérios os
Discursos de Adolf Hitler na Alemanha na Década de 1930.

Assim como, Quase 100 Anos Depois, Ninguém Acreditava
que Bolsonaro e seus Generais fariam o que fizeram no Brasil.

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